quarta-feira, 25 de novembro de 2009

DOWN - ADAPTAÇÕES CURRICULARES ( II )



Professor SERGIO CASTRO, alunos do Projeto DOWN da Universidade Estacio de Sá ( Campus AKXE) Barra da Tijuca

Vejam o segundo Artigo de Patricia Díaz-Caneja para o Canal Down21



INTRODUÇÃO.
ADAPTAÇÕES CURRICULARES NÃO SIGNIFICATIVAS:


Metodologia, atividades, instrumentos de avaliação e temporização.
ADAPTAÇÕES CURRICULARES DE ACESSO:



Pessoais, materiais, físicas e de comunicação.

BIBLIOGRAFIA

Introdução

No artigo adaptações curriculares I comentei aspectos gerais das adaptações curriculares, assim como as questões mais teóricas que as caracterizam. Nesta segunda parte pretendo completar esses conteúdos com aspectos mais práticos, que ajudem ao professorado na hora de enfrentar à tarefa propriamente dita. Assim, junto com os recursos pessoais com os que se conta nos centros, destacaremos os recursos materiais, as metodologias mais adequadas, a temporização das sessões, etc.

Se na primeira parte se fala do que são as adaptações curriculares e de como as expor, esta parte se centra mais no dia a dia, nos aspectos mais didáticos. Ambos os artigos se complementam, e o objetivo é fazer ver o professorado que, embora seja importante e fundamental a avaliação do aluno e a colocação dos objetivos prioritários para ele, isto não é suficiente. É preciso conhecer e saber utilizar os recursos que existem para transmitir esses conhecimentos aos alunos, para que realmente cheguemos às crianças.

Recordando o dito no artigo anterior, e com o fim de situar o leitor, oferece-se a seguinte tabela, que o orientará:

ADAPTAÇÕES CURRICULARES
Adaptações significativas
Adaptações não significativas
Adaptações de acesso
• Objetivos • Metodologia • Pessoais
• Conteúdos • Atividades • Materiais
• Critérios de Avaliação • Instrumentos de Avaliação • Físicos
• Temporização • De Comunicação
Assim, nos vamos centrar agora nos aspectos mais relevantes relacionados com as adaptações curriculares não significativas e com as adaptações de acesso ao currículo. Freqüentemente, caímos na tentação de pensar que ao trabalhar com alunos com síndrome de Down devemos trocar objetivos ou conteúdos importantes, quer dizer, que fazem referência aos aspectos básicos do currículo. Embora isto não deixe de ser certo, também é freqüente observar que, se trocarmos antes o modo de lhes aproximar dos conteúdos (acesso ao currículo) ou o modo de transmiti-los (adaptações curriculares não significativas), muitos objetivos podem ser comuns ao resto dos alunos.

Adaptações curriculares não significativas:
• Metodologia, atividades, critérios de avaliação e temporização.

A. Metodologia.

A metodologia faz referência ao como ensinar, ao modo de transmitir as aprendizagens. É importante que o processo de ensino-aprendizagem seja ativo e participativo, partindo das capacidades do aluno. Além disso, tem que ser criativo e tem que procurar alternativas ao método de trabalho tradicional. Assim, potencializar os trabalhos cooperativos, os que fomentem o interesse e o descobrimento do aluno, os grupos flexíveis, as oficinas ou alternar os trabalhos individuais com os coletivos, são algumas propostas enriquecedoras.

Mas à margem destas considerações gerais, na hora de desenvolver uma adaptação curricular em um aluno com síndrome de Down, devemos ter em conta as características particulares destes, não obstante suas diferenças individuais. As pessoas com síndrome de Down possuem umas peculiaridades que os diferenciam do resto dos alunos. Estas afetam a seu modo de receber e processar a informação, e, portanto é fundamental trabalhar de maneira especializada em cada uma destas áreas. Agora sabemos que os alunos com síndrome de Down não se limitam a ser mais lentos que o resto, mas sim são diferentes. E é nestas diferenças sobre as que deve fundamentar a adaptação curricular. Estas diferenças estão em:

1. A percepção.
2. A atenção
3. A memória
4. A lectoescrita
5. A psicomotricidade
6. O raciocínio lógico matemático

A percepção

Os alunos com síndrome de Down possuem dificuldades a nível perceptivo que afetam a assimilação dos estímulos que recebe. As seguintes orientações didáticas podem facilitar os processos de percepção com o fim de criar um sistema perceptivo válido, para o desenvolvimento dos processos de aprendizagem:

a) Mostrar os estímulos utilizando o maior número possível de vias sensoriais. Quer dizer, não nos limitarmos a um só canal, por exemplo, a dar a ordem verbalmente e sim nos apoiando em outros canais, como o visual, mediante imagens ou palavras.

