Artigo de Kátia Soane Santos Araújo tem como objetivo esclarecer a cerca do desenvolvimento cognitivo, físico e motor das crianças com Síndrome de Down.
Kátia Soane Santos Araújo
O presente artigo tem como objetivo esclarecer a cerca do desenvolvimento cognitivo, físico e motor das crianças com Síndrome de Down. Como a síndrome é uma das anomalias mais comuns entre os nascidos, faz se necessário o conhecimento das suas características assim como o desenvolvimento.
Palavra-chave: Síndrome de Down - desenvolvimento - Criança.
Conceitualização da Síndrome de Down:
Síndrome de Down é uma das anormalidades mais comuns entre os nascidos que se caracteriza como uma espécie de retardo mental ocasionado por um erro genético microscopicamente apresentável, através da ocorrência de três cromossomas 21 (trissomia), As pessoas com esta síndrome, em sua maioria, apresentam o desenvolvimento físico e mental mais lento do que os demais sujeitos, a maioria, têm o retardo mental leve a moderado, e há alguns casos que podem, também, apresentar um retardo mental severo.
De acordo a dados observados, há inúmeras variações do desenvolvimento cognitivo das crianças com síndrome Down, umas têm um excelente desenvolvimento como o caso da atriz Joana Mocarvel que interpretou a personagem Clarinha na novela "Páginas da Vida" exibida pela Rede Globo e outras não, porém isso depende muito dos estímulos que lhes são oferecidos como o caso da atriz que desde o seu nascimento é acompanhada por diversas terapias que a auxiliam o seu desenvolvimento, mas em termo geral, enquanto uma criança sem síndrome costuma a falar por volta dos 12 aos 24 meses a criança com Síndrome de Down inicia a oralidade por volta dos 3 aos 5 anos de idade, podendo também acontecer mais tarde.
Como todos os sujeitos, apresentamos especificidades nas características físicas, todavia as crianças com Síndrome de Down apresentam características peculiares à síndrome, sendo que estes aspectos auxiliam aos médicos o diagnóstico da anomalia, porém é importante ressaltar que alguns indivíduos podem apresentar muitos das características e outros poucos, não existindo uma regra quanto a isso.
As características físicas das pessoas com Síndrome de Down são: Inclinação da fendas pálpebras; Achatamento da parte traseira da cabeça; Dobras nos cantos dos olhos: Língua proeminente; Ponte nasal achatada; Orelhas menores; Boca, mãos e pés pequenos; Tônus muscular diminuído; Pela na nuca em excesso e ressecada; Pode apresentar a ausência de uma falange ou aumento dos espaços entre o primeiro e o segundo dedo e uma linha que cruza a palma da mão (linha semiestica), sendo que as crianças que têm essas características especificas, freqüentemente apresentam mal-formação cógnita. As principais alterações são: no coração, mal-formações gastrointestinal, imperfuração anal, doença de Hirschsprung. Apresentando também um grande índice de crianças com Síndrome de Down com leucemia e com diminuição da capacidade auditiva e visual.
De ordem geral os cuidados com a criança com Síndrome de Down são basicamente o mesmo que as demais crianças, contudo é necessária uma atenção especial em algumas situações, como: Avaliação periódica da audição, visão e do coração; Cuidado com alimentação, pois na infância têm dificuldade em ganhar peso e na adolescência facilidade em ganhar (causando muitas vezes a obesidade); Controles hormonais e questões ortopédicas.
Desenvolvimento da criança com Síndrome de Down de 0 a 6 anos.
O desenvolvimento da criança com Síndrome de Down, como visto na conceitualização, é bastante semelhante com as demais crianças "ditas normais", apesar das peculiaridades que diferem umas das outras, o desenvolvimento cognitivo e afetivo encontram se respaldados através da relação do sujeito com o meio, pois para Galvão (1995), os aspectos físicos, dos espaços, as pessoas próximas, a linguagem e os conhecimentos próprios a cada cultura formam o contexto do desenvolvimento.
Ao contrário disto, a teoria maturacionista propõe que o curso do desenvolvimento humano é determinado geneticamente, ou seja, para Hall pioneiro desta teoria, a criança se tornará aquilo que é determinado por sua constituição genética, e sabendo que as crianças com Síndrome de Down, mesmo no contexto de estimulação, têm o desenvolvimento mais lento que a demais criança, faz-se necessário enfatizar que em cada idade se instala um tipo particular de interação entre o sujeito e o meio. Porém, essas idades cronológicas referidas com estágios ou fases, necessariamente, não serão as mesmas para as crianças com Síndrome de Down.
