Uma cadeira motorizada com o fundo branco
Por Amauri Nolasco Sanches Junior
Estou lendo do autor romano Sêneca que viveu no 4º século da era cristã, um livro chamado “Da Vida Feliz” (De Vita Beata) que fala das virtudes que temos que ter para uma vida feliz. Uns desses aforismas ele diz: “Poder-se-ia dar também outras definições para o “nosso bem”, já que o mesmo conceito é passível de ser expresso com palavras diferentes. Tal como um exercito que pode desfilar em área aberta ou em espaço fechado, ora dispondo-se em semicírculo, ora em linha reta, mas seja qual for o ornamento, não perde suas forças nem disposição de lutar pela mesma causa. Assim a definição de “sumo bem” pode ser ampla e detalhada ou breve e concisa.”. Lendo essa definição, se pode ter uma ideia o que seria o verdadeiro “sumo bem” e o que fazemos para sermos felizes de fato como uma resposta as definições que vimos por ai dos “heróis da inclusão” (isso merece um texto exclusivo para o fato dos “heróis da superação”).
Sempre deixei claro que não quero ser exemplo de superação e nem quero ser exemplo de sociabilidade, então esse texto eu estou escrevendo para deixar bem claro que não adianta dar palestras, ler livros, ficar discursando sobre a inclusão e quando alguém precisa de ajuda, fica só no discursinho barato. Para começar, não adianta ajudar os outros (nem se esses outros são animais) se não temos a capacidade de nos ajudar e nem fazer nada para isso, é o que acontece com o segmento das pessoas com deficiência. Nossa educação (brasileira) é muito individualista porque temos opiniões extremistas capitalistas, se nós não conseguimos comprar o outro diz: “Dane-se! Eu consigo comprar e compro o que eu quiser!”. Não é bem assim. Em países desenvolvidos, se um produto não se adequa ao que a comunidade necessita, o boicote estar armado. Anos atrás quando descobriram que pescadores de ATUM matavam golfinhos junto, grandes boicotes foram feitos dentro da comunidade mundial. Pessoas esclarecidas são mais aptas a não se “curvarem” as empresas que querem explorar a necessidade de um publico especifico, como no caso das pessoas com deficiência física – em alguns casos, mais de uma deficiência pode usar aparelhos e operações que são exorbitantes em seus preços – que precisam por necessidade, usar cadeiras de rodas e que essas são de preços muito alto. Mas poderiam me dizer: “Ah Amauri! O governo dá esse tipo de aparelho!”. Ok. Mas os aparelhos que o governo oferece pelo SUS é de qualidade muito inferior e que pode resultar em uma queda, resultar em até o afastamento das pessoas com deficiência de suas tarefas diárias. Tenho exemplo notório de uma cadeira de rodas da marca Ortobras, literalmente desmontar em menos de um ano de uso, sendo que, se não fosse uma colega que me doou uma cadeira, eu ficaria no chão. Mas são casos para se pensar, pois o que está fazendo uma entidade particular doando cadeira de rodas para o governo? Mistérios que nunca são revelados.
Existe cadeiras de rodas motorizadas que são literalmente, um preço de carro usado, com uma cadeira igual a minha que é a Freedom L eu compraria 8 Corcel ano 80 e não estou exagerando. Uma cadeira manual da Agile mais barata, está em torno de R$ 2.500,00 e é a mais em conta. Igual a minha a Confort está numa base de R$ 1.200,00 e não tem nada, nenhum acessório a mais ou a menos para custar isso. Bem, tenho uma cadeira motorizada que é do ano de 2006 e está com alguma coisa que a cadeira pende para o lado, não sabemos que é a bateria, se é motorzinho, se é o controle e o raio, mas segundo o Código Nacional do Consumidor diz que a empresa que deve fornecer meios para a troca de peças e que tem que está nas regiões que elas foram compradas. Não é que acontece com a marca Freedom que além de não ter autorizadas em todas as regiões – existem pessoas no Espírito Santo, por exemplo, que se quebrar a cadeira tem que levar em uma auto elétrica – ainda se não encontrar que está errado, temos que mandar para eles lá no Sul e não pagam o frete do envio que deveria ser feito, já que eles não fornecem assistência técnica em todas as regiões do país. Não seria estranho que marca de automóvel vende-se no país inteiro e não tivessem assistência técnica em todas as regiões? Não acontece com as cadeiras motorizadas dessa marca que além de fornecerem assistências técnicas que exploram as pessoas com deficiência – teve um orçamento que o estabelecimento pediu R$ 1.770, 00 para trocar as escovinhas e para verificar as baterias e o carregador – sempre cobrando preços que não condiz com que a peça e nem o trabalho que prestam, vale. Alguns orçamentos são praticamente, uma cadeira manual nova. O que fazer com esse tipo de coisa?
