Blog do Prof de Ed. Física MSc SERGIO CASTRO,da Pós Graduação em Educação Especial e Tecnologia Assistiva da Universidade Cândido Mendes(AVM) ;Ex-professor da Universidade Estácio de Sá e Ex-Coordenador de Esportes para Pessoas com Deficiências (PcD) do Projeto RIO 2016 da SEEL RJ ,destinado a fornecer informações sobre pessoas com deficiência(PcD) e com Necessidades Educativas Especiais(PNEE), bem como a pessoas interessadas nesta área ( estudantes, pais, parentes, amigos e pesquisadores)
quinta-feira, 16 de maio de 2013
Cotidiano da prática de atividade física de crianças e jovens com deficiências da Rede Municipal de Pelotas - RS
Laura Garcia Jung*
Alexandre Carriconde Marques**
Angélica Xavier Kalinoski***
Gabriela Brisolara Xavier****
Resumo: O objetivo desta pesquisa foi mapear, de acordo
com a visão dos pais e professores, o perfil dos alunos com
deficiências pertencentes à Rede Pública Municipal de Ensino
de Pelotas, descrevendo as práticas de atividades físicas
nos ambientes internos e externos à escola. A amostra foi
composta por 76 pais/responsáveis e 32 professores. Quanto
ao tipo de deficiência, houve predomínio de déficit intelectual.
De acordo com os professores, a maioria dos alunos participa
das aulas de Educação Física. Os resultados demonstram
que o processo inclusivo está sendo aprimorado no momento
em que eles se inserem na sociedade e, consequentemente,
estão cada vez mais obtendo oportunidades de se
desenvolverem.
Palavras-chave: Estilo de Vida. Crianças com Deficiência.
Educação Física escola. equidade
*Mestre em Educação Física. Escola Superior de Educação Física (ESEF). Universidade
Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas. RS, Brasil. E-mail: lauragjung@gmail.com
**Professor. Escola Superior de Educação Física (ESEF). Universidade Federal de Pelotas
(UFPEL). Pelotas. RS, Brasil. E-mail: amcarriconde@hotmail.com
***Mestre em Educação Física. Escola Superior de Educação Física (ESEF). Universidade
Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas. RS, Brasil. E-mail: angelica.kalinoski@gmail.com
****Mestrado em Educação Física. Escola Superior de Educação Física (ESEF). Universidade
Federal de Pelotas (UFPEL). Pelotas. RS, Brasil. E-mail: gabrielabrisolara@gmail.com
1 INTRODUÇÃO
A inserção de alunos com deficiências nas escolas regulares é
recente na história do Brasil. Vive-se um período de transição, no
qual a desqualificação dos professores, o preconceito e o despreparo
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das famílias ainda têm sido barreiras para a prática inclusiva nas
escolas (MARQUES, 2008). Por outro lado, com a evolução do
conhecimento, o paradigma que percebia as pessoas com deficiências
em razão das suas limitações e não pelas suas capacidades tem
mudado significativamente.
Essa evolução tem sido sustentada pelo aumento dos estudos
na área (CIDADE; FREITAS, 2005; SILVA, 2003; COSTA, 2009;
MARQUES, 2008), em que se vislumbra uma participação efetiva
das crianças e dos jovens com deficiências nas aulas de Educação
Física (EF) em escolas regulares. A participação em ambientes não
segregados pode favorecer uma mudança positiva do estilo de vida
dessa população.
No entanto, pouco se sabe a respeito de como está acontecendo
a inclusão nas escolas e qual é a participação dos alunos com
deficiência nas atividades escolares. Em razão do exposto, o objetivo
desse estudo foi mapear, na visão dos pais e professores, o perfil de
crianças e jovens com deficiências, bem como explorar seu cotidiano
relacionado com as práticas de atividades físicas nos ambientes
internos e externos à escola, na Rede Pública Municipal de Ensino
de Pelotas - RS.