As crianças quando nascem em seu primeiro estágio de vida, no qual Piaget denomina como Sensório-motor correspondente à idade entre zero e os dois anos. Nesta fase, a inteligência se caracteriza de maneira empírica, exploratória, não verbal, no qual criança aprende pela experiência, examinando e experimentando os objetos ao seu alcance. Somando conhecimentos e estabelecendo uma relação entre ela e o social. Mas, para os sindrômicos esta fase, especificamente, se difere muito das crianças sem síndrome, pois sua formação física não lhes oportuniza em responder espontaneamente ou de maneira semelhantes aos estímulos motores e sociais. Exemplo, são para os recém-nascidos que de forma geral, apresentam a falta de habilidade em sugar o seio materno, pois sua formação consiste numa fraqueza no tônus muscular (hipotonia) que os impede de exercer as funções de sugar ou deglutir como acontece normalmente nas crianças dessa faixa etária.
Hoje, busca-se apoio em teoria do desenvolvimento com alicerce deste processo. Entre muitas, a que mais se destaca no favorecimento das capacidades deste individuo e a teoria sócio-interacionista que indica o meio como um agente primordial para o avanço cognitivo assim como o motor e o afetivo, pois um ambiente favorável e rico em recurso facilitará e ampliará as possibilidades dos indivíduos.
Porém, sabe se que a exploração direta e às experiências de vida não basta, freqüentemente, para modificar os padrões de aprendizagens (Zansmer; 2005), tanto para criança com síndrome quanto para os normais serão necessário uma intervenção direta neste processo. No caso das crianças normais essa mediação será feita pela mãe e/ou família, e para os deficientes necessitarão da intervenção profissional de terapeutas (fisioterapeuta, terapia ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo entre outros), com o propósito de ajudar os pais e/ou responsáveis com auxílio de técnicas que ajudam as crianças sindrômicas a interagirem com um maior nível de interesse, atenção e habilidade.
Estas técnicas são denominadas como intervenção ou estimulação precoce que pode focalizar a melhoria do desenvolvimento Sensório Motor que como referido por Piaget são reflexos neurológicos básicos, ou seja, é quando o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio, este contato é direto e imediato, sem representação ou pensamento. Nas crianças normais isso segue uma seqüência relativamente típica: primeiro levanta a cabeça quando de buço, rolar, senta-se, engatinhar, ficar de pé e anda. Já na perspectiva waloniana, esse fase se caracteriza como estágio Impulsivo Emocional, no qual ainda há uma inaptidão para a criança de agir diretamente sobre a realidade exterior. Neste estágio tanto o bebê com síndrome quanto o sem síndrome são necessários cuidados especiais, pois a afetividade é uma linguagem que ratifica a relação entre o sujeito e o meio. Mas vale ressaltar que quando a crianças possui síndrome há uma tendência de estender essa fase para idade 12 aos 24 meses, pois ela se organiza muito precariamente sua relação com ambiente no qual a criança se mantém excessivamente ligada à mãe.
A criança com Síndrome de Down - como qualquer outra - esta apta a aprender ao nascer, seu agravante neste processo é o atraso do desenvolvimento motor. Uma estratégia para ampliar essas funções é a brincadeira, pois para Vygotsky (1971), a situação de brincadeira cria uma zona de desenvolvimento proximal que são aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentes em estado embrionário, ou seja, o ponto além do qual um indivíduo não pode funcionar sozinho, mas sim com ajuda do outro.
A brincadeira na infância se constitui com elemento indispensável ao desenvolvimento da criança, visto que programas de educação baseiam-se nessa linguagem. Por exemplo, o jardim de infância original de Froebel e o Método Montessoriano, apesar dos focos diferirem em sua essência, ambos retiram da brincadeira aspectos para as suas teorias e consequentemente para o desenvolvimento infantil. Sendo que isto não difere quando se discuti sobre desenvolvimento das crianças com Síndrome de Down, uma vez que é aconselhável por fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e especialista aos pais destas crianças brincarem com seus filhos com o propósito de avaliar nas brincadeiras o desempenho global da criança.
A APAE (Associação de Pais e Amigos dos Expressionais) vem ao longo dos 50 anos garantindo um atendimento a essas crianças através serviços de auxílio aos pais e criança favorecendo a saúde e educação, buscando promover um ambiente favorável às crianças com Síndrome e Down, assim como as crianças com demais deficiência mental um ambiente rico em situações de aprendizagem que favoreçam o máximo a construção cognitiva, afetiva e motor desses indivíduos.
