Especialistas criticam série do Fantástico sobre autismo
Grupo afirma que reportagens apresentadas por Drauzio Varella mostram apenas uma visão sobre o transtorno
Um grupo formado por cerca de 500 profissionais que atuam em mais de 100 instituições nacionais de saúde está indignado com a série de reportagens sobre o autismo exibida no programa Fantástico, da Rede Globo. De acordo com o Movimento Psicanálise Autismo e Saúde Pública (MPASP), a série “Autismo: Universo Particular”, apresentada por. Drauzio Varella, representa um desserviço à população.
“O programa apresentou informações desatualizadas e que não estão de acordo com aquilo que as equipes multidisciplinares têm revelado”, disse Nina Leite, psicóloga, pesquisadora do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp (SP) e integrante do movimento.
A psicanalista Sandra Pavone, mestre em semiótica e comunicação pela PUC-SP, pega mais leve nas críticas. “Foi uma visão fechada sobre o tema. Esta é uma das visões, mas não é a única”, define. Sandra lamenta que o programa tenha sido “reducionista”. “É uma pena. Esta foi a primeira vez que o tema ganhou a possibilidade de alcançar tantas pessoas pela mídia”. De acordo com estimativas, cerca de 1% da população apresenta algum dos transtornos do espectro do autismo.
Para o grupo, que publicou uma carta aberta como manifesto, o principal problema do programa foi tratar o autismo como incurável. “Tenho dois casos de cura para contar e isso só no meu consultório”, rebate Wagner Ranna, médico pediatra, professor da Faculdade de Medicina da USP e especialista em saúde mental de criança e adolescente.
“Vendo a reportagem, a sensação que fica é que uma vez autista, sempre autista. Isso não é uma verdade. Existem casos de crianças que com um ano e meio apresentavam sintomas de risco e depois, com quatro anos, não são mais diagnosticadas com autismo”, diz Ranna. “Os pessimistas, claro, afirmam que estes casos ocorrem por erro no primeiro diagnóstico”.
O pediatra afirma que até mesmo os casos genéticos, que representariam apenas 5% dos diagnósticos, não devem ser considerados incuráveis. “A presença de um gene não vai selar o sintoma. O gene não é desativado, ele tem a expressão alterada e isso muda o sintoma”, disse.
Porém, as críticas do MPASP sobre a abordagem ao tratar o autismo não são unanimidade entres os especialistas do País. O psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo Guilherme Polanczyk discorda do barulho provocado pelo MPASP. “O autismo é uma condição crônica e persistente. Não conseguimos falar em cura. Se alguém descobriu que o autismo tem cura. Isso sim é uma grande novidade”, disse. Polanczyk afirma ainda que o curso do transtorno pode ser variado, mas não há cura.
“Acho que existe um desconhecimento muito grande. As pessoas se valem de teorias, achismo e entendimentos diversos. Nossos estudos mostram que o autismo é um transtorno perene, resultado de processos biológicos do desenvolvimento do cérebro que sofre também ou outras causas variáveis sejam nutricionais, exposição do feto à poluição”, disse Polanczyk sobre a crítica de que a série teria apresentado uma visão reducionista.
Procurados pela reportagem do iG, nem o Fantástico, nem o médico Drauzio Varella quiseram se pronunciar.
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