Blog do Prof de Ed. Física MSc SERGIO CASTRO,da Pós Graduação em Educação Especial e Tecnologia Assistiva da Universidade Cândido Mendes(AVM) ;Ex-professor da Universidade Estácio de Sá e Ex-Coordenador de Esportes para Pessoas com Deficiências (PcD) do Projeto RIO 2016 da SEEL RJ ,destinado a fornecer informações sobre pessoas com deficiência(PcD) e com Necessidades Educativas Especiais(PNEE), bem como a pessoas interessadas nesta área ( estudantes, pais, parentes, amigos e pesquisadores)
quinta-feira, 16 de maio de 2013
Receber o aluno com deficiência na sala de aula não significa inclusão
Posted: 16 May 2013 02:50 AM PDT
Marina da Silveira Rodrigues Almeida
Sócia-Proprietária do Instituto Inclusão Brasil. Consultora em Educação
Psicóloga Clínica e Educacional , Pedagoga Especialista e Psicopedagoga
Instituto Inclusão Brasil
Receber o aluno com deficiência na sala de aula não significa inclusão, há necessidade do preparo do docente para conhecer o tipo de deficiência e a historia de vida do aluno, sua relação com seus familiares e vice-versa; saber como trabalhar com outros alunos e com suas famílias, é este o contexto que chamamos inclusivo. Não podemos exigir que o professor esteja preparado. Há ainda a necessidade do envolvimento de gestores, da iniciativa pública e privada, de políticas públicas, de investimento na formação dos envolvidos, trabalho que não se restringe apenas aos professores, mas a todos, sem exceção.
Quando a escola recebe, pela primeira vez, uma criança com discrepâncias significativas no processo de desenvolvimento e aprendizagem ou com algum tipo de deficiência em relação aos demais alunos da mesma faixa etária é natural que muitas dúvidas surjam. O professor, geralmente, sente-se ansioso e temeroso diante de nova situação para a qual não se encontra preparado. Inicialmente, alguns professores pensam ser necessário se especializarem para poderem melhor atender o aluno com deficiência. Sem dúvida a capacitação, a pesquisa e o aprimoramentos são imprescindíveis a prática pedagógica de um profissional da educação. Contudo, a convivência, a experiência e ajuda de profissionais especializados e da família, o professor verifica que o processo de inclusão não é tão difícil como parecia, é um desafio porque implica em mudanças nas práticas pedagógicas muitas vezes cristalizadas.
Boa parte dos alunos com deficiência adaptam-se muito bem às escolas quando sentem-se de fato aceitos, compreendidos e conseguem aprender na escola. Porque, qualquer ser humano não fica bem aonde se sente excluído, incompreendido, não aprende e é rejeitado.
Essas crianças se sentem felizes por poderem participar da vida, conviver e brincar com outras crianças, aprenderem juntas com as demais. Isso é perfeitamente possível, desde que o professor seja orientado em sua tarefa pedagógica.
As situações devem ser cuidadosamente planejadas e as atividades ajustadas e adaptadas para que atendam às necessidades específicas desses alunos.
Portanto, não há uma regra específica, se deve falar para os demais alunos da sala de aula se tem ou não um ou alguns alunos com deficiência. Cada situação é única. Dependendo de como o grupo classe e o professor acolher estes alunos, haverá uma estratégia diferente. Caso o professor tenha como prática no inicio das aulas fazer dinâmicas de grupo com seus alunos para se conhecerem deve manter isso, aproveitando a situação para falar sobre o que o aluno com deficiência tem e como todos podem ajudá-lo e das qualidades e competências que esse aluno tem, do que gosta, dás coisas que ele sabe, sobre sua vida, qual a expectativa dele nesta classe e escola, etc. O manejo precisa ser ponderado.
Para que esses princípios inclusivos se concretizem, torna-se fundamental a elaboração, por toda comunidade escolar, de um projeto político pedagógico de inclusão contando com a participação efetiva dos pais, profissionais ou instituições especializadas que realizam o atendimento complementar, tendo em vista a avaliação das necessidades educacionais específicas desses educandos para as adaptações e complementações curriculares que se fizerem necessárias.
