sábado, 31 de outubro de 2009

O USO DO JOGO NA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA DE CRIANÇAS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Dulcila Mª B. Chastinet Guimarães
“A prática de pensar a prática é a melhor maneira de pensar certo.” (Freire)

Na realidade, com todas as transformações que estão ocorrendo no mundo, mais do que nunca é preciso aprender a viver com incerteza. Para tanto, necessitamos desenvolver em ambientes de aprendizagem a autonomia de nossas crianças e também de nossos professores levando-os a aprender a aprender.
Na educação, a autonomia implica a metodologia do aprender a aprender, aprender a pensar, com base nas construções do sujeito que descobre por si mesmo que inventar sem ajuda de terceiros, que auto organiza / reestrutura / reequilibra suas atividades, incorporando o novo em suas estrutura mentais, reestruturando e auto-organizando, assim suas atividades motoras, verbais e mentais.
De acordo com Pedro Demo,
“o que marca a modernidade educativa é a didática do aprender à aprender, ou saber pensar, englobando num só todo a necessidade de apropriação do conhecimento disponível e seu manejo criativo e crítico (...)”
As novas construções de estratégias como os jogos e as atividades lúdicas, fazem com que o professor promova o desenvolvimento sócio-afetivo, motor e cognitivo ao sujeito, e que a práxis pedagógica em sala de aula implica na vivência de parceria e da integração entre a teoria e prática, ação – reflexão – ação. Desta maneira, estaremos sempre no movimento de ir e vir da prática para a teoria e a teoria para a prática. Por tudo que a DIDÁTICA se relaciona com a PEDAGOGIA. A Didática se preocupa com o tipo do sujeito homem que se quer formar, de modo que ele possa vir a ser sujeito de importantes transformações.
Como a Didática se preocupa, sobretudo com o tipo do homem que se forma e se propõe a fazer as ligações em as dimensões sócio-político-social e escolar do fenômeno educacional, o professor não deve ser a única fonte do conhecimento, o aluno deve e pode aprender em múltiplas e diferentes situações.
Por tudo isto, é que o estudo feito e apresentado permite compreender que não se pode, enquanto educadores e psicopedagogos, deixar de ter um novo olhar sobre a compreensão da dinâmica dos jogos, pois como recurso facilitador do ensino aprendizagem e ampliação de significados e sentidos de diferentes seres humanos,os jogos são de grande valia.
Pela dinâmica do jogar, brincar e sorrir, o espaço de inserção desta prática pode contextualizar / construir / ampliar novos conhecimentos, de modo gratificante, vivo, em que a dimensão humana do sentir-se pleno, em prazer e gozo, seja mister motivação ao querer continuar em movimento de aprender.
É importante salientar o lúdico na intervenção psicopedagógica como um elemento que facilite aprendizagem de crianças com dificuldades de aprendizagem. O jogo promove a construção do conhecimento e do saber.
É atribuição de o psicopedagogo trabalhar as duas variantes aprendentes: de forma preventiva para que sejam verificadas as dificuldades de aprendizagem antes que os processos se instalem, como também elaborar diagnósticos e trabalhar conjuntamente com a família e a escola, frente as dificuldades no processo do aprender. O psicopedagogo repensa a prática pedagógica, dando subsídios a novos procedimentos e esse processo de parceria possibilitará uma aprendizagem muito importante e enriquecedora. Desta forma, o fazer pedagógico se transforma, podendo se tornar uma ferramenta poderosa, para que possa entender e interpretar o brincar, assim como utilizá-lo para que auxilie na construção do aprendizado da criança. Para que isto aconteça, o adulto deve estar muito presente e participante nos momentos lúdicos. O lúdico faz parte do processo educativo, na medida em que alia o conhecimento com a prática psicopedagógica.
MARCELINO (1999),
“... através do prazer, o brincar possibilita à criança a vivência de sua faixa etária e ainda contribui de modo significativo para a sua formação como ser humano, participante de cultura da sociedade em que vive.”
Para o psicopedagogo a atividade lúdica é de grande significação na sua atuação, pois a incita, a imaginação da criança, cria uma situação de aprendizagem, sendo importante no processo da socialização.
Na intervenção psicopedagógica, o jogo visa contribui no aluno as relações sociais e desempenha atitudes que favorecem o raciocínio lógico e o desenvolvimento cognitivo. O trabalho em sala de aula, os profissionais devem mudar o método para que o processo de ensino aprendizagem se torne eficiente, a medida que vise um desenvolvimento globalizado e com uma interdisciplinaridade, aplicando diversos jogos pedagógicos para uma aprendizagem mais segura e atraente por parte do aluno.
É importante lembrar que alguns jogos não são fins mas meios que completam e devem ser somados ao trabalho dos profissionais de educação, para facilitar o trabalho em sala de aula ou em clinica,

