Por: Cleber Dias - cleberdiasufmg@gmail.com
Em outra ocasião, já havia destacado o papel que militares exerceram sobre o desenvolvimento da educação física e do esporte em Goiás (veja aqui). A Companhia de Aprendizes Militares, por exemplo, criada em 1876 em regiões desprovidas de Arsenal de Guerra, foi a primeira instituição a oferecer práticas de ginástica na região.
Com a proclamação da república, de maneira mais ampla e geral, a relação dos militares com a sociedade mudou. No novo regime, militares assumiram postura cada vez mais ativa na vida social e política nacional. E a participação em atividades de educação física e esporte foi uma das formas através da qual militares puderam exercer suas influências para além dos muros dos quartéis. Se em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, o desenvolvimento dos esportes esteve muito ligado a organização de entidades civis, como os clubes, em outras regiões, a progressiva capacidade de atuação de instituições militares em direção ao interior pode ter sido elemento igualmente decisivo para o estímulo de práticas esportivas.
Em Goiás, por exemplo, personagens como Floriano de Lima Brayner estão entre os principais articuladores das primeiras iniciativas para organização de esportes na região. Nascido na Paraíba do Norte em 1897, Floriano ingressou voluntariamente na Escola Militar de Realengo, no Rio de Janeiro, em 1913, aos 16 anos de idade. Depois de algumas dificuldades iniciais com os estudos, tendo sido reprovado no 1º ano do curso fundamental, tornou-se, finalmente, 2º tenente em 1918, fazendo praça no 2º Regimento da 1º Brigada de Infantaria, na recém-construída Vila Militar, no Rio de Janeiro. Ali, responsabilizou-se pelo exame de reservistas do Tiro de Guerra número 7, além da instrução de recrutas. Obteve êxito e bom desempenho nessas funções, a ponto de seu comandante registar lhe elogios no Boletim de Ordens do Dia, “pelo interesse que liga à sua honrosa função de instrutor”. Provavelmente pela comprovada capacidade de liderança na instrução de recrutas e reservistas, foi nomeado também “auxiliar de instrução de Football do Regimento”, conforme registra sua caderneta de assentamento – no Arquivo Histórico do Exército.
Foi com essas credenciais que Floriano se viu transferido para o 6º Batalhão de Caçadores, em Goiás, em 1922. No novo posto, Floriano continuou se destacando pelo empenho nas atividades de instrução. Poucos meses depois de sua chegada, seus superiores já o elogiavam por “exercer as suas atribuições de administrador, instrutor e educador de modo digno de menção [...] demonstrando muito interesse pela instrução”. A organização de “lindas tardes esportivas” fazia parte de seu reportório de realizações. Nessa época, seguindo prescrições do regulamento de instrução física militar de 1921, jogos esportivos já compunham parte dos programas de instrução de recrutas e reservistas dos tiros de guerra, que multiplicavam-se por todo o país.
Floriano, por seu turno, parece ter sido capaz de se beneficiar da experiência como instrutor acumulada nos anos anteriores. Pois alguns anos depois, em princípios da década de 1930, já no posto de capitão, o militar seria reconhecido como alguém a quem o esporte em Goiás muito devia. Nessa época, partidas de futebol em Goiás realizar-se-iam em sua homenagem. Conforme registrou entusiasmada e exageradamente um jornal goiano da época: “pode-se mesmo afirmar, sem receio de contestação, que o Capitão Brayner foi o pai do esporte em Goiás”.
A situação não parece ter sido exclusiva à Goiás. Em muitas regiões do país, a presença de militares mostrou-se importante para a organização e disseminação de esportes. Em Mato Grosso, por exemplo, militares do Exército e da Marinha estiveram ativamente envolvidos na criação de pelo menos meia dúzia de importantes clubes de futebol em Corumbá, em meados da década de 1910. No Pará, de maneira semelhante, marcantes “festivas esportivos” realizar-se-iam sob a égide de “distintos oficiais” da Marinha, também em princípios do século 20. Acontecimentos do mesmo tipo são registrados em Pernambuco, Maranhão, Ceará ou no interior da Bahia – no que talvez possa ser extensivo à outras partes. A influência de militares sob este aspecto, portanto, bem pode ter sido maior do que historiadores do esporte tem considerado até agora.
Fonte: www.historiadoesporte.wordpress.com
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