sábado, 2 de janeiro de 2010

Esporte dá a deficiente autonomia, além de força




da editoria de treinamento da Folha de S.Paulo

Após três anos de exercícios de reabilitação,Thiago de Oliveira, 31, soube, por uma amiga de sua mãe, do projeto de esportes adaptados da Unicamp.

Sem movimentos do tórax para baixo, devido a uma lesão medular, tentou natação e chegou a praticar seis meses de handebol, mas sentiu mais afinidade com o basquete em cadeira de rodas.

Gostou tanto da modalidade que hoje é atleta profissional e até representou o Brasil na Paraolimpíada de Atenas.

Mesmo que no primeiro momento o deficiente procure o exercício físico por recreação ou como complemento a algum tratamento médico, muitos se tornam atletas, afirma a professora Elisabeth de Mattos, do Grupo de Estudos em Esporte para Pessoas Portadoras de Deficiência da USP.

O professor José Irineu Gorla, do Departamento de Estudos da Atividade Física Adaptada da Unicamp, afirma que a dificuldade em encontrar academias adaptadas leva os deficientes a centros específicos de treinamento. "Eles viram atletas, é inevitável."

Foi o que aconteceu com André Brasil, nadador que voltou da Paraolimpíada de Pequim com cinco medalhas, sendo quatro de ouro. André, que tem uma pequena seqüela de poliomielite na perna esquerda, fez fisioterapia na piscina do prédio até os nove anos.

Por essa época, começou a competir, sempre com atletas não-deficientes. Somente em 2006, foi enquadrado na categoria S10, para atletas com menor grau de deficiência física.

Para o atleta, a prática de esporte lhe rendeu mais que o ouro olímpico. "Se eu não tivesse a natação hoje, talvez eu tivesse mais problemas musculares, de coluna, de deslocamento. Se você me comparar a pessoas que tiveram a mesma coisa que eu tive, eu sou hoje uma das pessoas mais bem reabilitadas no nosso país."

Exemplos como o de André Brasil incentivam os deficientes a praticar esportes. Para Eliane Miada, uma das fundadoras da ADD (Associação Desportiva para Deficientes), o efeito da divulgação do esporte durante as Paraolimpíadas é percebido nos meses seguintes.

Após oito anos de sua fundação, em 1996, a associação tinha apenas 140 atletas no basquete, natação e atletismo, modalidades mais procuradas. Dois meses depois, após a 1ª Paraolimpíada, em Atenas, esse número havia aumentado em 20%. Neste ano, antes dos jogos na China, o número de inscritos era de 389. Até quinta passada, apenas um mês e três dias depois, esse número já cresceu 17%.

Livre para escolher

Qualquer pessoa com deficiência pode praticar esportes. "Para experimentar, desde que não seja em nível competitivo, dá para fazer tudo. Até para atividades de impacto já existem equipamentos que diminuem os efeitos", explica a professora da USP. No caso do atletismo, por exemplo, o deficiente pode usar próteses com silicone para amortecer impactos.

É recomendada, antes de começar qualquer prática esportiva, a realização de exames de rotina. Em segundo lugar, é indicada uma avaliação com um médico do esporte, que poderá sugerir a atividade mais adequada e informar sobre as adaptações necessárias e os cuidados.

Para Beny Schmidt, chefe do laboratório de Patologia Neuromuscular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), "o importante é que o próprio deficiente também diga para qual esporte ele está mais bem adaptado de acordo com sua sensação de bem-estar".

"Perdi a vergonha"

Vilma Miranda, 41, escutou os tiros e caiu no chão. Estava a caminho de casa, no bairro Cachoeirinha (zona norte). Uma bala perdida perfurou sua vértebra torácica T12 e a deixou sem os movimentos das pernas.

Nos primeiros cinco anos após o acidente, fez apenas fisioterapia de forma irregular. Dependia "dos outros" para se locomover. Da Divisão de Medicina e Reabilitação do Hospital das Clínicas, recebeu o convite: e se experimentasse jogar basquete?

Dezesseis anos depois das primeiras batidas de bola em quadra, Miranda faz o balanço: com o basquete, aprendeu a "cair, levantar, sair na rua". Voltou a trabalhar e a estudar. Especialistas ouvidos pela Folha apontam o aumento da auto-estima e a melhoria da coordenação motora como maiores benefícios dos esporte.

"Quando comecei a fazer basquete, pedia ajuda para passar de uma cadeira para outra. Jogando, você começa a querer competir, pega força no braço. A gente perde a vergonha de subir sozinha no ônibus ou de pedir ajuda", conta Vilma.

José Irineu Gorla, autor de quatro livros sobre esporte adaptado --o último lançado neste ano, "Educação Física Adaptada - O passo a passo da avaliação"-- aconselha que se comece o mais cedo possível. O mais indicado seria realizar esporte todos os dias, durante pelo menos uma hora.

Beny Schmidt, da Unifesp, exemplifica como uma pessoa com poliomieliete pode somar à atrofia causada por danos nos nervos uma atrofia por desuso: sem atividade física, começa a perder massa muscular. A partir da inatividade, pode predispor várias doenças secundárias, como as ligadas ao aparelho circulatório ou à obesidade.

O professor Gorla ainda lista como benefícios a melhoria na postura -especialmente para cegos, que costumam andar com a cabeça baixa- e o ganho de independência. "Isso pode se traduzir em visibilidade para o mercado de trabalho."

NANCY DUTRA, NATÁLIA PAIVA e VANESSA CORREA

Um comentário:

Unknown disse...

Boa noite, adorei seu blog.Estou fazendo um trabalho acadêmico voltado para o deficiente físico, gostaria de saber se existe a possibilidade de um contato direto com você.Meu e-mail é rafaela.mazarin@gmail.com .
Obrigada e parabéns pelo blog