quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

“Coisas de Cego” retrata tabus e preconceitos


Muitos acreditam que os objetos usados pelos deficientes visuais se resumem a bengala e ao assinador, mas existem umasérie de outras coisas que fazem parte da realidade dessas pessoas. Para mostrar algumas destas outras coisas, os alunos do projeto “Um Olhar Para a Cidadania”, em uma de suas ações, estão realizando a peça “Coisas de Cego”, que retrata diversas situações envolvidas por tabus e preconceitos.
A ideia é provocar uma reflexão sobre o contexto social no qual o cego está inserido e se relaciona. Segundo Jessé Barbosa, responsável pelo projeto “Um Olhar para a Cidadania”, coordenado pelo Instituto Comradio do Brasil, todo trabalho se concentra na diminuição da violência do favor, que, segundo ele, é a violência que a gente faz com as pessoas com deficiência, mesmo sem perceber.
“O projeto trabalha com formação profissional dos cegos para atuar no rádio e nessa formação vai embutido a defesa dos direitos da pessoa com deficiência. Assim, quando eles saem daqui e começam a trabalhar nas rádios, eles vão com esta perspectiva: de ampliar o debate sobre os direitos da pessoa com deficiência”, comenta.
Dentro do projeto, na aula de comunicação,os alunos assistem a aulas de teatro, que os ajudam a se desinibirem, melhorarem a voz. E foi o exercício desta aula de teatro que deu como resultado a peça “Coisas de Cego”.
A encenação trata da principal violência do favor. “A gente não sabe como conduzir um cego, como falar com ele, porque temos sempre a expectativa de que o cedo se inclua no nosso mundo (que temos visão física). Mas o que o projeto prega é exatamente o contrário, nós que temos que aprender a lidar com eles”, acrescenta Jessé Barbosa.
Esta é a primeira peça de teatro do grupo e se refere ao dia a dia da pessoa cega. Segundo Norma Guimarães, diretora da peça, a pessoa com deficiência visual vive algumas situações de desconhecimento, de preconceito e outras que é um misto de tudo.
“Mas a primeira coisa que é vista é como se eles fossem pessoas que não tivesse capacidade de realizar tudo e isso a gente está quebrando, mostrando numa peça”, coloca a diretora, ao frisar que a pessoa pode fazer tudo, se ela quiser, dentro dos limites e cuidados que tem que ter.
Na construção da encenação, todos os atores contaram suas histórias e a diretora foi adaptando. Após o texto feito, eles passaram para o tradutor, foi gravado e colocado à disposição de todos. “Como é um texto baseado em histórias reais, que eles mesmos vivenciaram, na medida em que eu fazia o texto, eles já iam pegando as falas”, explica Norma.
Situações de casamento, avenida congestionada e um casal cego cuidando do filho são algumas das situações retratadas pelos 14 artistas em cena. O movimento além do corpo, que é o trabalho do teatro do oprimido do teatrólogo brasileiro Augusto Boal, também está sendo descoberto dentro do trabalho.
Durante a apresentação é trabalhado a imagem, o som e a palavra. A diretora destaca que para o cego a imagem é a que ele mesmo produz. “Ele produz a imagem com o corpo, com a expressão facial e com a fala e também o movimento no espaço, para você caminhar com segurança no espaço”, declara Norma ao completar que a pretensão do projeto é levar a peça para escolas e continuar com os ensaios, para que os deficientes aprimorem ainda mais a encenação.
Para Denise dos Santos, que faz o papel da noiva, a experiência está sendo ótima e não apresenta nenhuma dificuldade. “Dá um nervosismo, porque é a primeira vez, mas como são situações do nosso cotidiano, não está sendo difícil. Só em 3 ensaios conseguimos passar tudo que queríamos para quem vai nos assistir”, afirma. (Por Aline Damasceno)

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