terça-feira, 16 de setembro de 2014

ENTREVISTA COM WAGNER MONTES




Wagner Montes: "A deficiência não mudou a minha vida"
Foto: Divulgação
Confira a entrevista publicada na revista Sentidos 83, ed. julho/agosto, de autoria de Lucas Vasques.
Wagner Montes é, hoje, um dos profissionais de TV mais populares do país. Mas nem sempre foi assim. O apresentador já trabalhou como garçom, vendedor de camisas e até cortou carnes atrás de um balcão de açougue. Criado no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, construiu uma sólida carreira na TV. Contudo, sua trajetória quase foi interrompida no dia 5 de novembro de 1981. Ele mesmo conta: "Vim de São Paulo para o Rio de Janeiro, para realizar um trabalho. Estava num triciclo, à noite, em Ipanema. Dei uma empinada, desci e o chão estava molhado. Quando entrei na Rua Maria Quitéria, catei o meio-fio e saí de lado. Era para bater o rosto ou a perna. Aí, eu preferi a perna. Perdi a metade dela, mas dei a volta por cima".

A política entrou na vida de Wagner Montes e ele não pretende deixá-la. Elegeu-se no ano de 2006, com a expressiva votação de 111.802 votos, consequência de sua grande popularidade. Foi o deputado estadual mais votado na cidade do Rio de Janeiro. Em 2010, com 528.628 votos, destacou-se como o deputado estadual mais votado da história política do estado do Rio de Janeiro. Atualmente, está filiado ao PSD (Partido Social Democrático) e foi reeleito para ocupar o cargo de 1º secretário da Mesa Diretora da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro).

Sua principal bandeira política é a segurança pública, mas sempre faz questão de ressaltar que jamais vai deixar de defender as causas relacionadas às pessoas com deficiência. Não perde o bom humor e lida com a deficiência com total naturalidade: "Sou uma pessoa muito bem resolvida com a minha deficiência física. Na verdade, ela não mudou nada na minha vida. Apenas passei a andar com uma perna mecânica. Não me acho diferente de ninguém".


A política entrou na minha vida quando percebi que poderia fazer mais pela população do Rio de Janeiro, e nela atuo como um empregado do povo. Esse é o meu lema. Não me preocupo em aparecer na mídia nem trabalho para isso. Já tenho o privilégio de apresentar um programa na TV, onde possuo total liberdade para cobrar e fiscalizar em nome do povo. Portanto, não tenho por que ser badalado pela mídia

Além de apresentador de sucesso da TV brasileira, Wagner Montes é o deputado estadual mais votado da história política do estado do Rio de Janeiro

Comandou inúmeros programas ligados à música e às causas populares. É casado há 23 anos com a atriz Sônia Lima. Wagner Montes se formou advogado, tendo trabalhado, ainda, em diversas emissoras de rádio do Rio e São Paulo. Em 2003, estreou na rede Record, comandando o programa Verdade do Povo. Com a popularidade em alta, passou a apresentar, em 2005, o Balanço Geral. Atualmente, é o programa, ao vivo, de maior duração na TV nacional. Devido ao seu enorme sucesso, passou a ser gerado por parabólica e internet para o mundo inteiro, além dos mais de 150 países que integram a Record Internacional.

O seu perfil de atuação no Legislativo do Rio de Janeiro sempre foi de combatividade. Dentro dessa característica, o que tem feito, em seu trabalho como deputado, para melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência? Quais os seus principais projetos que contemplam esse segmento?
Para os que não sabem ainda, a minha bandeira na política é a segurança pública. Entretanto, esse fato não me impede de criar projetos e leis para outros segmentos. Para beneficiar as pessoas com deficiência, criei o projeto de lei nº 2131/2009, que assegura ao educando que sofra com alguma deficiência física, mental [intelectual] ou sensorial prioridade de vaga em uma escola pública mais próxima de sua residência. Muitos desses alunos não têm acesso às instituições de ensino, quer seja por falta de transporte, se a família não tiver carro próprio e eles não puderem andar de ônibus por não terem condições físicas, ou por falta de equipamentos necessários para frequentar as aulas, como uma cadeira de rodas, por exemplo. Caso as escolas se localizem longe de suas residências, certamente aumentarão, ainda mais, as dificuldades dessas pessoas.

De que forma você encara a deficiência física? O que esse fato marcante na vida de qualquer pessoa mudou em sua vida e sua forma de pensar as coisas?
Sou uma pessoa muito bem resolvida com a minha deficiência física. Na verdade, ela não mudou nada na minha vida. Apenas passei a andar com uma perna mecânica. Não me acho diferente de ninguém.

