sábado, 10 de outubro de 2009

CORPO...DEFICIENTE ou EFICIENTE...na água?



Por Cacilda Gonçalves Velasco

O "culto ao corpo'' na atual sociedade é um lema na formação de nossos professores de educação física. Apesar de muitas campanhas médicas e da mídia em relação à qualidade de vida, ainda persiste os padrões estéticos quando falamos de pessoas comprometidas com alguma deficiência física, sensorial e/ou mental. São tantos aqueles que precisam de ajuda e tão poucos dispostos a ajudar...

Sabendo-se que o deficiente é aquele que não consegue disfarçar, devemos tomar a postura, além de educadores físicos, de terapeutas, ''cirurgiões plásticos'' da emoção e da ação.

Enquanto profissional devemos tentar restituir-lhes a autonomia necessária, desde que soubermos do patamar que essa pessoa poderá atingir na execução dos exercícios. O importante é que ela possa sentir-se o menos diferenciada possível em relação ao grupo e às atividades da vida diária.

Houve época em que pessoas com deficiências eram sacrificadas porque nada de útil representavam para a sociedade.
Durante séculos, os deficientes foram considerados seres distintos e à margem dos grupos sociais. A medida em que o direito do homem à igualdade e à cidadania tornaram-se motivo de preocupação dos pensadores, a história da educação especial começou a mudar.

A histórica rejeição cedeu lugar à compaixão e às atitudes de proteção e filantropia, até hoje perduram e muitas vezes prevalecem, apesar de todos os esforços que tem sido realizados para que esta postura seja substituída pelo reconhecimento da igualdade de direitos a todo cidadão, sem discriminações.
Milenarmente é sabido das propriedades terapêuticas da água e das diferentes formas de utilizá-la com os deficientes. Os mais renomados profissionais da área da saúde se curvam aos seus benefícios, mas sempre se deparam com algumas dificuldades na sua utilização. A água é um elemento capaz de diminuir as diferenças entre os indivíduos e, em alguns casos, até torná-los iguais, já que nela a distinção deficiente/não-deficiente fica menos nítida. Para um tratamento em que o lado emocional do paciente é um fator decisivo, a água novamente ganha importância pois proporciona prazer e bem estar.

Dificuldades: Por parte dos deficientes: escassez de recursos financeiros; desigualdade de oportunidades oferecidas nas regiões onde habita e o desinteresse e resistência na maioria das entidades para aceitá-lo como alunos-pacientes.
Por parte das entidades: acessibilidade e estrutura física das piscinas inadequada para a elaboração de programas de trabalho especial; despreparo teórico e prático dos profissionais para esse tipo de atendimento; carência de técnicas para a orientação, acompanhamento e avaliação de programas a serem desenvolvidos; insuficiência de propostas inovadoras, como alternativas educacionais e/ ou terapêuticas; inadequação e carência de materiais e equipamentos para um atendimento especializado e falta de programas adequados para a orientação da família do deficiente.

Público alvo:
Pode ser denominado de pessoa especial, aquela que por apresentar necessidades próprias e diferentes dos demais alunos no domínio das aprendizagens correspondentes a sua idade, requer recursos pedagógicos e metodologias específicas.
Genericamente chamados de portadores de deficiência (mental, física, sensorial ou múltipla), portadores de condutas típicas (problemas comportamentais) e portadores de altas habilidades (superdotados).

A pessoa portadora de deficiência é a que apresenta, em comparação com a maioria das pessoas, significativas diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores inatos ou adquiridos, de caráter permanente, que acarretam dificuldades em sua interação com o meio físico e social.

A pessoa com necessidades especiais é aquela que apresenta, em caráter permanente ou temporário, algum tipo de deficiência física, sensorial, cognitiva, múltipla, condutas típicas ou altas habilidades, necessitando, por isso, de recursos especializados para desenvolver mais plenamente o seu potencial e/ou superar ou minimizar suas dificuldades.

Intervenções:
Qualquer programa de trabalho junto a essas pessoas deve se basear num processo que vise promover o seu desenvolvimento e que abranja diferentes níveis e graus de comprometimento. Deve fundamentar-se em referências teórico-práticas compatíveis com as necessidades específicas de cada aluno/paciente. O processo deve ser integral, fluindo desde a estimulação essencial até a aprendizagem de técnicas, tendo como finalidade formar cidadãos conscientes e participativos, independentemente de suas deficiências.
Para aqueles que ainda a desconhecem, a Psicomotricidade é uma ciência, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde, já há meio século.

