sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Implantação da libras no currículo escolar

A presente pesquisa discute a inclusão e a importância do ensino da língua portuguesa como segunda língua (L2) para alunos surdos do ensino fundamental e médio

Regiane Sales
A luta pela afirmação da surdez enquanto diferença linguística e cultural, e não enquanto deficiência é um passo fundamental para a concretização de uma educação bilíngue habilitadora, e não incapacitadora. Brito, 1993. Educação que sem a luta pela emancipação social dos surdos dificilmente poderia ser pensada.
Segundo Leite (2004) assumir uma atitude inflexível sobre a identidade surda significa desconsiderar o fato de que a maioria dos surdos não teve a oportunidade de desfrutar de recursos alternativos para uma educação bem sucedida. E é isso que vem acontecendo em muitas universidades privadas, estaduais e federais que não estão cumprindo a Lei 10. 436 e o Decreto 5. 626, que visa a implantação da LIBRAS- língua de sinais, em suas matrizes.
Analisando o contexto político atual observamos  que os surdos necessitam ter sua diferença reconhecida, e hoje essa comunidade surda se encontra em uma posição em que a qualidade do ensino da LIBRAS deve desempenhar um papel determinante para a superação da condição de subordinação que tem caracterizado suas vidas, desde os tempos mais remotos.
A grande luta dos surdos não é ser visto pelo mundo como uma pessoa deficiente, mas como uma pessoa que tem a sua capacidade, a sua forma singular de ver as coisas do mundo, e cabe aos meios educacionais estimular as suas potencialidades. Wilcox enfatiza essa visão argumentando que:
Se aceitarmos a visão patológica da surdez, é também acreditarmos que o conhecimento é externo ao individuo, então será natural atribuir à condição física do aluno como sendo a fonte de suas dificuldades[...] Entretanto, se acreditarmos que a surdez pode capacitar o indivíduo para uma visão de mundo diferente, e que o conhecimento é construído ativamente, então poderemos esperar que as pessoas surdas venham apresentar um entendimento de mundo diferente daquele apresentado pelos ouvintes. (LEITE apud WILCOX, 1994.p.110)
Por meio de estudos linguísticos, psicolinguísticos, sociolinguísticos, da aquisição de língua materna e de língua estrangeira, entre outros, referentes a Libras, é possível, hoje, reivindicar a inclusão da Libras na educação de surdos na educação básica e no ensino superior, através de uma política de ensino que respeite a legitimidade da língua de sinais de maneira plena.
  Por séculos, desenvolveu-se a crença de que o indivíduo surdo não seria educável. Aristóteles acreditava que todo o processo de aprendizagem se dava pela audição. Na Idade Média, supunha-se que os surdos não poderiam se salvar, uma vez que não podiam ouvir a palavra de Cristo.
Podemos concluir através deste estudo que o processo de inclusão e ensino de Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos, nas escolas públicas está em andamento uma vez, que os profissionais percebem a necessidade de maior conhecimento sobre a Língua de Sinais e de adaptação dos métodos de ensino aos portadores de necessidades especiais.
Diante das respostas verificamos que as escolas não estão totalmente adequadas ao processo de inclusão visto que, não tem sala de recursos, instrutores surdos/ouvintes, intérprete suficientes para atender todas as turmas e ainda os professores não têm curso de formação específica na Língua de Sinais. Dessa forma, não há interação entre professor/alunos ouvintes e alunos surdos, pois os dois primeiros desconhecem a Libras, contudo, cabe salientar que, a aprendizagem de Libras pelos profissionais da educação e pelos demais alunos torna-se cada vez mais urgente, não como um mero instrumento para ensinar matérias, mas como parte de uma educação bilíngue. E que os professores não ignorem a diversidade linguística dos surdos, sobretudo de Língua Portuguesa, mas, que vejam com maior atenção e encarem como um desafio, de modo que os surdos possam receber o ensino de que acordo com suas necessidades.