Apesar de ser uma pessoa pública, portanto muito conhecida, principalmente por sua longa atividade na TV, dentro do cenário político você não é tão badalado pela mídia quanto outras personalidades desse universo. Por que acha que isso acontece, uma vez que você é um deputado dos mais atuantes?
A política entrou na minha vida quando percebi que poderia fazer mais pela população do Rio de Janeiro, e nela atuo como um empregado do povo. Esse é o meu lema. Não me preocupo em aparecer na mídia nem trabalho para isso. Já tenho o privilégio de apresentar um programa na TV, onde possuo total liberdade para cobrar e fiscalizar em nome do povo. Portanto, não tenho por que ser badalado pela mídia.

É possível separar o político do apresentador?
É muito difícil separar o político do apresentador, mas é possível. Sei exatamente a hora certa de assumir, separadamente, as duas funções.

O Balanço Geral tem uma audiência estimada em 2 milhões de pessoas. De alguma forma, você usa seu programa na TV para divulgar as causas relacionadas às pessoas com deficiência, principalmente em função do grande público que o acompanha?
Claro que uso o programa para divulgar causas relacionadas às pessoas com deficiência. Aliás, faço isso quase que diariamente. Esse é um dos focos do programa. Ajudar aqueles que precisam.

Conte um pouco sua história de vida. Você chegou a passar por dificuldades financeiras? Como a deficiência física chegou à sua vida?
Sou oriundo da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e passei as mesmas dificuldades que muitos moradores da região enfrentam. Não nasci em berço de ouro. A minha deficiência chegou no dia 5 de novembro de 1981, após um acidente de triciclo, na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema.

Você não perde o bom humor quando fala da deficiência. Disse, uma vez, que era o perneta que deu certo. Essa forma de ver a vida ajudou a enfrentar as dificuldades impostas pela limitação física?
É verdade. Não perco mesmo o bom humor. A deficiência não mudou minha vida e acho que o bom humor é fundamental para encarar as possíveis dificuldades que aparecem. O bom humor derruba fronteiras. Eu recomendo para todos!

A deficiência não o impediu de lutar e ser um profissional bem-sucedido, aliás em duas frentes, como apresentador e político. Que conselhos você daria às pessoas que sofrem com alguma limitação física ou intelectual, no sentido de não se deixarem abater e seguir em frente?
O fato de ter uma deficiência não significa que não tenho capacidade para assumir qualquer cargo profissional na vida. Disposição, cabeça erguida, honestidade e dignidade devem, sempre, fazer parte da vida de qualquer pessoa que sofra com algum tipo de deficiência

Em sua avaliação, como é tratada e vista a deficiência no Brasil? O enfoque é muito complicado ou está melhorando? E quanto às questões referentes à acessibilidade?
Infelizmente, o que acompanhamos por aí é que muitas das leis que beneficiam as pessoas com deficiência acabam não sendo cumpridas. No que diz respeito, por exemplo, à mobilidade urbana, deixamos muito a desejar. Essa, inclusive, é uma das cobranças que faço com frequência em meu programa. Ainda estamos muito longe de uma acessibilidade de qualidade para as pessoas com deficiência.

Você apoia o Instituto Eu Quero Viver, uma organização não governamental, fundada por Bianca Rinaldi e Eduardo Menga, que ajuda a promover a qualidade de vida dos portadores de doenças raras. O que acha da iniciativa e qual o tipo de ajuda você disponibiliza à entidade?Acho o projeto da Bianca Rinaldi e do Eduardo Menga incrível. Sou amigo dos dois e ajudo, principalmente, na divulgação do trabalho.

Quais são seus principais sonhos relacionados com as causas das pessoas com deficiência?
Eu sonho um dia ver um Brasil mais justo para todos. Que todos os brasileiros, seja qual for a sua condição, tenham seus direitos respeitados. As pessoas com deficiência fazem parte desse cenário.

Em várias outras entrevistas você diz que não descarta se candidatar um dia ao senado, à prefeitura ou ao governo do estado do Rio. Você acredita que em alguma dessas posições você terá mais condições de lutar pelas pessoas com deficiência?
Em qualquer lugar que eu estiver na política posso lutar pelas causas das pessoas com deficiência. Como já disse anteriormente, esse tema não é a minha bandeira específica, mas é um assunto ao qual sempre estou ligado. Tenho essa obrigação. Um exemplo poderia ser uma de suas propostas, que assegura aos alunos com mobilidade reduzida o direito a se matricular em escolas públicas estaduais mais próximas de sua residência, conforme se referiu acima. Caso exerça um mandato estadual ou federal teria oportunidade de ampliar esse benefício a mais pessoas com deficiência. Isso o motiva a pensar na hipótese? O projeto citado ainda não foi votado definitivamente. Se continuar como deputado estadual, é claro que estarei pressionando a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, no sentido de uma aprovação definitiva que o transforme em lei. Se seguir minha trajetória como deputado federal, essa é uma bandeira que posso levar para Brasília e ampliar em nível nacional.

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