Quase um ano após vitória épica sobre Oscar Pistorius nos Jogos de Londres, brasileiro treinou partida sem o auxílio do bloco e já bateu recorde mundial dos 100m rasos em 2013
Quase um ano depois de surpreender o mundo ao vencer o legendário Oscar Pistorius na final dos 200m rasos nos Jogos Paralímpicos de Londres-2012 na classe T44 (para amputados), o brasileiro Alan Fonteles foi alçado ao posto de astro do atletismo. Aos 20 anos, já aprendeu a lidar com as comparações com o sul-africano, fora das competições enquanto aguarda em liberdade condicional o julgamento pelo assassinato de Reeva Steenkamp , sua namorada, em fevereiro. Ampliar esse status é um dos objetivos do velocista no Mundial de Lyon, com início nesta sexta-feira, na França - as provas, no entanto, começam a ser disputadas no dia seguinte.
Para ser bem-sucedido, Fonteles tenta buscar a mesma consistência que mostra nos 200m em provas nas quais não se considera especialista: os 100m e 400m rasos. Para isso, passou a treinar e usar com mais frequência outra técnica de partida, sem o uso dos blocos de largada, o que é permitido entre atletas amputados. O arranque inicial é um dos pontos fracos do brasileiro.
A nova tática já deu resultados. Em junho, Fonteles tornou-se o amputado mais veloz do planeta ao fazer, em Berlim (ALE), os 100m rasos em 10s77 . A marca é 14 centésimos mais rápida do que o recorde mundial anterior da classe T43 (10s91), registrado por Pistorius em abril de 2007 e igualado pelo americano Blake Leeper em 2012. É também oito centésimos mais veloz do que os 10s85 marcados pelo britânico Jonnie Peacock, atual campeão paralímpico da distância, na T44 (as duas classes correm juntas nas competições). "Procurei me dedicar na saída, sem o bloco. Testei ao máximo para não errar na hora da largada. Consegui fazer esses acertos e marquei tempos bons", contou Fonteles ao iG Esporte , por telefone, antes de embarcar para a França.
A parte física é outro obstáculo para Fonteles superar em Lyon. Segundo ele, ter duas grandes competições para disputar em menos de um ano é muito desgastante. "É difícil manter o ritmo o tempo todo, mas conseguimos seguir bem e me dediquei ao máximo para buscar o título que não tenho", explicou. No último Mundial, em Chrischurch, na Nova Zelândia, dois anos atrás, Fonteles ficou com o bronze nos 100m e no revezamento 4x100m.
Nascido em Marabá, no Pará, Alan Fonteles teve um problema intestinal no nascimento, que gerou uma septicemia (infecção generalizada). Em decorrência disso, teve as pernas amputadas com 21 dias de vida. Aos 8 anos, com próteses de madeira, começou no atletismo e teve seu talento detectado durante uma edição das Paralimpíadas Escolares. Aos 16, disputou os Jogos Paralímpicos pela primeira vez, em Pequim-2008, e faturou a medalha de prata no revezamento 4x100m. No Mundial de Lyon, o velocista está inscrito em quatro eventos (100, 200, 400 e 4x100m) e estreia neste sábado, com a semifinal dos 200m.
Com 18 pódios no atletismo em Londres-2012, o Brasil chega ao Mundial de Lyon com 35 atletas - 20 deles novatos na competição. Na última edição do torneio, ficou atrás apenas de China e Rússia no quadro de medalhas, com 12 ouros, dez pratas e oito bronzes. "Pode ter certeza de que nesse Mundial sairão novos medalhistas para o Brasil", assegurou Fonteles.
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