quinta-feira, 22 de julho de 2010

ENTREVISTAS COM PESSOAS COM NANISMO

Entrevistas  vejam em :  http://sites.google.com/site/portaldonanismo/home/textos/entrevistas

CRÉDITO : PORTAL DO NANISMO 2010


Aconteceu de 27 de janeiro a 24 de maio a série de oficinas “Diversidade nas artes”, organizadas por Carina Casuscelli, que é artista multimídia, formada em Teatro e Negócios da Moda.

O portaldonanismo foi lá, e conversou com a Priscila Menucci (dona Nica, de “Uma escola muito louca”, da TV Bandeirantes) e a Carina Casuscelli, sobre arte, deficiência, políticas públicas e diversos outros assuntos.

Leia abaixo os principais trechos da nossa conversa:







flyer da programação do “Diversidade nas Artes”



portaldonanismo: O que impede uma participação maior do deficiente físico nas atividades de inclusão?atividades de inclusão?

Carina Casuscelli: Há coisas básicas que impedem a participação da mulher cadeirante nos eventos de inclusão social, e que nós nem percebemos. Por exemplo, o meio de transporte escolhido para o deslocamento, o calçamento sem rampa, os semáforos com tempo curto. Várias delas me reportam o interesse de participar, porém em vista dos obstáculos, não vêm. E ter alguém para trazer nem sempre é uma disponibilidade.



da esq. para a dir.: Alexandre Nardelli, Priscila Menucci, Haroldo Gomes em aula de teatro integrativo no teatro Comune



Priscila Menucci: Existe também uma parcela de acomodamento, da própria pessoa não ter uma vida social ativa em função de sua própria resignação, a reclusão no seio da família, o que acaba sendo conveniente para os governos, que não “enxergam” demanda social para investir. Isso era perceptível na feira de inclusão (a Reatech).

portaldonanismo: Falando nisso... como é a Reatech?

Priscila Menucci: A feira é grandiosa, embora na TV ela pareça restrita aos produtos de cadeirantes, de auditivos e visuais. A mídia têm desempenhado um papel importante, através da personagem cadeirante da novela, contribuindo com a dimensão que a feira tem

atingido. Contudo, o preço dos produtos permanece inacessível para a grande maioria das pessoas.

portaldonanismo: Acho que temos a oportunidade de entrar exatamente aí – na democratização dos preços dos produtos, na medida em que agirmos como uma entidade reconhecida, legalizada, que se articula com as esferas privada e pública, através de seus

representantes.

Carina Casuscelli: Dentro deste contexto de democratização insere-se também o teatro, já que especialmente hoje há espaço para o teatro de autor, aquele construído a partir da concepção do autor, que pode incluir em seu trabalho o debate sobre as personagens com

deficiência, que têm aparecido desempenhando funções naturais e integradas no contexto das peças. Obviamente estou me referindo de modo indireto à Priscila, que devido ao seu comprometimento me inspira a conceber trabalhos onde ela tem seu espaço assegurado.

Mas assim como ela, há muito mais deficientes de forma geral se deslocando com independência no metrô, mesmo os deficientes visuais, mais deficientes auditivos conversando entre si, mais cadeirantes, e esta exposição desperta na sociedade o interesse

de interagir com eles, e nos autores, o desejo de criar personagens mais reais.



da esq. para a dir.: Haroldo Gomes, Alexandre Nardelli, Priscila Menucci e Carina Casuscelli no auditório do teatro Comune

portaldonanismo: Então o mundo artístico, notadamente o teatro pode funcionar como porta de acesso a estas pessoas em seu caminho de inserção na vida social?

Carina Casuscelli: Sim, mas também há espaço para cadeirantes em dança, a chamada dança inclusiva ou integrativa, nos documentários, e começa a haver também intercâmbio de trabalhos, com profissionais de patologias diferentes complementando suas visões. E esse espírito de intercâmbio cria novas possibilidades, por exemplo, integrar várias deficiências em um mesmo evento, ou vários eventos. Toda essa abertura cria a oportunidade de exigir – rampas, adaptações, legislação...

portaldonanismo: O seu trabalho acaba sofrendo com a exclusão de alguma forma?

Carina Casuscelli: Eu venho trabalhando nesta frente a dez anos, e no começo eu era a “Carina dos anõezinhos”, a “Carina dos deficientes”. Eu era classificada como uma “artista na exclusão”. Mas eu não queria abrir mão, porque sempre acreditei em meu trabalho, e acima de tudo, no ser humano e sua capacidade de mudar. Então permaneci no meu foco, e hoje me sinto vitoriosa quando vejo por exemplo colegas meus que estão em empresas e se referenciam em meu trabalho para desenvolver uma atitude positiva diante dos deficientes com os quais convive. Eu sabia que ia demorar.





portaldonanismo: Como está o cenário atual para o seu trabalho?

Carina Casuscelli: Houveram avanço, como a lei de cotas para deficientes e os editais específicos, mas ainda há muita resistência. Por exemplo, o espetáculo “Lembranças da Perla” “bateu na trave” em cinco editais públicos, embora seja muito relevante e até mesmo

necessário, dado seu conteúdo cultural, informativo e educativo. Já a marca “A Moda Está em Baixa” traz a característica interessante de agradar a todos os públicos femininos, mesmo que originalmente tenha sido criada para mulheres com nanismo. E essa quebra de

paradigma (mulheres com deficiência passando a ser um referencial de moda para outras mulheres) é muito gratificante.

Priscila Menucci: Já na televisão ainda não há pessoas com nanismo em nenhuma novela, muito menos desempenhando papéis sociais comuns. Não há credibilidade, o que acaba relegando-nos aos papéis tipo “bobo da corte”.



portaldonanismo: Quais são as perspectivas atuais para o seu trabalho?

Carina Casuscelli: A medida que a exposição cresce, diminuem os apoios e aumentam as cobranças. Muitas vezes os riscos foram assumidos apenas por nós, sozinhos. O monitoramento do mercado é contínuo; os projetos, de longo prazo; os produtos, para

agregar valor à imagem da mulher com nanismo.





Priscila Menucci: O que fazemos para contornar a falta de verbas é propor projetos com enfoques customizados para atingir entidades que possam vir a se tornar parceiras, daí inserimos nossos projetos próprios depois. Nunca dá para inserir o projeto diretamente no enfoque principal.

Carina Casuscelli: Por isso nosso próximo passo é a obtenção de patrocínio. A exigência do mercado é muito grande, não dá mais para caminharmos sozinhos.

Anexos (1)

entrevista Diversidade.pdf - em 22/07/2010 11:46 por hwgomes@yahoo.com.br (versão 1)

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