domingo, 2 de setembro de 2012

CADEIRANTES ENCANTAM E EMOCIONAM COM DANÇAS DE SALÃO

CADEIRANTES ENCANTAM E EMOCIONAM COM DANÇAS DE SALÃO


Alessandra com Soyane Vargas e Lincoln Pereira
Alessandra com Soyane Vargas e Lincoln Pereira
Fechemos os olhos e comecemos a dançar. Deixemo-nos levar pelo ritmo e pela melodia que toca ao fundo e, junto ao nosso parceiro, risquemos o salão em passos leves e alongados. Dança é movimento, é liberdade, é exercício, é terapia, é brincadeira. Não é à toa que muitos profissionais de saúde recomendam a dança a pessoas idosas, obesas ou com algum problema médico. A dança mexe com o corpo e alivia a alma. Assim é para todos. Assim é para pessoas com deficiência. Mais e mais as pessoas com deficiência têm rompido barreiras e quebrado preconceitos ao longo do curso da história. Por que não com a dança?
A dança em cadeira de rodas vem aumentando seu campo de trabalho e conquistando cada vez mais o seu espaço no meio social, através de manifestações artísticas. No Brasil, teve início a partir de 1990, e atualmente é praticada por mais de 15 estados com participação aproximada de 200 dançarinos com deficiência física. A dança em cadeira de rodas pode ser desfrutada em diferentes estilos, como, por exemplo, dança de salão, Folk, ballet clássico ou moderno, entre outras. Existem também distintas modalidades, como a Dança Combinada (uma pessoa em cadeira de rodas dançando com uma pessoa sem deficiência), Dança em Dupla (duas pessoas em cadeira de rodas juntas), Dança de Grupo (grupos apenas de usuários de cadeira de rodas ou grupos mistos, com parceiros sem deficiência, em coreografias estruturadas ou livres) e Dança individual (a pessoa em cadeira de rodas sozinha).
Casal dança no espetáculo Tessitura
Casal dança no espetáculo Tessitura
Esta modalidade torna-se particularmente interessante, pois não é praticada apenas por jovens ou adultos, podendo ser também praticada pelos mais velhos. Desta forma, pode apresentar-se como uma forma ótima de inclusão dos deficientes em cadeira de rodas com mais idade.
seleção brasileira de dança em cadeira de rodas disputou pela terceira vez em novembro de 2010 do Campeonato Mundial de Dança Esportiva em Cadeira de Rodas em Hannover, na Alemanha. As duplas que ocuparam os lugares mais altos do pódio do nono campeonato brasileiro em julho de 2010 em Santos (SP), foram os representantes do país no mundial. A dupla carioca Viviane Pereira Macedo e Luiz Cláudio da Silva Passos, do IBDD, foi a campeã brasileira, e a dupla santista Adelina de Oliveira Perez e Alexandre de Aguiar Siqueira, da Secretaria Municipal de Cultura de Santos, vice-campeã na categoria cinco danças latinas.
A professora Soyane Vargas, coordenadora do Grupo Holos de Dança, em Niterói/RJ, enumera alguns fatores importantes para a dança sobre rodas. Um deles é a relação entre a pessoa com deficiência e sua cadeira de rodas, afirmando que quanto maior for a adaptação, melhor o resultado final. Outro ponto levantando por ela é a acessibilidade do local, que precisa possuir rampas de acesso, portas no tamanho correto, vestiários e piso liso para possibilitar o desenvolvimento do trabalho. Soyane não relaciona a dança com terapia, pois “terapia nos remete ao tratamento de doentes e a dança para pessoas com deficiência é um direito de acesso à arte, como prática de atividade física e exercício de cidadania”. Para ela, a dança pode sim ser terapêutica, desde que trabalhadas por profissionais competentes.
Alessandra se apresenta com seu parceiro José Guilherme
Alessandra se apresenta com seu parceiro José Guilherme
Os cuidados no trabalho com dança para pessoas com deficiências exigem profunda avaliação dos limites e possibilidades corporais de acordo com o tipo de deficiência e as particularidades que cada uma delas pode apresentar. Nesse aspecto, alguns profissionais podem contribuir muito. A avaliação médica e fisioterápica ajudam a compor o quadro do praticante, para que o professor possa realizar um trabalho seguro e eficaz.
Soyane aponta alguns desafios para a dança sobre rodas, como a maior adesão por parte do público masculino, romper as dificuldades de acesso aos locais em função do transporte público, os dançarinos cadeirantes serem reconhecidos como produtores de arte e não como pessoas com deficiências que dançam, ampliação de locais que ofereçam esse tipo de trabalho e de profissionais preparados para esse tipo de trabalho e, finalmente, políticas públicas capazes de reconhecer o valor da arte para o desenvolvimento das pessoas em geral e das pessoas com deficiências em particular. Com formação em educação física e educação, Soyane complemente, afirmando que a dança sobre rodas proporciona a inclusão de crianças com deficiência nas aulas de arte e educação física, além de contribuir para o aperfeiçoamento do senso estética, do prazer da atividade física e da quebra de preconceitos e estereótipos na sociedade.

Membros da Cia Holos de Dança de Niterói/RJ
Membros da Cia Holos de Dança de Niterói/RJ
Alessandra Gomes – Alessandra Gomes, 22, é uma das muitas jovens que fazem parte do Grupo Holos de Dança, em Niterói/RJ, sob a coordenação de Soyane Vargas. Paulista, mora atualmente na cidade carioca com sua família, e começou a dançar há três anos. Antes disso, praticava natação e condicionamento físico. Alessandra possui Osteogênese Imperfeita e, segundo ela, “a dança na minha vida é meu trabalho, meu bem estar, minha paixão, minha terapia”.
Alessandra conta que conheceu Soyane e ela disse que a queria na dança. “Eu simplesmente, achava absurdo dançar sentada. Sendo assim, eu fugia dela, me escondia”, disse. Ao chegar em casa, porém, comentou com sua mãe e recebeu dela comentários de incentivo. “Mãe, tem uma mulher dizendo que quer que eu dance e minha mãe me incentivou”. A partir daí, foi conhecer a “tal dança sobre rodas e me apaixonei”, afirmou. Ela diz amar a dança e que é sua paixão. Infelizmente, no entanto, lamenta que ainda são poucos os praticantes, pois “muitos não conhecem”.
Quanto à Osteogênese Imperfeita, não há problema. “A dança na realidade me fortalece. Temos que ter um bom condicionamento físico e não faço passos ou acrobacias arriscadas”, afirmou. Ela complementa, dizendo que cada um precisa conhecer seus próprios limites e seus objetivos. Além disso, há ótimos profissionais, totalmente capacitados para lidar com pessoas com deficiência.
* As fotos foram fornecidas por Alessandra Gomes

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