quinta-feira, 3 de junho de 2010

Vontade e técnicas profissionais mostram histórias de superação


















Na dificuldade humana eis que surge, de várias formas, a esperança.

No atletismo para cegos, ela transforma-se numa corda que une dois pulsos: o do atleta e do treinador, agora, seu fiel companheiro.

É na percepção dessa corda que o ritmo é ditado, o som dos pés marca o ritmo das passadas e o caminho, então, iluminado.

Na natação, a escuridão é vencida pelo toque das mãos do professor, que ensina os futuros movimentos aquáticos.

Há reconhecimento do espaço entre as raias que, por sua vez, se transformam em guias na água e facilitam o percurso.

No handebol, um chocalho dentro da bola carrega a expectativa de vida melhor.

Esse som, associado às palmas dos goleiros ao fundo da quadra, delimitam o espaço e ensinam aos deficientes visuais o caminho do gol.

Mas a principal das esperanças está dentro dos profissionais que ajudam esses portadores de deficiencias físicas a recriam a realidade, como exemplo, no esporte adaptado.

O sorocabano Fernandes Manoel da Silva, de 27 anos, é um jovem que rescreveu sua própria história dentro do esporte adaptado, após um acidente ocular, há 6 anos. O deslocamento de retina o deixou às escuras.

Mesmo assim, o rapaz, que pretende competir nas próximas paraolimpíadas de 2012, venceu em primeiro lugar a última Maratona Internacional de São Paulo, há um mês, na categoria para cegos.

E hoje, ele se prepara para competir a Maratona de Nova Iorque, no final deste ano.

No entanto, entre o desespero e a glória, há o que se contar.

Foram dois anos de depressão até que ele se encontrou com a esperança: o atletismo. Por incentivo da família, passou a frequentar o departamento social da Associação Cristã de Moços (ACM) Sorocaba, onde o potencial para o atletismo foi descoberto. O condicionamento físico foi potencializado com treino semanal.

Até que as corridas passaram a fazer parte da rotina e hoje são diárias. Fernandes conta que começou aos poucos, participando de pequenas provas de ruas.

Até que começou a participar de meia maratona e depois de maratonas.

Na ACM, a professora Renata Cristina Souza - especialista em esporte adaptado -, o ajuda no preparo físico junto aos aparelhos todas às segundas, quartas e sextas-feiras.

E o estudante José Guilherme Moraes Rodrigues, de 15 anos, faz a vez na pista de atletismo, voluntariamente, às terças e quintas-feiras.

Tudo sob a supervisão do professor de educação física Marcelo Grechi.

Não há como negar que existem macetes na condução do atleta cego.

Conduzi-los por uma corda, não é fácil.

Cada deficiente tem seu ritmo e estilo.

Mas basta a vontade de ambos que dá certo, detalha Marcelo.

Para José Guilherme, acompanhar o ritmo de Fernandes é desafiador e estimulante; e nessa convivência, o deficiente ajuda o adolescente.

Gosto de correr e sei que ele (Fernandes) é rápido.

Me espelho nele na superação diária, diz o estudante. Já para Fernandes, o auxílio dos profissionais e voluntários foi determinante na sua vida.

O esporte já ajuda em tudo.

Mas pra mim, ajudou a virar um jogo.

Não imaginava que poderia competir e vencer algo na vida, assume ele, que diz estar com medo de voar até os EUA. Mas vou vencer esse medo também, ensina.

Com menos medalhas mas não menos entusiasmo, o aposentado Jaci Paixão, de 61 anos, também coleciona histórias revolucionárias. Há 20 anos ficou cego devido a um glaucoma.

Não sabia que tinha a doença, nem que a minha profissão de soldador contribuía para avançá-la, lembra.

E junto com a cegueira veio também a depressão e o fim de um casamento. Foi difícil.

Não tinha vontade de sair na rua, tinha vergonha de cair, usar a ‘varinha. Mas foi no futebol que ele encontrou a coragem para enxergar a vida.

Sempre joguei futebol, isso era uma coisa que me doía. Não poder mais praticá-lo.

Mas um amigo antigo resolveu formar um time de cegos, há quase 20 anos, e me convidou.

