domingo, 2 de setembro de 2012

‘Mulher de ferro’ ignora previsão de morte para vencer em Londres


02/09/2012 08h00 - Atualizado em 02/09/2012 12h54

‘Mulher de ferro’ ignora previsão de morte para vencer em Londres

Com 13 participações na prova mais difícil do triatlo, a brasileira Susana Ribeiro revela ter recebido ‘sentença de vida’ ao descobrir Mal de Parkinson

Por Cahê Mota Londres
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Matematicamente não há lógica, mas uma simples prova de 100m peito pode ser, sim, muito mais sacrificante do que uma competição com 3.8km de natação, 180km de ciclismo e 42.1km de corrida. A brasileira Susana Ribeiro disputa as Paralimpíadas para provar isso. Ex-triatleta, a gaúcha esteve no Pan de Mar del Plata-1995, participou 13 vezes do Iron Man (Homem de Ferro) do Havaí, prova mais importante da modalidade, até que em 2005 descobriu um tipo raro de Mal de Parkinson. Sete anos depois, porém, ela conquista em Londres a vitória mais importante de sua carreira.
Ao ter a doença, enfim, descoberta pelos médicos, após sofrer com diagnósticos de tumor no cérebro, derrame e esclerose, Susana, que tem 44 anos, chegou a receber a notícia de que sua vida não duraria muito. O esporte, que a esta altura já era apenas um hobby, passou a ser terapia, até que em 2010 a nadadora voltou a competir em alto rendimento, dando início ao ciclo que a levou até os Jogos no Reino Unido.
paralimpíada Susana Schnarndorf  (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)Aos 44 anos, Susana Ribeiro faz sua estreia em Paralimpíadas (Foto: Cahê Mota / Globoesporte.com)
- Com certeza a Paralimpíada é o ápice. No triatlo, tinha sido o Iron Man, mas as Paralimpíadas são ainda mais grandiosas. É um sonho mesmo. Passa um filme na cabeça. Às vezes falam: “Ah, vai nadar contra deficiente, é fácil”. Mas é tão difícil quanto uma Olimpíada. Se eles são deficientes, eu também sou. É muito diferente estar aqui. Uma doença grave sempre nos abate muito, mas o esporte me ajudou muito outra vez - disse ela, que treina no Instituto Superar, no Rio de Janeiro.
No período em que já sofria com a doença, que endurece os músculos e afeta os movimentos do lado esquerdo do corpo, mas ainda não tinha diagnóstico exato, Susana ia para as piscinas apenas para se movimentar e se sentir viva. Era o início de uma trajetória até então inimaginável rumo aos Jogos Paralímpicos e que faz com que a nadadora valorize ainda mais cada toque na borda ao término das provas.
- Continuei nadando porque tinha certeza que se parasse eu ia embora mesmo. Ia para piscina e ficava me arrastando de um lado para o outro. Não sabia o que eu tinha. Até que conheci o esporte adaptado e tudo mudou na minha vida. Se me falassem há 10 anos que isso ia acontecer, eu ia rir para caramba e falar: “Está louco?”. Nunca consegui ir para uma Olimpíada e Deus me deu outra chance de realizar o sonho. Estou muito feliz, me emociono com tudo. Carrego todo mundo que me ajudou no coração.
paralimpíada Susana Schnarndorf   (Foto: Reprodução / Facebook)
Em 1995, Susana disputou o Iron Man no Havaí
(Foto: Reprodução / Facebook)
No início de 2012, Susana recebeu outra pancada da vida. Já com as Paralimpíadas como uma realidade, viu a lesão progredir e afetar diretamente seu empenho. Ao desembarcar na capital britânica, porém, teve o pedido para reavaliação de sua funcionalidade aceito pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC) e mudou da classe S8 para S7, mais justa para suas limitações.
- Não penso mais na doença. Esse ano foi bem difícil, tive uma progressão acentuada da lesão neste ano, perdi muito da coordenação motora e pedi para fazer reclassificação funcional. Tive que reaprender a nadar, mudar o jeito. A Paralimpíada estava tão perto, mas tudo tem um propósito. Estou aqui para dar o meu melhor.
Em Londres, a gaúcha disputa cinco provas: 100m e 400m livre, 100m peito (foi 4º lugar), 100m costas (foi 15º) e 200m medley. Disputas que já a fazem se sentir realizada, independentemente de medalhas como as que ela colecionou no triatlo.
- Se eu pudesse escolher, passaria tudo de novo. Cresci como pessoa. Hoje, sou diferente. Posso dizer que estar aqui é muito mais difícil do que o Iron Man. Quando subo no bloco, é especial. Disseram que eu nem estaria aqui mais, me deram sentença de vida, falaram em seis meses. Estar aqui é uma grande vitória. Se eu ganhar a medalha, vou dar para os meus filhos e ser a pessoa mais feliz do mundo.
Um mundo que Susana já mostrou não ter limites: seja nadando 100m peito em Londres ou mostrando ser uma mulher de ferro no Havaí.

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