2 MÉTODOS
O presente trabalho consiste em um estudo epidemiológico
descritivo (PEREIRA, 1995). A população foi constituída pelos pais
e responsáveis dos alunos com deficiência que frequentam as escolas
da Rede Pública Municipal de Ensino de Pelotas,RS, além dos
professores de Educação Física desses alunos. A seleção da amostra
foi intencional, onde 76 pais/responsáveis pelos alunos com deficiência
e 32 professores se dispuseram a participar do estudo. Em razão da
quantidade expressiva de crianças e jovens com déficit intelectual,
optou-se que os pais ou responsáveis respondessem os questionários.
A coleta de dados foi realizada no segundo semestre de 2010.
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Como instrumento de avaliação foi utilizado um questionário
de estilo de vida adaptado (MARQUES; NAHAS, 2003) e um
questionário sobre a relação entre a Educação Física e o processo
inclusivo. O instrumento geral foi dividido em duas partes, respondido
pelos pais e pelos professores de Educação Física. A parte destinada
aos pais foi sobre dados de identificação, dados familiares,
informações educacionais, informações sobre a deficiência, doenças
associadas à deficiência, atividades da vida diária (AVDs), atividade
física (AF) habitual, prática de esportes e percepção de saúde. A
parte destinada aos professores correspondeu aos dados de
identificação, formação profissional e participação do aluno com
deficiência nas aulas de EF. Realizou-se uma parceria com o Centro
de Apoio, Pesquisa e Tecnologias para Aprendizagem (CAPTA)
para a obtenção da relação dos alunos. Os instrumentos foram
entregues pelos pesquisadores ao coordenador pedagógico de cada
escola, que passou o questionário para os pais e os professores
responderem, retornando posteriormente para o pesquisador.
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da
Escola Superior de Educação Física (ESEF) da Universidade Federal
de Pelotas (UFPel) e aprovado com protocolo nº 151/2010.
Para a análise dos dados e descrição dos resultados, foram
observadas as médias e frequências. As análises estatísticas foram
feitas através do programa SPSS 13.0 for Windows.
3 RESULTADOS
De acordo com o levantamento do CAPTA, das 90 escolas
regulares existentes na rede municipal que possui 26.166 alunos e
foram identificadas 70 escolas que atendem alunos com deficiência.
Conforme informação dos educandários existem 236 estudantes
(0,9% do total) com deficiência participando das atividades escolares.
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Gráfico 1: Distribuição das escolas regulares da rede municipal
de Pelotas/RS em 2010
Fonte: Centro de Apoio, Pesquisa e Tecnologias para Aprendizagem
Com o retorno dos questionários, a amostra foi composta por
32,2% (n=76) responsáveis pelos alunos com deficiência matriculados
na rede municipal de Pelotas, sendo, 73,7% (n=56) de mães; 11,8%
(n=9) de pais; 2,6% (n=2) de irmãos; 2,6% (n=2) de padrastos; um
professor e um outro parente; cinco pessoas não responderam à
questão. Dos que responderam à questão, 80,3% (n=57) eram
mulheres e 19,7% (n=14) eram homens. Em 13,9 das famílias há
mais de um filho com deficiência e o número médio de filhos por
casal é de 2,7 (DP=1,2 - min=1 e máx=7). Entende-se que a perda
amostral não interferiu nos resultados, pois as características da
população estudada (tipo de escola, deficiências, processo de inclusão,
qualificação dos professores e outros) são similares. É interessante
salientar que existe ainda nas escolas uma dificuldade para o retorno
dos questionários, principalmente dos pais. Alguns motivos
relacionados a isso são a falta de apoio das escolas à pesquisa,
dificuldade de se encontrar os pais ou responsáveis, negação quanto
à deficiência (há o diagnóstico, mas a família não aceita), dificuldade
nos níveis de alfabetização dos respondentes e falta de interesse
dos professores na interlocução do processo.
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Com relação ao sexo, observou-se que dos 74 que responderam
à questão, 59,5% (n=44) são do sexo masculino e 40,5% (n=30) do
sexo feminino, inseridos em 17 (24,3%) diferentes escolas, com idades
entre seis e 22 anos. Com relação ao nível socioeconômico (ABEP,
2010), observou-se que houve predomínio nas classes C e D. Quanto
ao tipo de deficiência, houve prevalência da deficiência intelectual,
conforme mostra a Tabela 1.
