Uma pesquisa que vem sendo realizada no Setor de Ciências Biológicas da UFPR pode trazer muitos benefícios a pessoas que sofrem lesão na medula, em geral vítimas de armas de fogo, ou de acidentes. O estudo quer saber se a administração do óleo de peixe nas 72 horas após o trauma na medula, ajuda a reduzir o processo inflamatório e, por consequência, as sequelas do trauma, como a paralisação dos membros. De acordo com o especialista em metabolismo e em doenças não transmissíveis, Luiz Claudio Fernandes, diretor do Setor de Ciências Biológicas e orientador da pesquisa, dentro de um ano será possível afirmar se esse óleo, o mesmo conhecido por reduzir níveis de colesterol e facilmente encontrado no mercado, vai diminuir a área infectada. Quanto menor o processo inflamatório, mais neurônios são preservados e menores serão os danos na medula. E assim, funções importantes poderão ser preservadas.
O estudo está sendo desenvolvido pelo educador físico e pós-doutorando do Departamento de Fisiologia, Ricardo Tanhoffer, que já pesquisou o assunto no mestrado e também no doutorado que fez na Austrália. Ricardo passou a estudar os problemas decorrentes da lesão na medula depois de um acidente de carro que o deixou tetraplégico. Fez do próprio sofrimento a motivação para descobrir caminhos que possam dar melhor qualidade de vida para pessoas com problemas semelhantes. Quem teve lesão na medula em geral perde os movimentos das pernas, muitas vezes também dos braços e ainda fica susceptível a uma série de outros problemas como incontinência urinária, descontrole das funções intestinais, diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares, sem contar o abalo psicológico. “Por mais incrível que pareça, deixar de andar é o menor dos problemas para quem teve lesão na medula” afirma o pesquisador. O sistema imunológico dessas pessoas muda muito. Os testes com o suplemento estão sendo feitos em laboratório com ratos.
ATIVIDADES FÍSICAS – Além de saber se o óleo de peixe pode diminuir o grau da lesão na medula e melhorar o tratamento após o acidente, o desafio de Ricardo é entender o quanto uma atividade física faz bem ao lesado medular e avaliar a intensidade dos exercícios que podem ser prescritos. O pesquisador está firmando parceria com o Centro Hospitalar de Reabilitação de Curitiba e centros de referência em outros países para estudar as condições de vida dos pacientes sedentários e os praticantes de exercícios. Também em laboratório, no Setor de Ciências Biológicas, são estudados animais lesados que praticam exercícios, como a hidroginástica, e outros que não fazem nenhuma atividade.
Na pesquisa de mestrado feita também na UFPR, Ricardo estudou a administração de aminoácidos em ratos tetraplégicos, para mostrar que o consumo do suplemento glutamina melhora o sistema imunológico dos lesados porque estimula a produção dos linfócitos. Já no doutorado, em Sydney, na Austrália, passou a pesquisar o gasto energético de pessoas com lesão medular, que é muito menor do que nos sadios, porque a musculatura fica menor. Esse pode ser um dos motivos pelo qual a maior parte dos lesados se torna obesa, com o passar dos anos, destaca Ricardo e acaba desenvolvendo diabetes do tipo II. O gasto energético varia a cada pessoa e melhora a condição física.
ACIDENTES – Não existem estatísticas oficiais, mas a estimativa é que ocorram aproximadamente nove mil casos de lesão muscular no Brasil. Os acidentes com motocicletas e carros, além do crescimento da violência, principalmente nas grandes cidades, são as maiores causas deste tipo de problema. As finalidades dos estudos são melhorar as condições de vida destes pacientes, dar mais qualidade ao tratamento e reduzir os custos para o sistema de saúde.
Além de atuar nas pesquisas, Ricardo é preparador físico da seleção brasileira de rugbi conta com 20 atletas e também joga na equipe de Curitiba.
Fonte: Ascom UFPR