sábado, 22 de fevereiro de 2014

Os três caminhos da iniciação esportiva infantil

Posted: 21 Feb 2014 10:56 AM PST

http://www.rioverdeagora.com.br/arquivos/noticia-item/zooms-2125-0.jpgO foco deste texto é  as crianças no esporte, ou seja, a iniciação delas nesse contexto, seja este a escola, o projeto social ou a escolinha de esportes. A iniciação esportiva (IE) contém em si características importantes para o desenrolar da vida infantil no mundo esportivo e para compreender esse momento considera-se importante conhecer sua conceituação e abrangência do termo iniciação esportiva.
Na literatura autores como Blázquez Sánchez, (1999); Moreno et al, (2000); Contreras, La Torre e Velazquez, (2001) descrevem-no de maneira bastante diversa, dividindo-o em definições que consideram a IE como um o processo, outras como um produto e as mais amplas como ambas, ou seja, produto e processo.
Moreno et al (2000) definem iniciação esportiva como um processo de ensino- aprendizagem para a aquisição da capacidade de execução prática e conhecimento de um esporte, considerando este conhecimento o contato com o esporte até a capacidade de praticá-lo com adequação à sua estrutura funcional.
Blázquez Sánchez (apud MORENO et al, 2000) retira o foco da definição de IE do início da prática esportiva, ampliando para o início de uma ação pedagógica que considera as características da atividade, da criança e dos objetivos a serem alcançados. Na definição deste autor a iniciação esportiva possui 4 características essenciais vinculadas ao processo de ensino-aprendizagem, sendo estas:
"un processo de socializacion, de integración de los sujetos com las obligaciones sociables respecto a los demais; ser un processo de enseñanza-aprendizaje progressivo y optimizador que tiene como intención conseguir la maxima competencia en una o varias actividades deportivas; ser un processo de adquisición de capacidades, habilidades, destrezas, conocimiento y actitudes para desenvolverse lo más eficazmente en una o varia prácticas deportivas; ser una etapa de contato y experimentación en la que se debe conseguir unas capacidades funcionales aplicadas y prácticas." (BLÁZQUEZ SÁNCHEZ, 1999, p.24)
A propósito, Contreras, La Torre e Velazquez (2001) afirmam que a iniciação esportiva é um processo de socialização dos indivíduos, e possui implicitamente determinados valores, conhecimento, condutas, rituais e atitudes próprios do grupo social no âmbito que se realiza a iniciação. Desta forma, a iniciação não é apenas o momento de início da prática de um esporte, mas a totalidade de uma ação que envolve o processo e o produto.
Nesse sentido há um direcionamento interferindo no seu produto, decorrente de sua finalidade. Sendo assim, Sánchez Blázquez (1999) afirmará que a iniciação esportiva  pode ser destinada para três fins: o esporte competitivo, o esporte educativo e esporte recreativo.
Esporte recreativo
O esporte recreativo conhecido, também, como esporte-participação, tem como finalidade o bem-estar dos seus participantes, realizado pelo prazer e pela diversão (TUBINO, 2001). Sánchez Blázquez (1999) coloca que o desenvolvimento da recreação surge como uma reação contra o esporte de rendimento, na busca de uma nova cultura esportiva, baseada no sentido democrático do esporte, ou seja, valorizando as possibilidades individuais de cada pessoa e descentralizando o resultado.
Segundo Tubino (2001) no Brasil o esporte recreativo seria o chamado esporte popular, ligado ao tempo livre e lazer da população, no qual as pessoas praticam por diversão, descontração e relacionamento pessoal e social. O autor acredita que este esporte possibilita o processo de democratização, promovendo a participação e oportunidades esportivas para todos.
Esporte educativo
O esporte educativo busca colaborar para o desenvolvimento global e potencializar os valores da criança. O esporte educativo encontra-se no meio destes dois extremos, constituindo-se como uma atividade cultural, possibilitando a formação básica e contínua através do esporte (SÁNCHEZ BLÁZQUEZ, 1999). Esta possibilidade da IE busca proporcionar o desenvolvimento de atitudes motrizes e psicomotrizes em relação com os aspectos afetivos, cognitivos e sociais, respeitando os estágios de desenvolvimento humano.
