Uberlandense se sente ameaçada por Plano Nacional de Educação.
Projeto será votado nesta terça (17) em Brasília e pode 'obrigar' inclusão.
Mudar a proposta do Plano Nacional de Educação (PNE) e universalizar o ensino dos alunos com deficiência. Esse é o intuito do projeto aprovado na Câmara dos Deputados e que irá para votação no Senado na próxima terça-feira (17). A ideia inicial era de extinguir a educação das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) de todo o Brasil e fazer a migração desses estudantes, preferencialmente, para a rede pública. O projeto causou comoção nacional e, emUberlândia , não foi diferente. A aceitação, não aconteceu.
Andrea Zapparoli é mãe de uma criança com Síndrome de Down. A pequena Ana Carolina tem quase três anos de idade, estuda na Apae de Uberlândia e é lá que recebe assistência social e educacional. Ao saber que os deputados propuseran cortar repasses do governo às Apaes depois de 2016, Andrea não conseguiu conter a indignação. “É ridículo e inviável. Não que as crianças não tenham condições de frequentar um ensino regular, mas o Brasil, a educação, os professores e nem mesmo os alunos estão preparado para essa mudança”, disse.
A mãe de Ana Carolina considera o projeto como mera politicagem. “É bonito falar de inclusão, mas a ideia não abrange as próprias crianças, estas que teriam que ser ‘obrigadas’ a estarem em uma sala com mais de 30 alunos. Não tem jeito, não tem a menor chance de dar certo. Isso é injusto para os dois lados”, afirmou.
Andrea Zapparoli acredita que há a necessidade da escolha, pois se não a sociedade acaba voltando à ditadura. Os pais, segundo ela, têm que ter a opção de decidir qual o melhor lugar para os filhos.
Andrea Zapparoli acredita que há a necessidade da escolha, pois se não a sociedade acaba voltando à ditadura. Os pais, segundo ela, têm que ter a opção de decidir qual o melhor lugar para os filhos.
Votação pode afetar Apaes
Segundo a diretora pedagógica da Apae de Uberlândia, Aparecida do Carmo Santos, caso haja a votação favorável às mudanças do Plano Nacional de Educação, sem nenhuma alteração, as associações serão afetadas, inclusive a de Uberlândia. Atualmente, segundo ela, 341 alunos, desde a primeira infância à fase adulta, são atendidos pela Apae de Uberlândia.
Ela explicou que a Federação das Apaes, em toda sua história, defendeu e lutou para garantir a inclusão da pessoa com deficiência intelectual e múltipla, não só na escola, mas também em outros espaços na sociedade. “Entendemos e defendemos a escola especial para um público específico, que devido aos comprometimentos da deficiência intelectual e múltipla não terão os apoios necessários permanentes e contínuos de que necessitam em uma escola da rede pública”, afirmou.
De acordo com a diretora, a Federação Nacional das Apaes conclama o movimento apaeano brasileiro, suas 2.116 filiadas a assumirem uma postura de defesa da educação especial, a lutar para a garantia do reconhecimento, do funcionamento e do financiamento para que as escolas especiais possam cumprir seu papel, favorecendo e permitindo um aprendizado constante, durante toda a vida. “A luta ainda não terminou e precisamos garantir a coexistência no sistema educacional brasileiro das escolas especiais e das escolas comuns inclusivas”, ressaltou Aparecida do Carmo.
Possível acordo
O G1 conversou com o senador Eduardo Barbosa (PMDB-AM), membro do Conselho Consultivo das Apaes de Minas Gerais. Segundo ele, tudo indica que o senado chegará a um acordo sobre a proposta. “Dois relatórios foram apresentados com alterações no projeto inicial. Tanto um quanto o outro assegura o atendimento de crianças e jovens em escolas inclusivas e também em instituições especializadas de ensino”, explicou.
O G1 conversou com o senador Eduardo Barbosa (PMDB-AM), membro do Conselho Consultivo das Apaes de Minas Gerais. Segundo ele, tudo indica que o senado chegará a um acordo sobre a proposta. “Dois relatórios foram apresentados com alterações no projeto inicial. Tanto um quanto o outro assegura o atendimento de crianças e jovens em escolas inclusivas e também em instituições especializadas de ensino”, explicou.
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Eduardo Barbosa garantiu que com qualquer uma das duas aprovações os alunos não terão suas matrículas negadas e os pais poderão fazer a opção da escola que melhor atenderá seus filhos. “Com esse texto/aprovação morre a preocupação da sociedade quando se fala em extinção das Apaes”, concluiu.
A última sessão para tratar do assunto aconteceu na semana passada. Durante a leitura do relatório do Plano Nacional de Educação em Plenário, o senador afirmou que a meta 4, que trata da educação inclusiva, foi uma das áreas mais debatidas e negociadas.
Na ocasião, segundo consta no site do Senado, ao ser questionado pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) sobre o repasse de recursos às Apaes, Eduardo Barbosa respondeu que o governo vai honrar os compromissos assumidos. “ As Apaes não serão excluídas. Teremos contraturnos com matrículas e teremos repasses do Fundeb para que tenhamos, ou pela parte da manhã ou na parte da tarde, os contraturnos nas Apaes”, afirmou o líder do governo.
Inclusão, mas com preparação
A escola e seus profissionais ainda não estão preparados para receberem alunos especiais. Esse é o posicionamento da professora de Uberlândia Gislene Silva, que atua no Ensino Fundamental do 1º ao 5º ano. Ela já teve experiências com esse público e disse que essa inclusão ainda é mascarada. “Na verdade é uma inclusão que acaba não se efetivando por vários aspectos: falta de adequação do espaço físico, de material didático e pedagógico para atender esses alunos”, disse.
Gislene contou que já teve uma aluna no 1º ano que era autista e que conseguiu perceber uma evolução, mas que poderia ter sido maior caso o ensino fosse diferenciado. “A criança tinha relatório médico e era agressiva. Ela mordia, cuspia, beliscava muito as outras crianças e qualquer servidor que se aproximasse dela. Houve uma pequena evolução, pouca, mas houve e foi só o que observei durante este ano”, garantiu.
Segundo a professora, antes de se aprovar um projeto como esse é necessário capacitar primeiro os professores, oferecer melhores condições de trabalho e materiais pedagógicos e didáticos apropriados. “Devemos sim incluir essas crianças, mas temos que recebê-las adequadamente e saber lidar com a situação das deficiências de cada uma delas. Aos poucos esses alunos estão adentrando na escola regular, mas a maioria dos profissionais não está sabendo como lidar com essa nova situação”, finalizou.
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