quarta-feira, 7 de outubro de 2009

ATENÇÃO & DESATENÇÃO


Você está prestando atenção?

Segundo William James, a atenção é “uma tomada de posse da mente, em uma forma clara e vívida, de um dos diversos objetos ou séries de pensamentos que parecem simultaneamente possíveis.

Implica o abandono de algumas coisas a fim de ocupar-se efetivamente de outras”.

O estabelecimento do foco de atenção possui um valor adaptativo na medida em que discriminamos os estímulos que são relevantes dos irrelevantes e os direcionamos seletivamente aos recursos limitados de processamento das informações de nosso encéfalo (Bear e colaboradores, 2002).

Ao ler um texto, como essa postagem, a atenção é essencial para que se compreenda o conteúdo. Nesse caso, outros estímulos que provêem do ambiente ou de outros processos mentais (como a memória evocativa) podem desviar a nossa atenção e conseqüentemente atrapalhar a compreensão do texto.
Disso voltamos à pergunta inicial: Você está prestando atenção? Se sua resposta for positiva, será que você consegue lembrar razoavelmente bem a definição de James ou o complemento de Bear sobre a atenção? Se sua resposta for negativa, o que terá desviado a sua atenção do texto? Essas perguntas são importantes para compreendermos como as pessoas relacionam-se com um ambiente repleto de estímulos em que cada estímulo parece importante.

As pessoas que não estavam prestando atenção à leitura provavelmente focaram-na em outro estímulo e relegaram à leitura uma importância secundária. Essa desatenção ocorre quando processamos estímulos variados ao mesmo tempo e acabamos focando nossa atenção em apenas um, ou no máximo dividimos a atenção entre dois estímulos.
Muitas vezes a desatenção é atribuída erroneamente ao déficit de atenção/hiperatividade (TDA/H). Este déficit pode ser somente de atenção (TDA), somente hiperatividade e as duas características ao mesmo tempo (TDAH).

Esse transtorno é mais comumente verificado em crianças (em sua maioria meninos, na proporção de 10 para 1 contra as meninas) representando de 3 a 5 % da população infantil. Porém, recentemente tem se avaliado a existência dele também em adolescentes e adultos. Muitas crianças acometidas pelo transtorno têm pais como o mesmo problema, pois se trata de uma condição genética em 80% dos casos.

As características do TDA/H incluem um padrão de funcionamento cerebral deficitário em alguns locais como o lobo parietal (relaciona-se ao processamento da sensibilidade cinestésica-movimento), o córtex pré-frontal (responsável pela concentração e atenção seletiva) e o córtex cingulado anterior (está ligado ao armazenamento da memória de longo prazo). Em crianças afetadas é comum o relato de que: se movimentam constantemente, falam demais, possuem dificuldades de brincar ou permanecer em silêncio quando lhes são exigidos tais comportamentos, têm pouca coordenação motora e dificuldades em permanecer em uma única tarefa por tempo prolongado. Isso pode gerar grandes déficits de aprendizagem e dificuldades de comunicação.

Na maioria dos casos, o transtorno persiste na adolescência e vida adulta (60% a 70% deles). Porém, geralmente perdem-se as características da hiperatividade, ficando potencializada a falta de atenção e concentração na realização das tarefas diárias.

O tratamento medicamentoso mais comum se dá com o remédio Ritalina (Metilfenidato). Esse medicamento é uma anfetamina psicoestimulante que age inibindo a recaptação de dopamina e noradrenalina (neurotransmissores que atuam no encéfalo). Desta forma, o remédio faz com que esses receptores potencializem as sinapses neuronais (principalmente a nível de córtex pré-frontal) aumentando a capacidade de concentração e coordenação motora (fatores pelos quais a Ritalina foi e ainda é utilizada para atletas, competidores e pessoas outras que não possuem o transtorno).

O tratamento medicamentoso deve ser reforçado com a psicoterapia e o acompanhamento familiar. O diagnóstico para o TDAH tem que ser diferencial, baseado não apenas nas características da desatenção ou no excesso de “euforia” do paciente. É preciso um estudo cuidadoso do histórico familiar, da constituição da família e da criação dada ao paciente.

Postado por: Guilherme da Costa Alves e Júlia Rodrigues Lobo
Fonte: PsiqWeb- Portal de Psiquiatria : http://virtualpsy.locaweb.com.br/?art=318&sec=35

Lima, Ricardo F. de (2005). Compreendendo os mecanismos atencionais. Ciências & Cognição; Ano 02, Vol.06, nov/2005. Disponível em http://www.cienciasecognicao.org/

ANDRADE, Ênio Roberto de e SCHEUER, Claudia. Análise da eficácia do metilfenidato usando a versão abreviada do questionário de conners em transtorno de déficit de atenção/hiperatividade.
Arq. Neuro-Psiquiatr. [online]. 2004, vol. 62, no. 1 [citado 2008-05-27], pp. 81-85.

ROTHENBERG, Aribert e BANASCHEWKI, Tobias. Mentes Inquietas. Revista Viver Mente & Cérebro. 2008, nº 144. Editora Duetto. São Paulo –SP.

Um comentário:

Júlia disse...

olá,

sou Júlia Lobo e me lembro de ter escrito esse texto, junto com Guilherme, para uma matéria de psicologia, em outro blog. como isso foi parar aqui?