Lima (apud TUBINO, 2001) coloca que a orientação educativa no esporte vincula-se a três áreas: a integração social, o desenvolvimento psicomotor e as atividades físicas educativas. Na primeira área, seria assegurado a participação autêntica, possibilitando aos educandos a oportunidade de decisões sobre a própria atividade a ser desenvolvida. No desenvolvimento psicomotor seria oferecer oportunidades para atender as necessidades de movimento, bem como desenvolvimento de habilidades críticas, como a auto avaliação. E as atividades físicas educativas englobaria a concretização das aptidões em capacidades.
Assim, considera-se o esporte educativo como um caminho para o pleno desenvolvimento da cidadania no futuro das pessoas (TUBINO, 2001). No entanto o autor ressalva que a iniciação esportiva escolar que deveria proporcionar o esporte educativo vem reproduzindo o esporte de alto rendimento, com todas as suas características perdendo o conteúdo educativo.
 Esporte competitivo
O esporte competitivo ou de rendimento é a prática esportiva com a finalidade de alcançar a vitória, buscando o movimento mais correto tecnicamente, realizando muitas repetições para o aperfeiçoamento da técnica o que leva o praticante a vencer o adversário (BLÁZQUEZ SÁNCHEZ, 1999).
Essa forma de lidar com o esporte requer muito cuidado, visto que esta pode se tornar uma réplica do esporte de alto rendimento adulto, no qual a criança é tratada como um adulto em miniatura. Isso faz com que esta dimensão do esporte tenha um forte impacto social por exigir uma rede de organizações complexas, envolvendo investimentos financeiros, mesmo em se tratando de um público infantil (TUBINO, 2001).
A propósito Vargas (1999) pontua que os esportes infantis acabando se adaptando ao "esporte dos grandes" com as mesmas formas, finalidades e valores, muito embora a imensa maioria dos discursos sobre ele seja apelando para a necessidade da prática regular e da participação. Complementando, Tubino (2001, p.35) descreve que no esporte escolar realizam-se competições infantis que "reproduzem as competições de alto rendimento, com todas as suas características, inclusive os vícios".
Assim, a especialização precoce é apontada como um grande risco do esporte competitivo durante a iniciação esportiva infantil. A busca incessante pelo prestígio conduz professores e familiares a exporem as crianças a situações de grande exigência e tensão, de treinamentos intensivos e precoces em busca de altos rendimentos. É importante ressaltar que poucas dessas crianças que iniciam treinamentos e competições precoces alcançam a vitória e o sucesso. O que prevalece é uma maioria denominada derrotados, que irão se frustrar com os resultados, além do elevado porcentual de praticantes que acabam por desenvolver problemas de saúde e transformar o esporte em atividade laboral (BLÁZQUEZ SÁNCHEZ, 1999). A propósito Personne (2001) aponta para os riscos à saúde que certos exercícios realizados de forma repetitiva podem gerar como seqüelas de ordem locomotora, cardiovascular, endócrina, além de repercussões psíquicas. Rubio e all (2000) descrevem que a especialização esportiva na infância substitui o lúdico pela competência e a recreação torna-se competição; inserindo a criança precocemente no mundo adulto.
Em relação aos aspectos de risco à saúde, Becker (2000) cita as lesões e o estresse, sendo que este último pode chegar a acarretar o burnout nos atletas infantis. "Burnout é uma resposta psicofisiológica exaustiva que se manifesta como um resultado de uma freqüência, muitas vezes excessiva, e geralmente com esforços ineficazes na tentativa de conciliar um excesso de treinamento com exigências da competição" (SAMULSKI, 2002, p. 349).
Apesar disso, Blázquez Sanchez (1999) aponta que o esporte competitivo também pode potencializar o desenvolvimento pessoal do indivíduo, simulando situações que todos enfrentarão no futuro. O professor pode ensinar a ganhar e a perder, esta aprendizagem pode proporcionar o desenvolvimento de habilidades pessoais enriquecedoras para a vida, como lidar com o fracasso, com a frustração, com a vitória e com o sucesso. O autor faz a ressalva que o esporte não possui nenhuma virtude mágica, não é bom, nem mal. Assim, a competição só será prejudicial ou benéfica se for direcionada para tal, dando à prática um significado distinto. 
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