segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Os maiores e menores jogadores brasileiros se encontram em Fortaleza.

Eles não se ofendem caso sejam classificados como um “timinho”. Mas, se você falar que anões são deficientes, os minicraques vão responder em campo. Os Gigantes do Cangaço são considerados a melhor equipe do país formada exclusivamente por portadores de nanismo, com jogadores que colecionam vitórias sobre times de outros Estados.
E eles são de Fortaleza, cidade-sede da Copa mais fanática pela seleção e que, nesta sexta-feira, pela segunda vez neste Mundial, recebe Neymar e companhia. O adversário desta vez será a Colômbia, na sexta-feira, às 17h, pelas quartas de final.
“No Brasil, há ainda muito preconceito, muita gente pensando que anão é inferior, que não serve para nada. Nosso time mostra que anão é capaz de, mesmo com a perna curta, correr atrás de seu sonho”, sentencia o zagueiro Evanildo Martins.
A equipe combate o preconceito, mas sem perder o bom-humor. Só o nome do time já dá sinal disso. E os apelidos dos jogadores também. Evanildo é o Muralha. O atacante se chama Robertão. É na marcação está sempre Rambo.
“Eu queria jogar futebol, mas era discriminado pelo meu tamanho. Como sou cobrador de ônibus, sempre abortava os pequenos que encontrava nos pontos e terminais para saber se jogavam. Fui juntando o pessoal e formando o time. Hoje, raramente a gente perde um jogo”, conta Faltino Alves, o idealizador da equipe que enfrenta times de mulheres, adolescentes e masters, afinal, é difícil encontrar um rival à altura … deles.
Há muitos convites para partidas de exibição e campeonatos pelos súbúrbios e interior do Ceará, seja em inaugurações de ginásios, feiras agropecuárias ou jogos de abertura para algum clássico regional. “O pessoal joga duro com a gente, porque ninguém quer perder para um time de anões. Mas eles são surpreendidos por nossa rapidez e habilidade”, afirma Faltino, com a bola dominada nos pés que chega quase à altura de seus joelhos.
Faltino não esconde que a inspiração foi a equipe Gigantes do Norte, criado em 2007, em Belém do Pará, como primeiro time de anões do Brasil. Em 2009, aconteceu o primeiro torneio brasileiro de anões. E os cearenses venceram após baterem grupos do Rio de Janeiro e São Paulo. Na época, o time chamava Rapadura Cearense.
O time brinca que falta ainda um mascote para eles. “A gente está procurando uma Branca de Neve. Muitas garotas pedem para tirar foto com a gente e só. Vamos lançar uma campanha #aparecebrancadeneve”, se empolga o atacante Alves Filho, que também faz as vezes de lutador de MMA.
Ele e o volante Rambo se apresentam juntos nos octógonos montados em festas, com direitos a safanões de gente grande. “Nós jogamos futebol, lutamos, nos apresentamos como oompas-loompas da Fantástica Fábrica de Chocolate em festinha. O que tiver de evento a gente encara”, resume Alves.
Além dos Gigantes do Cangaço e do Norte, há mais três equipes de anões no Brasil: os Carioquinhas (RJ), os Minicraques (SP) e o Anões City, de Itabaiana, cidade sergipana considerada a capital do nanismo no país por ter muitos casos dentro de sua população.
Internacionalmente, os portadores de nanismo contam até com sua Olimpíada. Os Jogos Mundiais de Anões acontecem de quatro em quatro anos. Sua última edição foi em 2013 nos EUA, reunindo 500 atletas de 25 países. O Brasil foi representado por um grupo de halterofilistas que ganhou quatro medalhas de ouro no levantamento de peso. Entre as modalidades dos Jogos estão futebol, natação, tênis de mesa, vôlei, atletismo, tiro, halterofilismo, arco e flecha, badminton, basquete, hóquei ou curling.
O mais curioso é que um portador de nanismo é o jogador mais aclamado do mundo na atualidade e pode ser a figura desta Copa do Mundo. O argentino Lionel Messi chegou a ser diagnosticado com nanismo na infância (tinha 1,10 m de altura aos 13 anos) e se transferiu para Barcelona (Espanha) para sofrer tratamento e acelerar seu crescimento. “La Pulga” virou o maior jogador do planeta. Mais uma prova que os maiores e os menores jogadores se encontram no Brasil nestes dias de Copa.

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