Tabela 1: Descrição da amostra quanto ao tipo de deficiência,
sexo e nível socioeconômico.
Descrição dos Alunos com Deficiências N (74)* %
Deficiência
Intelectual 59 79,7
Física 08 10,8
Visual 05 6,8
Auditiva 01 1,4
Múltipla 01 1,4
Sexo
Masculino 44 59,5
Feminino 30 40,5
Nível Socioeconômico N (76)* %
A 02 2,6
B 05 6,6
C 19 25,0
D 37 48,7
E 10 13,1
Não responderam 03 4,0
Fonte: autores
*Houve perda em algumas questões e, por essa razão, foram
indicados quantos no total responderam cada pergunta.
Ao verificar as informações educacionais, observa-se que os
alunos com deficiência encontram-se inseridos do pré-escolar a 8ª
série, com predomínio nas séries iniciais até 4ª série (71%), sendo
que 63,9% sabem ler e escrever; 70,3% frequentam a sala de
recursos, 5,4% (n=4) também estão em escola especial no turno
inverso e, 4,1% frequentam a sala de recursos e escola especial,
conforme mostra a Tabela 2.
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Tabela 2: Informações educacionais da amostra
Informações Educacionais N (76) %
Sabe ler e escrever 46 63,9
Frequenta sala de recursos 52 70,3
Frequenta escola especial 04 5,4
Frequenta sala de recurso e escola especial 03 4,1
Fonte: autores
De acordo com as informações dadas pelos responsáveis, 29%
(n=22) possuem alguma doença associada com a deficiência, sendo
as doenças mais frequentes as pulmonares 27,3% (n=6) e as
convulsões/epilepsia 22,7% (n=5). Além disso, grande parte declarou
perceber que a saúde dessas crianças e jovens é boa ou muito boa,
conforme a Tabela 3.
Com relação às Atividades de Vida Diárias (AVDs) das pessoas
com deficiência, a maioria consegue realizá-las sem dificuldade,
conforme o gráfico.
Tabela 3: Percepção dos pais sobre a saúde dos filhos
Fonte: autores
Saúde dos filhos N (72) %
Ruim 0 0
Regular 12 16,7
Boa 31 43,1
Muito boa 18 25
Excelente 11 15,3
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Gráfico 2: Nível de desenvolvimento das AVDs.
Fonte: autores
Ao serem questionados sobre a prática de AF - a qual incluía
alguma atividade de lazer como jogos, brincadeiras, correr, caminhar
e etc - 6,5% dos respondentes (pais ou responsáveis) afirmaram
que seus filhos praticam alguma atividade. Já em relação ao
deslocamento para a escola, 46,5% (n=33) se deslocam a pé, 29,6%
(n=21) de ônibus, 14,1% (n=10) de carro ou moto, 5,6% (n=4) de
bicicleta, 4,2% (n=3) por outros meios de transporte e 7% (n=5) não
responderam a questão. Em média, numa semana normal, eles
caminham rapidamente ou andam de bicicleta em 4,4 dias (DP=2,1),
durante 1,2 horas (DP=0,93), para se deslocarem de um lugar para
outro.
Com relação à prática esportiva nos ambientes externos à escola,
apenas 32,8% (n=23) dos 70 respondentes afirmaram que seus filhos
praticam algum esporte além das aulas de Educação Física, em média
por 3,1 dias na semana com duração de 1,3 horas. Entre os que
praticam o esporte preferido é o futebol 58,5% (n=13), seguido da
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natação 36% (n=8), os demais 5,5% ficam distribuídos entre atividade
aeróbia, vôlei, tênis, skate e boxe, sendo que 18% (n=4) praticam
mais de uma modalidade ao mesmo tempo.
