Drika mostra a boneca na cadeira de rodas que usa para criar o vestido inclusivo
rika mostra a boneca na cadeira de rodas que usa para criar o vestido inclusivo
Foto: Juliana Lobato/Agência BOM DIA
Moda inclusiva
Ao ver se aproximar a data em que teria de escolher um tema para seu projeto de final de curso, a estudante de design Drielli Valério de Oliveira, a Drika, 24, chegou a perder noites de sono de tanto pensar. Ela gostaria de desenvolver um projeto sobre moda, mas não queria nada banal ou sem utilidade social.
Numa dessas noites insones, veio a ideia. A estudante resolveu criar um vestido de noiva inclusivo. Um modelo que possa ser usado por mulheres de todos os tipos, inclusive as acima do peso ou com deficiência física. A jovem não é do tipo de estudante que entrega o trabalho de conclusão de curso apenas para conseguir nota e ser aprovada. Com jeito de empreendedora, quer fazer uma apresentação brilhante e prepara surpresas para a defesa, que será em agosto.
Drika foi à luta e estudou noções de ergonometria. Também se dedicou a entender o que é acessibilidade. Na Sorri, entidade que trabalha na inclusão de deficientes, fez um sorteio entre três cadeirantes e ganhou uma parceira, Roberta Rieni Ramos de Jesus, sua modelo para o vestido de noiva. O figurino não vai ficar apenas no papel. Com uma lista de lojas especializadas na mão, a estudante foi atrás de patrocínio e conseguiu, no primeiro lugar em que entrou, a Lauviah Noivas e Festas. Depois de pronto e apresentado, a intenção é que o vestido fique à disposição para aluguel.
Além de apresentar o vestido inclusivo na faculdade em que estuda, no Iesb (Instituto de Ensino Superior de Bauru), Drika participa do 4º Concurso Moda Inclusiva, promovido pela Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo. Por causa das regras do concurso, não pode revelar detalhes do modelo.
Ateliê
Drika sempre gostou de moda e desenha desde criança. No quarto dos pais, uma mesa cheia de papéis e lápis coloridos é seu local de trabalho. Futuramente, ela quer construir um ateliê no quintal da casa, no Mary Dota. Na infância, a estudante gostava de ficar ao lado da tia costureira. E também criava modelos para suas bonecas.
Agora, prestes a virar profissional, comprou uma boneca vestida de noiva para fazer testes. Precisava de uma cadeira de rodas de brinquedo, não conseguiu e não teve dúvidas: criou uma com material improvisado, como pires e espetinhos de churrasco.
De uma vizinha, emprestou uma cadeira de rodas de verdade para aprimorar o estudo. Num único projeto, Drika trabalha para apresentar algo diferente e ao mesmo tempo útil para um segmento social. Tudo o que queria alcançar nas noites sem dormir.
Inclusão abrange vários segmentos
Para a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência, atender as necessidades desse público não se restringe a construir rampa ou garantir uma prótese. As medidas não devem ser isoladas
Direito a ter opção é um dos objetivos
Pessoas com deficiência devem ter o direito de fazer opções de onde e quando ir aos lugares e também na hora de escolher o que vestir.
Modelo conta que é difícil encontrar roupas
Ninguém melhor para relatar as dificuldades para se vestir do que Roberta Rieni Ramos de Jesus, 23, que atua como modelo de Drika para a confecção do vestido de noiva inclusivo. Segundo ela, além da dificuldade de acesso às lojas ainda não adaptadas para receber deficientes físicos, é complicado encontrar roupas adequadas.
Calça jeans, por exemplo, é quase impossível. A localização de botões e zíper é outra dificuldade encontrada. Roberta está animada com a decisão da estudante de se dedicar à moda inclusiva. "Não sei como ninguém pensou nisso antes", diz.
Separada e mãe de dois filhos, de nove e três anos, Roberta afirma que um de seus sonhos era usar um vestido de noiva. Mesmo sem entrar na igreja, o projeto de Drika de certa forma realiza esse desejo. Ela teve um tumor na medula que a deixou paraplégica e faz tratamento para recuperar os movimentos.
Depois de apresentar o trabalho de conclusão de curso e participar do concurso, a estudante planeja desenvolver sua vida profissional como estilista de moda inclusiva. No Facebook, ela criou o grupo Projeto Vestido de Noiva Inclusivo e usa a internet para conversar com pessoas com deficiência que ajudam na criação do vestido e de outras peças. Uma das perguntas postadas, por exemplo, é sobre as dificuldades encontradas na hora de se vestir e o que pode ser feito para minimizar essa situação.
Fonte: Diário de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário