quarta-feira, 25 de setembro de 2013

ARTIGO - RESSIGNIFICANDO AS VIVÊNCIAS DO LAZER: POR UMA CONCEPÇÃO AUTOTÉLICA NO CONTEXTO DA SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA ADQUIRIDA



Recebido em: 17/01/2012
Aceito em: 26/06/2012
Hunaway Albuquerque Galvão de Souza
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Mossoró – RN – Brasil
Edileuza de Monteiro Roque
Instituto de Formação Superior Presidente Kennedy
Natal – RN – Brasil
Moysés de Souza Filho
Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do RN – IFRN
Natal – RN – Brasil
Themis Cristina Soares Mesquita
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Pau dos Ferros – RN – Brasil
José Pereira de Melo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Natal – RN – Brasil
RESUMO: Na atualidade, a Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida traz
novos desafios para seus portadores, dentre estes, a manutenção do bem-estar geral e a
reinserção da pessoa nas práticas comuns da sociedade incluindo, nesse lócus, as
atividades de lazer,. Partindo desse contexto, o presente trabalho objetivou analisar as
práticas de lazer de seis indivíduos, antes e depois de se descobrirem doentes de AIDS.
Estudo de caráter exploratório com analise multirreferencial, utilizou como instrumento
de coleta de dados o questionário. Os resultados apontam para o lazer como uma
construção autotélica dos indivíduos pesquisados a partir de processos subjetivos de
ressignificação das atividades de lazer, possibilitando a vivencia de um lazer criativo e
critico, imprescindível para a reivindicação de elaboração de políticas públicas de lazer
que atendam e entendam os anseios dos atores sociais da pesquisa.
PALAVRAS CHAVE: Atividades de Lazer. Síndrome de Imunodeficiência Adquirida.
Políticas Públicas.Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
Roque, Moysés de Souza Filho, Themis Cristina Soares
Mesquita e José Pereira de Melo
Licere, Belo Horizonte, v.15, n.3, set/2012
Ressignificando as Vivências do Lazer
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REDEFINES THE EXPERIENCES OF LEISURE ACTIVITIES: AN
AUTOTELIC CONCEPCION IN THE CONTEXT OF ACQUIRED
IMMUNODEFICIENCY SYNDROME
ABSTRACT: Today the Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS) brings new
challenges to their carriers, among them the maintenance of general well-being and
rehabilitation of a common practice of an individual in society, including these locus
leisure activities. This study aimed to analyze the leisure practices of six subjects before
and after they discover being patients with AIDS. The type of research was exploratory,
to analyze multi-referential, used as an instrument of data collection questionnaire. The
results point to the leisure as a construct of autotelic individuals surveyed from the
subjective process of redefinition of leisure activities, enabling the entertainment
experience of a creative and critical, essential to the claim of developing public policies
that meet leisure and understand the aspirations of social actors in the research.
KEYWORDS: Leisure Activities.Acquired Immunodeficiency Syndrome. Public
Policies.
1. Introdução
A era da informação e das redes sociais, na qual a densidade das relações
humanas vem sofrendo mudanças consideráveis parece estar conduzindo o homem para
longe de si, o que poderá resultar em um processo de valorização dos aspectos da razão
sem emoção, do físico sem a presença da paixão, em detrimento de sentimentos como o
amor, a compaixão, a sensibilidade, a solidariedade, entre outros.
Os estilos de vida dessa era, com suas características específicas, “falam de um
mundo em que os atores sociais devem “reconhecer-se” na identidade que estão em
condições de construir ou naquela que lhes é imposta pela multiplicidade de
pertencimentos sociais e pelos sistemas de regras que o governam (PINTO, 2002, p.21).
Para corroborar com o exposto, recorremos a Verden-Zöller (2004, p. 133) quando este
afirma:
O humano surge do entrelaçamento de ambas as dimensões – a
genética do Homo sapiens e a cultural da sociedade humana -, na
epigênese humana particular que implica viver como ser humano entre
humano. Somos concebidos como Homo sapiens, e nos humanizamos Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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no processo de viver como humanos ao viver como membro de uma
comunidade social humana.
