quinta-feira, 11 de julho de 2013

Entrevista com o cartunista Ricardo Ferraz - Cartuns inclusivos


Posted: 10 Jul 2013 03:02 PM PDT
 
Ricardo Ferraz na Reatech 2007
O cartunista Ricardo Ferraz, nascido em 1952, é daqueles que transformam sonhos em realidade. Aos cinco anos, teve poliomielite, o que o deixou privado em uma cama, sem contato com crianças de sua idade. Descobriu no desenho um ótimo passatempo. Com dedicação e amor a essa arte, rabiscava em papel de embrulhar pão. Hoje, seus cartuns são conhecidos em âmbito nacional e internacional.

Começou a trabalhar na infância engraxando sapatos, de agitador cultural a diretor de penitenciária, fez de tudo um pouco. Militante de movimentos populares, foi um dos fundadores da Associação Capixaba de Pessoas com Deficiência (ACPD), onde encontrou um fonte inesgotável para enfocar a questão por intermédio de seus cartuns.

Conquistou a mídia ao assinar uma vinheta na programação da Rede Globo pelo segundo ano consecutivo, resultado de concursos realizados pela emissora. Teve seus trabalhos exibidos na programação do SBT, em campanha do Teleton, em prol da AACD.

Professor de desenho artístico na cidade de Cachoeiro de Itapemirim (ES), Ricardo acredita que a "arte remove montanhas" e sonha com uma sociedade mais justa e igualitária.

Ricardo Ferraz é fundador da Associação Capixaba de Pessoas com Deficiência. Sua obra está presente em jornais e revistas do Brasil, Canadá, EUA, África do Sul, Argentina...Os seus trabalhos mostram com ironia o cotidiano das pessoas com deficiência, suas dificuldades de locomoção e as atitudes e preconceitos presentes no dia-a-dia. Divide seu tempo entre desenhos e atividades culturais. Foi nos cartuns que Ricardo adquiriu a integração necessária e cidadã.

Para conhecer mais sobre a obra e a história do arista acesse:


CVI AN: Como você conseguiu contato com a Rede Globo e SBT?

Ricardo Ferraz: Desde 1981, venho abordando a problemática das pessoas com deficiência através do cartum um canal de comunicação para denunciar a violência do preconceito e sensibilizar a sociedade sobre a questão. Uma exposição itinerante sob o título "Visão e Revisão, Conceito e Pré-Conceito", percorre todo o país e exterior, mostrando de forma crítica e humorada situações concretas do dia-a-dia das pessoas com deficiência e suas barreiras físicas e humanas.

Em 2001 a Rede Globo promoveu em nível nacional, um concurso para profissionais e amadores para selecionar projetos para as vinhetas eletrônicas, conhecidas como Plin-Plim. Tive a idéia de levar o tema para a TV. Um sonho quase impossível, competindo com os "feras" do cartum e charge do país.

Numa simples mesa de cozinha, rabisquei em papel A-4 um "history-board". 

Imaginei dois cadeirantes em frente a uma escada, eles têm uma idéia, puxa a escada em forma de linha e transforma em rampa que também vai beneficiar as mães com carro "baby", idosos e crianças. Na época não se falava em acessibilidade e desenho universal.

Com a cara e coragem, enviei o projeto via correio. Para minha surpresa, fui informado pela Globo, por telefone que minha idéia tinha sido aprovado entre os trinta melhores do país. A vinheta foi um marco na história, a primeira a abordar a questão da acessibilidade em nível nacional e internacional. Tive a sorte de ter mais duas vinhetas selecionadas em 2002 e 2005, totalizando três projetos vitoriosos.

A minha participação no TELETON do SBT, foi o resultado da ampla divulgação do meu trabalho na mídia. Recebi o convite através da jornalista responsável pelo programa, Flávia Cintra, também cadeirante e militante do movimento. Graças ao meu lado "quixotesco", hoje os cartuns temáticos são conhecidos no Brasil e no mundo, ilustrando livros didáticos conhecidos no Brasil e no mundo, ilustrando livros didáticos entre outros.

Veja alguns cartuns criados por Ricardo Ferraz. 

Cartum - Pedindo informação
 
Quadrinho 1: Cadeirante pergunta a um transeunte: "Por favor, o senhor poderia me dar..." e antes que ele complete a frase, o senhor lhe dá uma esmola, sentindo-se muito bonzinho.
Quadrinho 2: O cadeirante, indignado, completa sua frase: "...uma informação!".

Cartum - Oportunidade
 
O cartum com o título "Oportunidade" mostra um cadeirante, perplexo, olhando para um pódio, com lugares para os cinco primeiros colocados, organizados em degraus.
Cartum - Porta estreita

Posted: 10 Jul 2013 02:23 PM PDT
*Por Luciane Molina

 
Para os que já me conhecem de longa data e, aos que recentemente tem acompanhado meus textos pelo blog, devem ter percebido que venho defendido o ensino do Braille e sua democratização entre cegos e videntes. Isso porque o fato de não enxergar não deve ser motivo para que os cegos passem a viver isolados do mundo ou em pequenos guetos, apenas porque somente nesses espaços teriam como se comunicar plenamente por meio da leitura e da escrita.

Muito pelo contrário, o direito à uma comunicação eficaz precisa romper essas fronteiras e marcar presença em outros espaços, como nas escolas e universidades. Da mesma forma que os surdos vem se empoderando desse direito comunicacional amparado por leis, temos os cegos que, ainda estão às margens dessa realidade.Em 2005, foi assinado um decreto obrigando todas as universidades e colégios federais a manter um intérprete nas salas de aula em que houver aluno surdo. Esse mesmo decreto estabeleceu que os cursos de formação de professores, pedagogia, matemática, geografia, etc, e os de fonoaudiologia devem incluir LIBRAS como disciplina em sua grade curricular.

E por que não temos nada sobre Braille nesse sentido? Mesmo não sendo uma “língua” o Sistema Braille possui suas especificidades e contribui para uma boa comunicação. As crianças cegas, por exemplo, muito se alegrariam se seus professores ou familiares conseguissem compreender sua forma de leitura e escrita. Quantas dessas crianças desejariam enviar um bilhete, uma carta ou simplesmente receber materiais que estejam acessíveis pra elas. Quantos jovens cegos ou adultos desejariam que seus materiais e trabalhos fossem recebidos em Braille sem a necessidade de uma mediação? Quantos cegos se beneficiariam de uma universidade acessível?

Aprender Braille é, antes de mais nada, reconhecer a identidade dessas pessoas; é um ato de cidadania e respeito. Defendo o ensino do Braille e a inclusão dessa disciplina nos cursos de licenciatura, nas escolas de ensino fundamental e nos cursos técnicos, e dessa forma, quem sabe não teriam mais pessoas cegas frequentando os diversos espaços, as universidades, o mercado de trabalho. Aprender Braille é necessário a todos que defendem um mundo mais inclusivo e menos desigual… Será utopia ou, juntos, podemos transformar esse desejo em realidade?

E você, também se interessaria em aprender Braille? Que tal começar?
* Luciane Molina é pedagoga e Braillista. Possui especialização em atendimento Educacional especializado e atua com formação de professores em Grafia Braille pela região do Vale do Paraíba.

Fonte: Guia Inclusivo 

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