brailletec, braille e tecnologia para deficientes visuais! - blog de Douglas Valter Soares
é o fim do braille?
Submetido em Segunda, 25/10/2010 - 01:16 por Douglas Valter ...
Com o tema:
É o fim do braile?
Tecnologias facilitam acesso dos cegos ao conhecimento, mas os afastam da leitura pelo tato.
Rodrigo Cardoso
Até dezembro, todos os 4.300 alunos com cegueira total do ensino
fundamental e médio matriculados nas escolas públicas do País irão
receber um laptop com um sintetizador de voz que lê para eles o texto da
tela. Dois mil já foram beneficiados e navegam nessa possibilidade,
segundo o Ministério da Educação (MEC). Em fevereiro, mais tecnologia
será despejada na carteira dos estudantes cegos que cursam do sexto ao nono
anos: uma coleção de 380 obras didáticas no formato digital Daisy.
Abreviação para Sistema Digital de Acesso à Informação, a solução
tecnológica batizada aqui de Mecdaisy permite ao aluno interagir com o
livro digital, podendo pausar, pular ou retornar às páginas e capítulos,
anexar anotações aos arquivos da obra e exportar o texto para impressão
em braile, o sistema de códigos que possibilitou aos deficientes visuais
o acesso à escrita e à leitura a partir do século XIX.
Embora o braile ainda seja defendido e aplicado pelas instituições de
ensino durante a alfabetização, já há correntes de educadores que temem
um afastamento dos estudantes com cegueira da leitura feita com os dedos
por conta desses dispositivos tecnológicos, está ocorrendo uma desbrailização", afirma o professor de geografia e
história Vítor Alberto Marques, do Instituto Benjamin Constant, entidade
pioneira para cegos no Brasil. "A criança acha chato ler em braile e
está migrando para outras tecnologias", diz ele.
O problema foi discutido na convenção anual que a Federação Nacional dos
Cegos dos Estados Unidos realizou no ano passado. No evento, painéis com
o slogan "ouvir não alfabetiza" foram espalhados para chamar a atenção
para um dado alarmante: 90% das crianças americanas com deficiência
visual estão crescendo sem aprender a ler e a escrever, segundo o
vice-presidente da organização, Fredric Schroeder. Isso ocorre porque
estão escravas de inovações como serviços telefônicos que leem jornal e
leitura em voz alta de e-mails. "Essas tecnologias promovem um tipo
passivo de leitura. Só por meio do braile o cérebro do deficiente visual
absorve letras, pontuação e estrutura de textos", defende Schroeder.
Mas o fato é que, hoje, o braile não reina mais sozinho na sala de aula.
No Instituto de Cegos Padre Chico, em São Paulo, que possui 99 alunos
carentes e segue a cartilha da Secretaria de Educação do Estado, os
estudantes encaram, antes da alfabetização, exercícios que os preparam
para o mundo digital. "Incentivamos a utilização do braile por meio de
concursos de redação e de leitura", diz a professora de informática
Cynthia Carvalho. "Mas o contato com o computador, entre outras coisas,
coloca a pessoa com cegueira em um patamar de igualdade." Aluno do quinto
ano do ensino fundamental, Giovany Oliveira, 11 anos, mostra, com as
mãos no teclado, um pouco da sua desenvoltura no computador. O garoto
digita na tela que nasceu sem visão e indica as teclas que o permitem
ler, por meio de uma voz que sai da caixa de som, palavra por palavra ou
a sentença toda. "No computador eu leio escutando. E o braile é legal
porque aprendo como se escreve a palavra", compara.
O Mecdaisy fará parte do currículo escolar, oficialmente, em 2011, para
jovens matriculados a partir do sexto ano. Esse software sonoro de livro
digital, porém, só será aplicado nas disciplinas de português, história,
geografia, ciências, e línguas estrangeiras. Matemática, física e
química, por conta dos símbolos gráficos, seguem sendo ensinadas apenas
em braile. Crianças matriculadas até o quarto ano receberão material
didático só em braile. Para a deficiente visual Martinha Clarete Dutra
dos Santos, diretora de políticas de educação especial do MEC,
audiolivros, leitores de tela e livros digitais são, no Brasil,
ferramentas complementares no processo de aprendizagem do deficiente
visual. "A tecnologia é um elemento de inclusão social no País", diz.
"Mas é preciso cuidado para que não haja uma desbrailização por conta dá
má utilização dessas inovações", pontua Moysés Bauer, presidente da
Organização Nacional dos Cegos do Brasil.
"A tecnologia é um elemento de inclusão social"
Martinha dos Santos, diretora de políticas de
educação especial do MEC
Na convenção da federação dos cegos americanos circularam histórias de
crianças que não sabiam o que era um parágrafo, que questionavam o
porquê das letras maiúsculas ou o porquê de a expressão "felizes para
sempre" ser composta por palavras separadas.
Foram prejudicadas, segundo Schroeder, pelo vício de somente ouvir o que
um software reproduz. "Essas tecnologias são sinal de progresso?",
indaga. O estudante Giovany, ao ser perguntado se ainda gostava de ler
em braile, confessou, sussurrando: "Todo dia, das 17h às 18h30, tenho de
ler um livro em braile para minha mãe. A psicóloga me pediu." Após
descobrir as maravilhas do computador, o garoto não queria saber de
outra coisa e dava escândalo se alguém o contrariasse. Um trato, então,
foi feito para colocá-lo na linha e manter o gosto pelo braile. Giovany
ganhou um computador e só pode usá-lo se cumprir uma rotina de leitura
pelo tato. É preciso cuidar para que o desenvolvimento tecnológico não
atrapalhe a alfabetização da pessoa com deficiência visual.
Tecnologias facilitam acesso dos cegos ao conhecimento, mas os afastam da leitura pelo tato.
Rodrigo Cardoso
Até dezembro, todos os 4.300 alunos com cegueira total do ensino
fundamental e médio matriculados nas escolas públicas do País irão
receber um laptop com um sintetizador de voz que lê para eles o texto da
tela. Dois mil já foram beneficiados e navegam nessa possibilidade,
segundo o Ministério da Educação (MEC). Em fevereiro, mais tecnologia
será despejada na carteira dos estudantes cegos que cursam do sexto ao nono
anos: uma coleção de 380 obras didáticas no formato digital Daisy.
Abreviação para Sistema Digital de Acesso à Informação, a solução
tecnológica batizada aqui de Mecdaisy permite ao aluno interagir com o
livro digital, podendo pausar, pular ou retornar às páginas e capítulos,
anexar anotações aos arquivos da obra e exportar o texto para impressão
em braile, o sistema de códigos que possibilitou aos deficientes visuais
o acesso à escrita e à leitura a partir do século XIX.
Embora o braile ainda seja defendido e aplicado pelas instituições de
ensino durante a alfabetização, já há correntes de educadores que temem
um afastamento dos estudantes com cegueira da leitura feita com os dedos
por conta desses dispositivos tecnológicos, está ocorrendo uma desbrailização", afirma o professor de geografia e
história Vítor Alberto Marques, do Instituto Benjamin Constant, entidade
pioneira para cegos no Brasil. "A criança acha chato ler em braile e
está migrando para outras tecnologias", diz ele.
O problema foi discutido na convenção anual que a Federação Nacional dos
Cegos dos Estados Unidos realizou no ano passado. No evento, painéis com
o slogan "ouvir não alfabetiza" foram espalhados para chamar a atenção
para um dado alarmante: 90% das crianças americanas com deficiência
visual estão crescendo sem aprender a ler e a escrever, segundo o
vice-presidente da organização, Fredric Schroeder. Isso ocorre porque
estão escravas de inovações como serviços telefônicos que leem jornal e
leitura em voz alta de e-mails. "Essas tecnologias promovem um tipo
passivo de leitura. Só por meio do braile o cérebro do deficiente visual
absorve letras, pontuação e estrutura de textos", defende Schroeder.
Mas o fato é que, hoje, o braile não reina mais sozinho na sala de aula.
No Instituto de Cegos Padre Chico, em São Paulo, que possui 99 alunos
carentes e segue a cartilha da Secretaria de Educação do Estado, os
estudantes encaram, antes da alfabetização, exercícios que os preparam
para o mundo digital. "Incentivamos a utilização do braile por meio de
concursos de redação e de leitura", diz a professora de informática
Cynthia Carvalho. "Mas o contato com o computador, entre outras coisas,
coloca a pessoa com cegueira em um patamar de igualdade." Aluno do quinto
ano do ensino fundamental, Giovany Oliveira, 11 anos, mostra, com as
mãos no teclado, um pouco da sua desenvoltura no computador. O garoto
digita na tela que nasceu sem visão e indica as teclas que o permitem
ler, por meio de uma voz que sai da caixa de som, palavra por palavra ou
a sentença toda. "No computador eu leio escutando. E o braile é legal
porque aprendo como se escreve a palavra", compara.
O Mecdaisy fará parte do currículo escolar, oficialmente, em 2011, para
jovens matriculados a partir do sexto ano. Esse software sonoro de livro
digital, porém, só será aplicado nas disciplinas de português, história,
geografia, ciências, e línguas estrangeiras. Matemática, física e
química, por conta dos símbolos gráficos, seguem sendo ensinadas apenas
em braile. Crianças matriculadas até o quarto ano receberão material
didático só em braile. Para a deficiente visual Martinha Clarete Dutra
dos Santos, diretora de políticas de educação especial do MEC,
audiolivros, leitores de tela e livros digitais são, no Brasil,
ferramentas complementares no processo de aprendizagem do deficiente
visual. "A tecnologia é um elemento de inclusão social no País", diz.
"Mas é preciso cuidado para que não haja uma desbrailização por conta dá
má utilização dessas inovações", pontua Moysés Bauer, presidente da
Organização Nacional dos Cegos do Brasil.
"A tecnologia é um elemento de inclusão social"
Martinha dos Santos, diretora de políticas de
educação especial do MEC
Na convenção da federação dos cegos americanos circularam histórias de
crianças que não sabiam o que era um parágrafo, que questionavam o
porquê das letras maiúsculas ou o porquê de a expressão "felizes para
sempre" ser composta por palavras separadas.
Foram prejudicadas, segundo Schroeder, pelo vício de somente ouvir o que
um software reproduz. "Essas tecnologias são sinal de progresso?",
indaga. O estudante Giovany, ao ser perguntado se ainda gostava de ler
em braile, confessou, sussurrando: "Todo dia, das 17h às 18h30, tenho de
ler um livro em braile para minha mãe. A psicóloga me pediu." Após
descobrir as maravilhas do computador, o garoto não queria saber de
outra coisa e dava escândalo se alguém o contrariasse. Um trato, então,
foi feito para colocá-lo na linha e manter o gosto pelo braile. Giovany
ganhou um computador e só pode usá-lo se cumprir uma rotina de leitura
pelo tato. É preciso cuidar para que o desenvolvimento tecnológico não
atrapalhe a alfabetização da pessoa com deficiência visual.
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