Portanto, é através de relações sociais que se criam os espaços de comunidade
humana e democrática, espaços de convivência social, espaços de cooperação e de
liberdade social. Vivemos numa época em que a sociedade enaltece os pressupostos
racionalistas e atribui um valor supremo às atividades produtivas (MENDES; MELO,
2009), embora as questões que tratam do corpo e da subjetividade se constituam em
temas dos debates contemporâneos, de acordo com Santaella (2007).
Assim sendo, esse valor exacerbado dado à produtividade altera as maneiras
pelas quais concebemos e percebemos a ludicidade, a criatividade e a sensibilidade, no
cotidiano do homem, já que estes são componentes, alicerçados na cultura e na história
de vida pessoal. Diante do enclausuramento em si mesmo, imposto pela condição de ser
producente, o sujeito vê-se impelido a adotar uma nova perspectiva para lutar contra os
essencialismos e convocar os sentidos e sensações como experiência primaria essencial
da vida humana (SANTAELA, 2007).
No mundo-vida das pessoas vivendo com Síndrome da Imunodeficiência
Humana Adquirida (AIDS), com o qual nos deparamos ao longo de nossa caminhada
como pesquisadores, as repercussões psicossociais são ao mesmo tempo semelhantes e
distintas daquelas de outras patologias orgânicas. Ao ser descoberta, a AIDS foi descrita
como letal e incurável, entretanto, na atualidade com o advento da terapia com
antirretrovirais1
, os indicadores de mortalidade por AIDS vem sofrendo alterações
1
Terapia com antirretrovirais de alta intensidade (HAART), que consiste na combinação de vários
medicamentos, sendo disponibilizada gratuitamente aos usuários pelo Sistema Único de Saúde do Brasil.
Possui efeitos colaterais muito graves, entre eles a Lipodistrofia, que causa sérias modificações
morfofuncionais nas PVHAs (BRASIL, 2006).Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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acentuadas, passando essa a ser considerada como uma doença crônica controlável, que
faz emergir uma nova sociabilidade para as pessoas que vivem e convivem com tal
síndrome. Se para as doenças crônicas, em geral, é fundamental considerar o paciente
como sujeito social e aprendente, no caso da AIDS, isso se torna ainda mais relevante,
tendo em vista o estigma que ainda atravessa essa síndrome e todas as consequências
que dela decorrem, e que afetam diretamente a quem com ela vive e convive (SEIGEL;
LEKAS, 2002).
Diante dessa realidade, surgem novos desafios para as Pessoas Vivendo com
HIV e AIDS (PVHA), dentre estes, a manutenção da qualidade de vida e a reinserção da
pessoa nas práticas comuns na sociedade (CICCOLO; JOWERS; BARTHOLOMEW,
2004), incluindo nesse lócus as atividades de lazer, pelo seu caráter autoformativo e
como construto da saúde. Nesse sentido, traçar-se um fio condutor, que é fundamental
para perceber os novos cenários emergentes, com os quais se defrontam as PVHAs e o
caráter seletivos do mercado de lazer “cada vez mais forte, propagando uma visão
cultural linear, superficial e unidimensional, restringindo as possibilidades de vivencias
de lazer da população e colocando em risco as manifestações tradicionais a cultura
popular” (MELO, 2003, p.23). Sendo este, um ótimo ponto de partida para entender o
significado e os referenciais culturais que dão sustentação/sentido a esta doença tão
paradoxal e a necessidade do surgimento de uma concepção que venha superar essa
visão de lazer pautada na desigualdade e diferença e, portanto, excludente e
discriminatória.
O lazer assume, a partir desse contexto, um papel de extrema importância na
vida das PVHAs por implicar no resgate da ludicidade, da alegria que emana de cada
atividade/atitude do homem, transformando-as em oportunidades para expressar a Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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liberdade criativa e, nesse sentido, contribuindo de forma significativa para uma
releitura de sua condição de Ser uno e ao mesmo tempo multifaceteado, levando-se em
consideração que, em estudo realizado por Sales (2000), foi constatado que, na maioria
das vezes, a principal preocupação desses sujeitos é com o olhar dos outros em relação a
si mesmo e ao seu estilo de vida.
Nesse caminhar, se fez necessário introduzir a noção de corporeidade,
considerando-a como uma dinâmica constitutiva do ser humano nos estudos que
envolvem a vida humana, o que segundo Assmann (1995), significa reconhecer que o
corpo existe, que é definido e desenhado como característica genética de cada um, mas a
é corporeidade que possibilita o envolvimento e movimento dos seres por meio de suas
emoções e sentimentos. Isto porque, o corpo carrega em si as marcas indeléveis de sua
cultura e a corporeidade se expressa pelo corpo, na sua habilidade essencial de
autofazer-se, do auto-organizar-se como ser humano na sua complexidade.