b) As atividades devem ser sempre motivadoras, sistemáticas e seqüenciadas. Na hora de seqüenciar uma atividade, é importante seguir a seguinte ordem: primeiro é que a criança manipule livremente o material, especialmente nas primeiras idades; deste modo a aprendizagem é vivencial e parte da experiência do aluno. Em segundo lugar, verbalizaremos a atividade, falaremos do que estamos fazendo, colocamos palavras a nossas ações. Em terceiro lugar, representamos graficamente o que fazemos e colocamos uma etiqueta no conceito.

c) É importante verbalizar as atividades que se estão realizando, para fomentar a representação simbólica do que se vai fazendo.

A atenção.

As pessoas com síndrome de Down têm dificuldades para fixar a atenção, focalizá-la e levá-la de um lugar a outro. Distraem-se facilmente e lhes custa trocar de atividade. Uma atenção escassa interfere, logicamente, nos processos de aprendizagem.

[Link http://www.down21.org/salud/neurobiologia/bases_aprend.htm]

Por isso é importante:

a) Simplificar o ambiente de trabalho, assim como os materiais, evitando o maior número possível de estímulos que distraem.
b) Dar instruções claras e precisas, pouco numerosas, assim como fazê-las acompanhadas de um modelo.
c) Começar com tarefas que requeiram pouco tempo de execução, com o fim de que o tempo de atenção necessário seja breve ao princípio para ir pouco a pouco aumentando-o.
d) Trocar de atividade freqüentemente, para que a atenção se mantenha ativada para a novidade.
e) Felicitar cada logro (sucesso), não só para motivar ao aluno, mas também para que tome consciência do que conseguiu foi graças ao seu esforço.

A memória

As pessoas com síndrome de Down possuem dificuldades na memória, tanto a curto, como a longo prazo.

[http://www.down21.org/salud/neurobiologia/aprend_sd_memoria_1.htm]

Para recordar algo, é necessário adquiri-lo, retê-lo e mais tarde reconhecê-lo ou recordá-lo. Por isso, é importante:

a) Trabalhar primeiro as estratégias de reconhecimento, antes mesmo que as específicas de lembrança. Esta recomendação é também aplicável à avaliação, já que se pedirmos que recordem um conceito, freqüentemente não o fará, e não saberemos se não o sabe ou se não o recorda.
b) Trabalhar a memória imediata antes que a seqüencial.
c) Fomentar a compreensão dos conteúdos mais que a memorização dos mesmos e organizar esta informação, relacionando-a com a que já tem. Trata-se de dar um sentido ao que transmitimos.
d) Igual ao que comentávamos na percepção, para melhorar a memória é importante apoiar-se no maior número possível de canais de entrada. Por exemplo, para trabalhar a memória auditiva (a capacidade para recordar uma série de sons) apoiaremo-nos na memória visual, menos afetada.

Assim, se acompanharmos os sons emitidos de representações visuais ou móveis o ensino será mais eficaz.

A lectoescrita

A oralidade é, em princípio, um processo natural de comunicação lingüística que antecede ao processo de educação formal direcionado à lectoescritura ou, de maneira geral, ao letramento. A lectoescritura, por sua vez, envolve não só as questões de leitura e escrita, mas também as práticas sociais de uso da linguagem (Silva, 2001, p. 23).
Os alunos com síndrome de Down acessam a leitura por meio de métodos globais muito melhor que mediante métodos analíticos. Por isso, é importante adaptar os materiais de leitura a esta metodologia, tratando de conectá-la com o ensino habitual do resto dos alunos.

[http://www.down21.org/educ_psc/educacion/lectura_esc_calc/introduccion.htm]

Quanto à escrita, os alunos com síndrome de Down apresentam grandes dificuldades na hora de escrever, não só em relação à grafia, mas também quanto à expressão escrita e ortografia. Por isso é importante:

a) Trabalhar todos os aspectos da escrita, e não limitar a grafia: separação correta de palavras, análise e síntese das idéias, exposição ordenada do pensamento, conhecimento da ortografia.
b) Não se limitar à escrita manual, fomentar o uso do computador com o fim de trabalhar a escrita, uma vez que se trabalha a grafomotricidade e a motricidade fina.

A psicomotricidade


Dadas as dificuldades para o controle do próprio corpo e para integrar a informação que chega por esta via, é importante desenvolver uma estimulação complementar a este nível, que, além disso, influi decisivamente no desenvolvimento emocional e cognitivo da criança. Assim sendo, é importante:

a) Trabalhar o controle motor, a coordenação dos movimentos, a lateralidade, o equilíbrio, a imagem corporal e as relações espaço - temporais.
b) Fomentar a expressão corporal.
c) Utilizar sempre como ponto de partida a experiência de vida do aluno.
d) Aproveitar as sessões de psicomotricidade coletivas para fomentar a integração do aluno no grupo assim como a socialização.
e) Trabalhar a psicomotricidade fina.

O raciocínio lógico-matemático

O raciocínio lógico matemático não se limita à aprendizagem das matemáticas ou do cálculo. Os alunos com síndrome de Down têm dificuldades na compreensão dos conceitos abstratos, a compreensão das relações entre os objetos e a lógica. Por isso, é importante:

a) Partir das aprendizagens funcionais e úteis para eles.
b) Trabalhar primeiro os conceitos neles mesmos, mediante a manipulação dos materiais e a vivência própria das aprendizagens.
c) Trabalhar a orientação espacial.
d) Trabalhar os diferentes atributos dos objetos: forma, cor, tamanho.
e) Desenvolver, mediante a psicomotricidade, as orientações espaciais, temporais e numéricas.

B. Atividades

Dentro da programação de sala de aula é possível fazer adaptações curriculares, de caráter individual, selecionando dentre todas só aquelas atividades que sejam mais adequadas para o aluno com síndrome de Down. Neste sentido, o professor deve fazer um esforço para selecionar, unicamente, as atividades que:

Respondam melhor aos interesses e motivações do aluno em particular. Assim, por exemplo, se soubermos que o nosso aluno gosta de colorir, daremos prioridade às atividades nas quais se requeira este exercício. Cabe destacar que não se trata de limitar os conteúdos, mas sim de escolher, dentre as diferentes atividades com as que podemos trabalhar em uma determinada unidade didática, aquelas que sabemos lhe interessa mais.

Sejam funcionais para o aluno. É possível que uma determinada atividade de desenho não pareça, num primeiro momento, funcional para um aluno e esse não veja sentido unir linhas com um lápis. Mas, se as linhas estiverem dispostas de modo tal que, ao final do percurso, resultar em uma figura, e se, além disso, usamos papel com sua cor favorita, a atividade será funcional para ele: fez um trabalho bonito que levará para a sua casa.
Além disso, é importante flexibilizar a apresentação das atividades, de maneira que nossa programação não seja rígida e se adapte às condições da criança em cada momento. Assim, é possível que nós tenhamos preparado uma sessão com uma determinada atividade, mas se nesse dia a criança chegar cansada, zangada ou triste, teremos que trocá-la, porque de outro modo não se conseguirá uma verdadeira aprendizagem. As atividades, nesse caso, serão de curta duração, mas temos que a avisar das mudanças que vão acontecer. As crianças com síndrome de Down não mantêm a atenção durante muito tempo na mesma atividade, mas tampouco se adaptam bem às mudanças.

C. Instrumentos de avaliação

Para realizar uma verdadeira avaliação dos progressos do aluno, assim como de seu nível inicial, nem sempre podemos utilizar os mesmos instrumentos com todas as crianças. Do mesmo modo que não podemos dar a uma criança cega um livro escrito, tampouco podemos avaliar uma criança com síndrome de Down do mesmo modo que ao resto dos alunos. O uso do exame escrito se limitará àqueles alunos que realmente sabem ler, mas obviamente terá que adaptar-se ao nível de escrita do aluno: estudar-se-á se é melhor aplicar perguntas abertas ou tipo teste, por exemplo:

Nas crianças menores, serão avaliadas as aprendizagens conseguidas mediante a manipulação, aplicação ou uso dos conteúdos trabalhados.
Serão feitos exames orais, ou serão pedidos trabalhos ou atividades nas qual o aluno demonstre o que conhece.
Os alunos com síndrome de Down têm dificuldades na generalização das aprendizagens, de maneira que não os avaliaremos sempre do mesmo modo nem com os mesmos materiais, já que é possível que tenham aprendido em um determinado contexto, sem capacidade para generalizar para outras situações.
Finalmente dizer que é fundamental a avaliação contínua, e não apenas determinar se um aluno sabe ou não sabe pelo que demonstre em um dado momento, tem que ser ao longo de todo o curso.

D. Temporização
O tempo faz referência tanto aos momentos que são mais adequados para exercitar determinados tipos de aprendizagem como ao tempo que o aluno passa com os diferentes profissionais que o apóiam. Assim, o apoio pode ser dentro da sala de aula, de maneira que o tutor ministra sua aula sem trocar seu ritmo, enquanto que o professor de apoio se assegura de que o aluno com síndrome de Down adquire os conteúdos ministrados; por sua parte, o apoio fora da sala de aula implica que em determinados momentos, o aluno com necessidades educativas especiais, recebe uma atenção individualizada nas áreas ou conteúdos nos quais encontra maiores dificuldades.

Adaptações de acesso ao currículo:
• Pessoais, materiais, físicas e de comunicação.

A. Pessoais

Os centros que acolhem em suas salas de aula, alunos de inclusão, mais concretamente, alunos com síndrome de Down, devem contar com uma equipe de profissionais de diferentes especialidades que respondam a todas as necessidades educativas de seus alunos.

Por um lado está o professor tutor, que é o profissional de referência para a criança. É o que passa mais horas com ela e é possível que seja o que tenha mais conhecimento do mesmo e mais contato com a família. Habitualmente serve também de vínculo de união entre todos os profissionais implicados. Mas, além disso, dentro do centro estão os professores especialistas em pedagogia terapêutica, os professores especialistas em audição e linguagem, os fisioterapeutas, os orientadores e, em alguns casos, os centros contam com um educador e/ou com um auxiliar sanitário.

A seguir são expostas as principais tarefas de cada um dos profissionais:

» Tutor:


Facilita a integração dos alunos com síndrome de Down em seu grupo assim como no conjunto da dinâmica escolar.
Contribui para a personalização dos processos de ensino-aprendizagem.
Efetua o acompanhamento global do aluno, detectando e corrigindo as diferentes necessidades identificadas.
Coordena toda a informação que sobre o aluno com síndrome de Down incluído em sua sala de aula, orientando o resto da equipe e os pais a respeito de temas como a avaliação do aluno ou sua promoção.
Realiza com o resto de professores o ajuste das programações didáticas.
Constitui o principal canal de comunicação entre a família e o centro.
» Professor de apoio especializado em pedagogia terapêutica:

É o encarregado de desenvolver o apoio intensivo do aluno.
Desenvolve seu trabalho na sala de aula ou fora dela.
Orienta o tutor em aspectos relacionados com as adaptações metodológicas e organizativas da sala de aula, os materiais didáticos e os recursos pessoais adequados.
Elabora e adapta materiais específicos.
Propõe diferentes metodologias para se utilizar com uns alunos e outros.
Orienta o tutor no modo de adaptar os objetivos, os conteúdos e os diferentes níveis dentro das mesmas aprendizagens gerais e comuns para todos os alunos.
» Professor especializado em audição e linguagem/logopedia:

Previne, detecta, avalia, intervém e realiza o acompanhamento das alterações na fala, na linguagem ou na comunicação.
Colabora com o tutor e com o resto da equipe orientando sobre o aluno com síndrome de Down e sua linguagem, sua fala ou sua comunicação.
Desenvolve seu trabalho fora da sala de aula.
» Orientador do centro:

É o profissional que serve de enlace entre o tutor e os professores especializados e está em contato com as equipes de orientação do setor.
Participa da elaboração da adaptação curricular do aluno com síndrome de Down, orientando sobre as metodologias mais adequadas, a seleção, organização e seqüência de objetivos e conteúdos, e o desenvolvimento de atividades.
Detecta e avalia os alunos com necessidades educativas especiais.
É parte na tomada de decisão quanto à necessidade ou não de professores de apoio especializados (pedagogia terapêutica, logopedia ou fisioterapia).
» Fisioterapeuta:

É o profissional encarregado de realizar as tarefas que têm por objetivo a prevenção e recuperação física dos alunos que dele necessitam. No caso das crianças com síndrome de Down, as vezes recebem fisioterapia durante os primeiros anos de vida, suprimindo-a em idades posteriores. Mas é bom que haja um orientador dos exercícios físicos, esporte e psicomotricidade.
Valora e intervém nos casos de meninos com necessidades educativas especiais que podem necessitar de fisioterapia. É o encarregado de orientar a respeito dos apoios técnicos relacionados com o desenvolvimento motor.
» Educador:

É o profissional encarregado de apoiar aos alunos com necessidades educativas especiais nos momentos de asseio, refeições, etc., quando não são capazes de fazê-lo por si mesmos.
B. Materiais

Dentro dos elementos materiais, estão os didáticos propriamente ditos, mas também os aspectos organizativos referentes ao espaço ou aos diferentes grupos de alunos.

