sábado, 30 de outubro de 2010

Uma outra face das células-tronco

Uma outra face das células-tronco


Quando falamos em células-tronco as pessoas logo pensam no seu potencial em regenerar células e tecidos. Já falei várias vezes de um sub-grupo muito especial de células-tronco adultas – chamadas de células tronco mesenquimais (CTMs).
As CTMs podem ser isoladas de vários tecidos tais como cordão umbilical, polpa dentária, tecido adiposo ou medula óssea, entre outros. Elas têm o potencial de se diferenciar em quatro tipos de células: músculo, gordura, cartilagem e osso. Mas, além disso, essas mesmas CTMs têm uma outra propriedade muito importante: um efeito imunomodulatório. Isto é, diminuir a reação imunológica do organismo, o que é fundamental em algumas situações como no caso de transplantes de órgãos ou doenças autoimunes.
Três pesquisadoras britânicas (Karen English, Anna French e Kathryn Wood) acabam de publicar uma revisão muito interessante sobre o potencial imunológico de CTM na prestigiosa revista Cell Stem Cell. A publicação foca CTM obtidas de medula óssea (CTMO), que foram as primeiras a ser identificadas, mas estudos mais recentes com CTMs obtidas de outras fontes sugerem que elas podem ter propriedades semelhantes.
O transplante de órgãos é ainda o método para salvar inúmeras vidas. Para muitos pacientes, substituir um órgão não funcional, como o coração ou o rim, pelo de um doador saudável é a única terapia disponível para prolongar a vida. Entretanto, pessoas submetidas a transplantes têm que enfrentar um problema pelo resto da vida: a tentativa de rejeição pelo organismo, que trata o órgão transplantado como se fosse um “invasor”.
Para controlar esse problema usam-se imunosupressores – drogas que controlam ou evitam a produção de anticorpos contra o órgão transplantado, o que previne ou retarda a rejeição. O lado negativo é que a administração dessas drogas a longo prazo pode aumentar o risco de outros efeitos colaterais, como a susceptibilidade a infecções, complicações cardiovasculares, diabetes e disfunção renal entre outras.
Portanto, o desenvolvimento de terapias alternativas eficientes para evitar a rejeição e garantir o sucesso a longo prazo dos transplantes, sem efeitos tóxicos ,é fundamental. E é aí que entram as células-tronco. Elas podem preencher essa lacuna.
Quais são as possíveis funções das células-tronco mesenquimais (CTMs)?
Vários estudos mostraram que quando um tecido é lesionado (por exemplo um machucado na pele), as CTMS se dirigem ao local da injúria. O papel que desempenham quando chegam lá, entretanto, ainda é objeto de pesquisas. Alguns cientistas acreditam que elas estimulem o reparo do tecido através da produção de fatores tróficos, tais como fatores de crescimento, citocinas e antioxidantes.
Nosso grupo no Centro do Genoma já mostrou que CTMs obtidas de polpa dentária, cordão umbilical, trompa de falópio e tecido adiposo têm o potencial de se diferenciar em músculo, osso, gordura e cartilagem, “in vitro”. Observamos também que as CTMs humanas isoladas de tecido adiposo conseguem formar células musculares humanas quando injetadas em modelos animais.
Mas um número crescente de pesquisas têm demonstrado que as CTMO, além da qualidade de se diferenciar em diferentes tipos celulares, possuem efeitos anti-inflamatórios potentes, tanto “in vitro” como “in vivo”. Isto é, elas têm a capacidade de modular as respostas imunes. Isso se daria através de um mecanismo complexo de interação direta ou indireta entre vários tipos de células. Por exemplo, as CTMO poderiam inibir a proliferação de células T ou outros tipos de anticorpos , que funcionam como soldados para defender o organismo do ataque de agentes externos.
Quais são as perspectivas futuras?
Essa propriedade imunomodulatória das CTMs abre novas perspectivas de tratamento não só para evitar a rejeição em transplantes de órgãos mas em doenças autoimunes (como esclerose múltipla, por exemplo) onde o organismo não reconhece suas próprias células e as ataca como se fossem inimigas.
Entretanto, é fundamental lembrar que elas também poderiam ter o potencial de acelerar a progressão de um tumor criando um ambiente favorável para o seu desenvolvimento. Portanto, todo cuidado é pouco.
Por Mayana Zatz

Fonte:  Veja

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Células-tronco: a aposta da medicina atual



Células-tronco: a aposta da medicina atual


Mais de 300 doenças estão em fase final de testes.


A cada estudo realizado com célula-tronco, pesquisadores e cientistas descobrem um tratamento promissor e faz nascer esperanças naqueles que precisam de tratamentos com as células da vida. Doenças como Diabetes Tipo 1, Mal de Parkinson, asma entre outras já estão em estudos bem avançados.

Um estudo coordenado pelo professor Jonas Frisen, do Instituto Karolinska, na Suécia, mostrou como as células-tronco e vários outros tipos celulares contribuem para a formação de novas células da medula espinhal em camundongos. Ele demonstrou que essas células são inativas em uma medula espinhal saudável, e que a formação de células novas acontece principalmente por meio da divisão de células mais maduras.