É necessária, ainda, a compreensão sobre o papel do lazer como construto da
saúde, levando em consideração o que está posto na Lei 8.080, que dispõe sobre as
condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências (BRASIL, 1990),
quando menciona em seu Artigo terceiro que:
A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros,
a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o
trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e
serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam
organização social e econômica do País (BRASIL, 1990, p.1).
Nessa perspectiva, o reconhecimento do lazer como direito social que está
presente no aparato legal do Estado brasileiro, de acordo com Lazarotti Filho (2007), Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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numa dimensão prospectiva de um novo modo possível de viver, torna-se espaço de
reconstrução e “de diferenciação, de desejo de um ‘vir a ser’ com consciência cidadã,
criatividade e alegria” (PINTO, 2002, p.24). O lazer, portanto, se configura como
direito assegurando pela Legislação do Estado Brasileiro, não sendo somente um
projeto de governo.
Assim, para este estudo, postulamos, em consonância com Marcellino (2000,
p.15), uma concepção de lazer “marcada pela criticidade e criatividade, alicerçado no
objetivo de Denúncia de uma realidade historicamente construída e no Anúncio de uma
utopia focada na mudança do possível, a ser alcançado dentro de nossas vidas”. Lógica
esta, segundo o autor, enraizada em valores de um lazer capaz de propiciar descanso,
divertimento e desenvolvimento individual e social, ou seja, uma concepção de lazer
que se contraponha a uma lógica de compensação, de alienação ou de exploração do
mercado ao qual ele é submetido.
Para o referido autor, lazer pode ser definido como:
Cultura entendida no seu sentido mais amplo, vivenciada, consumida,
ou conhecida no tempo disponível, que requer determinadas
características como a livre adesão e o prazer, propiciando condições
de descanso, divertimento e desenvolvimento tanto pessoal quanto
social (MARCELLINO, 2001, p.31).
Esta visão ampliada do lazer como processo de autoformação do sujeito, já era
recorrente nos anos de 1960, principalmente, pelo resgate das forças criativas dos
estereótipos e rotinas impostas pelo cotidiano, mostrando assim, a profunda importância
do lazer e a sua força de atração para a individualidade, como afirma Dumazedier
(1994). Nesse argumento, o lazer é entendido como uma atividade não conformista,
crítica e criativa de sujeitos historicamente situados.Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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Partindo desse argumento e do entendimento de lazer como elemento capaz de
propiciar o desenvolvimento pessoal e social (MARCELLINO, 2001), e autotelia como
principio que diz respeito à autogestação, desejo, sentido, intencionalidade, tradução das
escolhas pessoais, que implica em autonomia e determinação dos seres humanos
(CSIKSZENTMIHALYI, 1992), o presente trabalho objetivou analisar as práticas de
lazer de seis indivíduos, antes e depois de se descobrirem portadores do HIV.
2. Lazer como atividade autotélica no contexto das PVHA
Passados 30 anos da descoberta do primeiro caso de AIDS estudado no Brasil, e
apesar de sua cronicidade, observa-se ainda hoje o fator estigmatizante dessa síndrome,
que não impossibilita fisicamente o indivíduo, porém, coloca os seus portadores num
patamar de culpabilidade e de medo. Nas palavras de Serres (2004, p.18), “esse grande e
verdadeiro medo, desencadeado por um monstro que aliena seu próprio corpo”, que não
obedecendo ao modelo ou racionalidade predominante, não se presta à condição de
simulacro (BINGEMER, 2011).
Diante desse cenário e devido ao aumento da média de vida das PVHAs, o novo
desafio para os portadores dessa síndrome passou a ser o viver e o conviver com a
mesma (MOSCOVICS, 2008), o que implica na elaboração de novos projetos, numa
nova forma de viver a condição de doente crônico. Em virtude dos limites aos quais
estão submetidos e pela necessidade de viver uma nova socialidade, esses indivíduos,
buscam a construção de sua autonomia, de novos valores, de uma ordem moral, de
interações e estilos de vida que nascem das relações, das ações e das retroações
partilhadas em diversas situações sociais.
