sexta-feira, 2 de julho de 2010

O que é o Autismo ?

O que é o Autismo ?
Mônica Accioly

Kanner incluiu o diagnóstico do autismo na literatura psiquiátrica há mais de cinqüenta anos. Desde então, milhares de estudos e pesquisas complementaram-se, compondo uma vasta literatura sobre o assunto. Entretanto, apenas recentemente os especialistas e pesquisadores de todo o mundo chegaram a um consenso no que se refere à natureza e ao critério de diagnóstico do autismo.
Em 1979, Wing e Gould, citados por Happé e Frith (1996) demonstraram através de um estudo epidemiológico que o autismo se tratava verdadeiramente de uma síndrome. Este estudo destacou que o déficit na socialização, na comunicação e na imaginação estavam sempre presentes, não só nas crianças diagnosticadas com o autismo de Kanner, mas abrangiam também um maior número de crianças. Esta amplo espectro autista incluía, além das crianças mais gravemente afetadas (autismo de Kanner), aquelas que são socialmente mais ativas, apesar de bizarras. Da mesma maneira o déficit na comunicação podia variar da mudez à verborréia.
Wing, citada em Bishop e Mogford (1993), afirma que a criança portadora da tríade é considerada estranha pelas demais pessoas porque, qualquer que seja seu nível de linguagem e de habilidades práticas, ela não responde de acordo com o padrão esperado.
A descrição da tríade lançou base para o diagnóstico estabelecido no Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-III-R 1987), e trouxe a questão de que o prejuízo social no autismo poderia variar com a idade e diferentes habilidades.
Atualmente, considera-se que a perturbação social é um distúrbio do desenvolvimento e que suas diferentes manifestações fazem parte de um espectro de distúrbios relacionados, referidos como contínuo autístico. Seu alcance varia dos casos mais severos até aqueles pouco afetados, de difíceis (e mais tardios) diagnósticos. O distúrbio de Asperger passou a ser considerado como uma forma atenuada do autismo, embora alguns autores acreditem tratar-se de outra síndrome.
“O Autismo Infantil é uma síndrome definida por alterações presentes desde idades muito precoces e que se caracteriza, sempre, pela presença de desvios nas relações interpessoais, linguagem, comunicação, jogos e comportamento.” (Schwartzman, 1994)
A última edição do Manual de Diagnóstico DSM-IV (1994) inclui o distúrbio autista na categoria dos transtornos invasivos do desenvolvimento, cujas características são prejuízo qualitativo na interação social e na comunicação verbal e não verbal, nas atividades imaginativas e repertório extremamente restrito de atividades e interesses. São outras características a falta de flexibilidade do pensamento, falta de empatia, rigidez, perseveração e ansiedade aumentada.
A inteligência está afetada em muitos, mas não em todos os indivíduos e por isto o quociente de inteligência (QI) não é aspecto determinante do autismo
De acordo com Rapin (1999), neurologista especializada em autismo, trata-se de um distúrbio neurológico e o critério para o diagnóstico é totalmente comportamental.

Resumindo, o autismo :
É um transtorno neurológico .
Ainda não se conhecem as causas .
O diagnóstico é feito com base no comportamento e não em exames .
A criança deve apresentar três aspectos essenciais , a “tríade autista “ :

1° aspecto - Social – A criança pode ser desde passiva e isolada , até “ativa mas estranha “ . Ela tem dificuldade em estabelecer relações , interagir , e não compreende as regras sociais. É por isto que :
  • não dá tchau ;
  • não olha nos olhos ;
  • não olha o que você olha ;
  • avança para os objetos ( ou comida ) das outras pessoas ;
  • abraça e beija pessoas estranhas ;
  • não atende quando é chamada ;
  • busca interesses só dela ;
  • não brinca com outra criança ;
  • só fala quando é de seu interesse ;
  • só fala sobre os assuntos que prefere ;
  • repete este assunto sem parar ;
  • não pergunta sobre a outra pessoa ;
  • sua fala tem uma entonação diferente , monótona ;
  • não sabe o que deve fazer numa situação nova , tem “ crises nervosas “ ;
  • não sabe o que você pensa ;
  • não percebe se você está triste , zangado ou feliz ;
  • não demonstra as emoções como as outras pessoas ;
  • não percebe ironia na voz ou no rosto das pessoas ;
2° aspecto – Linguagem e comunicação – dificuldade ou impropriedade na comunicação . A criança pode não olhar nos olhos , não se comunicar nem mesmo por gestos e expressões faciais , ou ainda apresentar postura corporal “estranha “ . Algumas não tem nenhuma linguagem , e outras são muito falantes mas não sabem manter um diálogo verdadeiro .
É por isto que :

  • não sabe pedir o que quer ;
  • não aponta ;
  • tem sempre a mesma expressão facial ;
  • usa a mão da outra pessoas como um instrumento ;
  • empurra a outra pessoa e olha o que quer ;
  • não sabe como abordar uma outra criança ;
  • grita muito ;
  • chora sem razão aparente ;
  • não atende quando é chamada ;
  • não entende o que você diz ;
  • parece não escutar ;
  • não sabe fazer perguntas ;
  • não responde ;
  • não compreende o não ;
  • quando faz perguntas , não entende a resposta , e repete a pergunta muitas vezes ;
  • não entende quando você briga com ela , não entende as palavras , nem os gestos , nem a expressão do seu rosto ;
  • tem crises nervosas ;
  • começa um assunto pelo meio ;
  • só fala sobre o assunto que lhe interessa ;
3° aspecto – imaginação – dificuldade em brincar , “ fazer de conta “ . A criança pode ter rotinas rígidas , rituais .
É por isto que :

