terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Como reconhecer um autista


Nathália, de 14 anos, faz balé, estuda desenho e quer trabalhar com quadrinhos

A) Analise as características da pessoa:

[1] Problemas de interação social:

1a - Tem dificuldade para entender expressões faciais ou gestos corporais?
1b - Tem mais problemas para fazer amizade ou se relacionar que outras pessoas da sua idade ou grau de desenvolvimento intelectual?
1c - Raramente procura, espontaneamente, compartilhar interesses ou atividades prazerosas com outras pessoas?
1d - Não corresponde a manifestações de afeto ou aproximações sociais?

[2] Déficits de comunicação:

2a - Tem falta ou atraso do desenvolvimento da linguagem, não compensada por outros meios (apontar, usar mímica)?
2b - Inicia ou, em indivíduos com linguagem adequada, mantém uma conversação?


2c - Repete palavras sem sentido aparente e em situações estranhas; ou fala de forma estereotipada?
2d - É incapaz de participar de brincadeiras de faz-de-conta?

[3] Comportamento, atividades e interesses restritos e estranhos:

3a - É excessivamente interessada e preocupada por um tema estranho?
3b - Se apega a rotinas ou rituais?
3c - Faz movimentos repetitivos e estranhos?
3d - Interessa-se demais por partes de objetos?

O autista terá, no mínimo, seis dessas características. Sendo pelo menos duas do item 1, uma do item 2 e uma do item 3.

B) Só é autista quem apresenta atraso ou alguma anormalidade em pelo menos uma das áreas acima (social, comunicação e interesse) presente antes dos 3 anos de idade

Síndrome de Asperger
A) A pessoa tem dificuldades para se socializar?

[1] Ela tem dificuldade de olhar nos olhos ou não sabe usar a expressão facial, a postura corporal e os gestos para comunicar seus sentimentos?
[2] É incapaz de fazer amizade ou mesmo manter uma conversação com pessoas da sua idade?
[3] Não demonstra desejo de compartilhar situações agradáveis ou interesses (como apontar para objetos)
[4] Não corresponde a aproximações sociais ou manifestações de afeto?

B) Tem comportamento, atividades e interesses restritos e estereotipados?
[1] Preocupa-se demais com assuntos muito específicos e pouco ligados a sua realidade (como dinossauros ou nomes de planetas)?
[2] É muito apegada a rotinas ou rituais?
[3] Faz movimentos repetitivos e estereotipados (como se balançar)?
[4] Preocupa-se demais com partes de objetos?

C) Suas limitações causam sérias dificuldades sociais, profissionais ou em outras áreas importantes de sua vida?

Os aspergers têm, pelo menos, duas das características do item A, uma do item B e a resposta é positiva para o item C

Outras pistas
Além dos critérios usados por profissionais de saúde, é bom ficar de olho em outras características comuns em crianças autistas. Mesmo que a ligação de algumas delas com o distúrbio ainda não seja comprovada pela ciência [1] A criança se incomoda com som alto?
[2] Parece não ter noção de perigo?
[3] Costuma se auto-agredir?
[4] Parece ser um gênio, mas só no que se refere a um assunto?
[5] Encara demais as pessoas?
[6] Teve otite grave quando bebê?
[7] Sofre de refluxo ou outro problema gastrintestinal?


Outra causa cogitada para o autismo é uma disfunção hormonal durante a gravidez. O feto teria sido superexposto à testosterona, o hormônio masculino. A mente autista seria, então, uma espécie de mente hipermasculina, daí seu distanciamento das relações humanas e afetivas e sua identificação com processos lógicos, matemáticos, mecânicos. O fato de haver quatro meninos para cada menina autista dá força à hipótese.

O principal defensor dessa tese é o inglês Simon Baron-Cohen, da Universidade de Cambridge (primo do comediante Sacha Baron-Cohen, conhecido por seu personagem Borat). Segundo ele, entre os profissionais das áreas exatas e tecnológicas, como engenheiros, físicos, químicos, matemáticos, em geral há muitos autistas de alto funcionamento. "As melhores mentes dessas áreas podem não pertencer a autistas", diz Baron-Cohen. "Mas, com certeza, são pessoas com vários traços autistas."