Assim entendido, esse processo se configura como prática educativa,
colaborando com a ideia que a educação acontece em diversos espaços de atuação do Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
Roque, Moysés de Souza Filho, Themis Cristina Soares
Mesquita e José Pereira de Melo
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homem, sendo um processo criativo realizado pela via corporal. Isto porque, de acordo
com Soares (2001, p.110), “os corpos são educados por toda realidade que os circunda,
por todas as coisas com as quais convivem, pelas relações que se estabelecem em
espaços definidos e delimitados por atos de conhecimento”.
Essa compreensão do homem como uma unidade em busca de harmonia com o
seu entorno, levando em conta a complexidade dos sujeitos, e do lazer como uma
possibilidade de ação educativa e não uma panaceia como um antídoto contra a
violência, como um projeto de reivindicação social, contribuirá para a efetivação de
atividades de lazer como processo autotélico do homem. Um espaço de valorização
social, de manifestação de valores críticos e questionadores, constituindo-se como um
elemento de amadurecimento social e político, podendo resgatar a cidadania e fazer dos
indivíduos sujeitos de suas próprias histórias (MARCELLINO, 1989; SOUZA;
ARAÚJO, 2009).
Sob essa ótica, Schwartz (2002) demonstra a necessidade dos indivíduos terem
participação efetiva nas atividades ligadas ao lazer, o qual, por algumas de suas
características, como liberdade, prazer e ludicidade, se torna um importante elemento na
promoção da maximização da alegria do viver. Condena-se, dessa forma, o enfoque
utilitarista e compensatório do lazer, uma vez que, na sociedade atual, o tempo
destinado ao lazer passa a ser uma reivindicação social, uma questão de cidadania e de
participação cultural. Portanto, o lazer como uma construção autotélica do sujeito no
contexto das PVHA demanda esforços da complexidade vivida por esses sujeitos que
enfrentam estigmatização e preconceito no processo de sua construção identitária,
encontrados na trama social, após se descobrirem soropositivos para o HIV ou doentes
de AIDS. Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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Buscar, portanto, uma concepção de lazer numa perspectiva autotélica passa a
ter um papel preponderante nesse contexto e significa contribuir com a percepção do
mesmo como uma construção dinâmica do ser situada no mundo, em busca da
harmonização com a natureza, reconhecendo a interligação e interdependência entre os
fatores sociais, culturais e históricos que permeiam a existência humana, pois em
consonância com Cavalcanti (2008) a autotelia diz respeito a ações que têm um fim em
si mesmo e estão voltadas para a subjetividade da cada Ser, implica em desejo e reflete
autonomia e autodeterminação da expressividade humana no tempo presente
(CAVALCANTI, 2008).
Para Csikszentmihalyi (1992, p.104), uma atividade autotélica “refere-se a uma
atividade auto-suficiente, realizada sem expectativas de algum benefício futuro, mas
simplesmente porque realizá-la é a própria recompensa” 2
. Portanto, entender o lazer
como experiência ou atividade autotélica é percebê-lo, não somente como folga
relaxante do trabalho, mas também como tempo livre, onde novas possibilidades de
ação e interação podem ser criadas para puro deleite de quem o faz, possibilitando o
encontro consigo e com a realidade circundante, ou seja, um elemento que possibilita o
despertar da consciência crítica e uma reflexão sobre a injusta realidade na qual estão
inseridas as PVHAs.
Os estudos realizados por Csikszentmihalyi (1992, 1999) sobre a fenomenologia
das experiências de fluxo e do envolvimento com a vida cotidiana apontam a
necessidade de aprendizagem para se vivenciar plenamente o lazer. Ressalta o autor que
é comum se pensar que não há necessidade de qualquer habilidade para poder apreciar o
tempo livre e que qualquer pessoa pode fazer isso. No entanto, argumenta que:
2
Nas citações diretas e títulos de obras, a ortografia antiga será mantida, por fidelidade à obra citada.Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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É mais difícil desfrutar o tempo livre do que o trabalho. Ter lazer à sua
disposição não melhora a qualidade de vida, a menos que a pessoa saiba
como usá-lo de maneira eficaz; o lazer não é de modo algum algo que a
pessoa aprenda a fazer automaticamente (CSIKSZENTMIHALYI,
1999, p.67).
