sábado, 12 de dezembro de 2009

Viver as limitações e compreender a deficiência


Alunos da UTAD sensibilizaram com “Jantar sem mãos”

Nunca é demais alertar a sociedade civil para os problemas que afectam as pessoas com deficiência e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, através do curso de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas (ERAH), tem sido um veículo imprescindível nessa missão. Na noite em que se assinalou o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, dia 3, o núcleo de estudantes promoveu um “Jantar sem mãos”, uma iniciativa que decorreu na sequência do “Jantar às escuras”.

“Com a prática e demonstração podemos mostrar à sociedade que é possível fazer tudo.” É com este espírito que o presidente do núcleo de estudantes de Engenharia de ERAH, David Fonseca, encarou mais uma acção de sensibilização. Com a certeza de que só passando à prática é que se sente as verdadeiras dificuldades, os alunos colocaram o desafio de comer com alguns obstáculos.

Uma tala colocada no antebraço impedia o fechar da mão e o exercer de qualquer força, a juntar a umas mais pequenas colocadas nos dedos. Este foi um dos testes pelos quais muitos passaram, como Eduardo Ribeiro. “Estou a sentir pela primeira vez esta dificuldade, é mesmo muito difícil.” Para Cristiana Ferreira também não foi nada fácil, pois mal tinha começado já lhe doía a mão. “Não consigo cortar nada, a sopa ficou logo fria, porque demorámos muito tempo”, sublinhou a estudante, mencionando que estas iniciativas são uma “boa forma de integração”. Leonor Afonso também concordou no evidenciar das “dificuldades” que as pessoas com deficiência passam. “Se para nós é bastante complicado, imagino para quem tiver incapacidade total”, alertou.

Foi uma acção que não foi esquecida pela comunidade académica, pois a sala da cantina foi pequena para tanta gente. O Mensageiro também experimentou, viveu e sentiu uma pequena parte dos reais obstáculos de uma pessoa com deficiência. Pequenas tarefas que para o cidadão comum é algo banal, para os que detêm uma incapacidade podem ser uma missão impossível. “Muitas vezes, passam-nos despercebidas pessoas com limitações e nós quisemos dar a visão de uma outra realidade”, frisou Abel Trigo, um dos responsáveis pela acção, avisando que “ninguém está livre de sofrer um acidente”. Abel Trigo chamou ainda a atenção para a necessidade de realizar “alterações de fundo na legislação actual”. “Portugal não tem a tradição de olhar para o deficiente e tratá-lo com dignidade e igualdade e isso tem de passar pela legislação, que ainda falha um pouco nesta matéria.”

Para minimizar e ultrapassar algumas das limitações que as pessoas com deficiência vivem no quotidiano, o curso de ERAH têm vindo a criar alguns objectos. Talheres adaptados com cabo anatómico ou ajustáveis com um ângulo de ataque que facilita o deficiente, pratos e copos também adaptados e muitos outros objectos foram usados na experiência.

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