Além de otite, é muito comum crianças com autismo terem problemas gastrintestinais, principalmente refluxo.
Há pesquisadores que defendem também uma possível ligação entre autismo e dieta.

Essa tese angariou vários seguidores. Em alguns sites da internet, os pais aprendem que o glúten, laticínios e outros alimentos causam alguma espécie de irritação no tecido nervoso. "Quando o Maurício começou a dieta sem glúten, melhorou muito", diz Claudia Marcelino. "Está muito mais tranqüilo e comportado." Segundo ela, se o rapaz quebra a dieta, fica irritado, ansioso, visivelmente alterado. Em vídeos na internet, Claudia mostra a diferença de comportamento de seu filho nas duas situações. O neurologista Gadia diz que nos EUA muitas mães seguem a dieta sem glúten para seus filhos. Mas são tratamentos sem comprovação científica. "Em meus pacientes, não vi nenhuma diferença."

A tese mais aceita hoje atribui ao autismo uma origem genética. Uma das hipóteses mais cogitadas é a alteração nos genes responsáveis pela produção de serotonina. Muitos autistas apresentam níveis altos de serotonina. "O mais provável é que não seja a alteração de um gene apenas, mas de vários", diz Gadia. "Um conjunto de características determinadas geneticamente que resultaria numa personalidade diferente."

Os aspergers sentem que são diferentes, mas não conseguem entrar em sintonia. Quando percebem isso, é um sofrimento atroz
ESTEVÃO VADASZ, do Hospital das Clínicas

É fácil observar que o autismo é um traço de família. Entre os autistas, 7% têm irmãos autistas. Uma porcentagem parecida tem parentes que se encaixam no espectro. Segundo Vadasz, do Hospital das Clínicas, é comum perceber traços de autismo nos pais que levam as crianças para ser examinadas.

O diagnóstico é apenas o primeiro desafio que o Brasil precisa enfrentar.

Em seguida, vem o mais complicado, o tratamento. Ele tem de ser individualizado e envolve uma série de profissionais (leia o quadro à pág. 82): um psiquiatra, um neurologista, um fonoaudiólogo, um fisioterapeuta, um psicopedagogo, um terapeuta comportamental ou qualquer combinação desses e de outros especialistas. Alguns tomam remédios para tratar sintomas, mas é uma solução paliativa. Famílias como a de Rafael, com condições financeiras, acabam montando as próprias equipes multidisciplinares.

"Existem zero programas governamentais no Brasil", diz Vadasz.

Quem não pode, para tratar e educar seus filhos, tem de correr atrás de umas poucas vagas oferecidas por órgãos públicos, como o Hospital das Clínicas, e organizações não-governamentais, como a AMA, as Apaes (Associações de Pais e Amigos de Excepcionais) e a Auma (Associação dos Amigos da Criança Autista).

Fundada por Ana Maria e outros pais de autistas em 1983, a AMA começou na base do improviso. "Eu sou engenheira naval", diz Ana. Ela se juntou com outros pais porque não encontrava escola ou terapia para seu filho. "Aí nós começamos a aprender. Fizemos cursos no exterior. Nos capacitamos." Hoje, a entidade é referência e recebe ajuda do governo. Mas, para conseguir uma vaga em suas salas de aula, pais de toda a Grande São Paulo esperam anos. "Às vezes aparece a vaga", diz. "Mas não na turma certa para a criança."


O tratamento ainda não esgota o problema. Rosângela Cristina, mãe dos gêmeos Marcelo e Marcel, conseguiu vaga na AMA, mas não pode trabalhar. Sua ocupação é cuidar dos filhos. Para isso, recebe dois salários mínimos do governo. Todos os dias, passa duas horas no ônibus para levar os garotos à AMA e duas horas para voltar. Não conseguiu que as peruas do Projeto Atende, da Prefeitura de São Paulo, fossem buscá-los em casa. "Disseram que é só para quem tem dificuldade de locomoção." Marcel e Marcelo andam bem. Esperneiam, saem correndo, esbarram em todo mundo no ônibus. Rosângela diz que Marcel chegou a levar um chute por ter pisado no pé de um senhor. "Quando eu falei que o menino era autista, o homem disse que ele não parecia anormal", diz. "Ué, se fosse normal, ele podia bater? Mas ninguém defende."