Afirma, ainda, que a sociedade que não compreende a importância desse tempo
de lazer como desenvolvimento de si, assim, o desperdiça com atividades que impedem
seu crescimento pessoal. É com essa preocupação que se faz necessário identificar no
seu viver cotidiano o fluir do fenômeno lúdico, destacando seus benefícios essenciais de
crescimento individual e coletivo. Podendo ocorrer satisfação de prazer para que seja
permitido tatuá-los nos diferentes corpos como aprendizagem para futuras experiências.
Portanto, o lazer como afirmação de si e como um tempo socialmente conquistado pelo
sujeito é um modo de expressão que passa primeiro pelo corpo, com seus sentidos,
sentimentos e imaginação, e ainda como importante elemento de autoformação
(DUMAZEDIER, 1994).
3. O Caminho Metodológico
O desenvolvimento da metodologia deste estudo caracterizou-se como um
processo de construção e reconstrução permanente do caminho para garantir a maneira
mais adequada da investigação do problema, considerando, principalmente, a condição
de doente de AIDS da população. Por estar inserida no campo da subjetividade e das
representações simbólicas, elegemos uma metodologia qualitativa. Optou-se por um
estudo exploratório, que é caracterizado pela aproximação do pesquisador a um
determinado problema que ainda não foi explorado em profundidade. Gil (1991)
comenta que os estudos exploratórios proporcionam uma familiaridade com o problema,
tornando-o mais explícito, favorecendo assim o aprimoramento de ideias ou a Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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descoberta de intuições, sendo o seu planejamento bastante flexível, contemplando
dessa forma os mais variados aspectos relativos ao fato estudado.
O instrumento de coleta de informação foi selecionado com a finalidade de
viabilizar a qualidade das informações, de acordo com o problema da pesquisa, o
contexto de sua realização e as características dos seus colaboradores. Sendo assim,
como recurso de coleta de dados do estudo, utilizou-se o contato direto com os
participantes, aos quais foi apresentado um questionário com a questão norteadora desta
pesquisa. Todos os participantes preferiram respondê-la por escrito. Essa estratégia, de
acordo com Triviños (1987), permite ao informante, seguindo espontaneamente a linha
de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo
investigador, começar a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa.
Na análise dos dados realizadas a partir das respostas dos participantes à questão
norteadora do estudo, utilizamos a abordagem multirreferencial, por entendermos que
diante de uma tradição epistemológica mais rígida, precisamos lançar um olhar plural
sobre o fenômeno estudado, negando desta forma modelos positivistas e racionais,
caracterizada pela leitura de uma realidade fixa, estável e imutável (MACEDO, 2000).
O grupo estudado faz parte do projeto de extensão do Departamento de
Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
denominado Pró-Atividade Física e Saúde, que oferece práticas corporais para a PVHA,
sendo também a população alvo da tese de doutorado em desenvolvimento, da primeira
autora do presente artigo. O estudo principal, do qual deriva este recorte, foi submetido
ao Comitê de Ética do Hospital Onofre Lopes da UFRN e aprovado sob o número
045/06. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), antes do início da investigação.Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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Mesquita e José Pereira de Melo
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São homens e mulheres com faixa etária entre 35 e 50 anos, que já
desenvolveram a doença AIDS e recebem atendimento clinico no Hospital Gizelda
Trigueiro3
. São profissionais autônomos ou aposentados, que ao longo de suas vidas
enquanto doente de Aids sofreram processos de desindividuação devido aos efeitos
colaterais da terapia medicamentosa4
e o do próprio avançar da infecção pelo vírus HIV
para a doença Aids.
4. Vivências do Lazer: o antes e o depois
O envolvimento dos participantes deste estudo com as vivências de lazer antes
de se descobrirem soropositivos ou doentes de AIDS, aponta para as mesmas como
atividades onde o ponto focal era a diversão pura e simples, descontextualizadas das
suas reais necessidades.
