terça-feira, 25 de maio de 2010

Autistas ganham centro de tratamento na rede pública do Rio


Diego com seu gato Max: até 2007, ele não interagia com animais domésticos. (Foto: Divulgação)


Juceli e o neto Luan, de 7 anos, que é autista e se trata à base de dieta sem glúten, açúcar e leite (Foto: Divulgação)


Serviço pioneiro oferece atendimento com profissionais de várias áreas.
Mães de autistas relatam experiências e elogiam projeto.
Carolina Lauriano
Do G1, no Rio
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Juceli e o neto Luan, de 7 anos, que é autista e se trata à base de dieta sem glúten, açúcar e leite (Foto: Divulgação)
Fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista, médico, professor de educação física e terapeuta educacional são alguns dos profissionais que estarão a serviço de portadores de autismo, a partir desta quarta (7), com a inauguração do Centro de Atenção à Pessoa com Autismo (Cema-Rio).

O autista não é doente e pode ser reabilitado. Essa é a concepção do projeto, uma ação da Secretaria municipal da Pessoa com Deficiência (SMPD), com o apoio da associação filantrópica Rio Inclui. Segundo os organizadores, o serviço é um dos pioneiros no país.

"A gente está vendo o autista como deficiente, não como um doente. Ele pode ser desenvolvido por completo e ser incluindo cada vez mais na sociedade", afirmou o secretário Márcio Pacheco.

Segundo a médica responsável pelo Cema-Rio, Eliana Silva, no Brasil ainda não se tem dados sobre a incidência da síndrome, já que são diversos tipos de autismo: "Levando em conta as estatísticas recentes, que demonstram que a incidência de autismo é de um em cada 150 nascimentos, a estimativa é de que na cidade do Rio haja três mil pessoas autistas, entre crianças, jovens e adultos", arrisca ela.

A médica explica que o autismo às vezes é confundido com deficiência mental, mas o diagnóstico é clínico.

"Essa estrutura de atendimento você só encontra na rede privada. A idéia é que a criança venha três vezes na semana, durante meio período", explicou Eliana.
‘Só quando ele tinha 17 anos soube que era autismo’

A artista plástica Nives Porto Correa é mãe do Diego, que tem 28 anos e é autista. Ela largou o trabalho de lado e hoje é coordena a APABB (Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade).


Diego com seu gato Max: até 2007, ele não interagia com animais domésticos. (Foto: Divulgação)
Nives acredita que atualmente há mais acesso à informação e mais estudos sobre a síndrome, o que facilita a vida dos pais: "Só quando o Diego tinha 17 anos que eu fui saber que era autismo. O austismo é um ponto de interrogação. De 2005 para cá, o número de pesquisa vem aumentando", disse. "Tomara que esse centro seja um exemplo pra outros municípios no Brasil", completou ela, se referindo ao Cema-Rio.

Nives conta que aos dois anos o filho começou a demonstrar dificuldade de fala, de socialização e muita resitência a dor: "Isso é porque eles não conseguem se expressar", explica.

Diego passou por cinco escolas regulares. "Chegava na escolinha e uma criança falava 'mãe, olha meu colega maluco'", disse Nives. Cansada, ela decidiu matricular o filho em uma escola especial e hoje ele faz oficinas de teatro.

"Até hoje quem faz a barba do Diego sou eu ou meu marido", diz ela. "Abri mão de muita coisa para vestir a camisa. Fico orgulhosa de ter me voltado para ele. A parte pedagoga não foi possível, infelizmente. Mas ele vive me surpreendendo", elogia a mãe.
Autismo pode ser tratado com dieta

A bióloga Eloah Antunes começou a pesquisar sobre o assunto quando o seu filho, Luan, hoje com sete anos, apresentou os sintomas da síndrome. Graças aos estudos feitos nos Estados Unidos, decobriu que o tratamento poderia ser feito por meio da alimentação. A avó de Luan, a psicopedagoga Juceli Antunes, abraçou a causa e hoje é presidente da Associação em Defesa do Autista (Adefa).

“O autismo não está no cérebro, ele é uma enfermidade multifatorial, que atinge o sistema gástrico. A ingestão de proteínas de glúten encontradas no trigo, na cevada, na aveia, e também de caseína, que é a proteína do leite, afeta a função do cérebro normal. O tratamento consiste na dieta, na terapia comportamental e na reposição de nutrientes”, explicou Juceli.

Para a médica da SMDP, essa linha não funciona para todas as crianças autistas: "Cada criança necessita de um tipo de tratamento. Mas entendemos que muitos vão se beneficiar da dieta. O importante é ter um numero grande de opções. Não existe um tratamento modelo".

A avó de Luan conta que hoje o neto obedece a ordens e se sociabiliza com outras crianças: “Foi uma tarefa difícil, porque ninguém achava o problema. Ele não falava, ficava sem dormir, gritava dia e noite, batia a cabeça na parede, se jogava no chão. Minha nora não dormiu durante 3 anos”, revelou Juceli.

Para ela, o tratamento à base da dieta sem açúcar, glúten e leite é a principal causa da melhora das crianças assistidas pela Adefa e pela escola.

“Não há uma regra geral. Ainda existe algum autista que pode comer um desses três vilões da alimentação. O estudo do autismo não vai chegar as um resultado final nunca”, disse Juceli, que também serviu como fonte de informação para a equipe do Cema-Rio.

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