Quando falamos de recursos materiais se está fazendo referência a outro meio de acesso ao currículo. Como já foi dito, não basta saber o que vou ensinar ao aluno, mas sim que é necessário dispor dos meios adequados para que o aluno acesse os objetivos e conteúdos propostos.

Tomemos um exemplo: um aluno com síndrome de Down que desejamos ensinar a fazer linhas horizontais. Damos-lhe uma ficha, como a que aparece a seguir (figura 1):



O aluno terá dificuldades para:

Discriminar o desenho, já que as imagens são muito pequenas.
Discriminar as formas e as linhas, porque a linha é muito fina.
Saber onde começar e terminar a linha.
Relacionar os dois objetos que deve unir.
Quer dizer, o aluno vai se encontrar com um conjunto de estímulos que o vão distrair e afastá-lo de sua tarefa, que é traçar uma linha reta.
O que nós podemos pensar que isso são estímulos para que a tarefa seja mais motivadora ou divertida, e que de fato o é para outras crianças, resulta que, para nosso aluno, é muita informação que o afasta de nosso objetivo.
Entretanto, se substituirmos esta ficha pela que aparece a seguir, veremos que solucionamos algumas das dificuldades anteriores (figura 2):



Agora, o aluno:

Sabe onde deve começar e terminar a linha, já que se incluiu um ponto em cada um dos extremos da trajetória.
Não haverá dificuldades de associação dos dois desenhos, já que são iguais.
Os desenhos são mais fáceis de perceber porque as linhas são mais grosas e os desenhos maiores.
O tamanho do desenho se irá reduzindo à medida que a criança vai dominando a técnica. Mas o importante é que deste modo ensinamos realmente o que nos tínhamos proposto (realizar traços horizontais) e a criança irá entendendo a técnica. Se insistirmos em lhe oferecer um material pouco adequado para ele, nunca saberemos se nosso aluno não sabe fazer linhas horizontais ou se é que se distrai com os elementos da ficha.

Entretanto, ao falar de adaptar os elementos de acesso ao currículo de tipo material não nos referimos unicamente aos materiais didáticos, mas também aos acessos à escola, às adaptações curriculares e inclusive à utilização de sistemas alternativos ou aumentativos de comunicação.

Como deve ser o material usado com os alunos com síndrome de Down?

O material que usaremos com os alunos com síndrome de Down deveria diminuir as maiores dificuldades que eles possuem. Por exemplo: sabemos que os alunos com síndrome de Down processam melhor a informação simultânea (que chega de um modo global, quase sempre de maneira visual) que a seqüencial (que é mais analítica, em que a ordem tem uma importância, quase sempre a auditiva). Se sabemos isso, o material que selecionarmos deveria chegar via visual. As ordens dadas deveriam apoiar-se em imagens, para que eles as compreendam melhor. Assim contornamos essa dificuldade assegurando que estamos transmitindo a informação que desejamos, nos assegurando de que eles a recebem e a compreendem.

Outra coisa é que, especificamente, queiramos trabalhar sua memória auditiva. Então sim usaremos um material que chegue por esta via para exercitá-la. Mas não mesclaremos ambos materiais porque não saberemos se não nos entendem ou não sabem fazê-lo.

Em geral, todo material deve ser motivador e guia para o processo de ensino - aprendizagem. Também deve:

Adaptar-se à idade dos alunos.
Ser seguro.
Ser resistente e duradouro.
Ser de fácil manejo.
Ser atrativo.
Ser polivalente.
Mas, sobretudo, deve responder ao objetivo colocado. Em determinadas ocasiões, confundem-se os objetivos que devemos conseguir com as atividades que se fazem para alcançá-los.

Assim, quando ensinamos a uma criança a fazer quebra-cabeças, esse é a atividade, é o material que usamos, é o meio que decidimos utilizar para alcançar um objetivo: melhorar a orientação espacial. Se se tiver claro o objetivo, e se se tem claro para que serve cada material, tudo irá bem.

Outro aspecto importante é que, na maioria dos casos, o material deve estar personalizado ou adaptado, não só à síndrome de Down, mas também a esse aluno concreto que tem síndrome de Down. Este aspecto é muito complicado para o tutor, mas é possível que não seja tanto para o professor de apoio.

Como selecionar o material mais adequado?

