Deficiente Ciente |
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Posted: 15 Jul 2013 06:03 AM PDT
As crianças estão curiosas: seus olhos atentos seguem a repórter, o fotógrafo e uma das funcionárias que acompanha a visita da equipe à creche. Mas essa novidade não causa estranheza ou medo – afinal, o ambiente ali foi configurado para que o diferente fosse bem aceito e tolerado.
Lucas, 5, é o primeiro a puxar conversa. “Você conhece minha sala? Vou te mostrar”, diz o menino que tem síndrome de Down. Ele mostra o que trouxe na mochila, apresenta a sala e já repassa a rotina do dia: Na creche pré-escola Oeste da USP (Universidade de São Paulo), a diversidade é parte da rotina. A unidade, que fica na Cidade Universitária, em São Paulo, recebe, com naturalidade, alunos deficientes, estrangeiros recém-chegados ao país e crianças das diversas classes sociais.
Ana Clara, 3, faz pose para fotógrafo. Segundo Claire, após as crianças passarem por essa experiência de inclusão, elas não reproduzem, apenas, o discurso politicamente correto, elas se diferenciam na formação e no modo como agem no mundo. “Não achar que é só porque a criança tem deficiência que ela vai dar mais trabalho em sala de aula.”, fala Leonardo Soares/UOL
Mais tolerantesEssa abertura – ou tolerância como alguns preferem chamar – é uma característica que tende a acompanhar essas crianças ao longo de suas vidas. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Psicologia da USP, justamente com os “alunos” dessa creche, mostrou que vivenciar a experiência da educação inclusiva na pré-escola pode evitar diversos tipos de preconceito de forma duradoura. Segundo Marie Claire Sekkel, coordenadora do estudo, “as crianças mantêm atitudes de abertura ao relacionamento com pessoas significativamente diferentes, independentemente de valores familiares”. Tiano 5, que é de Moçambique , quer falar sobre a história da família. Antônio também deseja participar, mas corre, com vergonha. Laura pede para trocar de roupa.
“O Lucas encontrou dificuldades derivadas da sua condição de Down (Pessoas com síndrome de Down têm hipotonia muscular), algumas dificuldades físicas, por seu desenvolvimento ser mais lento, tudo aconteceu com certo atraso em relação às outras crianças de seu grupo. Demorou mais para sentar-se sozinho, andar, retirar a fralda, mas dentro do esperado para crianças com síndrome. Como ele foi o primeiro aluno com síndrome na creche, também tivemos a dificuldade em passar para os professores quais os cuidados que o Lucas precisava e o que ele poderia fazer, embora tivesse algumas especificidades como na alimentação e alguns movimentos físicos.”, explica Éber De Patto Lima, pai de Lucas MAIS Leonardo Soares/UOL
Inclusão num sentido amploA creche possibilita essa oportunidade para que essas crianças aprendam a trabalhar e a conviver em grupo com quem é diferente (seja por alguma condição física ou social) e a aceitar essas diferenças. Esse tipo de experiência é positivo no desenvolvimento da educação infantil. Nesse sentido, a educação inclusiva, que integra alunos em situação de inclusão a turmas regulares, evidencia esse espírito de “estar com o diferente” e aprender com essas relações. As crianças, segundo princípios da educação inclusiva, devem aprender juntas, independentemente das dificuldades que possam ter. “Nosso foco principal é olhar para a criança em situação de inclusão e ajudá-la a participar das propostas junto ao grupo dela, facilitando as relações entre eles, a aquisição de conhecimento, de descobertas, o fomento a criatividade, ao conhecimento, sendo crianças em situação de inclusão ou não”, explica Prislaine Krodi, psicóloga da Creche/Pré-Escola Oeste da USP. Para melhorar resultados de inclusão, união entre família e escola é fundamental
Esse é o Tiano, 5, nasceu em Moçambique (país localizado na costa oriental da África). “Eu já te contei sobre minha família? Eu moro no Brasil com a minha mãe e com a minha irmã de 7 anos, mas meu pai vai sempre para Moçambique.”, fala MAIS Leonardo Soares/UOL
