Blog do Prof de Ed. Física MSc SERGIO CASTRO,da Pós Graduação em Educação Especial e Tecnologia Assistiva da Universidade Cândido Mendes(AVM) ;Ex-professor da Universidade Estácio de Sá e Ex-Coordenador de Esportes para Pessoas com Deficiências (PcD) do Projeto RIO 2016 da SEEL RJ ,destinado a fornecer informações sobre pessoas com deficiência(PcD) e com Necessidades Educativas Especiais(PNEE), bem como a pessoas interessadas nesta área ( estudantes, pais, parentes, amigos e pesquisadores)
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
ANÃS IRMÃS ABREM LOJA "CASINHA PEQUENINA" QUE VENDE MINIATURAS NACIONAIS E IMPORTADAS
As irmãs Mila e Adriana são proprietárias da loja Casinha Pequenina, que vende miniaturas nacionais e importadas.
Apreciadoras da arte valorizam e dão preferência a trabalhos de artesãos brasileiros.
A grande originalidade da loja é que elas mesmas são "miniaturas" e se aproveitaram disto, tirando proveito de uma condição pela qual já sofreram preconceito.
"O que acontece com a gente, é uma coisa associada a miniaturas vendidas por gente pequena, essa é a grande sacada, a brincadeira: miniaturas vendendo miniaturas", revela Mila, a mais extrovertida das irmãs.
Adriana é artista plástica, formada na Faap, e faz a seleção das peças vendidas na loja.
Mila, além de administrar a loja com Adriana, exerce a arte em outra esfera: o teatro. Ela é atriz profissional, está lutando por reconhecimento profissional, e tem planos de montar um show humorístico com piadas de anões, nos moldes do "ceguinho" Magela.
As duas consideram que tiveram a sorte de ter num bairro pequeno e estudar sempre com a mesma turma desde a pré-escola, "é quando você está formando sua personalidade, você está descobrindo os outros. Isto foi um ponto positivo pra gente, mas também foi para os nossos colegas, conviver com as diferenças pessoais e ao mesmo tempo perceber que todos têm sonhos, medos, inseguranças...acho que foi um tratamento de igual para igual. Gosto que as pessoas me elogiem dizendo que sou uma boa atriz, uma pessoa legal, não porque sou uma anã e "apesar disso" sou muito querida", revela Mila.
A equipe do Sentidos visitou a Casinha Pequenina e conversou com as irmãs sobre preconceito, sucesso profissional, lazer e amor. Confira.
Sentidos - Vocês estiveram em alguns programas de Tv na época do lançamento da loja, a idéia "miniaturas vendendo miniaturas" chamou a atenção. Qual o retorno dessa experiência?
Mila: A gente sempre está chamando a atenção desde criança, assim eu não sei se as pessoas se encantam conosco, "elas são pequenas e fazem tanta coisa, que incrível!". Será que as pessoas acham que eu devia ficar em casa chorando? Mas eu não tenho razão para chorar, não vejo porque, nunca ninguém me tratou mal.
Adriana: Pra mim apareceu um namorado e no fim ele era noivo e deficiente físico também e a gente acabou se separando. Eu fiquei muito brava com ele porque a gente tinha só contato telefônico e eu não sabia quem estava do outro lado da linha, acho que ele se aproveitou da situação. Agora para os negócios foi ótimo, tivemos uma divulgação não só nacional quanto internacional, uma amiga nossa de Portugal ligou e disse que estava nos assistindo na TV. Quando abrimos a loja no dia seguinte tinham umas cento e cinqüenta pessoas querendo ver a gente. Foi uma coisa mais pessoal. O retorno foi maravilhoso, a gente não tem do que reclamar, foi legal.
Sentidos - Vocês têm contato com alguma instituição?
Adriana: A gente tentou fazer uma associação, eu tinha 15 anos e a Mila 13, e não tínhamos condições de levar pra frente, e isso acabou virando uma coisa dos pais. Os anões geralmente quando são adultos não se topam muito, eles procuram batalhar sozinhos. Mas a inclusão de anões e pessoas com deficiência no mercado de trabalho, é um assunto muito importante, e a legislação tem que ser cumprida. Tem que dar a chance do cara competir de igual para igual, de não ser paternalista com o deficiente, na verdade não tem que obrigar a empresa de contratar e sim dar condições para isso.
Sentidos - Vocês disseram que estudaram sempre com as mesmas pessoas e hoje ainda têm contato com elas?
Adriana: Algumas ficaram no bairro, tiveram seus filhos, mas tem uma coisa que eu não me preocupo, mas a Mila se importa, depois de nos conhecerem as pessoas comentam: "Ah pra mim você nem é anã!" Pô! não dá pra eu me ver sem ser anã!
Mila: Pergunto o quê que passa na cabeça das pessoas em querer desassociar a pessoa da deficiência? Por que todo mundo grita com os cegos, eles não são surdos... Uma vez eu fiz uma brincadeira com um amigo e perguntei como ele falaria de mim para alguém que não me conhecesse? Ele tentou disfarçar dizendo: "A
Mila que faz esgrima comigo, tem cabelo curto, tem olho castanho", então falei: seria mais fácil dizer a Mila anã, eu não me ofendo com isso. Aproveitando quero contar uma história que vivi com o meu melhor amigo, o Carlos Oliveira: estávamos passeando quando de repente ele bateu a cabeça num galho de uma árvore que eu tinha passado por baixo, ele nem percebeu que só passei porque sou menor, ele não enxerga essa diferença.
Sentidos - Vocês praticam algum esporte? E o lazer, o que gostam de fazer?
Adriana: Faço natação no Centro Olímpico do Ibirapuera junto com outros deficientes e na verdade é mais que um treinamento é uma reunião para trocas de idéias. Além disso, adoro a natureza e faço muita caminhada.
Mila: Eu curto mesmo é a noite, vou ao teatro, shows... Como esporte, treino esgrima.
Sentidos para Mila - Você encontrou muitas dificuldades em sua carreira de atriz por ser anã? Algum preconceito?
Mila: Preconceito não, mas muita dificuldade para encaixar no papel. Imagine se em uma montagem de Romeu e Julieta os atores forem negros, todo mundo vai perguntar: mas por que negros? Se o meu personagem for de rainha, a mesma coisa: por que a rainha é anã? Tem sempre que ter uma explicação, porque as pessoas são desse jeito. E aí é difícil a gente achar resposta. Não se preocupam com o nosso perfil psicológico.
Sentidos - Você conhece outras atrizes anãs?
Mila: Eu tenho muita preocupação com o estudo das artes cênicas, e não conheço outras anãs que buscam este reconhecimento artístico.
Simplesmente, exigem muito pouco da gente, e quando surgem trabalhos são do tipo "boneco", fazendo movimentos, dentro de caixas ou então ajudante de Papai Noel, nos pintam, colocam barba e aí a gente acaba sempre dançando e cantando.
Sentidos - Vocês acham que isso acaba indo pro lado irônico?
Mila: Não, eu acho que as pessoas não sabem o que fazer com a gente, um pouco de medo, de receio, não sabem a capacidade que nós temos.
Adriana: O trabalho de atriz é muito corporal, a aparência vem muito antes do interior da pessoa. Eu sou artista plástica, o meu trabalho está fora de mim, eu posso apresentá-lo e ninguém precisa ficar sabendo que eu sou anã e aí a coisa já tem o outro enfoque .
CASINHA PEQUENINA
Eldorado Shopping Center
Loja 1032- telefone: (0xx11) 3815 0515
e-mail:mpoci@ig.com.br
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