Podemos observar isso nas respostas dos participantes K, J e S:
Sempre tive o lazer como forma de “cano de escape” para as energias
acumuladas (stress) durante o decorrer da vida, por esse motivo sempre mantive
uma rotina diária de lazer com uma variedade de programas: viagens, praias,
baladas, bares, restaurantes, cinemas, teatros e outros. (Participante K, 2010)
Praia (que nem gosto), lanches nos fins de tardes, bares com excessos, viagens
longas e cansativas, mais para os outros do que para mim mesma. (Participante
S, 2010)
Eu sempre fui muito boêmia e tinha como divertimento frequentar bares e,
como sempre fui envolvida com música, procuravam sempre os ambientes onde
houvesse serestas, e principalmente muita bebida; fazia isso pelo menos três
vezes por semana; era fumante e achava que o cigarro também fazia parte de
meu lazer. (Participante J, 2010)
3
Hospital de referencia para atendimento as PVHA, localizado na cidade de Natal/RN.
4
Terapia com antirretrovirais de alta intensidade (HAART), que é disponibilizada gratuitamente pelo
Sistema Único de Saúde, e possui efeitos colaterais muito graves, entre eles a Lipodistrofia, que causa
sérias modificações morfofuncionais nas PVHAs (BRASIL, 2006).Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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As respostas revelam diferentes sentidos atribuídos ao lazer em cada história de
vida. Percebe-se que os participantes do estudo destacam que suas experiências de lazer
eram destinadas à busca pela diversão e pelo prazer, estando sós ou em companhia de
pessoas que faziam parte dos seus vínculos de amizade, ficando evidente, dessa forma, o
caráter individualista da vivência do lazer, a liberdade de escolha e a satisfação como
fim. Expressa, de certa forma, a concepção ambígua e polissêmica do lazer, alertando
para a constatação de que a visão sobre essas vivências varia entre as pessoas, aquilo
que é lazer para um, pode não ser para outro.
Observa-se que a exaltação e criação de atividades de lazer tinham a ambição de
extravasar tensões, bem como contribuírem com a instauração de padrões de
normalidade, com a administração do uso do tempo livre, para seu prazer ou para
atender desejos de outrem e para cultivar vícios. Sendo este o entendimento de lazer
como fonte de inspiração para enfrentamento dos problemas sociais como uma válvula
de escape das dificuldades quotidianas, características da sociedade moderna (ROCHA;
SILVA, 2002), mas também, conforme afirma Dumazedier (1994, p.47), aponta para “a
importância profunda do lazer, [...] sua força de atração pra a individualidade, mesmo
sob práticas aparentemente ‘fúteis’”.
Constata-se que os relatos vão de encontro ao que afirmam os estudos realizados
por Csikszentmihalyi (1999) sobre a fenomenologia das experiências de fluxo e do
envolvimento com a vida cotidiana, que apontam a necessidade de aprendizagem para
se vivenciar plenamente o lazer. Para o autor, parece contraditória a constatação de que
o individuo que possua garantido seu direito ao tempo livre não saiba como usufruir
essa conquista social com sensatez, visando seu próprio bem-estar pessoal, já que a Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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noção de tempo livre desde o advento da revolução industrial representa um ganho na
busca pela qualidade existencial (SCHWARTZ, 2002).
O contraponto desse contexto pode ser observado na fala do participante “W”,
que demonstra ter um entendimento do lazer como sinônimo de atividade física para
manutenção e saúde e qualidade e vida:
Sempre fui uma pessoa que gosta do lazer e de esporte. Então antes eu sempre
procurei ter o mínimo de lazer, praticava esporte como natação; já fiz muito
condicionamento físico. Acho que posso dizer que sempre me importei com
minha saúde física. (Participante W, 2010)
Para esse indivíduo, o lazer caracteriza-se como experiência individual, vivida
em atividades esportivas ou contemplativas; circunscrita há um tempo livre; para
movimentar o corpo, realizada isoladamente, prevalecendo o interesse pessoal em busca
do prazer. Nesse sentido, a prática de atividade física com vistas ao lazer e à qualidade
de vida nos remetem ao conceito da ecologia do desenvolvimento humano, que aponta
para a interação homem/natureza pautada em um equilíbrio dinâmico (KREBS, 2002).
A partir desse depoimento é possível fomentar uma percepção de lazer que
ressalta a subjetividade como uma das suas principais características, pois ao projetar as
necessidades e os anseios do indivíduo, pode estimular o desejo de construção de uma
nova forma de estar no mundo. Nesse sentido, a individualidade assume um valor
social, um sentido mais forte neste espaço intersticial do lazer, uma valorização da
autonomia em relação às tutelas institucionais, que não estariam ameaçadas
(DUMAZEDIER, 1994).