Para que uma experiência de inclusão seja bem sucedida na creche ou na escola, união entre os pais, a escola, o poder público e a sociedade é fundamental.“Se a escola tem um trabalho consistente com as crianças e voltado para os pais, eles também passam por transformações significativas. Esse é um processo que dura, no mínimo, de três a cinco anos, período em que os pais estão mais próximos da instituição e dos filhos e isso deve ser aproveitado”, explica Marie Claire Sekkel, do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo). Segundo o livro “Inclusão de Pessoas com Deficiência e/ou Necessidades Específicas: Avanços e Desafios”, da autora Margareth Diniz, a escola deve ser um lugar que seja sensível às necessidades de todos que participam dela, integrando a criança na sociedade como cidadão comum. “Criança normal” Os pais de Lucas Alves de Patto Lima, 5s, que tem síndrome de Down, descartavam a ideia de coloca-lo em uma escola “especial”. “Queríamos que o Lucas tivesse como espelho crianças com desenvolvimento considerado ‘normal’, o que, no nosso entendimento, faria ele se espelhar nessas crianças e buscar um desenvolvimento parecido com o delas”, explica Éber de Patto Lima, 39, pai do garoto. Para sua mãe, Dirlene Alves de Brito, 49, Lucas ganhou muito nesse tempo em que está matriculado na Creche Pré-escola Oeste da USP (Universidade de São Paulo). “O Lucas adquiriu vários aprendizados, regras, hábitos saudáveis, rotina, participação, o que ajudou no desenvolvimento da linguagem oral, ampliando seu vocabulário”, explica Dirlene. Para a equipe da creche, cada criança que chega ao grupo com cerca de 60 pequenos é um novo desafio que será superado pelo grupo de profissionais – das pedagogas aos integrantes da cozinha. Algumas delas têm deficiências físicas ou intelectuais ou trazem um histórico de vida que pedem alguma adaptação da rotina. Já houve caso em que a refeição teve de ser pastosa para atender uma criança que se alimentava por meio de um tubo. Prislaine Krodi, psicóloga da Creche Pré-Escola Oeste da USP, lembra de um caso de uma criança autista que se incomodava com o barulho dos colegas e saía correndo pelo prédio. Os funcionários da escola conseguiram, com o tempo, negociar que o menino parasse de fugir da sala, ao mesmo tempo em que explicaram para os amigos da classe que seria melhor se o grupo não fizesse tanto barulho. Ouvi muito “não” até conseguir matricular meu filho, conta mãe de menino autista A escola deveria ser direito de todos, seja de crianças e adolescentes em situação de inclusão ou não, segundo a LDB (Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Contudo, Patrícia Rodrigues de Campos Rocha, 33, mãe do Guilherme, 7, diagnosticado com autismo, conta que ouviu muito “não” até conseguir matricular o filho em uma escola de ensino regular.
Na foto Patrícia Rodrigues de Campos Rocha, 33, mãe do Guilherme, 7, ex-aluno da creche e diagnosticado com autismo aos 2 anos de idade. “Não há nada melhor do que a inclusão destas crianças com outras crianças da mesma idade e, quanto mais cedo diagnosticado o problema, e quanto mais estimuladas, estas crianças têm muito mais chances de reverter o quadro. A creche/escola inclusiva é muito importante na vida destas crianças, pois possibilita uma vida cada vez mais “normal” e a inclusão delas na sociedade.”, explica Patrícia MAIS Arquivo pessoal
Patrícia conta que escutou “diversas desculpas”: “não estamos preparados para recebê-lo”’, “aqui tem muitas escadas e pode ser perigoso”, “ele usa cadeira de rodas?”, “só podemos aceitá-lo se você pagar uma profissional para cuidar dele por fora”.Guilherme estudou na creche pré-escola Oeste da USP e agora cursa o 1° ano do Ensino Fundamental no Centro de Ensino São José. Segundo Marie Claire Sekkel, do Instituto de Psicologia da USP, autora de um pesquisa sobre inclusão, após as crianças passarem por essa experiência, elas não reproduzem, apenas, o discurso politicamente correto, elas se diferenciam na formação e no modo como agem no mundo. “Não achar que é só porque a criança tem deficiência que ela vai dar mais trabalho em sala de aula.”, fala. “O que eu reconheço como fundamental, hoje, é a disponibilidade das pessoas em poder pensar diferente, em poder fazer diferente, em se ver diante dos pequenos desafios da vida e encontrar novos caminhos usando os recursos que elas têm”, diz Prislaine Krodi, psicóloga da Creche Pré-Escola Oeste da USP (Universidade de São Paulo), um estabelecimento modelo de inclusão. Fonte: http://educacao.uol.com.br |
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