segunda-feira, 5 de agosto de 2013

MP e PM apuram se ator anão morreu por inalar gás lacrimogêneo em ato no Rio

 

Fernando da Silva Cândido foi fundador do Cinema de Guerrilha da Baixada.
Em vídeo na web, ator diz que inalou gás em protesto de 20 de junho.

Henrique CoelhoDo G1 Rio
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O Ministério Público instaurou um procedimento neste sábado (3) para apurar se o ator Fernando da Silva Cândido, fundador do Cinema de Guerrilha da Baixada Fluminense, morreu após inalar gás lacrmogêneo em uma manifestação no Rio. Em 30 de julho, um dia antes do artista morrer, foi publicado um vídeo na internet, no qual um homem, que se identifica como Fernando, diz que inalou gás durante um protesto.
De acordo com o prontuário divulgado pelo Hospital Israelita Albert Sabin, onde ficou internado de 25 de junho a 31 de julho, o ator "tinha doença pulmonar prévia, mas apesar do tratamento recebido, a evolução não foi satisfatória". A PM afirmou que também está investigando a denúncia, apesar de não ter informações de mortes ocorridas por inalação de gás lacrimogêneo em protestos.
A Coordenadoria de Direitos Humanos do Ministério Público informou que o procedimento preliminar que será encaminhado à Central de Inquéritos e à Auditora Militar, detentoras da atribuição investigatória, a fim de apurar o ocorrido. na segunda-feira (25), o procurador Márcio Mothé se reunirá com os promotores Márcio Nobre e Paulo Roberto Melo Cunha para discutir as providências que serão tomadas pelo Ministério Público.

Grave quadro infeccioso pulmonar
De acordo com o diretor Ricardo Rodrigues, amigo e um dos fundadores do Cinema de Guerrilha da Baixada, Fernando só foi a uma manifestação, no dia 20 de junho, que reuniu, segundo estatísticas oficiais da PM, mais de 300 mil pessoas. O protesto terminou em confusão em frente à sede da prefeitura, e muitas bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas para dispersar a multidão. Apesar dos problemas respiratórios, oriundos, de acordo com o amigo, por uma tuberculose na infância, Ricardo não sabe dizer o que provocou a morte do ator.
O ator Fernando Candido com os amigos Vitor Graciano e Ricardo (Foto: Arquivo pessoal)O ator Fernando Candido com os amigos Vitor
Graciano e Ricardo (Foto: Arquivo pessoal)
No boletim médico, o hospital informa que Fernando teve o diagnóstico de "grave quadro infeccioso pulmonar". No dia 25, ele deu entrada na unidade, com sintomas de pneumonia, sendo internado no mesmo dia. No dia 8 de julho, o estado de saúde se agravou, sendo necessária a remoção para a UTI, onde permaneceu até o dia 31. O enterro foi no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, no Subúrbio do Rio.
“Ele tinha problemas respiratórios, tinha insuficiência respiratória. Mas eu não posso dizer se ele morreu por causa disso [inalação do gás lacrimogêneo]”, afirmou Ricardo.
A amiga Lane Souza, que dividia o apartamento com Fernando, disse que o amigo acordou "bem" no dia seguinte a manifestação. “Ele dormiu bem, acordou bem...Estava sem problema nenhum. E no outro dia ele já foi trabalhar" diz Lane, lembrando que Fernando costumava andar com uma bombinha de ar por causa dos problemas respiratórios que tinha.
Lane conta ainda que só viu o vídeo, no qual Fernando faz críticas à Polícia Militar e ao governador Sergio Cabral, um dia após a morte do amigo. “Depois que cheguei em casa, chorei muito. Perdi um irmão”, finalizou.
Engajamento
Fernando da Silva Cândido sofria de nanismo e, segundo amigos, ele costumava participar de manifestações. A presidente da Associação de Nanismo do Rio de Janeiro (Anaerj), Kênia Rio, lembra que o ator era muito querido entre os membros da associação.
“Ele fez o filme Enterro de Anão pelo Cinema de Guerrilha. Ouvimos muitas piadas a respeito de os anões morrerem ou não, que isso é lenda e tal, então a princípio criticamos muito. Mas depois que vimos o filme, vimos que era uma sátira muito bem feita e que desmistificava isso. E foi assim que ele entrou na vida da associação”, disse ela, que conta também que Fernando era muito engajado com a causa. “Todo mês realizamos o Projeto Superação, no qual nós vamos à praia e reivindicamos nossos direitos. Ele era muito querido”. A próxima edição do Superação deve acontecer no próximo sábado, dia 9 de agosto, às 9h, em Copacabana.
Em memória ao amigo, o diretor Ricardo Rodrigues, planeja fazer uma mostra com os nove filmes dos quais Fernando participou.“Ele foi o primeiro do grupo a se tornar ator profissional, já tinha feito nove filmes. Tinha um grande futuro pela frente”, disse Ricardo.

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