Não vejo sentido comunicar aos demais pais que há um aluno com deficiência na classe, para tanto será importante a participação coletiva humanística acolhedora.
Não atendemos síndromes, doenças ou patologias, mas sim uma criança, um aluno, um adolescente, adulto que tenha alguma diferença. Isso é cultural e por isso leva-se tempo para que a cultura da patologia e modelo médico se dissolva para vermos pessoas no lugar de doenças.
Defendo que o trabalho precisa ser coletivo, com tutorias, com todos juntos, por isso aprendizagem é cooperativa, um ajudando o outro, quer seja professor-professor, professor-especialista, professor-aluno, aluno-especialista, aluno-aluno, enfim quem sabe ensina.
A sala de aula deve ser um espaço coletivo, circular, não linear, o poder é de todos, todos tem algo para ensinar, fazer, compartilhar e aprender.
Enquanto a estrutura escolar manter o poder centrado no professor fica inviável qualquer inclusão.
Estudos e experiências realizados no Brasil e no mundo demonstram que a Educação Inclusiva é benéfica para todos os envolvidos.
Os alunos com deficiência aprendem:
melhor e mais rapidamente, pois encontram modelos positivos nos colegas;
que podem contar com a ajuda e também podem ajudar os colegas;
a lidar com suas dificuldades e a conviver com as demais crianças.
Os alunos sem deficiência aprendem:
a lidar com as diferenças individuais;
a respeitar os limites do outro;
a partilhar processos de aprendizagem.
Todos os alunos, independentemente da presença ou não de deficiência, aprendem:
a compreender e aceitar os outros;
a reconhecer as necessidades e competências dos colegas;
a respeitar todas as pessoas;
a construir uma sociedade mais solidária;
a desenvolver atitudes de apoio mútuo;
a criar e desenvolver laços de amizade;
a preparar uma comunidade que apóia todos os seus membros;
a diminuir a ansiedade diante das dificuldades.
A Escola Inclusiva respeita e valoriza todos os alunos, cada um com a sua característica individual e é à base da Sociedade para Todos, que acolhe todos os cidadãos e se modifica, para garantir que os direitos de todos sejam respeitados.
Essa é base da Educação Inclusiva: considerar a deficiência de uma criança ou de um jovem como mais uma das muitas características diferentes que os alunos podem ter.
E, sendo assim, respeitar essa diferença e encontrar formas adequadas para transmitir o conhecimento e avaliar o aproveitamento de cada aluno.
Vários estudos, no Brasil e no mundo, têm demonstrado que essa pedagogia centrada na relação com o aluno é benéfica para todos os estudantes com e sem deficiência porque:
Reduz a taxa de desistência e repetência escolar;
Aumenta a auto-estima dos alunos;
Impede o desperdício de recursos;
Ajuda a construir uma sociedade que respeita as diferenças.
Somente com o apoio dos professores, o Brasil poderá, de fato, oferecer uma Educação de Qualidade para Todos. E você, professor, pode começar a fazer isso agora. Não é preciso cursar uma faculdade. Basta você usar sua criatividade, seu bom senso, sua vontade de ensinar, sua experiência. E os professores especializados em alunos com deficiência e outros profissionais, como pedagogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais estão aí para ajudar você. Além disso, uma das características mais interessantes da Educação Inclusiva é que ela deve envolver também as famílias e a comunidade. Isso significa que a Escola Inclusiva poderá beneficiar-se com parcerias com universidades, organizações não governamentais, escolas SENAI, APAEs, centros de reabilitação, entidades de pessoas com deficiência, associações de bairro, associações comerciais locais etc. Essa rede de parceiros, que inclui Essa rede de parceiros, que inclui a participação da família, será fundamental para a escola conseguir os recursos humanos e materiais de que precisa para oferecer a melhor educação para todos os seus alunos.