Assistir televisão (34,7%) é a atividade mais realizada nos
momentos de lazer. De segunda a sexta-feira, os alunos assistem
em média 3 horas de televisão (DP=2,38); nos fins de semana esse
número sobe para 4,1 horas (DP=2,38). Em relação ao tempo
exposto ao computador e/ou vídeo game, durante a semana, a média
ficou em 1,6 horas (DP=1,15); nos fins de semana, esse número
sobe para 2,7 horas (DP=2,35).
A tabela 4 mostra as atividades físicas e as atividades realizadas
nos momentos de lazer.
Tabela 4: Atividades físicas e atividades realizadas nos momentos de lazer
Atividades Físicas e Lazer N (76) %
Atividade física habitual
Pratica alguma atividade física 39 56,5
Desloca-se a pé para a escola 33 46,5
Pratica algum esporte além da EF 23 33,8
Atividade mais realizada no lazer
Assistir TV 25 34,7
Escutar música 11 15,3
Passear com a família ou amigos 07 9,7
Ler ou desenhar 06 8,3
Praticar atividade física 06 8,3
Conviver e conversar com amigos 04 5,6
Utilizar o computador 04 5,6
Brincar 04 5,6
Ajudar nas tarefas domésticas 03 4,2
Ficar sozinho 02 2,8
Não responderam 04 5,6
Fonte: autores
Com relação aos professores, a amostra foi composta por 12
homens (37,5%) e 20 mulheres (62,5%), com média de idade de
40,06 anos (DP=8,0 - min=24 e max=58). Em relação ao tempo de
formação, 21,9% (n=07) dos professores concluíram sua graduação
em média há cinco anos, 28,1% (n=09) entre seis e 10 anos, 6,3%
(n=02) entre 11 e 13 anos e 43,8% (n=14) há 14 anos ou mais.
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Dentre os professores, 59,4% (n=19) possuem especialização
em EF. Apenas oito (25%) do total, possuem qualificação
especializada para atender crianças com deficiência. Com relação
a isso, observou-se uma associação significativa utilizando-se o teste
do Qui-quadrado (p<0 br="" em="" m="" n="" o="" os="" profissionais="" que="" t="">especialização na área são aqueles que percebem maior dificuldade
para atuarem com essa população.
Ao serem questionados se concordam ou não com a inclusão
na escola, nenhum deles afirmou discordar totalmente; 15,6% (n=05)
discordam em parte; 9,4% (n=03) não concordam nem discordam;
56,3% (n=18) disseram que concordam em parte e 18,8% (n=06)
concordam totalmente.
Sobre os conhecimentos para incluir os alunos com deficiência
nas aulas, 21,9% (n=07) dos professores julgam ruins; 40,6% (n=13)
regulares; 21,9% (n=07) bons; 15,6% (n=5) muito bons, porém
nenhum dos professores julgou-os excelentes.
Quando interrogados se os conteúdos das aulas atendem às
necessidades de todos os alunos, 12,9% (n=04) disseram que sempre;
para 48,4% (n=15) quase sempre; ninguém afirmou que os conteúdos
eram indiferentes; 38,7% (n=12) às vezes e nenhum disse que nunca.
No que diz respeito à afirmação de que há uma promoção da
inclusão por toda a comunidade escolar, 3,2% (n=01) dos professores
discorda totalmente dessa afirmação; 9,7% (n=03) discordam em
parte; 9,7% (n=03) não concordam nem discordam; 54,8% (n=17)
concordam em parte e 22,6% (n=07) concordam totalmente.
De acordo com as respostas dos professores, 86,4% (n=51)
dos alunos com deficiência participam das aulas, sendo que desses,
47,1% (n=24) participam ativamente de todas as atividades e 47,1%
(n=24) participam ativamente de algumas atividades e os 5,8%
restantes dos alunos (n=3) assistem sentados às aulas ou auxiliando
o professor, conforme o gráfico:
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Gráfico 2: Forma de participação nas aulas por número de alunos com deficiência
Fonte: autores
Entre os 14% que não participam das aulas, foram identificadas
algumas razões, tais como: dispensa por atestado, dificuldade de
relacionamento, falta de qualificação do professor para orientação e
desinteresse pelas atividades.
