Carismático, velocista brasileiro é aposta como garoto propaganda das Paralimpíadas do Rio e recebe convites para ter a carreira gerenciada
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Um ídolo em formação do esporte mundial, cujo auge está marcado para as Paralimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. Assim se pode definir Alan Fonteles, que nos últimos 45 dias vem mostrando que aquela vitória sobre Oscar Pistorius, ano passado, nos Jogos Paralímpicos de Londres, na Inglaterra, era só o começo. O bom desempenho nas pistas refletiu fora delas, e Fonteles está valorizado. Ele já é o atleta paralímpico brasileiro mais bem pago, com um salário de R$ 60 mil. O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) corre para blindar a "joia" das sondagens de agentes e convites para eventos.
A sequência de resultados do brasileiro tem sido avassaladora. No mês passado, em Berlim, bateu o recorde mundial nos 100m T43, 10s77, que era do sul-africano. Na semana passada, no Mundial Paralímpico de Lyon, na França, venceu os 100m, 400m e 200m, este último pulverizando outro recorde de Pistorius, ao marcar 20s66. Ainda ajudou o revezamento 4x100m a conquistar a prata. No último domingo, no estádio olímpico de Londres, correu os 100m contra atletas T44, possíveis rivais no Rio, e baixou ainda mais a marca – 10s57. Entre uma vitória e outra, inspirou um garotinho amputado inglês e está inspirando outras crianças e adultos.
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O carisma de Alan é tão grande quanto as suas conquistas. Antes das provas, faz a letra “L” com os dedos, em homenagem à noiva Lorrayne, com quem está de casamento marcado para novembro. Ciente do espetáculo que proporciona, nas comemorações agradece às palmas da plateia curvando o corpo, como se acabasse de dar um show, o que de fato faz. Agindo naturalmente, caminha a passos largos para substituir o lugar vago deixado por Pistorius como “o cara” do movimento paralímpico. Um dos postulantes é Jonnie Peacock, campeão mundial dos 100mT44, e que em Londres foi batido por Fonteles.
- Hoje o esporte paralímpico tem grandes atletas. Não estou brigando por isso. Cada um tem o seu mérito. Eu e ele demos o nosso melhor e mostramos para o mundo que os atletas amputados estão correndo para 10s. Isso aí vai ficar a critério do Comitê Paralímpico Internacional – disse o brasileiro.
Prata nas três provas vencidas por Fonteles em Lyon, o americano Blake Leeper concorda que terá muito trabalho para superar o adversário.
- Agora ele está no topo, ninguém pode vencê-lo. Ele é muito rápido. Mas isso é um estímulo para mim. Vou voltar para casa com essas medalhas de prata, dormir, acordar e treinar o dobro para tentar vencê-lo. E um dia vencerei.
Leeper é atleta de Joaquim Cruz, treinador da equipe americana de atletismo paralímpico. O campeão olímpico acompanhou de perto o desempenho de Alan na França. Joaquim acredita que, se o esporte perdeu com Pistorius, está ganhando com o paraense.
- Ele está fazendo marcas bem melhores do que o Oscar fez, então, no momento, o Alan está preenchendo o espaço deixado por Pistorius muito bem. Talvez, em um futuro próximo ninguém vai sentir saudades dele. Se ele estivesse aqui, talvez as arquibancadas estivessem bem mais cheias, e o Alan teria feito resultados ainda melhores.
O desempenho de Alan no momento em que o Rio é a próxima sede das Paralimpíadas empolga dirigentes internacionais e ainda mais o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Andrew Parsons. Mas ele sabe que é preciso cuidar bem da imagem do potencial garoto propaganda da competição. A entidade vem tomando cuidado para blindá-lo. Convites para eventos promocionais antes do Mundial foram vetados. Assim como pessoas interessadas em gerenciar a sua carreira. Uma pesquisa realizada por uma revista britânica de marketing esportivo, divulgada em maio deste ano, apontou o brasileiro como 17º atleta mais valioso do mundo. Depois de Londres, seu salário subiu para R$ 60 mil e passou a ser o maior entre os atletas paralímpicos brasileiros, um padrão até grande se comparado aos atletas estrangeiros.
Além da carreira, também é preciso cuidar da cabeça do garoto de 20 anos. Psicóloga do esporte há três décadas, Maria Cristina Miguel trabalha para a equipe de atletismo paralímpica brasileira. Já viu muitos jogadores de futebol se perderem com a fama. Em Alan, porém, ela enxerga um atleta disciplinado, forte mentalmente e com uma boa base familiar.
- Nós procuramos dar um suporte para ele. Uma das coisas mais difíceis quando dá resultado é manter. Ele não pode levar essa fama para a pista. Quando ele entra na pista, ele é o Alan, acabou o astro. Ele sabe que todo mundo está vendo o momento esportivo como espetáculo, e é isso mesmo.
Maria Cristina não acredita que uma possível derrota nas pistas possa abalar o velocista. E episódios como o acidente de carro no ano passado fazem parte do passado.
- Essa situação do carro foi cansaço. Foi trabalhado depois que ele tinha dado muitas entrevistas. Hoje ele não se preocupa mais com isso, ficou para trás.
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