sábado, 25 de agosto de 2012

Salto de incentivo no esporte paralímpico



Mudança de comportamento e investimento aumentam a expectativa de sucesso na Paralimpíada. Apesar do crescimento, paradesporto ainda precisa de mais
24/08/2012 11:17 - Atualizado em 24/08/2012 12:00
Por Natália da Luz
RIO
O esporte paralímpico vem galgando espaço e alcançando apoio de patrocinadores, ainda que poucos. A imagem de sucesso também se solidificou. Hoje, as empresas sentem-se comprometidas em apoiar atletas e modalidades paralímpicas, diferentemente do que ocorria no passado, quando o Comitê Paralímpico Brasileiro suava para conseguir apoiadores.
 
Em 1996, nas Paralimpíadas de Atlanta, por exemplo, Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), ouviu de um empresário que não gostaria que o seu nome fosse associado à uma marca com deficiência. Uma visão preconceituosa que obviamente não contagiou instituições e incentivadores, que vêm percebendo os resultados positivos dos atletas e se aproximando de uma arena cheia de vigor para expor sua marca.
 
 - O nosso foco é na eficiência, na capacidade de resultado que o atleta vai oferecer ao patrocinador. Essa é a diferença. O competidor paralímpico não é visto como um coitado, ele é visto como um vencedor em potencia - disse Andrew em entrevista exclusiva ao ahe!, destacando que os Jogos Paralímpicos são o segundo maior evento esportivo do mundo, com 3,4 milhões de público pagante e 3,4 bilhões de audiência acumulada.

Veja mais: Atletas brasileiros fazem primeiros treinos nas instalações dos Jogos Paralímpicos

 
Representantes do paradesporto brasileiro no Parque Olímpico - CPBNo Brasil, o combustível vem de parceiros como o Governo do Estado de São Paulo, o Ministério do Esporte, a Prefeitura do Rio de Janeiro, Nike, Nissan, Bradesco, Infraero (que patrocina o judô para cegos) e, principalmente, a Caixa Econômica Federal, que, no último ano, destinou R$ 20 milhões, 20 vezes mais do que no primeiro contrato, assinado em 2004. Segundo Parsons, a receita do Comitê gira em torno de R$ 45 milhões, bem menos do que os R$70 milhões que ele considera ideal.
 
Fonte de recursos
 
Uma das principais fontes de recursos do esporte paralímpico é a Lei Agnelo Piva, aprovada em 2001, que destina 2% do prêmio pago aos apostadores de todas as loterias federais. Esse montante é dividido entre o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que, respectivamente, recebem 85% e 15% do que é arrecadado. Por exigência da lei, o CPB destina 10% para o esporte escolar e 5% para o esporte universitário, ficando com 85% para repassar às confederações.
 
Parsons conta que a distribuição depende da situação e objetivo de cada modalidade, diante da preparação para as Paralimpíadas.

- Há confederações que almejam medalhas de ouro, outras que desejam ficar entre os dez primeiros colocados e algumas que apenas querem competir... De qualquer forma, oferecemos o mínimo para cada confederação se manter - afirmou o presidente.
 
Em relação ao apoio aos atletas, há casos de competidores que conseguem o patrocínio sem qualquer influência do CPB, pedindo ou aceitando recursos de empresas de suas próprias cidades. Quando trabalha diretamente na captação do patrocínio, o CPB o repassa diretamente aos atletas sem cobrar comissão. Existe ainda um programa da Caixa, onde o CPB indica atletas pelo índice técnico.
 
Outro meio seria a doação proveniente de pessoas físicas, uma realidade que já existe e que vem beneficiando o esporte brasileiro, mas ainda não o paradesporto.

- Vamos conversar e saber do Ministério dos Esportes quais são as ações e como poderemos utilizar melhor a lei de incentivo ao nosso favor - comentou Parsons.

Dentre os obstáculos a serem ultrapassados no paradesporto, há a escassez de informação associada à capacitação, ou seja, profissionais preparados para trabalhar com as peculiaridades do esporte paralímpico. A dificuldade é compartilhada tanto nos centros de treinamento quanto nas escolas, onde as crianças, deficientes ou não, não são bem apresentadas ao esporte.

- Quando uma criança chega à aula de Educação Física apresentando uma deficiência, ela é liberada. E não por preconceito, mas porque o professor não sabe como lidar - disse Parsons, completando que, como as noções iniciais não são estimuladas na infância, perde-se uma parte importante da preparação.
 
Preparação e resultado

Futebol de 5 brasileiro - campeão invicto em todas as Paralimpíadas - CPBNos Jogos Paralímpicos de Atlanta, em 1996, o Brasil ficou em 37º lugar, com uma delegação de 98 pessoas e 59 atletas. Em Pequim, em 2008, houve um salto para o nono lugar, com 319 pessoas na comitiva e 188 atletas. Em Londres, serão 182 atletas, seis a menos do que há quatro anos, com a justificativa de maior qualidade. Para Parsons, o mais importante dessa evolução é o legado social.
 
- A criança aprende a admirar o atleta paralímpico e passa a torcer por ele. Encorpando a torcida, aumentamos a possibilidade de o atleta chegar ao lugar mais alto do pódio - comentou Parsons.

Hoje, o Brasil coleciona 52 medalhas de ouro, 69 medalhas de prata e 66 medalhas de bronze na história dos Jogos Paralímpicos. No total, são 187 medalhas conquistadas por atletas como Dirceu Pinto, Odair dos Santos, Antônio Tenório Clodoaldo Silva e Daniel Dias.
 
Segundo o CPB, a preparação do Brasil para os Jogos de Londres começou oficialmemte em 2008, em Pequim, com a participação de novos atletas que marcaram presença também em Mundiais, Copas do Mundo e competições internacionais.
 
Em 2010, o Comitê Paralímpico Brasileiro apresentou o plano detalhado com ações e metas até 2016. O Ministério do Esporte repassou via Sistema de Convênios (Siconv) R$ 19.477.732,73 em 2011 e 2012 (referentes a projetos apresentados em 2010 e 2011) para a preparação dos atletas e desenvolvimento da infraestrtutura. No ano seguinte, o CPB, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura do Rio de Janeiro, criou o Time São Paulo e o Time Rio, com objetivo de melhorar a estrutura e condições que atletas com chances reais de medalha nos Jogos de Londres e também do Rio 2016.

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