  • não sabe para que servem os brinquedos , quebra ou atira longe ;
  • prefere objetos que girem ou façam barulho ;
  • se fixa em detalhes dos objetos ou brinquedos ;
  • não brinca com as outras crianças ;
  • prefere brincadeiras que envolvam o próprio corpo : cócegas , rodopiar , “ cavalinho “ ;
  • prefere fazer sempre as mesmas coisas , da mesma forma , ir pelo mesmo caminho , sentar no mesmo lugar .
É importante para a criança receber o diagnóstico correto e é necessário que os pais compreendam este distúrbio , porque só assim eles podem ajudar a criança da maneira que ela precisa . O diagnóstico é ainda importante para que a criança receba o tratamento (médico , educacional e terapêutico) adequado .
O MAIS IMPORTANTE É VOCÊ explicar tudo , MUITAS VEZES , com muita PACIÊNCIA , poucas palavras , entonação da voz , expressão facial exageradas e AMOR , MUITO AMOR , AMOR SEM MEDIDAS .
Não tenha medo ou vergonha de dizer que seu filho é autista . As pessoas tem medo do que não conhecem , se você explicar e tiver bom humor , poderá encontrar ajuda .
NINGUÉM ACEITA O QUE NÃO COMPREENDE .

FONTES :
Bishop, D. and Mogford, K. Language Development in Exceptional Circunstances.
U.K.: Lawrence Erlbaum Associates, 1993.

Happé, F. and Frith, U. The Neuropsychology of Autism. Oxford: Oxford
University Press, 1996; 119:1377-1400.

Rapin, I. Autism in search of a home in the brain. Neurology, 1999; 52: 902-904.

Schwartzman, J. Autismo Infantil. Brasilia: CORDE, 1994.


Checklist do Autismo
O autismo não é simplesmente um distúrbio com um conjunto de sintomas bem definidos. O autismo afeta o pensamento, a percepção e a atenção e abrange um amplo espectro de distúrbios que variam de leves a severos.
Geralmente, as crianças autistas exibem, no mínimo, metade dos sintomas listados abaixo. Estes sintomas variam de intensidade (leve a severo) e o comportamento, além de ocorrer em vários tipos de situações, é inadequado para a idade da criança.
Dificuldade na interação social e na comunicação:
Dificuldade em interagir com as outras crianças; prefere ficar sozinho; distante; dificuldade em expressar as necessidades; usa gestos em vez de palavras.
Um aspecto da linguagem das pessoas autistas que tende a estar comprometido, diz respeito a saber usar a linguagem de maneira apropriada, dentro do contexto. Isto inclui manter uma conversação, imaginando o que a outra pessoa compreende e pensa, perceber os sinais metalingüísticos, tais como as expressões faciais, tons de voz e linguagem corporal. Importante lembrar que a comunicação envolve aspectos verbais e não-verbais e as pessoas autistas têm muita dificuldade em compreender a linguagem não-verbal.

Respostas sensoriais anormais : visual, auditivo, tátil, equilíbrio, olfato, paladar, reação a dor.
Linguagem ausente ou atrasada.
Risos impróprios.
Ecolalia (repetição de palavras ou frases no lugar da linguagem normal).

Maneiras anormais de se relacionar com as pessoas, objetos e eventos
Não procura aconchego.
Apego a objetos.
Gira os objetos.
Persevera em brincadeira inadequada.
A habilidade motora ampla não está de acordo com a motora fina.
Não responde a dicas verbais; age como se fosse surdo.
Faz pouco ou nenhum contato visual.
Insistência na “mesmice”; resiste a mudanças na rotina.
A atividade física está muito aumentada ou muito diminuída.
“Crises de birra”; demonstra extrema frustração por nenhuma causa aparente.

Diagnosticando e Avaliando o Autismo
O autismo e os transtornos relacionados, como PDD-NOS (transtorno invasivo do desenvolvimento - não especificado) e a Síndrome de Asperger, são difíceis de serem diagnosticados, especialmente nas crianças pequenas no início do desenvolvimento da linguagem e de outras habilidades básicas . É essencial que o processo de diagnóstico do Autismo e deficiências relacionadas, incluam a avaliação do desenvolvimento da criança, da comunicação e de habilidades sociais. Avaliação é um processo contínuo. Uma vez alcançado um diagnóstico, este processo precisa ser repetido periodicamente.
Exames Médicos : Auditivos; Eletroencefalograma; Metabólico;Ressonância Magnética; Tomografia computadorizada; testes Genéticos.
Avaliações terapêuticas:
As crianças autistas e com transtornos relacionados necessitam de algum tipo de atendimento terapêutico. As avaliações determinam os benefícios potenciais da terapia.
Terapia de Fala e Linguagem: Geralmente as crianças autistas apresentam atraso na comunicação. Algumas são não verbais, outras apresentam atraso ou não usam a linguagem da maneira adequada.. Um fonoaudiólogo especializado em diagnóstico e terapia de linguagem pode ajudar a criança a se comunicar com mais eficácia.
Terapia Ocupacional: Geralmente, o foco terapêutico é melhorar as habilidades motoras finas nas atividades da vida diária, como escovar os dentes, comer sozinho, escrever, ou habilidades sensório-motoras que incluem o equilíbrio (sistema vestibular), percepção da posição do corpo no espaço (sistema proprioceptivo) e toque (sistema tátil). Depois que o terapeuta identifica um problema específico, a terapia ode incluir atividades de integração sensorial (massagens, toques etc).
Terapia Física: Especializada em desenvolver força, coordenação e movimento. Os terapeutas trabalham desenvolvendo as habilidades motoras amplas. Esta terapia envolve melhorar a função dos grandes músculos do corpo, através de atividades físicas.

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