quarta-feira, 28 de julho de 2010

TRANSTORNO BIPOLAR

Transtorno bipolar. Publicitário reuniu em livro crônicas sobre momentos de crise causados pela doença
Entre a euforia e a depressão
Doença não impede o paciente de ter uma vida normal, afirma especialista
TATIANA LAGÔA
"Passei em uma livraria em São Paulo e comprei R$ 6.000 em livros. Fiz dedicatórias para alguns amigos meus que, na hora, achei fantásticas. Foi em um momento de euforia, quando a gente se acha genial. Depois que passou a alegria, caí na real e acabei não dando os livros para ninguém". Essa é apenas uma das inusitadas histórias que o publicitário Marcelo Diniz, 62, viveu desde que descobriu ter transtorno bilopar, há 38 anos.

De forma bem humorada, ele colocou toda a sua experiência com o distúrbio - que tem como principal característica a oscilação entre a depressão e a euforia - no livro "Crônicas de um Bipolar", lançado na última semana. "Eu estava fazendo um livro de crônicas sobre passagens da minha vida. Aí, decidi ampliar a ideia e escrever histórias que vivi nos momentos de crise causadas pela bipolaridade", conta o publicitário.

Apesar de esse não ser o principal objetivo da publicação, Diniz considera importante tratar publicamente a bipolaridade para que as pessoas entendam melhor a doença e percam o preconceito com seus portadores.

O próprio autor é um exemplo de que a doença não impede as pessoas com transtorno bipolar de terem uma vida normal. Diniz é um publicitário bem sucedido e já desenvolveu projetos para uma série de empresas de grande porte. Hoje, ele é assessor da Associação Brasileira de Agências de Publicidade e planejador da Associação Brasileira de Propaganda.

Além disso, "Crônicas de um Bipolar" é o segundo livro escrito por ele - a estreia como autor foi com "O capital moral ou a falta dele", lançado em 2004.

Tratamento. A médica e psicanalista Soraya Hissa de Carvalho explica que, apesar de a doença não ter cura, as pessoas com transtorno bipolar conseguem viver uma vida tranquila, desde que façam um tratamento adequado. "Dá para manter a doença sobre controle com o tratamento e voltar à vida produtiva, o que, em momentos de crise, é muito difícil", garante a médica.

Segundo a especialista, portadores de transtorno bipolar costumam passar por fases críticas de depressão e euforia. No primeiro caso, os sintomas são queda da concentração, atenção e auto-estima, além de ideias de culpa e inutilidade.

Já nos momentos de euforia, o doente passa a perder o sono e deixa de avaliar riscos. "É normal que elas se envolvam em situações de alto risco, como carros em alta velocidade ou o uso de drogas. Nas situações mais extremas, elas podem até tentar suicídio", alerta.


Saiba mais sobre a bipolaridade


Cautela. O diagnóstico da doença pode ser lento e deve ser cuidadoso. "Não podemos classificar uma simples mudança de humor do dia-a-dia como um transtorno grave", explica o psiquiatra Ricardo Moebus.

Ele conta que os transtornos ocorrem frequentemente e têm características comuns.

Causas. A bipolaridade não é uma doença genética. Os especialistas advertem que ela pode se manifestar por vários motivos - o mais comum é a ocorrência de abalos emocionais graves ao longo da vida.

Tratamento. Alguns doentes precisam de medicamentos, terapias, participação em grupos de apoio e atividades que auxiliam no controle da euforia e da depressão.


Diagnóstico


Maioria não sabe que tem
A maior parte dos portadores de transtorno bipolar desconhece a doença, segundo a médica e psicanalista Soraya Hissa de Carvalho. “Várias pessoas não sabem que são bipolares e tratam o transtorno como depressão.

Por isso, é importante avaliar bem o histórico do paciente para propor o melhor tratamento”, avalia a psicanalista.

É o caso do aposentado Luiz Carlos Coimbra, 62. Ele conta que, desde a adolescência, tinha atitudes fora do padrão, mas custou a descobrir o motivo. Coimbra só foi corretamente diagnosticado depois de perder a empresa da qual era proprietário – durante as crises de euforia, ele assumia compromissos financeiros que não conseguia cumprir.

 “Eu não avaliava riscos e minha empresa quebrou. Eu não tinha capacidade de notar que estava errado”, conta.

Após o tratamento, o aposentado garante que consegue manter uma vida normal.

 “Hoje, vivo harmoniosamente com minha família. Passei a conhecer meus próprios limites e os das pessoas que convivem comigo”, relata. (TL)

FILMES SOBRE BIPOLARIDADE:  



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