quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Atenção: seu casamento pode estar em perigo =- artigo revista isto é



Atenção: seu casamento pode estar em perigo

Como o transtorno de hiperatividade atrapalha a relação, 
quais são os sinais para identificá-lo e os caminhos para 
reconstruir a vida a dois

Claudia Jordão
img1.jpg
DISPARIDADE
Estima-se que 80% dos portadores do distúrbio sejam homens, o que sobrecarrega a mulher na relação
Seu marido ou sua mulher esquece o que você disse no minuto seguinte? 
Não se lembra de pagar as contas e de buscar os filhos na escola? 
Começa uma série de tarefas, mas não conclui nenhuma? Vive de 
mau humor? É possível que ele ou ela seja portador de TDAH (Transtorno
 do Déficit de Atenção com Hiperatividade). E que você e seu casamento 
também estejam sofrendo as consequências. De ordem neurobiológica, o 
distúrbio provoca dificuldades de concentração e organização, 
impulsividade e irritabilidade e atinge 5% da população. “Mesmo 
com esforços, o comportamento do portador de TDAH é sempre 
assim, e isso é capaz de fazer ruir uma relação”, diz o psiquiatra 
americano Edward Hallowell, professor da Faculdade de Medicina 
de Harvard e um dos maiores especialistas no assunto. Estima-se 
que 80% dos portadores do transtorno sejam homens.
O distúrbio ganhou visibilidade por dificultar o aprendizado de 
crianças na escola, mas agora começa a ser estudado com foco 
nas relações conjugais por especialistas da saúde, como Hallowell.
 Com a sua consultoria, a pesquisadora americana Melissa Orlov 
lança no mês que vem, nos Estados Unidos, o livro “The ADHD 
Effect on Marriage – Understand and Rebuild Your Relationship
 in Six Steps” (Os efeitos do TDAH no casamento – entenda e 
reconstrua a sua relação conjugal em seis passos). Nele, ela 
auxilia os casais a identificar e a conviver com o problema.
 “Quem se casa com o portador de TDAH se sente sobrecarregado,
 ignorado e abandonado. E quem possui o transtorno, além de 
se sentir frustrado, tem a sensação de que se casou com o 
‘monstro da reclamação’, que vive criticando.” Segundo 
Melissa, dividir o teto com quem tem TDAH, no mínimo, 
sobrecarrega. Por exemplo: as mulheres assumem 60% das 
tarefas domésticas, de acordo com um estudo americano. 
Esse percentual sobe para 95% no caso de esposas de 
portadores do distúrbio.
Para que a relação não seja destruída, antes de tudo, 
preciso identificar o problema. O professor César Pereira, 
51 anos, descobriu ser portador quando o filho, que ia mal 
na escola, recebeu o diagnóstico, há três anos – o transtorno
 é hereditário. Até então, o desempenho de César na vida 
doméstica era um mar de frustrações. “Eu não podia 
contar com ele para receber recados, fazer compras, 
levar ou pegar as crianças na escola e pagar contas”, 
a mulher, a professora Cecília, 49 anos. Ela conta que o 
marido era muito prestativo, fazia tudo o que devia, 
porém nunca no dia ou na hora certos. Hoje, César é 
mais organizado, mas já chegou a esquecer o filho na 
escola. “Eu também era irritado e hiperativo. E, por 
de organização, fazia dívidas com facilidade.” 
O diagnóstico é sempre um divisor de águas. “Quem 
é portador encontra uma razão para as suas limitações. 
E o seu parceiro descobre que nada daquilo é pessoal”, 
diz Melissa.
g_casamento.jpg
Transtorno identificado, é hora de tratá-lo para viver com qualidade. 
Com medicamentos e terapia (cognitiva comportamental), o portador 
conquista maior poder de concentração e planejamento, além de
 acalmar-se. Mas também é preciso que ele e o parceiro aprendam 
a lidar com o transtorno. No livro, Melissa elenca seis passos que
 podem ajudar na empreitada. Para começar, é preciso que o 
casal “cultive a empatia” entre eles e “elimine emoções negativas
 (como a raiva crônica)”. Na maioria das vezes, o diagnóstico é 
feito com a relação já em frangalhos. “É preciso dar um basta 
nas discussões e estabelecer um pacto de parceria, respeito e 
compreensão”, diz Melissa. Depois, ela recomenda que o casal
 “busque tratamento” e “melhore a comunicação”.
É indicado que, além do portador, o cônjuge faça terapia. 
Cecília, por exemplo, encontrou forças para lidar com a 
questão em reuniões da ABDA (Associação Brasileira do 
Déficit de Atenção). “Também tenho os meus defeitos 
e sempre conversamos muito, mas chegou um momento 
em que concluímos que valia a pena procurar ajuda profissional”, 
diz ela. O diálogo pode ser mais proveitoso se o casal tomar certas 
iniciativas. Por exemplo, para manter o portador de TDAH focado 
numa conversa, é preciso eliminar estímulos visuais e auditivos que 
possam distraí-lo – uma saída é desligar a tevê. E, por último, 
marido e mulher devem “estabelecer limites” e “resgatar o 
romance”. “Muitos casais esqueceram o que é se divertir 
juntos, algo fundamental numa relação conjugal”, diz Melissa.
img.jpg
PARCERIA
Fernanda assumiu o lar sem dramas e André, que tem TDAH, 
vale-se do smartphone para não esquecer os compromissos
O economista André Lima e a mulher, a advogada Fernanda, ambos 
de 32 anos, desenvolveram suas próprias estratégias para uma 
convivência harmônica. Antes do diagnóstico, feito há sete anos, 
Fernanda passava maus bocados com o mau humor de André.
 “Eu tinha receio de convidar amigos para vir à nossa casa”, 
diz ela. Medicado, André está mais tranquilo. Mas ela continua 
hábil em evitar saias-justas. “Ainda tenho o cuidado de marcar 
eventos na hora em que ele prefere e em locais que sei que gosta”, 
Fernanda. Além do apoio da mulher, que notou que as tarefas 
domésticas não eram o forte do marido e resolveu abraçá-las, 
André desenvolveu técnicas para não se esquecer de suas 
obrigações e não sobrecarregá-la ainda mais. “Tenho smartphone 
há dez anos. Se ele não tocar, esqueço de tudo”, diz ele, que, 
de tão preocupado em manter-se organizado, desenvolveu TOC – 
Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Informação e tratamento são 
importantes. Mas, como tudo no casamento, é fundamental que 
cada um faça a sua parte.

CREDITO REVISTA ISTO É

Nenhum comentário: