Escola quebra preconceitos ao adotar esportes paraolímpicos
Em uma praia lotada, um jovem convence seus amigos a praticarem um esporte que causa certa estranheza no grupo. Luís Filipe Pereira Funari, 17 anos, explica as regras, que são simples, mas prendem a atenção dos companheiros: “é como o jogo tradicional, só que sentado, como se a gente não pudesse mexer as pernas”, diz. Trata-se do voleibol sentado, uma modalidade paraolímpica ensinada na escola São Luís, de São Paulo, onde Luís Filipe cursa o terceiro ano do ensino médio.
Semelhante ao vôlei tradicional, a categoria pode ser treinada por atletas sem impedimento de locomoção que, em geral, amarram as pernas para imobilizá-las. O objetivo é simular os obstáculos de quem não tem movimento nos membros inferiores, mas, nem por isso, deixa de se exercitar e, até mesmo, competir. No colégio, além do vôlei sentado, Luís Filipe e os colegas aprendem também as regras do golbol, um jogo especial pensado para atletas cegos ou de pouca visão.
Nessa modalidade, os atletas se dividem em dois times de três titulares e três reservas e, vendados para assegurar ausência total de visão, arremessam com as mãos uma bola no gol do adversário. Os guizos contidos dentro da bola guiam os jogadores pelo som que produzem.
O ensino de modalidades esportivas adaptadas nos estabelecimentos regulares, afirmam especialistas, tem a capacidade de desfazer preconceitos e completar a formação do caráter do aluno. “O contato com crianças com deficiência muda a percepção das outras”, garante Andrew Parsons, presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB).
Para ele, o convívio é fundamental ao garantir o desenvolvimento da personalidade do indivíduo, para que ele seja mais tolerante e compreensivo com as diferenças. O contato tem a função de desmistificar o outro e, assim, trazer o respeito com as dificuldades dos portadores de necessidades educativas especiais (PNEEs).
José Júlio Gavião de Almeida, professor da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador da Academia Paraolímpica Brasileira, concorda. “Praticar é entrar no mundo da pessoa com deficiência”, afirma.
As aulas no São Luís foram reivindicação dos alunos, conta o coordenador de Educação Física da escola, Fábio Oliani. “Eles começaram a ver na televisão durante os Jogos Olímpicos e pediram que a entidade incluísse no currículo”, lembra. A instituição, afirma, sempre se preocupou em mostrar aos estudantes outras realidades, com palestras e apresentações de dança e basquetebol em cadeiras de rodas, por exemplo. Agora, a prática também está presente nas classes.
Há ainda aulas teóricas, além da indicação de materiais extras que podem ser obtidos na internet. “O aprendizado na sala é indispensável para eles tomarem conhecimento dessa realidade. Excluindo-se a paraolimpíada, eles não têm muita notícia sobre esse tipo de atividade a não ser nos estudos”, explica.
Tipos de esportes
Ao todo, são 20 os esportes paraolímpicos existentes, cada um com suas regras específicas. No entanto, o vôlei sentado e o golbol são os mais indicados para as lições de Educação Física pela praticidade e por conseguirem integrar os alunos que não têm deficiência.
“O vôlei sentado é muito fácil de levar para os colégios, já que utiliza as mesmas ferramentas do tradicional, apenas com a rede mais baixa”, argumenta o coordenador da Academia Paraolímpica Brasileira.
Nessa modalidade, o desafio é aprender a fazer a alavanca com o corpo, não com as pernas. Já o golbol, explica o professor, não é um esporte adaptado, ele foi criado pensando nos jogadores que não enxergam. As modificações do espaço são um pouco mais difíceis, já que exigem uma quadra especial com marcação em alto relevo no chão.
Em ambos os esportes, adequações pedagógicas são necessárias para a prática nas escolas. O que se vê na TV – e que aguçou o interesse dos estudantes do São Luís -, assim como na Olimpíada tradicional, são partidas de alto rendimento. “É essencial diferenciar dos jogos de iniciação”, destaca o pesquisador da Unicamp.
As mudanças devem passar por uma preparação do professor para atuar com esse tipo de exercício como uma manifestação pedagógica. Para o presidente do CPB, “é importante não apenas ensinar as regras ou como praticar, mas também como fazer disso um momento de integração entre as crianças”.
Para Parsons, participar dessas atividades faz com que os alunos acabem entendendo a dificuldade e até mesmo admirando quem consegue contorná-las.
Fonte: Todos pela Educação
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