Referindo-se ao interesse e a satisfação dos alunos com
deficiência no desenvolvimento das atividades, dos 57 questionários
que foram respondidos, 24,6% (n=14) sempre são interessados;
29,8% (n=17) quase sempre; 3,5% (n=2) se mostram indiferentes;
42,1% (n=24) se mostram interessados às vezes e nenhum dos
professores afirmou que os alunos nunca demonstrem interesse pelas
aulas, conforme a tabela 5:
Tabela 5: Nível de interesse e satisfação dos alunos com deficiência
segundo os professores
Interesse e Satisfação dos Alunos nas Atividades N (57) %
Sempre 14 24,6
Quase sempre 17 29,8
Indiferentes 2 3,5
Às vezes 24 42,1
Nunca 0 0
Fonte: autores
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Quanto à aceitação dos alunos sem deficiência em relação aos
alunos com deficiência, dos 57 respondentes 1,8% (n=1) rejeitam
totalmente; 7% (n=4) rejeitam em parte; 7% (n=4) se mostram
indiferentes à presença do aluno com deficiência; 50,9% (n=29)
aceitam em parte e 33,3% (n=19) aceitam totalmente, de acordo
com a percepção dos professores, conforme a tabela 6:
Tabela 6: Aceitação dos alunos sem deficiência em relação aos com deficiência
segundo os professores
Aceitação dos Alunos sem Deficiência N (57) %
Aceitam totalmente 19 33,3
Aceitam em parte 29 50,9
Indiferentes 04 7,0
Rejeitam em parte 04 7,0
Rejeitam totalmente 01 1,8
Fonte: autores
4 DISCUSSÃO
Entre os alunos com deficiência estudados, houve uma
considerável prevalência de crianças e jovens com déficit intelectual.
Entende-se, portanto, que a capacitação dos professores deve
reforçar para esse tipo de situação e para estratégias de atuação
com esses alunos.
Em relação ao número de crianças e adolescentes com
deficiências matriculadas em escolas regulares no nível fundamental,
um aumento anual progressivo, de acordo com dados do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP) em 2005 (KASPER; LOCH; PEREIRA, 2008).
Em relação à participação em atividades extraclasse, 70,3%
frequentam as salas de recursos multifuncionais, um ambiente
oferecido pela Secretaria Municipal de Educação através do CAPTA,
que responde pela Educação Especial e está ligado ao Departamento
de Políticas Educacionais (DPE). Esse espaço oferece suporte às
necessidades educativas especiais dos alunos e favorece seu acesso
ao conhecimento, além de complementar o aprendizado obtido na
escola regular.
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A Constituição Brasileira prevê que o atendimento educacional
especializado deva ser oferecido fora da rede regular de ensino, em
outros estabelecimentos, com o objetivo de ser um complemento e
não um substitutivo da escolarização ministrada na rede regular para
todos os alunos. Através deste complemento, a qualidade do processo
de aprendizagem e assimilação dos conteúdos pelo aluno com
deficiência será melhorada. Assim sendo, será possível favorecer
uma inclusão de qualidade das pessoas com deficiência na escola e
na sociedade.
A oportunidade de participarem de ambientes com crianças
sem deficiências tem favorecido a melhoria das habilidades motoras
e cognitivas de crianças e jovens com deficiências (MARQUES,
2008; LAW, et al, 2007). Ao serem verificadas as AVDs, a maioria
consegue realizá-las sem dificuldade, o que mostra que as pessoas
com deficiência estão adquirindo independência e autonomia e,
provavelmente, isso se deva à mudança no estilo de vida estimulada
pela inclusão nas escolas.
Em um sistema integrado, as oportunidades são comuns,
favorecendo o desenvolvimento do ideal democrático através de um
ambiente o menos restritivo possível (MANTOAN, 1995). Dessa
forma, além das oportunidades recebidas, as pessoas sem deficiência
estimularão as pessoas com deficiência a desenvolverem suas
habilidades, especialmente no âmbito da Educação Física, pois essas
atividades estarão relacionadas com a socialização entre ambos como
também com as habilidades motoras, as quais são transferidas para
as atividades da vida diária.
Em relação ao tempo de exposição à televisão, os alunos com
deficiências não são diferentes das outras crianças sem deficiências,
e para tanto, faz-se necessário uma atenção maior ao estímulo das
práticas de AF em razão das próprias dificuldades naturais
relacionadas ao tipo de deficiência. Assim como as crianças sem
deficiência, aquelas que possuem alguma deficiência passam a utilizar
o seu tempo livre em atividades com pouco dispêndio energético,
principalmente as que se referem a equipamentos eletrônicos. Nesse
estudo, observou-se que os níveis de AF não são tão baixos quanto
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os verificados em outros estudos (KOSMA; CARDINAL;
MCCUBBIN, 2004; RIMMER, 2005a, 2005b), entretanto, torna-se
necessário, no ambiente escolar, promover ações que estimulem a
aderência dessas práticas.
Nos últimos anos, os cursos de graduação em EF vêm passando
por um processo de transição, no qual disciplinas voltadas ao
atendimento das pessoas com deficiências têm sido inseridas na grade
curricular, possibilitando aos professores uma melhor formação para
atuarem nessa área (LIMA et al, 2007). De acordo com Rodrigues
(2008), a qualificação dos professores nas escolas regulares ainda é
uma barreira na participação de crianças e jovens na prática de AF.
No presente estudo, observou-se que 75% (n=24) não têm formação
para trabalhar com crianças com deficiências. A associação
encontrada entre a formação continuada (pós-graduação) e a
dificuldade para trabalharem com alunos com deficiências preocupa,
pois torna-se necessário melhorar a capacidade dos professores para
atuarem com crianças e jovens com deficiência. Verificam-se,
ainda, outras barreiras para a prática de AF, que são as limitações
internas (a própria deficiência, doenças associadas, etc.) e as externas
(superproteção, preconceito, ambientes inadequados, etc.)
(MARQUES, 2008). Em um estudo realizado por Rimmer (2004),
nos Estados Unidos, foram encontradas 178 barreiras e apenas 130
facilitadores para a prática de AF para pessoas com deficiência em
estudo com grupos focais, ou seja, embora haja um número razoável
de facilitadores para a prática, o número de barreiras ainda prevalece.
Observou-se que aproximadamente metade dos alunos
estudados realiza deslocamento a pé, sendo que esse fato
provavelmente ocorre em razão do nível socioeconômico (classe C
e D) ou por residirem perto da escola. Existe nessa área, uma
carência de estudos que relacionem AF para as pessoas com
deficiência e que relatem um melhor atendimento a essa população
(PITTETI; BEETS; COMBS, 2009).
A prática de esportes para crianças com deficiência é
responsável também pelo desenvolvimento do comportamento
humano, pois, através do conhecimento do seu corpo o indivíduo
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, Porto Alegre, v. 19, n. 02, p. 207-226, abr/jun de 2013.
adquire a noção de si próprio, de suas limitações e de suas
capacidades. Apenas um terço pratica algum esporte de forma
recreativa além das aulas de EF. Além das questões da aptidão física,
o esporte possui também um caráter social e esses fatores contribuem
para a formação do indivíduo (CIDADE; FREITAS, 2005). A
divulgação de competições para pessoas com deficiências
(paralimpíadas e campeonatos nacionais) tem modificado a percepção
da sociedade quanto à capacidade desses indivíduos em realizar tais
atividades. Isso pode, de alguma forma, estimular a participação nas
práticas esportivas, da mesma forma que as crianças sem deficiências
se inspiram em seus ídolos.
De acordo com a percepção dos responsáveis pelas crianças e
jovens, observou-se que a saúde deles é boa, tanto no aspecto
emocional como físico, sendo assim um indicador favorável para a
prática de AF.
Em relação aos professores, percebe-se, em grande parte,
dificuldade em trabalhar com crianças e jovens com deficiências, a
qual está relacionada com a falta de programas de formação
continuada que promovam o desenvolvimento profissional dos
professores. Observou-se no presente estudo que a maioria dos
professores não teve, na sua formação acadêmica, a possibilidade
de trabalhar com disciplinas relacionadas às pessoas com deficiência.
