Muitas vezes, a interrupção na fala é apenas a chamada disfluência: quando a a pessoa está falando normalmente, mas não sabe como continuar, pois não se lembra da palavra que deseja pronunciar
Em algum momento da vida, todos já tiveram dificuldade de falar em sala de aula - seja por nervosismo ao apresentar um trabalho na frente dos colegas, ou durante uma prova oral. Uma criança ou um adolescente prolongando ou repetindo sílabas não é uma cena rara. Quando acontece, o professor pode rapidamente deduzir que se trata de gagueira, mas isso nem sempre é verdade. Na maioria dos casos, é apenas disfluência: a pessoa está falando normalmente, mas não sabe como continuar, pois não se lembra da palavra que deseja pronunciar. Doutora em psicologia social e fonoaudióloga especialista em problemas de fluência de fala, Silvia Friedman explica que diferenciar os dois casos é o primeiro passo para ajudar um aluno gago na escola.
Siga Terra Notícias no TwitterNa infância, as crianças só repetem o que os pais falam e o fazem sem errar. Quando chegam aos dois anos, já sabem a língua materna e conseguem formar as próprias frases sem realizar repetições, e vão tentando corrigi-las. Nesse processo, é natural que se hesite na hora de falar. A disfluência, contudo, pode acabar gerando uma “gagueira sofrimento”, quando a pessoa já sabe o que vai falar, mas tem medo de gaguejar e acaba travando. Silvia explica que, quando a criança começa a disfluir e os pais ou professores pedem para falar “com mais calma” ou “direito”, ela acaba tendo medo de falar e gaguejar, pois cria-se um estado psicológico que não permite que a fala siga o seu curso espontâneo.
Segundo a fonoaudióloga, o professor e os pais devem saber que a pessoa disflui em qualquer idade, e isso não é errado. “A reação do adulto pode criar na mente da criança uma angústia de falar, e aí começa a gagueira. Começa a imagem de si como mau falante. Por causa dessa angústia, a criança começa a dar uma respirada antes, colocar um “éééé” no meio, a trocar a palavra”, explica.
Caso a professora perceba que o aluno está tranquilo, mas fica um pouco nervoso ou prolonga sílabas na hora de falar, provavelmente, ele está disfluindo. Por outro lado, quando o estudante está muito nervoso e acaba trancando a fala, ou então usa truques como chacoalhar a cabeça e bater os pés na tentativa de “empurrar a palavra”, pode ser um sinal de gagueira.
Estudantes relatam falta de respeito dos colegas
A forma como a gagueira pode se manifestar difere de pessoa para pessoa. Bianca Ribeiro, 10 anos, prefere ler do que falar em sala de aula - ainda assim, durante provas orais, não gagueja. Para a irmã, Mariana Ribeiro, 12 anos, é diferente. “Geralmente acontece quando damos respostas orais ou para perguntas particulares com os professores”, conta. O que mais incomoda as meninas na sala de aula, porém, não é a gagueira: é a falta de respeito dos colegas. “Eles imitam e dão risada”, relata Bianca. em acabar com os deboches e alertar os professores sobre o que pode deixá-las mais à vontade, as meninas criaram um projeto para falar dos mitos e verdades a respeito da gagueira onde estudam, na Escola Castanheiras em Santana de Parnaíba, em São Paulo. A ideia surgiu após elas frequentarem a Oficina de Fluência, idealizada pelas fonoaudiólogas Daniela Veronica Zackiewicz e Luciana Andrea Contesini - a primeira, diretora do projeto e mãe das meninas.
A forma como a gagueira pode se manifestar difere de pessoa para pessoa. Bianca Ribeiro, 10 anos, prefere ler do que falar em sala de aula - ainda assim, durante provas orais, não gagueja. Para a irmã, Mariana Ribeiro, 12 anos, é diferente. “Geralmente acontece quando damos respostas orais ou para perguntas particulares com os professores”, conta. O que mais incomoda as meninas na sala de aula, porém, não é a gagueira: é a falta de respeito dos colegas. “Eles imitam e dão risada”, relata Bianca. em acabar com os deboches e alertar os professores sobre o que pode deixá-las mais à vontade, as meninas criaram um projeto para falar dos mitos e verdades a respeito da gagueira onde estudam, na Escola Castanheiras em Santana de Parnaíba, em São Paulo. A ideia surgiu após elas frequentarem a Oficina de Fluência, idealizada pelas fonoaudiólogas Daniela Veronica Zackiewicz e Luciana Andrea Contesini - a primeira, diretora do projeto e mãe das meninas.
Daniela trabalha com gagueira há quase 20 anos. “No consultório, percebi que o tratamento vai muito além da clínica individual. É importante conscientizar a sociedade e fazer com que as pessoas que gaguejam se encontrem, conheçam a fundo esse distúrbio e , principalmente, saiam da condição de paciente e vítima para transformarem suas próprias vidas e a realidade em que vivem”, diz. A fonoaudióloga explica que a própria experiência de levar as próprias crianças para ensinar os professores teve uma repercussão tão grande dentro da escola que já está se transformando em outro projeto social. Para Mariana, a palestra melhorou muito a situação na escola, e ela e a irmã já planejam falar também para os colegas.
Como ajudar
A gagueira não exige métodos de ensino específicos em nenhuma fase escolar, mas sim uma atenção especial do professor para que o aluno se sinta à vontade para falar em sala de aula. Confira, abaixo, algumas dicas da especialista Silvia Friedman.
A gagueira não exige métodos de ensino específicos em nenhuma fase escolar, mas sim uma atenção especial do professor para que o aluno se sinta à vontade para falar em sala de aula. Confira, abaixo, algumas dicas da especialista Silvia Friedman.
Dar tempo ao aluno
A criança ou o adolescente gago evita falar e fica muito tenso quando o faz. Caso isso aconteça, o professor não deve pedir que ele fale mais devagar e, sim, dar tempo para que ele fale do seu jeito. Caso os colegas imitem ou debochem, é preciso deixar claro que cada indivíduo fala de um jeito e alertar que essas ações são bullying e assédio moral. “Em qualquer fase, o professor como um agente social precisa entender que não é correto discriminar a criança quando há gagueira”, reforça.
A criança ou o adolescente gago evita falar e fica muito tenso quando o faz. Caso isso aconteça, o professor não deve pedir que ele fale mais devagar e, sim, dar tempo para que ele fale do seu jeito. Caso os colegas imitem ou debochem, é preciso deixar claro que cada indivíduo fala de um jeito e alertar que essas ações são bullying e assédio moral. “Em qualquer fase, o professor como um agente social precisa entender que não é correto discriminar a criança quando há gagueira”, reforça.
Orientação
Quando perceber que há em sala de aula um aluno em sofrimento, deve perguntar em particular se quer ajuda e se faz terapia. Se o estudante se mostrar aberto, o docente pode orientar sobre possibilidades de tratamento e recomendar que ele procure um especialista.
Quando perceber que há em sala de aula um aluno em sofrimento, deve perguntar em particular se quer ajuda e se faz terapia. Se o estudante se mostrar aberto, o docente pode orientar sobre possibilidades de tratamento e recomendar que ele procure um especialista.
No artigo “A Gagueira e o Mito da Fluência Absoluta”, Silvia destaca que o professor não deve ignorar o que o estudante está dizendo, nem sugerir que fale de outra forma. Pode olhá-lo diretamente, de maneira acolhedora, se mostrando interessado no que diz. Depois que ele terminar, o docente não deve chamar a atenção para a forma de falar, se detendo apenas ao discurso. Além disso, nunca deve completar palavras ou frases, a menos que a própria criança ou adolescente o peça.
Estimular que conte histórias
É importante estimular o estudante a falar sobre seus pensamentos, imagens, sonhos e experiências, dando todo o tempo que ele precise para tal, fazendo comentários e mostrando que reconhece o sentido do que foi dito. Em hipótese alguma o professor deve deixar que os outros estudantes interrompam o aluno gago com o intuito de calá-lo. Caso aconteça, é preciso avisar outro que deve esperar o colega terminar o que está dizendo para depois se manifestar.
É importante estimular o estudante a falar sobre seus pensamentos, imagens, sonhos e experiências, dando todo o tempo que ele precise para tal, fazendo comentários e mostrando que reconhece o sentido do que foi dito. Em hipótese alguma o professor deve deixar que os outros estudantes interrompam o aluno gago com o intuito de calá-lo. Caso aconteça, é preciso avisar outro que deve esperar o colega terminar o que está dizendo para depois se manifestar.
Não obrigar a ler em voz alta
A especialista afirma que é errada a ideia de que a criança irá melhorar lendo em voz alta. Como o gago fica com medo da próxima palavra quando há a obrigação da leitura em sala de aula, isso vai causar muito sofrimento. “Ler em voz alta não cria nenhuma aprendizagem que seja importante para o nosso meio sociocultural. O importante é aprendermos a ler e entender”, explica. Nesses casos, o professor deve deixar que a leitura seja espontânea, ou criar outro tipo de exercício para não deixar que o aluno gago se sinta excluído. O professor precisa permitir que a pessoa apresente trabalhos por escrito, no lugar seminários, exercícios de conjugação de verbos e provas orais, por exemplo.
A especialista afirma que é errada a ideia de que a criança irá melhorar lendo em voz alta. Como o gago fica com medo da próxima palavra quando há a obrigação da leitura em sala de aula, isso vai causar muito sofrimento. “Ler em voz alta não cria nenhuma aprendizagem que seja importante para o nosso meio sociocultural. O importante é aprendermos a ler e entender”, explica. Nesses casos, o professor deve deixar que a leitura seja espontânea, ou criar outro tipo de exercício para não deixar que o aluno gago se sinta excluído. O professor precisa permitir que a pessoa apresente trabalhos por escrito, no lugar seminários, exercícios de conjugação de verbos e provas orais, por exemplo.
Incentivar sem pressionar
No caso de o aluno manifestar o desejo de realizar um exercício oral, o professor deve estimular, mas sem pressioná-lo. Afinal, quanto menos medo a pessoa tiver de falar, menos irá travar. Se for o caso de uma peça de teatro, deve-se respeitar caso a criança não queira participar. Contudo, se ela desejar interpretar algum papel, ótimo: muitas pessoas perdem a gagueira nesses casos, como é o caso do ator Murilo Benício.
No caso de o aluno manifestar o desejo de realizar um exercício oral, o professor deve estimular, mas sem pressioná-lo. Afinal, quanto menos medo a pessoa tiver de falar, menos irá travar. Se for o caso de uma peça de teatro, deve-se respeitar caso a criança não queira participar. Contudo, se ela desejar interpretar algum papel, ótimo: muitas pessoas perdem a gagueira nesses casos, como é o caso do ator Murilo Benício.
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