quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Guia do viajante cadeirante


Posted: 03 Sep 2013 04:41 PM PDT
A estilista Michele Simões vive seu maior sonho sobre uma cadeira de rodas e diz “quem decide minhas limitações sou eu”
Texto: Natacha 
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Há 7 anos, tarefas como escovar os dentes ou trocar de roupa eram comuns e não exigiam dificuldade alguma para a estilista Michele Simões. Naquela época, aos 24, ela tinha acabado de se formar em Moda e havia se mudado do interior de São Paulo para a Capital. Dividindo um apartamento com outras três amigas, trabalhava, pagava suas próprias contas e economizava para fazer um intercâmbio – sonho que pretendia realizar o quanto antes.
Foi quando, com apenas dois meses na cidade, sofreu um acidente de carro. Michele estava deitada no banco de trás do veículo conduzido por um amigo, que fez uma conversão errada. Por isso, quebrou a coluna e acabou paraplégica – o que não só lhe privou dos movimentos das pernas como afetou o equilíbrio de seu tronco. “Do dia pra noite seu corpo muda e você precisa reaprender tudo, inclusive como ele funciona.” O intercâmbio precisou ser adiado. Ela conta que nos primeiros anos após o acidente, as tarefas mais simples – como escovar os dentes – acabaram se tornando desafios pessoais, e vencer cada um deles foram passos fundamentais para que pudesse hoje enfim realizar o esperado intercâmbio.
Agora, com 31 anos, a estilista está em Boston, Estados Unidos, para estudar inglês por dois meses. Com o patrocínio de três empresas (a CI Central de Intercâmbio, a House Boutique de Impressão e Arte, e a Kana Filmes) e a ajuda financeira de familiares e amigos, ela pretende provar para si mesma que é possível ser cadeirante e não se privar de nada. “Quem decide minhas limitações sou eu”, afirma.
É a primeira vez que Michele se propõe a uma experiência como essa. Morar em um país estrangeiro, com um idioma que não domina e, ainda, sobre uma cadeira de rodas. Em 2012 ela passou 5 dias em Buenos Aires, no entanto explica que a cidade perde pontos quando o assunto é acessibilidade. “Não é um lugar pensado para cadeirantes. Senti que a acessibilidade não é uma questão relevante por lá. Como no Brasil, somos invisíveis.”
Na viagem ela está com o namorado – que conheceu semanas antes do acidente, mas que foi engatar mesmo o namoro no hospital, enquanto iniciava os tratamentos – porém, garante que apesar da companhia, a intenção é tentar ao máximo fazer tudo de forma autônoma. “Prometi a mim mesma que seria uma experiência minha comigo mesma. Então, na maioria das vezes faço tudo como que se ele não estivesse alí. Para mim cada detalhe é uma superação.”
Michele promete relatar e fotografar sua experiência no blog Guia do cadeirante viajante. Na página já é possível ler sobre a chegada da estilista em Boston e suas primeiras percepções sobre a viagem e a cidade. Além do curso de inglês, ela pretende conhecer e mostrar os serviços e facilidades que Boston oferece para deficientes físicos, e ainda as desventuras que um cadeirante pode passar em uma viagem internacional. Para a Tpm ela adiantou boas notícias: “Em poucos dias que estou aqui já consigo ver a preocupação que a cidade tem com os cadeirantes. Eles estão por toda a parte, eles saem às ruas. Isso mostra que estão seguros e à vontade nelas.” E termina: “Minha intenção não é provar nada pra ninguém a não ser eu mesma. Espero inspirar outros cadeirantes com a minha história”.
Vai láGuia do cadeirante viajante  – na página é possível ajudar Michele a estender sua viagem por mais 30 dias. No mês extra ela quer ficar completamente sozinha e encarar a experiência sem o namorado. Por isso, ela avisa, novos patrocinadores são bem vindos :)
Fonte: Revista TPM

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