Importância do Processo Inclusivo para as Crianças com Síndrome de Down:
A inclusão no âmbito da nossa sociedade já é uma realidade, os pais de crianças com Necessidades Educacionais Especiais, respaldado na Lei de Diretrizes e Bases, Carta de Salamanca e ultimamente a campanha realizada na mídia, têm matriculado ou tentado o ingresso dos seus filhos em escolas regulares. Mas a questão principal é que os professores e escolas se julgam despreparados para esta proposta, então as crianças agrupadas nesta situação permanecem ainda segregadas dentro de salas de aula regular. Para que a inclusão obtenha sucesso, é necessário incluir como objetivos específicos e fundamentais para o trabalho com a diversidade:
1) Sensibilização de professores, coordenadores e direção;
2) Sensibilização dos demais funcionários;
3) Conhecimento das diversidades, dos portadores de necessidades educativas especiais/ comportamentos/ possibilidades;
4) Sensibilização com os pais e alunos da escola;
5) Adaptações, recursos, sala de apoio. (SANTANA, 2003)
As atitudes do professor, segundo Wang (1995) apud Ferreira (2004) no texto da Exclusão à Inclusão, revelam que as mesmas são fatores determinantes no tipo de relacionamento que se estabelece na sala de aula. Em outras palavras, uma atitude igualitária e positiva encorajará a aprendizagem da criança, a interação com os colegas e o apoio ao aluno. Uma atitude discriminatória e segregadora trarão discriminação, isolamento e fracasso educacional. O trabalho com professores é fundamental visto que o desempenho do grupo depende deles. Blanco (2002) na entrevista com a Revista Gestão em Rede - Implicações Educativas do Aprendizado na Diversidade julga importante que o docente comum tenha ferramentas, instrumentos e conhecimentos, para dar a resposta à diversidade. A proposta é um desafio que deve ser acompanhado de processos de formação, sendo essa vinculada a construção de projeto educativo institucional. Acredita-se que inclusão não é apenas condição do professor isoladamente, mas sim de toda a escola. Para trabalhar com essa nova perspectiva são necessárias mudanças, e mudar a escola exige trabalho em muitos âmbitos. Werneck (1997) apud Santana (2003), membro do Down Syndrome Medical Interes Group, diz que: "Partindo da opinião de que quanto mais à criança interage espontaneamente com situações diferentes mais ela adquire conhecimentos, fica fácil entender porque a segregação é prejudicial tanto para os alunos com Necessidades Especiais como para os - normais - , isto porque, ela impede que as crianças das classes regulares tenham oportunidade de conhecer a vida humana com suas dimensões e desafios. E se não houver desafio, como pode existir evolução?" . Assim a escola tem como objetivo preparar a criança para a cidadania, isto inclui orientá-la para valorizar as particularidades.
Referências:
BLANCO, Rosa. Revista Gestão em Rede - Implicações Educativas do Aprendizado na Diversidade, agosto, 2002.
FERREIRA, Windyz. Da Exclusão à Inclusão: formando professor para responder à diversidade na sala de aula, 7, 2004.
JERUSALINSCKY e CORIAT, Alfredo e Lídia, Escritos da Criança - Porto Alegre , Ed Artmed , 1986.
MACIEL, Maria Regina Freud, o inconsciente e a educação. In::Psicologia e Educação: novos caminhos para a formação/ Ira Maria Maciel (org) - Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2001.
OLIVEIRA, Marta Kohl de, VYGOTSKY: Aprendizado e desenvolvimento; Um processo sócio-histórico - São Paulo: Ed Scipione , 2003.
OLIVEIRA, Marta Kohl de, O problema da afetividade em Vygotsky. IN: Piaget, Vygotsky e Walon: teorias psicogenéticas em discussão? Yves de La Taile, Marta Kohl de Oliveira e Heloysa Dantas - São Paulo: Ed Summus,1992.
PUESCHEL, Siegfried, Síndrome de Dawn: Guias para pais e educadores In::Série Educação Especial/ Ira Siegfried Pueschel (org)- São Paulo: Ed Papirus, 2005.
SANTANA, Juliana. www.contabiliza.com.br, 2003. VYGOTSKY, Lev Semenovich , A formação social da mente, São Paulo: Ed Martins Fontes, 1984.
TERRA, Planeta. www.planeta.terra/educaçao/psicopedagogia, 1998.
WERNECK, C. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro: so. 2 Pessoas portadoras de sindromecaso das crianças normais essa mediação será feita pela mãe e/ou família.
Kátia Soane Santos Araújo, Pedagoga, professora de Educação Especial da APAE/SALVADOR.
Blog do Prof de Ed. Física MSc SERGIO CASTRO,da Pós Graduação em Educação Especial e Tecnologia Assistiva da Universidade Cândido Mendes(AVM) ;Ex-professor da Universidade Estácio de Sá e Ex-Coordenador de Esportes para Pessoas com Deficiências (PcD) do Projeto RIO 2016 da SEEL RJ ,destinado a fornecer informações sobre pessoas com deficiência(PcD) e com Necessidades Educativas Especiais(PNEE), bem como a pessoas interessadas nesta área ( estudantes, pais, parentes, amigos e pesquisadores)
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