O lazer assume, assim, um papel de extrema importância por implicar em estado
de fluxo, em oportunidades para expressar a liberdade criativa e fonte geradora da Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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alegria de viver. Torna-se autocriação, assumindo um papel de extrema importância
para uma releitura de condição de ser-no-mundo, ou seja, para o que si é, em essência.
Toda e qualquer oportunidade cultural que venha a fomentar caminhos para um
novo redimensionamento do lazer, com um caráter significativo é considerado
primordial e os desafios para a concretização de mudanças de atitudes e valores
referentes a essas atividades representam uma premissa para se minimizar aspectos de
discriminações e aprimorar as perspectivas de desenvolvimento pessoal. Revelando
assim um aspecto bastante significativo: a experimentação pessoal - a vivência das
atividades que se constituem no principal eixo de ação sobre o qual as intervenções
começarão a fazer sentido.
Nesse sentido ao analisarmos as respostas dos indivíduos sobre as vivências de
lazer após se descobrirem enquanto PVHA podemos afirmar que todas as modificações
e segregações pelas quais passam esses indivíduos, agem diretamente na concepção de
novas formas de entender a vida e em novas maneiras de fruição no lazer. Podemos
percebê-la, nos depoimentos registrados sobre como essas pessoas passaram a vivenciar
os seus momentos de lazer, como experiências significativas para a sua vida. Em seus
depoimentos, “J”,“K”, “C” e “W” afirmam:
Hoje, aos 39 anos, e tendo descoberto a sorologia aos 33 anos, permaneço
seguindo os mesmo princípios, porém com algumas ressalvas: evito os
exageros, as farras, que antes eram enormes, hoje são mais comedidas;
acrescentei ao meu lazer (:) o exercício físico. (Participante K, 2010).
Hoje, depois de 10 anos de soropositividade, tudo isso mudou muito. Meu lazer
continua ligado à música, mas de uma forma muito mais saudável. Frequento
shows e participo de projetos culturais, já que a música sempre teve um papel
muito importante para mim, e faço exercícios físicos. (Participante J, 2010). Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
Roque, Moysés de Souza Filho, Themis Cristina Soares
Mesquita e José Pereira de Melo
Licere, Belo Horizonte, v.15, n.3, set/2012
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Percebe-se, a partir dos depoimentos, que o lazer passou a ter uma função de
divertimento e descanso das atividades diárias, ou seja, atividades/atitudes as quais os
indivíduos se entregam de bom grado, para desenvolver informação ou formação
desinteressada (DUMAZEDIER, 1980), bem como, ao incorporarem o lazer ativo em
suas vidas, esse passa a ter influência direta no estilo de vida desses indivíduos. De
acordo com França (2011, p.09):
O que implica, também, incorporar pensamentos que distinguem e
unem descobertas no domínio do lazer, numa espiralidade de práticas
livres, críticas, autocriativas e criadoras, donde o homem, em sua
totalidade (re) cria e socializa o que produz e o que transforma
desencadeando o fluxo de conhecimento.
Nos depoimentos abaixo, podemos perceber, a função do lazer como atividade
que promove o desenvolvimento pessoal (DUMAZEDIER, 1980), ou seja, como
processo educativo e formativo, na medida em que os momentos destinados ao lazer
oportunizam, tanto nas relações sociais, quanto nas interpretações e ressignificações do
mundo, trocas de valores e comportamentos, criando e reforçando identidades culturais.
Hoje procuro um bom lazer como viajar, caminhar. Ainda, escolhi viver numa
cidade que tem qualidade de vida. Isso pra mim é primordial. (ante W, 2010)
Depois da soropositividade começaram as dúvidas; se podia estar em lugares
com pessoas não soropositivas compartilhando festas, praias, etc. Comecei a
procurar pessoas pra me esclarecer muitas dúvidas, e vi que podia estar presente
em qualquer lugar, com qualquer pessoa, e voltei a me sentir uma pessoa
normal novamente. (Participante C, 2010).
Percebe-se que o tempo e o espaço destinado ao lazer desses indivíduos, pode
ser também entendido como tempo e espaço de autoformação, pois implica no desejo
em regular, orientar e gerir suas atividades de lazer, como um elemento de
transformação, podendo cultivar a vida; resgatar a cidadania e fazê-los protagonistas de Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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suas próprias histórias. Nesse sentido, de acordo com Souza e Araújo (2009), podemos
percebe o lazer como uma necessidade humana. Como instrumento de formação
cultural, histórica e social, como uma prática reveladora na formação de cada indivíduo
Vale lembra que, para esses sujeitos, a ruptura com a sociedade causada pela
descriminação e preconceito cria um hiato entre a simultaneidade e congenialidade das
experiências do eu e do mundo, que impedirá um deslocamento dos elementos
estruturais para as formas de como o lazer é vivido e experienciado, pois o crescente
processo de impessoalidade e desencantamento nas relações interpessoais e o conviver
com incertezas e descontinuidade da realidade, levam a atitude instrumental em relação
a si mesmo e aos outros.
No caminhar da subjetividade, mostra a necessidade do entendimento “do
mistério essencial no cerne de cada vida humana” (HILLMAN, 2001, p.16) a fim de
minimizar os danos causados pelo estigma que assola essa síndrome desde sua
descoberta. Evidencia, portanto, o lazer como construção autotélica do indivíduo, a
partir de necessidades advindas de situações cotidianas segregadoras e limitantes das
potencialidades criadoras e dos mistérios que adormecem na essência de cada ser
humano.
5. Para concluir
A análise comparativa dos depoimentos dos sujeitos desta pesquisa assinala para
mudanças significativas nas atitudes diante dos cuidados com as vivências de lazer, que
foram ressignificada a partir da necessidade de criação de outros territórios ou pela
desterritorização contemporânea dos espaços formais de lazer, “afirmando ao mesmo
tempo um estilo, uma inspiração, que fará reconhecer, à primeira vista, a assinatura de
um criador” (GUATARRI, 1992, p.177). Tudo isso supõe uma busca de atender às suas Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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necessidades psicossociais e impulsionar a capacidade de autonomia para autocuidar-se,
já que os indivíduos albergam em suas estruturas cognitivas o interesse por mudanças e
ao se pensar em operacionalizar mudanças em âmbitos maiores que os pessoais, o
processo torna-se ainda mais desafiador, tendo em vista que entra em jogo fatores como
a interação com outros membros do meio social, a redefinição de papéis sociais
relativos à aceitação no grupo, entre tantos outros.
Aponta ainda para a necessidade de construção de projetos de vida, onde esses
espaços sejam entendidos sob uma perspectiva autoecoformativa, que possibilite a
vivência dessa nova realidade a ser compartilhada e co-habitada, com prazer e
responsabilidade, já que passam a ser uma conquista social do tempo livre e
possibilitam, de acordo com Dumazedier, (1994, p.48), “uma forte expressão social [...]
de si mesmo através do corpo, do coração ou do espírito”.
Isto posto, vivenciar novas maneiras e novos espaços de lazer será determinante
nos aspectos da busca pela qualidade existencial de quem sofre com o preconceito e o
estigma dessa doença, delineando-as como vivências sensíveis e emocionais. Um rico
processo de construção de subjetividades, onde há a retomada da capacidade de
interagir de forma positiva como seu entorno e se perceber como cidadão, como
produtor de conhecimento que possibilite a construção de um novo conjunto de valores,
através dos quais podem ter acesso aos bens culturais de que se pode desfrutar nos
momentos de lazer.
Esse novo entendimento de lazer precisa ser aceito e vivido em plenitude e
intensidade, pois sobre ele incide a idéia de transformação e melhoria da sociedade da
qual são construto e construtores. Para corroborar com o exposto, buscamos respaldo
em Marcellino (1995, p.17), quando afirma que o lazer “merece tratamento sério sobre Hunaway Albuquerque G. de Souza, Edileuza de Monteiro
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suas possibilidades e riscos. Nesse sentido, proponho considerá-lo não como simples
fator de amenização ou alegria para a vida, mas como questão mesmo de sobrevivência
humana, ou melhor, de sobrevivência do humano no homem”.
Acreditamos que, ao aventarmos nesse estudo o entendimento de lazer como
uma construção autotélica do sujeito, postulamos também a construção de
subjetividades e de processos de corporificação que possibilitam a vivencia de um lazer
criativo e critico, imprescindível para a reivindicação de elaboração de políticas
públicas de lazer que atendam e entendam os anseios dos atores sociais da pesquisa.
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