sábado, 8 de junho de 2013

Bocha Adaptada



Opção saudável para pessoas com deficiência física


Por Priscila Sampaio
Foto Saulo Cruz/CPB


Foto Saulo Cruz/CPB
Eliseu dos Santos na final das Paraolimpíadas de Pequim, em 2008, contra a dupla de Portugal

Qualidade de vida e integração social. A prática da bocha oferece esses benefícios e muito mais. "Por meio da modalidade, eu me reintegrei socialmente. O treino fez com que a doença não avançasse, o que poderia, um dia, paralisar meus movimentos. Antes, eu tinha a sensação de que na minha vida faltava algo. Agora, não", revela Eliseu dos Santos, de 34 anos, que tem deficiência física em razão de distrofia muscular progressiva e é jogador profissional da seleção brasileira paraolímpica. Sim, além da evolução pessoal, o cadeirante descobriu a vocação de atleta. "Em 2005 fui levado por um amigo para conhecer a Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP) e lá, depois de um convite de Darlan Ciesielski Júnior, treinador da equipe de bocha, iniciei os treinos", lembra. Aos 10 anos, a patologia atacou os músculos de Eliseu, comprometendo o movimento de pernas e braços.
Mesmo após intenso tratamento na adolescência, o quadro se agravou e ele, tornou-se cadeirante. "O esporte proporcionou a mim fôlego e força para me locomover da cadeira para cama e de lá para cá, além de melhorar a respiração. Porém, me deu muito mais do que eu poderia imaginar: a bocha proporcionou-me um casamento", diverte-se. O cadeirante conheceu sua esposa nos treinos, já que praticava manobras todos os dias, por, no mínimo, duas horas por dia. Hoje, o campeão chega a treinar até seis horas seguidas. Tamanha dedicação já lhe rendeu recompensas como a medalha de bronze na categoria individual e ouro no jogo de dupla nas Paraolimpíadas de Pequim (China). Sem patrocínio, o jogador se mantém com o "Bolsa Atleta", um auxílio que o Ministério do Esporte cede para despesas pessoais e custos de treinos e competições.
A dupla Eliseu e Dirceu José trouxe para o Brasil a medalha de ouro na modalidade
Como se joga bocha?
É comum vermos em praças e clubes idosos jogando essa modalidade. Bolinhas e uma reta não explicam o que o esporte realmente é. A Sentidos explica: A bocha adaptada é similar à convencional: o objetivo é encostar o maior número de bolas coloridas na bola-alvo, conhecida como bolim. Ganha-se pontuação quando se chega à esfera do alvo. O jogo consiste em um conjunto de seis bolas azuis, seis bolas vermelhas e uma bola branca (bolim). A quadra dever ser lisa e plana como o piso de um ginásio em madeira ou sintético. A área mede 6 metros de largura por 12,5m de comprimento. É permitido o uso das mãos, dos pés ou de instrumentos de auxílio para atletas com grande comprometimento nos membros superiores e inferiores. Há três maneiras de se praticar o esporte: individual, em duplas ou em equipes. Os atletas são divididos por classes conforme a deficiência.
A equipe de bocha da APODEC. No centro, o diretor Esnane da Silva, à direita, o atleta Octavio Cícero e à esquerda, Weverton Belo
Entenda a divisão de classes
Na bocha adaptada existem as classes: BC1, BC2, BC3, BC4. A categoria BC1 é composta por pessoas com tetraplegia espástica severa com ou sem atetose, na qual há pouca amplitude de movimentos ou força funcional em todos os movimentos nas extremidades e no tronco. São atletas que dependem da cadeira de rodas e precisam de um ajudante durante o jogo, assim como de assistência tanto para a remoção da cadeira de rodas quanto para pegar a bola. Na classe BC2 jogam pessoas com tetraplegia espástica de severa à moderada, com os mesmos itens relacionados na classe BC1. A única diferença é que não precisam de ajuda de terceiros. Os atletas da BC3 têm maiores comprometimento motor e utilizam calha e um calheiro para realizar o jogo como suporte para remessar a bola. Na BC4 aos jogadores possuem diplegia de moderada à severa com controle mínimo nas extremidades das mãos, e ainda, com limitações de tronco e pouca força funcional nos quatro membros. Eles não recebem ajuda. O treinador Darlan Ciesielski Júnior é também o técnico da seleção brasileira. Ele diz que não há grandes dificuldades no início dos treinamentos porque a modalidade é totalmente adaptada para pessoas com deficiência. Um empecilho porém atrapalha a expansão do esporte no Brasil: o material necessário para os treinos. "O kit é pessoal e levado para todos os jogos. O ideal, vendido em Portugal, custa cerca de 350 euros. Infelizmente nem todos os jogadores têm condições de importá-lo. Mas a Associação Maringaense de Desportos para Deficiente vende materiais de boa qualidade com preços acessíveis", fala Darlan.

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