Como tudo isso funciona para a família?
Existe preconceito vindo de outros pais ou até mesmo dos colegas de classe?
Em todos os sentidos, primeiro em manter a exclusão das pessoas, manter mitos e informações errôneas, isso chamamos de acessibilidade atitutinal, é a mais difícil porque exige que resignifiquemos nossos valores, nossas relações, nossas crenças, enfim todos nós somos especiais e deficientes.
O preconceito faz parte da natureza humana, desde o início da humanidade. O homem desconfia e tem medo de tudo o que é diferente dele mesmo, do “outro”.
O “outro” inspira receio, temor, insegurança. Esses sentimentos eram importantes no tempo das cavernas, quando os homens eram poucos e lutavam bravamente para sobreviver em um ambiente hostil. Certamente, essa característica foi selecionada evolutivamente porque ajudava na sobrevivência da espécie.
E o homem moderno ainda é biologicamente o mesmo daqueles tempos. Diante do diferente, do desconhecido, é normal adotar atitudes defensivas ou de ataque, que se expressam pelo preconceito, pela discriminação, pelas palavras ofensivas ou por atos violentos, como vemos hoje os comportamentos de bullying nos jovens.
Como é para o educador atender crianças com deficiências?
Poderia definir isso como uma postura dentro de um processo na mudança das atitudes das relações professor-aluno. Urgimos que haja investimentos na valorização do papel e na construção da identidade do novo professor, visto que hoje ele é um facilitador ou mediador da aprendizagem; precisa sair do papel de “dar aulas”, “estimular criancinhas”, para ser o mediador da construção de conhecimentos este é o novo paradigma. Isso pouco se discute no Brasil e por isso o professor ainda fica reivindicando causas absurdas como querer reprovar os alunos. O professor ainda não “percebeu” que ele não é mais “o centro” da situação, hoje ele está “na relação” da aprendizagem com o aluno. As questões da aprendizagem são relacionais e afetivas.
A prática da Educação Inclusiva pressupõe que o professor, a família e toda a comunidade escolar estejam convencidos de que:
O objetivo da Educação Inclusiva é garantir que todos os alunos com ou sem deficiência participem ativamente de todas as atividades na escola e na comunidade;
Cada aluno é diferente no que se refere ao estilo e ao ritmo da aprendizagem.
E essa diferença é respeitada numa classe inclusiva;
Os alunos com deficiência não são problemas. A Escola Inclusiva entende esses alunos como pessoas que apresentam desafios à capacidade dos professores e das escolas para oferecer uma educação para todos, respeitando a necessidade de cada um;
O fracasso escolar é um fracasso da escola, da comunidade e da família que não conseguem atender as necessidades dos alunos;
Todos os alunos se beneficiam de um ensino de qualidade e a Escola Inclusiva apresenta respostas adequadas às necessidades dos alunos que apresentam desafios específicos;
Os professores não precisam de receitas prontas. A Escola Inclusiva ajuda o professor a desenvolver habilidades e estratégias educativas adequadas às necessidades de cada aluno;
A Escola Inclusiva e os bons professores respeitam a potencialidade e dão respostas adequadas aos desafios apresentados pelos alunos;
É o aluno que produz o resultado educacional, ou seja, a aprendizagem. Os professores atuam como facilitadores da aprendizagem dos alunos, com a ajuda de outros profissionais, tais como professores especializados em alunos com deficiência, pedagogos, psicólogos e intérpretes da língua de sinais.
Como a educação inclusiva pode formar a postura do jovem cidadão?
Favorece e incentiva a criação de laços de amizade entre todos os alunos;
Incentiva a criatividade e a autonomia do aluno em busca do próprio conhecimento;
Aprende o valor da diferença e da convivência para os alunos a partir do exemplo dos professores e da comunidade escolar e pelo ensino ministrado nas salas de aula;
Promove o empoderamento, a autonomia, a independência e a cidadania;
Desenvolve a capacidade de vislumbrar um projeto de vida produtiva e independente.