Quando a medula espinhal é lesada, no entanto, essas células-tronco são ativadas e se tornam a principal fonte de novas células, porém não são suficientes para restaurar a funcionalidade da medula espinhal. “A melhora de pacientes paraplégicos, ainda é uma incógnita para os cientistas. Mas, acredito que esta experiência trará resultados surpreendentes para nós”, diz o diretor do Centro de Criogênia Brasil, Carlos Alexandre Ayoub.

A talassemia, um tipo de anemia hereditária, também mostrou resultado bem-sucedido com a terapia genética baseada em célula-tronco. A terapia foi aplicada num paciente de 21 anos, onde foram retiradas células-tronco da medula. As células foram “consertadas” em laboratórios e injetadas novamente no jovem.


Além destas, mais de 300 doenças estão em fase final de testes, com resultados positivos surpreendentes. No futuro espera-se reconstituir órgãos inteiros com células-tronco, não dependendo mais de transplante. “É por isso que cada vez mais casais buscam coletar e armazenar as células-tronco do cordão umbilical de seus bebês”, explica Ayoub.

As células-tronco são a grande aposta da medicina atual, pois ao se dividirem podem se transformar em qualquer um dos 216 tipos de células que formam o corpo humano, o que favorece tratamentos para doenças degenerativas, reduzindo tempo de tratamento e recuperação da qualidade de vida em doentes terminais.


Na Bahia, pesquisadores começam tratamento experimental com células-tronco

Na Bahia, pesquisadores começam tratamento experimental com células-troncoO experimento é para vinte brasileiros paraplégicos ou tetraplégicos 
Tatiana Sabadini
Publicação: 25/10/2010
A medula espinhal é a grande condutora de impulsos nervosos e motores entre o cérebro e o resto do corpo. Quando ela sofre alguma lesão, a comunicação se interrompe. Os braços e as pernas não mais respondem e a pessoa fica paralisada. Para tentar interligar o sistema novamente, os cientistas apostam no poder dascélulas-tronco adultas. Em Salvador (BA), 20 brasileiros se preparam para passar por um tratamento — com resultados promissores em laboratório. As células serão retiradas dos próprios voluntários, multiplicadas e inseridas na área lesionada. A ideia não é curar, mas trazer mais qualidade de vida e maior mobilidade para paraplégicos e tetraplégicos.

A pesquisa, realizada no Hospital São Rafael, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), começou há cinco anos. Na fase experimental, o tratamento foi feito em cães e gatos paraplégicos, que sofreram traumas por conta de acidentes. “Fizemos a cultura das células-tronco desses animais e depois as colocamos na lesão. Com uma cirurgia, instalamos o material na cicatriz fibrosa e tivemos um bom efeito”, explica Ricardo Ribeiro, imunologista, especialista em terapia celular e coordenador da pesquisa.

Durante o estudo com animais, os resultados mostraram uma melhora no controle das funções fisiológicas urinárias e intestinais. Eles também esboçaram uma maior mobilidade nos movimentos, mas como é muito difícil aplicar atividades de fisioterapia nos bichos, elas não se desenvolveram, de acordo com o pesquisador. “Acreditamos que a parte de reabilitação depois da implementação das células vai ser um fator fundamental para a eficácia do tratamento. Não adianta nada ligar o fio, se não trabalharmos o músculo”, comenta Ribeiro.

Para participar da pesquisa foram escolhidas 20 pessoas com paraplegia, com pelo menos seis meses e no máximo dois anos de trauma, que não tiveram corte completo da coluna e foram lesionados em acidentes de carro ou em piscinas. A ideia dos pesquisadores, nessa primeira fase, foi padronizar o grupo para analisar melhor os resultados. “Não começamos pelos casos mais graves, para tentar avaliar essas chances de recuperação desde o começo”, diz o coordenador do projeto.

A paraplegia acontece quando a lesão na medula espinhal é na coluna torácica e tem como consequência a perda do movimento dos membros inferiores. Quando o problema acontece na cervical, determina uma tetraplegia, com a perda da sensibilidade dos membros inferiores e superiores. “No tetraplégico, a lesão é muito alta e mais complexa. Por isso, nessa nova fase vamos evitar a complexidade e pegar os casos um pouco mais simples. Dependendo do tipo de melhora e conforme o tratamento evoluir, vamos ampliar para outros pacientes”, conta.

Desafio
Quando a medula sofre um trauma, o tratamento é primeiro emergencial e depois de intensa fisioterapia. Para Alexandre Fogaça, médico do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o grande desafio da ciência é encontrar uma alternativa para não só melhorar, mas para curar a lesão. “A comunicação entre o cérebro e o corpo é cortada. Atualmente, a primeira solução quando isso acontece é descomprimir a coluna. Depois, colocamos uma placa de metal para o indivíduo voltar a ter um certo equilíbrio. Mas podemos dizer que a lesão não tem tratamento. Nos últimos anos, estamos buscando um que seja eficaz”, comenta o ortopedista.