Para facilitar a aplicação, 2º Almeida, agrupou os jogos da seguinte forma:
1. jogos de interiorização de conhecimento:
2. jogos de expressão e interpretação, e valores éticos.
3. jogos de raciocínio – resolução de problemas, soluções criativas e lógicas.

Os jogos de expressão, interpretação e interiorização de conteúdo, desenvolvendo a inteligência, enriquecendo a linguagem oral, a escrita e a interiorização de conhecimentos, libertando o aluno para uma maior participação ativa, criativa e crítica no processo de aprendizagem. Cabe ao professor ou profissionais de educação, após a leitura e análise, adaptar e ajustá-los a sua turma ou a quem vai ser aplicado. Dependendo de cada faixa etária. Trata-se de jogos que podem ser aplicados em todos os níveis de ensino.
Os jogos de inteligência - resolução de problemas, soluções criativas e cálculo - possibilitando ao aluno o desenvolvimento de suas potencialidades e intelectuais, como a flexibilidade para estabelecer relações com o seu meio, contexto e sua vida. É importante que, além desses jogos os profissionais de educação criem outros, bem como investigue e analise antes de sua aplicação e que seja bem preparado para serem executados.

SUGESTÕES DE JOGOS QUE PODEM SER APLICADOS NA SALA DE AULA E NA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA.

MODELOS DE ALGUNS JOGOS.
“O mestre pode ser ponte, mas a travessia é feita pelo aluno”. (Sant’ Anna, 1997)

- JOGO: LOTO
O jogo de loto pode ser adequado a muitos conteúdos diferentes, bastando apenas que sejam feitas as adaptações necessárias. Este é apenas um exemplo para que o profissional tome como base e poderá confeccionar com os alunos também, para ser aplicado.
A aplicação, de acordo com o conteúdo pode ser feita para qualquer faixa etária.

APLICAÇÃO: ESCOLA E CLÍNICA

FAIXA ETÁRIA: ESCOLAR

OBJETIVOS;
•Fixação de conteúdos
•Avaliação
•Trabalhar regras e limite
•Trabalhar a criança e o jogo (ganhar e perder)
•Trabalhar conceitos matemáticos (divisão e áreas do retângulo)
•Planejamento espacial
•Estratégias
•Incentivar o gosto pela pesquisa

MATERIAL NECESSÁRIO:
•Uma folha de cartolina por grupo
•Lápis preto
•Canetas hidrográficas
•Tesoura
•Régua

ESTRATÉGIAS
Cada grupo deve dividir uma folha de cartolina em retângulo, losângulo, enfim em peças iguais. Essas deverão ser divididas em 6 partes. Em cada parte, por exemplo, podem ser escritas perguntas ou nomes que se queira relacionar. À parte fazem–se pequenos cartões, nos quais se escrevem as respostas das perguntas ou as palavras relacionadas ao cartão. Sorteia–se, e os jogadores terão de assinar nas cartelas a resposta correspondente. Esta atividade pode ser programada e anunciada antecipadamente para que os alunos tragam material de pesquisa para a confecção dos jogos. Para os jogos de alfabetização, a professora precisa trazer grande parte do material já pronto, para que as crianças apenas pintem, recortem e colem figuras. Todos os jogos devem ser selecionados antes da sua aplicação dependendo dos assuntos que deve ser aprendido.

- JOGO ORTOGRÁFICO

APLICAÇÃO: CLINÍCA E ESCOLA

FAIXA ETÁRIA: de 7 a 10 anos

OBJETIVOS:
•Fixação de conteúdos
•Desenvolver espírito de cooperação (o trabalho em equipe favorece esse desenvolvimento)
•Trabalhar regras e limites
•Trabalhar a criança e o jogo (ganhar e perder)
•Desenvolvimento da atenção e concentração
•Desenvolvimento do raciocínio e da motricidade

MATERIAL
•Uma folha e meia de papel-cartão por grupo de alunos
•Tesoura
•Cola
•Canetas hidrográficas
•Lápis de cor
•Um dado

ESTRATÉGIA: Para o contexto escolar, divide–se a classe em três ou quatro equipes.
Cada equipe deve confeccionar um jogo, que será trocado depois para que cada uma jogue com o jogo feito por outra equipe.
Podem–se determinar cores diferentes para as equipes, ex:equipe verde, amarela, azul, etc. Para o contexto clínico, o jogo deverá ser feito pela criança, e o psicopedagogo juntamente.