Sugestões de Dinâmicas de Grupo ou Rodas de Conversa
Objetivos:
Avaliar os sentimentos e fantasias pessoais, identificar, nomear igualdades e diferenças, pontos fortes e oportunidades de melhoria, estimular a empatia. Discriminar e diferenciar deficiência de doença. Trabalhar a construção conceitual / terminologia correta das deficiências (as crianças falavam várias palavras, menos “pessoa com deficiência”)
Estratégias:
Aquecimento: Cada criança escolhe uma bexiga. Ao som de música, com as bexigas cheias, vão brincar sob comandos, sozinhos, em duplas, em trios, todos.
Atividades:
Com todas as cadeiras de rodas, cadeirões, andadores, vamos fazer vivências de como deve ser uma pessoa com deficiência física. Em dois grupos, um guia o outro/ trocam. Discussão de como se sentiram, desenho na lousa para ajudar o raciocínio. Desenho livre sobre o tema.
Vivências sensoriais – Deficiência Visual – A escuridão. Com faixas pretas nos olhos (uma criança guia a outra / trocam). Discussão e desenho livre.
Deficiência Auditiva – O mundo do silêncio. Dois grupos ensaiam cenas, utilizando mímica. Um é platéia do outro. Ou o mediador finge falar sem utilizar a voz. Discussão sobre o tema e desenho livre.
Deficiência Intelectual – Por que nosso colega as vezes tem dificuldades para entender? Uma história contada em duas versões, mais difícil e outra mais fácil. Discussão do tema e desenho livre.
Sugestão de Livros para Roda de Conversa
Sugestões de livros para trabalhar as deficiências em sala de aula, todos os livros são de Cláudia Wernek da Editora WVA.
Muito prazer, eu existo (5ª ed/1992) – Primeiro livro escrito no Brasil sobre síndrome de Down para leigos. Cláudia Wernek da Editora WVA.
Coleção Meu Amigo Down (9ª ed/1994) – As histórias – Meu amigo Down, em casa; Meu amigo Down, na rua; Meu amigo Down, na escola são narradas por um personagem que não entende por que seu amigo com síndrome de Down enfrenta situações delicadas. Cláudia Wernek da Editora WVA.
Um amigo diferente? (9ª ed/1996) – Conta a história de uma criança que diz ser diferente. O texto leva à reflexão sobre as diferenças individuais discorrendo sobre hemofilia, paralisia cerebral, ostomia, doença renal etc. Cláudia Wernek da Editora WVA.
Ninguém mais vai ser bonzinho, na sociedade inclusiva (3ª ed/1997) – Primeiro livro sobre sociedade inclusiva escrito no Brasil, explica o que é uma escola, mídia, literatura e sociedade inclusivas. Cláudia Wernek da Editora WVA.
Sociedade Inclusiva. Quem cabe no seu TODOS? (2ª ed/1999) – Discute o uso leviano da palavra TODOS na cultura, na mídia, nas universidades, no discurso dos governantes, no dia-a-dia de TODOS. Cláudia Wernek da Editora WVA.
Uma joaninha diferente (4ª. Ed/2012) Regina Célia Melo, Ed. Paulinas.
Bem gostaria de terminar e definir Educação Inclusiva com uma frase: “Olhares e modos de ver”, pois só através do olhar que transformamos o outro ser humano em pessoa, com identidade própria e vida.
E completando:
“A questão fundamental é a atitude. Se é algo que você deseja fazer, você começa a procurar meios de consegui-lo. Se é algo que você não deseja fazer, você começa a procurar desculpas para não fazê-lo.” (Wayne Sailor, 1991).
Marina da Silveira Rodrigues Almeida
Consultora de Ed. Inclusiva, Psicóloga, Pedagoga Especialista e Psicopedagoga
Instituto Inclusão Brasil
Rua Jacob Emerich, 367 – Sala 13 – Centro – São Vicente – SP
contato@institutoinclusaobrasil.com.br
(13) 3466-3504
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