Ela poderia ser definida como: a realização de um pensamento, através de um ato motor coeso, econômico e harmonioso, exigindo para isso uma atividade equilibrada.
Sendo uma ciência de equilíbrio, podemos utilizá-la em vários processos, para prevenir e/ou reabilitar problemas originados da falta de harmonia entre o corpo/mente/ prazer.

Objetivos:• Normalizar, entendendo-se aqui não o de normalização de tais pessoas, mas sim do contexto em que se desenvolvem, ou seja, oferecer aos portadores de necessidades especiais, modos e condições de vida diária o mais semelhante possível às formas e condições de vida do resto da sociedade.

• Reabilitar, promovendo-se um conjunto de medidas de natureza médica, social educativa e profissional, destinadas a preparar ou reintegrar o indivíduo, com o objetivo de fazê-lo alcançar o maior nível possível de sua capacidade ou potencialidade.

• Integrar, através de um processo dinâmico de participação das pessoas num contexto relacional, legitimando sua interação nos grupos sociais. A integração implica em reciprocidade.
Profissionais:
Os profissionais são todos aqueles que conhecem e sabem lidar com o corpo, que souberem a teoria e a prática das propriedades físico-químicas da água e possuam conhecimento e esclarecimento das deficiências em geral e seus respectivos comprometimentos. Encontraremos alguns obstáculos junto a determinadas classes profissionais, pois alguns consideraram-se ''credenciados para'' e outros ''aptos para''. O que conta é o desejo de cada um em se relacionar com "pessoas diferentes".

Como nomear esse trabalho:
Mesmo sendo a nomenclatura um problema semânico, pois hidro significa água e terapia significa meio, estratégia, programa especial, processo de cura ou natação, algo deverá ser aprendido pelo homem...se locomover na água.
Chamamos de natação adaptada o trabalho realizado em relação aos processos de aprendizagem das técnicas dos nados e terapia, quando estamos tentando utilizar de estratégias terapêuticas para processos reabilitatórios. Tanto um como outro são recursos importantíssimos nos tratamentos em algumas especialidades médicas, tais como ortopedia, neurologia, pediatria, reumatologia, cardiologia, geriatria e até clínica médica. Temos uma experiência pessoal, com excelentes resultados em casos de pacientes convulsivos, com deficiência músculo-postural e cardio-respiratória, deficiência mental, visual e auditiva, paralisia cerebral, autismo, entre outras patologias. Isto ocorre porque nessas atividades os pacientes experimentam todos seus mecanismos e estruturas visuais, auditivas, táteis e cinestésicas, sendo que, se alguma delas está lesada, automaticamente outra, ou outras, serão mais desenvolvidas na água, além de lhes promover saúde e prazer.

Lucro
$aber que, pelo meno$ você, não se ab$teve de tentar fazer um pouco melhor a vida de um $emelhante.

• Respeitar a individualidade (IB) de cada ser humano.

• Estabelecer uma relação afetiva de ajuda e não de dependência.

• Utilizar a linguagem corporal como meio de comunicação.

• Apesar de realizar um planejamento de trabalho individualizado, permitir a livre
iniciativa, entendendo que a deficiência não é sinônimo de doença.

• Respeitar a pessoa completa que o deficiente é: um sujeito que tem uma história de
vida, vive num contexto social e em condições singulares interagindo com direitos e deveres.

• Procurar estabelecer uma relação domiciliar, isto é, tentar participar do dia a dia da pessoa demonstrando o seu interesse pelo que ela é.

• Manter contato com os demais terapeutas que assistem o paciente programando um trabalho em conjunto, produzindo assim maiores e melhores resultados.

• Estabelecer a participação dos deficientes em grupos de conveniência e lazer,
visando a sua integração na sociedade.

Cacilda Gonçalves Velasco, professora, pedagoga e psicomotricista. Diretora da Flechinha Natação, Cursos e Presidente da Associação Vem Ser.em São Paulo. Autora dos livros: Habilitação e Reabilitações Psicomotoras na Água, Natação Segundo a Psicomotricidade, Brincar - O Despertar Psicomotor e o mais recente, lançado em maio/05 pela Editora All Print - Aprendendo a Envelhecer... à luz da psicomotricidade
Informação completa no Blogue do Prfº Sérgio Castro
Publicada por Eduardo Jorge em Terça-feira, Outubro 06, 2009

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