Dia da Síndrome de Down: Aprendendo a incluir
21/03/2015 | 10h31min
As chamadas escolas especiais, que têm uma importância histórica significativa, se constituíram, durante anos, em espaços privilegiados para o aprendizado de crianças e adolescentes com deficiência, mas há uma tendência do desaparecimento delas e até mesmo das turmas especiais. “Os profissionais e as instituições especializadas passam, assim, a dar apoio às escolas regulares, orientando gestores, coordenadores pedagógicos e professores nas adaptações no currículo, na aquisição de recursos didáticos específicos e na busca de parcerias externas”, fundamenta a pedagoga e mestre em Educação Especial da Universidade de São Paulo, Anna Sampaio.
Escolas “despreparadas”- Professores despreparados e escolas sem acessibilidade arquitetônica e pedagógica estão entre as principais causas da evasão escolar entre alunos com algum tipo de deficiência – bem superior que a dos demais. Dados de 2010 do Censo Escolar do Ministério da Educação (MEC) mostram que havia 69.441 dessas crianças matriculadas no ensino infantil (0 a 5 anos) oferecido em escolas especiais e regulares. No ensino fundamental (1° ao 9º ano), eram 522.978. Já no ensino médio o número era drasticamente menor: 28.667. A Paraíba é o estado brasileiro com a maior proporção de pessoas com deficiência, ou seja, 18,7%, enquanto que a média nacional é de 14.5%. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 223 municípios paraibanos, apenas 126 (56,5%) possuem escolas aptas a receber pessoas com deficiência.
O que alegam as instituições de ensino é que criança deficiente não aprende no mesmo ritmo nem da mesma forma. Essa premissa - que vale para qualquer turma - é crucial quando se trabalha com as que têm necessidades especiais. O caminho apontado pelos especialistas é o da flexibilização. “Ainda é comum esse tipo de postura na hora da matrícula escolar. Algumas escolas se assustam frente à diferença, por desconhecimento ou por preconceito, mas elas não podem simplesmente recusar a matrícula porque isso é crime”, acentua Anna Sampaio.
A categoria na Paraíba reconhece que nunca houve um debate amplo e pontual sobre isso. Para o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação, Antônio Arruda, de fato, não há formação ainda nas universidades para tratar de forma adequada os alunos com deficiência. “Precisa-se trabalhar melhor as estratégias pedagógicas na formação do professor. E as escolas, salvo as questões obrigatórias de acessibilidade na infra-estrutura, não priorizam essa questão”, lamentou Arruda.
Na prática, seria preparar o professor antes de ele, realmente, ser um professor. “Não é só preconceito dos gestores das escolas, mas desconhecimento deles. Por causa disso, acabam excluindo. Mas é importante repetir que existe lei que assegura a obrigatoriedade da matrícula de todos. A escola é para todos!”, reforça Ana Paula Soares.
Para Simone, que é assistente social especialista em Desenvolvimento Infantil, a escola, de um modo geral, não está preparada para diversas situações, e este é mais um desafio que a comunidade escolar tem que enfrentar. “Em relação a inclusão escolar de crianças e adolescentes com deficiência no ensino regular não é diferente, é outro desafio que deve ser discutido e incorporado no cotidiano das escolas”, admite. “A escola deve se transformar e acreditar nas possibilidades da pedagogia, buscando práticas compartilhadas e ativas”, enfatiza.
A inserção de crianças nas escolas regulares é um aprendizado para todos, na opinião dos especialistas. De acordo com Simone, os benefícios se são de todas as formas, para os alunos com ou sem deficiência, na construção de relações sociais mais solidárias de apoio mútuo, de aceitação das diferenças e pelo respeito à diversidade. “A convivência de crianças sem deficiência com crianças com Síndrome de Down, por exemplo, desmistifica a ideia de que elas são incapazes. Grande parte dos que têm Síndrome de Down, caso sejam estimuladas, se alfabetizam, concluem até Ensino Superior em muitos são inseridos no mercado de trabalho”, lembra a presidente da Funad.