Jogamos até pela seleção brasileira de futebol adaptado, comemora. E de lá pra cá, ele não parou mais e recentemente incluiu na rotina, o atletismo.

Eu não participo de provas.

Corro aqui por perto, só para participar mesmo.

E é uma delícia, conta ele, que é testemunha de que o esporte pode mudar uma vida. Há 15 anos, Jaci casou-se novamente, com uma portadora de deficiência visual.


Temos uma filha linda, perfeita, orgulha-se ele, que é o mais velho e incentivador do grupo de deficientes visuais e mentais que treinam atletismo na pista da ACM Jardim São Paulo sob o auxílio da professora de educação física Laura da Silva Souza.

A professora Renata resume: Essas pessoas são especiais. É preciso paciência, é preciso ajudá-los um a um.

Mas é uma delícia presenciar a superação, diz ela que, também ensina crianças portadoras de múltiplas deficiências a nadar.

O processo é demorado. É preciso ensinar o limite da piscina, como a raia é o guia na água. Mas é maravilhoso.

Para o professor Marcelo Grechi: Eles (deficientes) nos ensinam mais do que nós a eles. Não temos do que reclamar.

Com menos, eles fazem mais que nós.



Fefiso/ACM realizou 1º encontro de Educação Física Adaptada



Com o objetivo de disseminar informações sobre o esporte adaptado entre estudantes e profissionais de educação física, a Faculdade de Educação Física de Sorocaba (Fefiso) promoveu o 1º Encontro de Educação Física Adaptada.

O evento aconteceu durante todo o dia e contou com palestras sobre esportes adaptados como atletismo, handebol, voleibol e danças.

Atletas e praticantes de esportes também foram convidados e falaram sobre as superações físicas diante do esporte.

A inscrição foi feita na Associação Cristã de Moços (ACM) do Centro e custa R$ 15.

O deficiente está no teatro, no restaurante.

Hoje tem uma vida comum. É natural esse público queira ir à academia.

E os profissionais têm que estar preparados, justificou.

No Brasil, estima-se que existam cerca de 30 milhões de portadores de deficiências (visuais, físicas e mentais), número baseado no censo habitacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizando em 2000, quando já eram 24 milhões de deficientes brasileiros.

Entidades ligadas à acessibilidade e esportes adaptados apostam que no Estado de São Paulo sejam cerca de 2 milhões de deficientes.

Na ACM atualmente 983 pessoas portadoras de alguma deficiência física, visual ou mental, e a Terceira Idade, recebem acompanhamento esportivo.

O serviço é disponibilizado pelo Departamento de Desenvolvimento Social, com profissionais que realizam cerca de 9 mil atendimentos semanais.

De acordo com o coordenador do setor, Francisco José Ribeiro, exatamente 15 entidades sorocabanas são atendidas pelo departamento.

Entre os atendidos há crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, portadores das mais variadas deficiências.

O trabalho é desenvolvido pela instituição desde 1977 e cresceu 40% desde 2000.



Encontro



Por conta dessa demanda crescente, a faculdade realizou o encontro que aconteceu na ACM do Jardim São Paulo , dia 29, a partir das 7h30 - com credenciamento e entrega de material -, a abertura foi às 8h30. A palestra sobre voleibol paraolímpico está marcada para às 9h e será seguida pelo depoimento de atletas.

Às 14h10 houve palestra sobre a dança com síndrome de down; e às 16h será ministrada palestra sobre atletismo cego.

Estão agendadas apresentações de dança e balé com deficientes e coral de surdos.

O encerramento está previsto para às 17h30.

Para custear a vinda de técnicos, profissionais e atletas paraolímpicos, integrantes das seleções brasileiras de diversos esportes, a entrada custou R$ 15. As inscrições foram feitas na ACM do Centro. Informações (15) 3234.9110.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Prof. Sérgio, boa tarde estava visitando seu perfil no blog e encontrei uma matéria minha sobre atletismo para deficientes visuais, Meu nome é Marcelo e sou um dos profissionais citados na reportagem e gostaria de saber como chegou a seu conhecimento nosso trabalho e fico muito feliz em por poder compartilhar esta esperiência com todos.
meu E-mail é: marcelogrechi22@hotmail.com