Ainda aqui em São Paulo, na capital, muitas assistências técnicas são abertas nos bairros nobres que muitas vezes, ou sempre, leva ao preço final ao cliente os tributos que tem que pagar como IPTU, agua, luz e etc. O que impede que uma autorizada seja aberta na zona leste? Preconceito? Ou só para parecer chique?
Veja o que dizem umas dessas autorizadas:
A própria empresa disse que abriria onde mais lhe coubesse abrir, ou seja, não é só a palavra deles, mas é palavra de muitas empresas que dizer ter o direito de abrir onde mais quisessem. Essa mesma autorizada fez uma explicação sobre os preços das cadeiras e escrevi um texto sobre (
aqui ) A própria Freedom disse em uns dos seus e-mails:
Boa tarde Sr. Amauri,
Conforme falamos ao telefone, segue assistências técnicas em São Paulo/SP:
Casa Cirurgica Zona Sul
Bairro: Santo Amaro
Fone (11) 5523-7942
Onecare Com. e Serviços Ltda
Bairro: Água Branca
Fone (11) 3672-4229
MobilitySe
Bairro: Vila germinal
Fone (11) 2241-3153
Vivapé (Guarulhos)
Bairro: Jardim Terezopolis
Fone (11) 3435-3898
Estaremos a disposição.
Atenciosamente,
Georgia Kopp
(53) 3284-0605
Ou seja, ninguém aqui é “burro” para ver que os bairros que eles me enviaram são muito distantes ou não asseguram buscar a cadeira motorizada na sua residência. Quem mora no interior? Quem mora nas periferias e não tem como levar a cadeira para arrumar? As empresas que tem ainda a mentalidade de abrir em bairro nobre porque só lá tem cliente, está errada e cada vez mais vai perder cliente. É uma tremenda bobagem pensar assim e achar que temos que ficar refém de empresas exploratórias não só no preço do aparelho, nesse caso é a cadeira de rodas, mas também em sua assistência técnica. Cobrar taxas para buscar o produto não é ilegal, já que é o serviço do cara, mas não assegura em arrumar esse produto que acaba saindo do local atoa.
Como disse Sêneca a uns mil e seiscentos anos atrás, a felicidade é nós olharmos o “sumo bem” (sumo = “grande, extraordinário”, bem = “sem falhas, com acerto, em alto nível de qualidade”), como algo a ser alcançado dentro de nós mesmos. Dentro do próprio livro ele diz: “O sumo bem é imortal, não conhece exaurimento, não sente enfado [mal-estar] nem remorso porque a mente reta não tergiversa [usar uma desculpa] nem se desgosta de si mesma e nada modifica, já que está ótima.” (entre as chaves são minhas as colocações dos seus significados). Ou seja, o sumo bem não é ser o heroizinho da superação ou ser bonzinho, afinal todos dão apenas o que tem, mas o que se descobriu dentro de si mesmo como uma virtude (virtus. É uma disposição a praticar o bem) e assim, conter a união. União são muitos em um corpo só de opinião que resultara em um bem maior para todos. O sumo bem é imortal e necessário para o segmento, sem isso, não teremos nada que necessitamos para uma vida saudável sempre seguindo seus deveres, sempre querendo e tendo seus direitos. O caminho reto é o objetivo que devemos alcançar, devemos ter, devemos conquistar e nunca iremos alcançar, sem pensar coletivamente.
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