Na casa de cinco cômodos na periferia de São Paulo, Rosângela corre atrás dos dois meninos o dia inteiro. São bastante levados. Abrem torneiras, mexem no fogão, tiram a roupa. Ela diz que o período que os garotos passam na AMA é o tempo que tem para descansar. Sem recursos públicos, a maioria das mães sacrifica sua rotina. No Rio de Janeiro, Claudia Marcelino matriculou Maurício em uma escola particular que trabalha com autistas. Mas a escola é na zona sul e eles moram na zona norte. Neste ano, Maurício não está estudando. Claudia fechou seu bufê de festas infantis para cuidar do filho. Diz que, desde então, o garoto melhorou.

Grande parte dos progressos que um autista pode alcançar depende da participação da família. Nos Estados Unidos, a pressão dos pais ajudou a forçar a mudança de política pública. Aqui, a união dos pais ainda é incipiente. Mas parece que o caminho será o mesmo.



Fotos: Marcelo Min/ÉPOCA, Maurilo Clareto/ÉPOCA, Felipe Varanda e João Ramid/ÉPOCA.

A) Analise as características da pessoa:

[1] Problemas de interação social:

1a - Tem dificuldade para entender expressões faciais ou gestos corporais?
1b - Tem mais problemas para fazer amizade ou se relacionar que outras pessoas da sua idade ou grau de desenvolvimento intelectual?
1c - Raramente procura, espontaneamente, compartilhar interesses ou atividades prazerosas com outras pessoas?
1d - Não corresponde a manifestações de afeto ou aproximações sociais?

[2] Déficits de comunicação:

2a - Tem falta ou atraso do desenvolvimento da linguagem, não compensada por outros meios (apontar, usar mímica)?
2b - Inicia ou, em indivíduos com linguagem adequada, mantém uma conversação?


2c - Repete palavras sem sentido aparente e em situações estranhas; ou fala de forma estereotipada?
2d - É incapaz de participar de brincadeiras de faz-de-conta?

[3] Comportamento, atividades e interesses restritos e estranhos:

3a - É excessivamente interessada e preocupada por um tema estranho?
3b - Se apega a rotinas ou rituais?
3c - Faz movimentos repetitivos e estranhos?
3d - Interessa-se demais por partes de objetos?

O autista terá, no mínimo, seis dessas características. Sendo pelo menos duas do item 1, uma do item 2 e uma do item 3.

B) Só é autista quem apresenta atraso ou alguma anormalidade em pelo menos uma das áreas acima (social, comunicação e interesse) presente antes dos 3 anos de idade

Síndrome de Asperger
A) A pessoa tem dificuldades para se socializar?

[1] Ela tem dificuldade de olhar nos olhos ou não sabe usar a expressão facial, a postura corporal e os gestos para comunicar seus sentimentos?
[2] É incapaz de fazer amizade ou mesmo manter uma conversação com pessoas da sua idade?
[3] Não demonstra desejo de compartilhar situações agradáveis ou interesses (como apontar para objetos)
[4] Não corresponde a aproximações sociais ou manifestações de afeto?

B) Tem comportamento, atividades e interesses restritos e estereotipados?
[1] Preocupa-se demais com assuntos muito específicos e pouco ligados a sua realidade (como dinossauros ou nomes de planetas)?
[2] É muito apegada a rotinas ou rituais?
[3] Faz movimentos repetitivos e estereotipados (como se balançar)?
[4] Preocupa-se demais com partes de objetos?

C) Suas limitações causam sérias dificuldades sociais, profissionais ou em outras áreas importantes de sua vida?

Os aspergers têm, pelo menos, duas das características do item A, uma do item B e a resposta é positiva para o item C

Outras pistas
Além dos critérios usados por profissionais de saúde, é bom ficar de olho em outras características comuns em crianças autistas. Mesmo que a ligação de algumas delas com o distúrbio ainda não seja comprovada pela ciência [1] A criança se incomoda com som alto?
[2] Parece não ter noção de perigo?
[3] Costuma se auto-agredir?
[4] Parece ser um gênio, mas só no que se refere a um assunto?
[5] Encara demais as pessoas?
[6] Teve otite grave quando bebê?
[7] Sofre de refluxo ou outro problema gastrintestinal?


