André Brasil fala sobre desporto adaptado e trajetória em Londres
Nathália Mendes - EBC17.09.2012 - 15h20 | Atualizado em 17.09.2012 - 16h19
Anunciado como convidado do bate-papo, o velocista Alan Fonteles - medalha de ouro nos 200m T44 - não pode comparecer por problemas de agenda. Em Belém, ele participou de solenidade onde foi agraciado com a Comenda da Ordem do Mérito Grão Pará, honraria máxima do estado concedida aos paraenses personalidades merecedoras da admiração do governo e da população do estado.
O bate-papo aconteceu por meio da ferramenta hangout (ferramenta da rede social Google+, que possibilita a criação de uma sala de videoconferência com vários participantes), com André falando de São Paulo e a jornalista mediadora, de Brasília. O vídeo da conversa pode ser assistido na íntegra clicando no player acima.
Veja os principais trechos da entrevista com André Brasil:
Trajetória no esporte paralímpico
O ano de 2004 marca o início de uma carreira que coleciona medalhas e recordes no cenário paralímpico mundial. André Brasil, que tem uma pequena diferença em uma das pernas por conta de uma reação à vacina da poliomelite, admitiu que só foi descobrir o desporto adaptado ao ver Clodoaldo Silva nadando em Atenas: "Eu olhava para a TV e pensava, 'o que que eu tô fazendo aqui? Eu não podia estar lá?'", lembra. "Dois anos depois, eu consegui chegar lá para buscar as minhas medalhas".
Com 28 anos e dizendo não ser "um atleta jovem", ele constata a evolução que alcançou no período de oito anos: "Meus tempos melhoraram mais de 100% de 2004 para cá", diz ele. Em Londres, foram três medalhas de ouro (100m borboleta S10, 50m livre S10 e 100m livre S10) e duas de prata (200m medley SM10 e 100m costas S10): "Eu ainda não consegui descrever em uma palavra ou em uma frase tudo aquilo que a gente sente naquele momento".
Resultados
Apesar de subir no pódio cinco vezes, André avalia que poderia ter resultados ainda melhores: "Acredito que alguns resultados foram sacrificados por eu ter escolhido nadar em várias provas". Ele cita, por exemplo, a prova dos 50m livre - a prova mais rápida da sua categoria: "Não nadei na casa dos 22s por detalhe. A prova dos 50m livre foi um dia depois dos 200m medley, que é uma prova que exige muito. Senti o peso de mais quatro anos de esforço, de treino, e isso influencia no tempo". André Brasil venceu a prova em 23s16.
Treinamento
Uma peculiaridade do treinamento de André é que ele é acostumado a competir com atletas sem deficiência - o que, para ele, ajuda a manter a excelência em resultados: "Enquanto resultado, é excepcional para mim treinar com atletas mais fortes que eu. O bacana é ser considerado um igual por eles. Eles sabem que, estando ali perfilados os oito atletas para definir um resultado, se eles vacilarem, eles vão perder. Sempre foi assim na minha vida". E afirma: "Meu sonho é que, lá na frente, as pessoas possam olhar sem se importar se é atleta olímpico ou paralímpico. Somos todos atletas".
Jogos Olímpicos
Questionado por internauta se ele planeja tentar índice para disputar também os Jogos Olímpicos, ele comenta: "Eu sei onde é o meu lugar, a minha casa. O desporto adaptado é a minha bandeira. Mas minha missão dentro do esporte é mostrar que, com trabalho duro e árduo, você consegue objetivo maior tanto quanto o atleta sem deficiência". Apesar de querer ser "instrumento de transformação" para os paralímpicos, a vaga em um time olímpico é um sonho que existe: "Eu tenho alguns sonhos e sei que meu potencial pode me levar à seleção dos atletas sem deficiência. Não sei se no Rio 2016, mas dá para pensar em um Sul-Americano ou um Pan-Americano. Mas, por que não sonhar com Jogos Olímpicos?".
"Cometa"
Para falar sobre a visibilidade e o espaço dos atletas olímpicos e paralímpicos no país, ele utiliza uma metáfora: "Eu costumo dizer que o desporto adaptado é como um cometa. A gente é falado antes dos Jogos, durante o evento é uma festa, depois a repercussão dos resultados, mas daqui a uma semana, mal vão se lembrar quem é o Daniel (Dias, nadador), o André ou o Alan (Fonteles). Isso com a gente, mas também com qualquer outro atleta olímpico do Brasil. Isso é uma pena", lamenta.
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