Mesmo assim, segundo ela, muitas delas precisam de ajuda adicional e apoio para aprender as regras para o comportamento social apropriado – e não aprendem facilmente, de forma incidental, mas levam mais tempo, do que seus colegas para aprender as regras do comportamento social adequado. “As escolas precisam renovar suas práticas, rediscutir seus agrupamentos e incluir interações mistas, como evidenciar as capacidades dessas crianças, como contar histórias com personagens com deficiência e de outras culturas”, explica.
A Funad também orienta os pais em relação aos direitos de escolher a melhor escola para os filhos com deficiência. “Porém, a rede regular de ensino deve ser o espaço ideal para seu processo de escolarização, junto aos demais alunos sem deficiência, como também o lugar para a promoção de seu atendimento educacional especializado, no contraturno escolar, em salas de recurso multifuncional”, orienta Simone.
Na verdade, não há uma “receita de bolo” para estes casos. As crianças com síndrome de Down, assim como outra criança qualquer, são muito diferentes entre si, tanto acerca da personalidade quanto em relação aos diversos e variados interesses e habilidades. Esses aspectos devem ser considerados pelos pais na hora da tomarem uma decisão. "Algumas vezes, aconselhamos uma mescla destes modelos", confirma.
Porém, quando os pais não conseguem escolher e sentem um peso maior essa responsabilidade, eles devem buscar um profissional qualificado da área de psicologia ou pedagogia para que os ajude a fazer essa opção de forma coerente e levando em conta a singularidade de seu próprio filho. "Uma experiência exitosa para um amiguinho pode ser desastrosa para o seu próprio filho, visto que cada indivíduo portador ou não de síndrome de Down é única", ressalta a pedagoga.
A funcionária pública Maria do Carmo é mãe da estudante Andréa Gomes, que tem Down, e optou por um centro especializado. Andréa, aos 24 anos, é de Itaporanga, interior da Paraíba, e frequenta a Apae de João Pessoa há dez. “Não tenho interesse em colocar minha filha em escola regular porque acho que Andréa precisa de cuidados muito especiais. Ela precisa de alguém para levar ao banheiro, por exemplo”, explica. Segundo ela, sem orientação especial, ela não teria um bom desempenho no aprendizado. “Fico mais tranquila”, afirma.
A dona de casa Cláudia Carolina de Araújo, mãe de Leonardo Henriques, de 13 anos, tentou uma instituição não-especializada. Frustou-se. “Não vi progresso na evolução de Léo. Mas o pior de tudo foi o preconceito”, lamenta Cláudia. Ela conta que tentou duas escolas privadas. Na primeira, o episódio foi com a mãe de uma criança não-deficiente. Na segunda, os colegas de sala isolavam o garoto. “Eu tive vontade de processar a escola, a mãe do colega, mas não quis expor o meu filho. Não queria deixar Léo nesta situação de sofrimento. Por isso, o tirei das duas escolas”, lembra Cláudia.
Há alguns meses, Léo frequenta a Apae. “Eu deixei de leva-lo na escola regular, mesmo sabendo que era bom para a socialização dele. Hoje, ele tem professor particular e vai para a Apae, onde há professores e profissionais da saúde específicos para cuidar dele”, ressalta. Já a professora Vânia Farias preferiu fazer como a maioria: mesclar a escola com outras instituições especiais. Aos 9 anos de idade, Natália estuda em uma escola regular privada desde os 3 e faz pratica atividades, como natação e dança. “Natália tem convívio super natural com as outras crianças e nunca sofreu preconceito. Pelo contrário: ela é o xodó da escolinha”, relata Vânia. No colégio, segundo a mãe, Natália foi bem aceita, e a convivência com os outros alunos a deixa mais sociável”. De fato, Natália é comunicativa e adora brincar. “Eu tenho percebido que há um aumento de crianças com Down nas escolas, e isso é um benefício enorme para ela e também para as famílias”, diz Vânia.
Os especialistas confirmam que esse aumento de crianças com deficiência no ensino regular é reflexo dos benefícios da inclusão, que não são só pedagógicos, mas também sociais. A inclusão propicia a construção de uma sociedade sem barreiras, em que todos têm o direito de estar juntos e de assimilar o respeito às diferenças. E o melhor: se cada um aprende de um jeito, todos – juntos – aprendem mais.
Redação Paraíba Total
Andréia Barros
Andréia Barros
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