O JOGO
Com a folha inteira de papel cartão monta-se o tabuleiro. Esta poderá ser cortada em três ou quarto partes para facilitar o seu transporte e poder guardar.
No tabuleiro será montada uma trilha com ponto de partida e de chegada. Quanto mais sinuosa a trilha, mais elementos podem ser colocados, tornando o jogo mais emocionante. O caminho deve ser dividido em pequenas partes e enumerado em ordem crescente. Em diversos pontos do percurso colocam-se obstáculos. Ex: no número sete, pinta-se o espaço deste número de cor diferente, portanto, que parar aí terá de cumprir uma tarefa. As tarefas são indicadas em pequenos cartões, onde são colocados pontos de dificuldades ortográficas como palavras com z, ç, ss, s, g, j, x, ch, etc.
Exemplo: - Coloque a letra certa no espaço: G ou J ou trás dificuldades Com G ou J : Via....em
Via... ar
Via... ei
Cada cartão de tarefas deverá conter três palavras para serem completadas corretamente. Em caso de erro,outra pessoa pode responder, ganhando com isso avanço de cinco casas com seu peão, e o que errou retrocederá o mesmo número de casas. Desse modo prossegue o jogo e ganha quem atingir o primeiro ponto de chegada. Os peões podem ser feitos com papel cartão, formando pequenos cones.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Paulo Nunes de. A Educação Lúdica: Técnica e Jogos Editora Loyola, 2000.
ALVES, Rubens. Estórias de quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez
BENJAMIM, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. 3 ed. São Paulo: Sumus, 1984.
BORIN, Júlia. Jogos Resolução de problemas: uma estratégia para as aulas de Matemática, São Paulo, l995.
CHATEAU, Jean. O Jogo e a Criança. Editora São Paulo, 2001.
------- Competência e habilidades: elementos para uma reflexão pedagógica, São Paulo, Instituto de Psicologia,USP,1999.
FIGUERÔA, Marilene Lins. O lúdico na educação. Doutoranda pela UDE, universidade de La Empresa, Montevidéu-UY.
FONSECA. Introdução às Dificuldades de Aprendizagem. Editoras Artes Médicas, 1995.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Editora Paz e Terra, 1996. .
FURTH, Hans G; e outros. Piaget na Prática Escolar: Criatividade no Currículo Escolar: Editoras Vozes, 1999. Ima,
GARCIA, Jesus Nicasio. Manual de Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2001.

Publicado em 27/10/2009 12:11:00

Dulcila Mª B. Chastinet Guimarães - Pedagoga, Especialista em Psicopedagogia e de Jovens e Adultos, Capacitadora de Cursos de Formação de Professores das séries iniciais, Coordenadora e Consultora Educacional de Escolas Publicas e Privadas, Docente de Cursos de Avaliação da Aprendizagem e suas Complicações, Orientadora de Crianças com Dificuldades de Aprendizagem.

3 comentários:

Fernanda Barroso disse...

Obrigada pelos artigos que publica, a todo o momento encontramos pessoas que se disponibilizam a partilhar os saberes.
Tomei a liberdade de citar os seus posts no blog que vou actualizando sobre educação especial.
Cumprimentos
Fernanda

ILZA HELENA disse...

OLÁ BOA NOITE,ESTE BLOG É MESMO INSTIGANTE. TEM POSTAGENS INTERESSANTES!
E QUERO APROVEITAR E DIZER Q TEM UM SELO EM MEU BLOG PRA VC!
PARABÉNS PELAS POSTAGENS!!
BEIJINHOS DE LUZ...
ILZA HELENA ( PURA LUZ )

Prof. Israel Lima disse...

Professor Sergio,

Obrigado pela honrosa visita, agradeço, também, por seguir "Pelo Corredor da Escola".

Um grande abraço

Prof. Israel Lima