No entanto, o nosso estudo teve por finalidade mostrar a realidade da educação que o nosso município oferece, sendo um município composto de mais de dez escolas estaduais, somente quatro estão aos poucos se adequando para receber alunos com deficiência auditiva, mas ainda observamos que existe uma esperança que a nossa educação seja oferecida para todos sem discriminação, limitações e igualdade para todos. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ABAURRE, M.M.B. O que revelam os textos espontâneos sobre a representação que faz a criança do objeto escrito. Cadernos de Estudos Lingüísticos. Campinas-SP: UNICAMP, IEL, 1987.
ADIRON, Fábio. www.adiron.com.br/site/index. Artigo Em defesa da inclusão: ampla, geral e irrestrita. Acessado em 14/07/2008.
ALBANO, E.C. Da língua à linguagem tocando de ouvido. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
AMIRALIAN, M.L. M. Psicologia do Excepcional. In: Temas básicos de Psicologia. São Paulo: EPU, 1986. v.08.
BALLABEN, Maria Cecilia Guimarães e FARIA, Maria Natália M. Construção do Pensamento Lógico por Crianças com Síndrome de Down. Revista Brasileira de Educação Especial, vol1, nº2, Piracicaba: UNIMEP. 1994.
BARROS, R.C.R. Alfabetização e contexto. IN: BRAGGIO, S. L. B. Contribuições da lingüística para a alfabetização. Goiânia, da UFG, 1995.
BEIGUELMAN, B. Genética Médica. 2ª ed. São Paulo: EDART,1981.
BERNARDINO, Elidéia Lúcia. Absurdo ou lógica? Os surdos e sua produção linguística. Belo Horizonte: editora Profetizando Vida, 2000.
BELLUGI, U. & KLIMA, E. Properties of visuospatial language. Paper for International Congress: Sign Language Research and Application, Conference. SiegmundPrillwitz(ed) Hamburg, 1990.
BRASIL, Ministério da Educação e Desporto/Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília-DF: MEC/SEESP, 1994.
BRITO, Lucinda Ferreira (UFRJ). A língua brasileira de sinais.
BUENO, J. G. S. Educação especial brasileira: integração/segregação do aluno diferente. São Paulo: EDUC, 1993.
CAVALCANTE, K. K.S, CANDEIA, J. T, DUARTE, J. S, SILVA, V. D., PORTO, S. B. N, GIANINI, E. Elaborando proposta curricular para o ensino de libras e língua portuguesa no ensino de surdos. UFGG, 2004.
CAPOVILLA, Fernando César & RAPHAEL, Walkiria Duarte. Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da Língua de Sinais Brasileira. 2. ed. São Paulo: Edusp e Imprensa Oficial do Estado. Vol. I e II, 2001.
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994. www.senac.br Acesso em 15/07/2008.
DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005. www.proac.uff.br/sensibiliza/index. Acesso em 15/07/2008.
DIAS, Tárcia Regina S. & OMOTE, Sadao. Entrevista em Educação Especial: aspectos metodológicos.  In: Revista Brasileira de Educação Especial. Vol. II n. 03. 1995.
DUTRA, Cláudia Pereira, Diferentes olhares sobre inclusão. Secretaria de Educação Especial/MEC, 2005.
FELIPE, Tânia A. A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Libras em Contexto: Curso básico/livro do professor estudante. Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos. Brasília. MEC/SEESP, 2001.
FERNANDES, E. Problemas lingüísticos e cognitivos do surdo. Rio de Janeiro: Agir, 1990.
FERNANDEZ, S.M.M. A educação do deficiente auditivo: um espaço de produção de conhecimentos. Dissertação de Mestrado. Centro de Educação e Humanidades. Rio de Janeiro: UERJ, 1993.
FERREIRA-BRITO, L. Necessidades psico-social e congnitiva de um bilingüismo para o surdo. In: Congresso Brasileiro de Lingüística Aplicada, 1989.
_______________.  Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995.
FERREIRA-BRITO, Lucinda Ferreira (UFRJ). A língua brasileira de sinais.
http://www.ines.org.br/ines_livros/ 01/12/2007. Acessado em 15/07/2008.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa/Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. 3ª ed. Curitiba: Positivo,2004.
GESUELI, Z.M. A criança não ouvinte e a aquisição da escrita. Dissertação de Mestrado. Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas-SP: unicamp, 1988.
GÓES, M.C.R. A criança e a escrita: explorando a dimensão reflexiva do ato de escrever. In:
GÓES, M.C.R. de & SMOLKA, A L.B. (orgs.). A linguagem e o outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento. Campinas-SP: Papirus, 1993.
_______________.  A linguagem de alunos surdos e a comunicação bimodal. Trabalho de livre docência. Campinas-SP: UNICAMP, 1994.
GOLDFELD, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista. São Paulo, Plexus, 1997.
KOCH, I. G. V. Aquisição da escrita e textualidade. Cadernos de Estudos Lingüísticos. Campinas: UNICAMP, IEL, n.29, p.109-117, Jul/dez, 1995

Nenhum comentário: