Publicado em terça-feira, 2 de julho de 2013 por Fernanda Zago
Há exatos seis anos, publiquei o artigo "Acessibilidade e tecnologias de apoio à inclusão de pessoas com necessidades especiais"(http://www.saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=13978), duplicado em diversos sites orientados à pessoa com deficiência.
Naquela ocasião, eu recebi um email enviado por um rapaz que dizia ter tido muito boas referências sobre aquele texto e sua utilidade, porém, como era cego, lamentava o fato de não ter acesso ao conteúdo que estava publicado em arquivo fechado (um recurso que costumávamos utilizar para evitar cópias desautorizadas) - que não podia ser traduzido pelos programas que convertem os conteúdos de imagem e texto em voz.
Veja que ironia: justo um rapaz cego, quem mostrou o quanto eu também sofria da "falta de visão", neste caso, da visão do todo, da alteridade; e que, a despeito do meu trabalho de informação, eu estava deficiente.
Desde então, me desapeguei completamente da preocupação com minha propriedade intelectual, passando a publicar artigos passíveis de cópia e duplicação. Além disso, passei a sensibilizar desenvolvedores de sites e provedores de conteúdo, para a produção de conteúdos sob as normativas de acessibilidade.
O consórcio W3C (http://www.w3c.org), por exemplo, introduziu normas de acessibilidade para conteúdos publicados na web, mas como nossa fotografia pode ser "vista" por pessoas que perderam total ou parcialmente a visão ou são daltônicos?
O ditado "é preciso ver para crer", foi adaptado para "é preciso CRER para ver", para sensibilizar pessoas às práticas de inclusão visual. Isto porque uma pessoa cega não é desprovida de imaginação!
Mesmo uma pessoa que já nasceu sem a visão, ao longo da vida será capaz de aprender a reconhecer tudo o que há ao seu entorno. Do contrário, não teria mobilidade, nem tampouco se relacionaria com outras pessoas, objetos, lugares, sons.
A temperatura das cores, a sensação de claridade e escuridão também podem ser sentidas. Se o deficiente visual é ouvinte, tem na audição um recurso poderoso de capturar o mundo!
Leia a seguir um trecho do post de André Carioca, do blog "Cotidiano Cego" (http://cotidianocego.blogspot.com), que fala da relação entre cegos e imagens:
"(...) Eu comentei que gosto muito de cinema e ele disse: como? você não vê filme nenhum! Existem formas de se entender um filme sem a visão. Além dos diálogos que existem em vários filmes, existem também os efeitos sonoros que nos fazem ter idéia do que acontece. Talvez, para uma pessoa que enxerga e não está acostumada a se atentar para esses detalhes, seja difícil imaginar. Tem também um outro recurso chamado audiodescrição, que atualmente é usado algumas vezes. sabe aqueles aparelhos de tradução simultânea que são distribuídos em algumas palestras? Eles têm um fone de ouvido por onde você escuta a tradução. Então. em algumas seções de cinema e outros eventos, é entregue um desses pelo qual o cego escuta a descrição das cenas mudas além, no caso de um filme com legenda, a leitura da mesma. Recurso muito interessante.
Sobre a audiodescrição, encontrei em minhas pesquisas o "Guião Para Texto Descritivo" (http://www.dpedrov.edu.pt/becre/files/guiao_para_teexto_descritivo.pdf) - que me serve perfeitamente como referência para a elaboração de um guia para descrição das imagens fotográficas.
Veja a seguir a descrição que faço da imagem:
No centro da fotografia digital, moça de pele clara, cabelo chanel e escuro, agachada à beira do mar, trajando um longo vestido vermelho (tomara-que-caia), de modo que os joelhos fiquem juntos ao peito, tem a mão esquerda apoiada no joelho esquerdo, enquanto a direita revolve a areia em busca de conchinhas, talvez. Sua imagem é refletida na água em movimento, de modo que parece uma pintura espatulada. O curioso é que a foto recebeu tratamento que a deixou com a metade superior em preto e branco e o reflexo (inferior) em cores.
Agora, experimente ler em voz alta esta descrição para alguém e em seguida mostre a imagem, pedindo para que a pessoa diga o quão perto ela pode chegar da imagem a partir da sua descrição.
Como se pode ver, basta dedicar um tempo à descrição das imagens e já vamos poder compartilhar nossos saberes com deficientes visuais, também.
Estou buscando uma maneira de inserir as descrições da imagem no blog. Vou ter de fazer através de códigos, mas deixo a sugestão para que as ferramentas para o upload das imagens contenham um campo descritivo.
E considerando que 16,7% da população têm alguma deficiência visual, está mais do que na hora de praticarmos a inclusão - sem contar que este é, por natureza um público consumidor de informação e arte!
Para conhecer melhor o problema, leia o artigo sobre "Como as pessoas cegas usam a Internet" (http://brasilmedia.com/Cegueira.html).
Fonte: Fotoclube do Alto Tietê e Blog da Audiodescrição
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