A maioria dos professores (75%) concorda com o processo
inclusivo na escola, fortalecendo os resultados de um estudo com a
mesma população realizado por Costa (2009), onde 57% dos
professores afirmaram concordar com a inclusão. Esse resultado é
positivo ao constatarmos que, em pouco tempo, a opinião das pessoas
a favor da inclusão tem aumentado devido à ampliação das
oportunidades de educação, lazer e emprego para as pessoas com
deficiência. Isso pode estar ocorrendo pelo fato de que a cada ano
um maior número de crianças e jovens com deficiência está
ingressando nas escolas regulares, propiciando assim o contato entre
deficientes e não deficientes e, consequentemente, a quebra de
preconceito. Desde 2010, o número de salas de recursos passou de
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, Porto Alegre, v. 19, n. 02, p. 207-226, abr/jun de 2013.
nove para 32 na rede municipal de ensino de Pelotas. O CAPTA
estima que em 2012 foram atendidos cerca de 610 alunos com
deficiência na rede.
Sobre os conhecimentos para incluir os alunos com deficiência
nas aulas, outros estudos foram realizados anteriormente com a
mesma população. Em um estudo de 2003, 64% dos professores
percebia fraca a qualificação para trabalhar com alunos com
deficiência e apenas 3,6% julgou boa; ao serem questionados sobre
sua percepção para trabalhar com alunos com deficiência, 89,3%
não se sentiam preparados (SILVA, 2003). No estudo de 2009, 14%
acreditavam ter conhecimentos suficientes para o trabalho com alunos
com deficiência, 21% consideravam-se preparados para o trabalho
na disciplina de EF e 79% diziam-se despreparados (COSTA, 2009).
Dessa forma, há uma melhora considerável sobre os conhecimentos
para incluir o aluno com deficiência no decorrer do processo inclusivo.
Quando interrogados se os conteúdos das aulas atendem às
necessidades de todos os alunos, 61,3% entendem que os mesmos
são adequados. No estudo de 2009, ao responderem a mesma
pergunta, 43% dos professores afirmaram que os conteúdos atendem
às necessidades de todos os alunos (COSTA, 2009). Percebe-se
que há uma evolução do conhecimento dos professores, mesmo
quando muitas vezes não se sentem preparados para atuarem com
essa população. Isso ocorre à medida que os professores têm a
oportunidade de vivenciarem o trabalho com este grupo de pessoas,
entendendo que não há uma "receita especial" a ser desenvolvida.
Ao analisar duas turmas de 6ª série em relação à aprendizagem
de suas habilidades referentes aos fundamentos de basquete, antes
e após o decorrer do bimestre, um estudo mostrou que não houve
diferenças apesar de em uma das turmas haver três crianças com
deficiência física (BLOCK, 1995). Esse estudo sugere que a presença
de alunos com deficiência nas escolas regulares não atrapalha o
desenvolvimento dos demais, como também que os conteúdos podem
atender às necessidades de todos sem prejudicar ninguém. Nesse
estudo, a aceitação dos alunos sem deficiência em relação aos alunos
com deficiência foi positiva, corroborando com um estudo que avaliou
222 Artigos Originais Laura Garcia Jung et al
, Porto Alegre, v. 19, n. 02, p. 207-226, abr/jun de 2013.
a aceitação dos colegas em relação ao aluno com deficiência,
encontrando atitudes mais positivas no relacionamento entre os
estudantes (TRIPP; FRENCH, SCHERRILL, 1995).
De acordo com os professores, 86,4% dos alunos com
deficiência participam das aulas, sendo que desses, praticamente
todos participam ativamente de todas ou algumas atividades. Com
esses dados é possível visualizar que a maioria deles tem condições
de participar das aulas juntamente com os colegas. Meninos e
meninas, deficientes e não deficientes, ocupando o mesmo espaço e
praticando a mesma atividade esportiva podem, na convivência,
aprender a relacionar-se e interagir com a diferença, em várias
possibilidades, aprendendo a compartilhar e a resolver conflitos
(CIDADE; BUSTO, 2008).
A ausência dos alunos que não participam das aulas (14%) foi
justificada por dispensa com atestado, dificuldade de relacionamento,
falta de qualificação do professor para orientação ou desinteresse
pelas atividades. Em alguns casos, será difícil a participação do aluno
com deficiência nas aulas, porém os professores deverão tentar
adaptar as atividades e tomar iniciativas que incentivem sua
participação. Se não for possível, pelo menos estará presente no
mesmo ambiente que os demais, onde de certa forma ele estará
participando, o que será positivo. Observou-se que os alunos com
deficiência têm um forte interesse em participarem das aulas de EF,
sendo um aspecto positivo na educação para um estilo de vida ativo.
5 CONCLUSÕES
Os resultados desse estudo evidenciam que a maioria dos alunos
que tem a oportunidade de estudar nas escolas regulares está
participando das aulas de EF. Encontrou-se uma variedade de tipos
de deficiências, demonstrando um avanço no atendimento dos alunos
por parte dos professores. Mesmo que existam ainda algumas
barreiras no processo de inclusão nas escolas regulares, observa-se
que houve uma melhora no atendimento, comparado com estudos
anteriores. Entende-se que a participação de um número maior de
Cotidiano da prática de atividade física de crianças ... 223
, Porto Alegre, v. 19, n. 02, p. 207-226, abr/jun de 2013.
crianças nas atividades é reflexo do processo de inclusão, que tem
levado conhecimento não só aos profissionais, mas também às famílias
e à comunidade em geral, diminuindo as atitudes de preconceito. A
participação efetiva das crianças e dos jovens com deficiências nas
aulas de EF contribuirá para a sua formação em um ambiente alegre
e saudável, propiciando o desenvolvimento de um estilo de vida ativo,
refletindo, principalmente, na realização das suas atividades de vida
diária com mais autonomia e independência.
224 Artigos Originais Laura Garcia Jung et al
, Porto Alegre, v. 19, n. 02, p. 207-226, abr/jun de 2013.
Everyday physical activity of children and youth
with disabilities from Pelotas-RS municipal
schools
Abstract : This paper intended, from the point of view
of parents and teachers, to establish the profile of
disabled students from municipal schools in Pelotas,
and to explore their daily habits with respect to physical
activity in and out of school environment. The sample
included 76 parents and 32 teachers. The most
common disability was the intellectual deficit. According
to teachers, most students participate in Physical
Education Classes. The results demonstrate that the
inclusive process is improved in the moment that
disabled students are included in society and,
consequently, achieve opportunities to develop
themselves.
Keywords: Life style. Disabled children. Physical
Education scholar. Equity
Prácticas diarias de actividades físicas de niños
y jóvenes con discapacidades en el municipio
de Pelotas - RS
Resumen: La meta es mapear, de acuerdo con lo
que piensan los padres y maestros, el perfil de los
estudiantes con discapacidades pertenecientes a la
Rede Pública Municipal de Ensino de Pelotas y explorar
sus prácticas diarias relacionadas con las actividades
físicas en la escuela en interiores y exteriores. La
muestra estuvo conformada por 76 padres y 32
profesores. En cuanto a los tipos de discapacidad,
hubo predominio el déficit intelectual. Según los
profesores, la mayoría de los estudiantes participa en
clases de educación física. Los resultados muestran
que el proceso de inclusión se mejora cuando los
estudiantes participan en la sociedad y, en
consecuencia, tienen cada vez más y más
oportunidades para desarrollarse.
Palabras clave: Estilo de vida.Niños con
Discapacidad. Educación Física escolar. Equidad
Cotidiano da prática de atividade física de crianças ... 225
, Porto Alegre, v. 19, n. 02, p. 207-226, abr/jun de 2013.
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Recebido em: 26.06.2012
Aprovado em: 24.02.2013
Endereço para correspondência:
Laura Garcia Jung
Rua 35, nº 379, Jardim Europa - Areal
Pelotas/RS
CEP: 96080-6120>
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