Existe muitíssimo material possível de ser utilizado com os alunos com síndrome de Down, por isso é difícil selecionar o mais adequado.

Também depende muito da situação em que nos encontremos: se estivermos na sala de aula com o resto dos alunos ou estamos na sala de apoio, onde o trabalho é mais individual.

Para o professor que está na sala de aula, é importante que selecione um material que não se diferencie muito daquele que usam o resto dos companheiros. Deste modo, o aluno não se sente diferente e seus companheiros também o percebem de outro modo.

Entretanto, quando está na sala de apoio, este critério não é tão relevante quanto utilizar um material que o ajude adquirir conceitos nos que tem mais dificuldade. Quanto ao espaço, o aluno com síndrome de Down deve estar sentado em um lugar no qual acesse facilmente à informação, onde não se distraia e do qual consiga o máximo da aula. Este lugar, habitualmente é o que esteja mais perto do professor, no caso de uma distribuição convencional, ou junto com alunos mais avançados, se se tratar de mesas com vários alunos.

Por outro lado, é importante ser criativo e não limitar o ensino à sala de aula, ampliando os espaços (pomar, jardim, sala de psicomotricidade, visita a lugares fora da escola, etc.) Um método muito eficaz é o de envolver um ou vários alunos no processo de ensino, de maneira que uns alunos sejam tutores ou guias de outros.

Por último, outro modo material de acessar ao currículo são as diferentes formas de agrupar os alunos em função da matéria a ser ensinada, da idade dos alunos e das características concretas dos mesmos. Nesse caso pode-se:

a) Flexibilizar os grupos de alunos.
b) Os alunos com síndrome de Down têm uma grande capacidade de imitação, fato que os favorece estar em contato com alunos melhor dotados, que servem de modelo adequado para eles.

C. Físicas

Fazem referência aos aspectos físicos da sala de aula ou do centro. Vai desde a supressão de barreiras arquitetônicas até a disposição da sala de aula, dos materiais, da iluminação, do entorno em que está, do ruído exterior, da adaptação das cadeiras e mesas para que o aluno esteja corretamente sentado ou adaptações na tela do computador no caso em que seja necessário, a utilização de óculos ou de aparelhos de surdez. Neste sentido, as pernas dos alunos devem estar em ângulo reto, com os pés apoiados no chão ou em um apoio se é que não o alcançam. A altura da mesa deve ser justa para que o aluno acesse com facilidade à mesma, de maneira que suas costas permaneçam erguidas.

D. Comunicação

Faz referência à incorporação de métodos aumentativos ou alternativos da comunicação. Assim, embora os alunos com síndrome de Down, às vezes são capazes de expressar-se verbalmente, não o fazem com a mesma precisão que o resto dos alunos, e sua compreensão tampouco é igual.

[http://www.down21.org/educ_psc/educacion/comunicacion/nociones.htm]

Algumas orientações importantes:

a) Apoio visual mediante imagens das ordens dadas verbalmente.
b) Escrever no quadro as ordens dadas verbalmente.
c) Colocar indicadores visuais claros dos diferentes espaços do centro e da sala de aula.
d) Indicar com imagens ou palavras os horários ou a seqüência das diferentes atividades a realizar.
e) Indicar com palavras ou imagens as diferentes tarefas que se tem que realizar. Por exemplo, saudação ao entrar na classe (da porta), guardo minha bolsa (junto às demais), lavo as mãos antes de comer, etc.

Bibliografia:

Branco Calhau, R (coord). Alunos com necessidades educativas especiais e adaptações curriculares. CNREE, MEC. Madrid. 1996.
Calvo Rodríguez A, Martínez Alcolea A. Técnicas e procedimentos para realizar adaptações curriculares. Madrid, Edit Escola Espanhola 1999.
García Vidal, J.: Guia para realizar adaptações curriculares. EOS, Madrid, 1993.
Molina S (Coordenador). Psicopedagogia da criança com síndrome de Down. Granada, Edit Arial 2002.
Ruiz Rodríguez, E. Adaptações curriculares individuais para os alunos com síndrome de Down.
Troncoso MV. Programação educativa na criança com síndrome de Down. Revista Síndrome de Down 1995; 12: 7-11.
Vega A, (coord). A educação das crianças com síndrome de Down. Princípios e práticas. Amarú. Madrid. 2001
Troncoso, N.V. e Da Colina, M. (1998) Síndrome de Down: leitura e escrita.
http://es.geocities.com/adaptacionescurriculares/formatos.htm

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