Outra causa cogitada para o autismo é uma disfunção hormonal durante a gravidez. O feto teria sido superexposto à testosterona, o hormônio masculino. A mente autista seria, então, uma espécie de mente hipermasculina, daí seu distanciamento das relações humanas e afetivas e sua identificação com processos lógicos, matemáticos, mecânicos. O fato de haver quatro meninos para cada menina autista dá força à hipótese.

O principal defensor dessa tese é o inglês Simon Baron-Cohen, da Universidade de Cambridge (primo do comediante Sacha Baron-Cohen, conhecido por seu personagem Borat). Segundo ele, entre os profissionais das áreas exatas e tecnológicas, como engenheiros, físicos, químicos, matemáticos, em geral há muitos autistas de alto funcionamento. "As melhores mentes dessas áreas podem não pertencer a autistas", diz Baron-Cohen. "Mas, com certeza, são pessoas com vários traços autistas."

Além de otite, é muito comum crianças com autismo terem problemas gastrintestinais, principalmente refluxo. Há pesquisadores que defendem também uma possível ligação entre autismo e dieta. Essa tese angariou vários seguidores. Em alguns sites da internet, os pais aprendem que o glúten, laticínios e outros alimentos causam alguma espécie de irritação no tecido nervoso. "Quando o Maurício começou a dieta sem glúten, melhorou muito", diz Claudia Marcelino. "Está muito mais tranqüilo e comportado." Segundo ela, se o rapaz quebra a dieta, fica irritado, ansioso, visivelmente alterado. Em vídeos na internet, Claudia mostra a diferença de comportamento de seu filho nas duas situações. O neurologista Gadia diz que nos EUA muitas mães seguem a dieta sem glúten para seus filhos. Mas são tratamentos sem comprovação científica. "Em meus pacientes, não vi nenhuma diferença."

A tese mais aceita hoje atribui ao autismo uma origem genética. Uma das hipóteses mais cogitadas é a alteração nos genes responsáveis pela produção de serotonina. Muitos autistas apresentam níveis altos de serotonina. "O mais provável é que não seja a alteração de um gene apenas, mas de vários", diz Gadia. "Um conjunto de características determinadas geneticamente que resultaria numa personalidade diferente."

Os aspergers sentem que são diferentes, mas não conseguem entrar em sintonia. Quando percebem isso, é um sofrimento atroz
ESTEVÃO VADASZ, do Hospital das Clínicas

É fácil observar que o autismo é um traço de família. Entre os autistas, 7% têm irmãos autistas. Uma porcentagem parecida tem parentes que se encaixam no espectro. Segundo Vadasz, do Hospital das Clínicas, é comum perceber traços de autismo nos pais que levam as crianças para ser examinadas.

O diagnóstico é apenas o primeiro desafio que o Brasil precisa enfrentar. Em seguida, vem o mais complicado, o tratamento. Ele tem de ser individualizado e envolve uma série de profissionais (leia o quadro à pág. 82): um psiquiatra, um neurologista, um fonoaudiólogo, um fisioterapeuta, um psicopedagogo, um terapeuta comportamental ou qualquer combinação desses e de outros especialistas. Alguns tomam remédios para tratar sintomas, mas é uma solução paliativa. Famílias como a de Rafael, com condições financeiras, acabam montando as próprias equipes multidisciplinares.

"Existem zero programas governamentais no Brasil", diz Vadasz. Quem não pode, para tratar e educar seus filhos, tem de correr atrás de umas poucas vagas oferecidas por órgãos públicos, como o Hospital das Clínicas, e organizações não-governamentais, como a AMA, as Apaes (Associações de Pais e Amigos de Excepcionais) e a Auma (Associação dos Amigos da Criança Autista).

Fundada por Ana Maria e outros pais de autistas em 1983, a AMA começou na base do improviso. "Eu sou engenheira naval", diz Ana. Ela se juntou com outros pais porque não encontrava escola ou terapia para seu filho. "Aí nós começamos a aprender. Fizemos cursos no exterior. Nos capacitamos." Hoje, a entidade é referência e recebe ajuda do governo. Mas, para conseguir uma vaga em suas salas de aula, pais de toda a Grande São Paulo esperam anos. "Às vezes aparece a vaga", diz. "Mas não na turma certa para a criança."

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