Há cinco anos, o Hospital das Clínicas realizou um estudo similar com células-tronco adultas. Trinta pacientes participaram da pesquisa: 66% deles voltaram a registrar um impulso nervoso na medula espinhal. Eles apresentaram uma melhora na mobilidade, mas não na força. “Os pacientes tinham mais de dois anos de lesão e acreditamos que isso tenha influenciado. Uma fisioterapia complementar talvez tivesse sido necessária. É preciso analisar bem esses dados. No momento, estamos planejando outros trabalhos desse tipo”, revela Fogaça.

A pesquisa em Salvador começou a ser colocada em prática no início de setembro, quando quatro voluntários tiveram células-tronco retiradas da medula da bacia. Logo em seguida, elas foram levadas para cultivo no laboratório — onde permanecem de duas a três semanas. “Geralmente, a concentração de células é pequena para realizar o tratamento, por isso colocamos enzimas para aumentar a proliferação, de 1% para 99%. É um trabalho muito minucioso, feito com muito cuidado para controlar o processo, porque as células podem facilmente se transformar em tumorais. São horas de observação”, explica Ribeiro.

A segunda fase é injetar as células-tronco no local da lesão, por meio de uma cirurgia. A cicatriz do paciente é aberta e o material é injetado no local da lesão. “Acreditamos no potencial das células, porque elas podem ter a capacidade de formar novos nervos ou de produzir fatores para estimular um aumento de crescimento das fibras nervosas necessárias para tratar o trauma”, explica Ribeiro.

Os pesquisadores esperam que os resultados possam ser percebidos nos primeiros dois meses depois da aplicação. Uma equipe multidisciplinar se prepara para acompanhar todo o processo. “É claro que não queremos transformar os pacientes em atletas ou maratonistas, mas esperamos que eles tenham uma melhor qualidade de vida, principalmente no controle dos esfíncteres uretral e anal”, diz o imunologista. O tratamento deve continuar com fisioterapia intensiva, e os voluntários vão ser acompanhados durante dois anos, período necessário para que se chegue a alguma conclusão científica.

Inaugurado centro de pesquisas em células-tronco

   Inaugurado centro de pesquisas em células-tronco

 

O Paraná vai ajudar nas pesquisas com células-tronco realizadas em todo o País. Qualquer instituição que tiver necessidade deste tipo de material poderá acionar o Centro de Tecnologia Celular (CTC), inaugurado ontem e implantado por meio de uma parceria entre o Ministério da Saúde e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

O centro fica dentro do campus Curitiba e vai atender a demanda dos 52 laboratórios que fazem parte da Rede Nacional de Terapia Celular. O Ministério da Saúde está implantando oito CTCs, sendo o de Curitiba o segundo a ser inaugurado.

O investimento federal foi de R$ 3,4 milhões somente no CTC de Curitiba. A contrapartida da PUCPR será a manutenção da estrutura. O centro tem três salas de cultivo celular, onde as células-tronco se desenvolvem.

O local funciona com restrições rígidas, incluindo o controle de movimentação de pessoas e do ar que entra no laboratório. De acordo com o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, o governo federal realizou duas chamadas públicas para projetos nesta área e foram aprovadas 90 pesquisas, que resultaram na formação da Rede Nacional de Terapia Celular.


“Estes projetos vão gerar trabalhos para serem publicados em revistas científicas, mas seria importante também tratar do ponto de vista voltado para o produto de saúde. E é necessário que este produto tenha boas práticas de fabricação. Com a instalação dos centros de tecnologia celular será possível desenvolver linhagens brasileiras de células-tronco com essas boas práticas”, comenta.
Guimarães explica que, desde 2005, foram aplicados cerca de R$ 80 milhões na pesquisa de células-tronco no País, sendo a metade deste valor custeada pelo Ministério da Saúde. Também participam do repasse de verbas o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Além de abastecer a Rede Nacional de Terapia Celular, o centro também vai ajudar com células-tronco para as pesquisas do Núcleo de Cardiomioplastia Celular da PUCPR, que está desenvolvendo 36 projetos.

A pesquisa com células-tronco na instituição acontece desde 2000. “Hoje entendemos o mecanismo de funcionamento das células-tronco. Já estamos na segunda geração de células-tronco, que são mais específicas. Dentro de pouco tempo talvez seja possível oferecer as células-tronco como se fossem remédios, que ficarão estocados em hospitais e serão aplicados na fase aguda (inicial) da doença”, explica o coordenador do CTC da PUCPR, Paulo Brofman. Ele acredita que isto pode acontecer entre três e cinco anos.
A instituição atualmente trabalha com pesquisas de células-tronco para doenças neurológicas, trauma medular, Parkinson, Alzheimer e autoimunes (como a diabetes), além de enfermidades do pulmão, fígado e coração.
Guimarães alerta que, com exceção do transplante de medula óssea e da recuperação de cartilagens, tudo o que se refere à células-tronco ainda é experimental.
Ele cita que há médicos dermatologistas oferecendo tratamentos com células-tronco, o que é proibido. Não existe autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para isto.

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