Praticado por verdadeiros gladiadores sobre rodas, modalidade criada no Canadá nos anos 70 atrai público, que vibra com choques entre as cadeiras e requer mecânicos especializados
O Parapan não está sendo um sucesso de público. O rúgbi em cadeira de rodas, que faz sua estreia na programação no evento em Toronto, é uma exceção nesse cenário. E não é difícil entender os motivos. Disputado por jogadores que se transformam em verdadeiros gladiadores sobre rodas, o esporte é quase uma modalidade radical, pontuada pelo som metálico das pancadas. Derrubar o adversário no chão é permitido - esse recurso equivale ao "tackle" do rúgbi convencional. O expediente é saudado pelo público, que se levanta nesses momentos.
A popularidade em Toronto é bem compreensível também por fatores geográficos. O esporte foi criado em solo canadense, em Winnipeg, na década de 70, e é muito procurado por paratletas por ser bastante inclusivo. Diferente do basquete sobre cadeira de rodas, que exige algumas habilidades específicas, o rúgbi contempla atletas tetraplégicos. O Canadá é uma das três potências internacionais, ao lado dos EUA e da Austrália. Dessa forma, o Brasil, que nunca participou de uma Paralimpíada nesse esporte, deve se dar por satisfeito se conquistar o bronze. O rúgbi sobre cadeiras de rodas entrou como modalidade de exibição na Paralimpíada de Atlanta, em 96, e introduzido na programação, valendo medalha, em Sydney-2000.
"O rúgbi em cadeira de rodas é um esporte novo no Brasil. Começou a ser praticado aqui por volta de 2007 ou 2008. Nos Estados Unidos e Canadá está mais bem enraizado", observa Marcel Cardoso Ferreira de Souza, jogador e presidente do Minas Quad Rugby. O pai dele, Joel Ferreira, é o mecânico da seleção brasileira, que está no Canadá.
O esporte ganhou impulso no país graças ao documentário Murderball, de 2005, vencedor do festival de Sundance daquele ano. O próprio Marcel se tornou praticante graças ao filme, responsável também por alterar a rotina de Joel, que começou como mecânico da cadeira do filho e se integrou ao estafe da seleção.
Algumas regras, inspiradas no basquete, proporcionam dinamismo ao esporte. Cada jogada deve ser concluída em 40 segundos; se o jogador não optar pelo passe é necessário quicar a bola a cada dez segundos, e não é permitido voltar quadra. Do rúgbi foram incorporadas a forma de pontuar - passar da linha de fundo com a bola - e o tackle. É um jogo de contato, mas de contato entre as cadeiras, não entre jogadores. Por esse motivo, trata-se de uma modalidade mista, embora haja apenas uma em ação no Parapan, uma colombiana.
O papel do mecânico é importantíssimo. Frequentemente, são acionados para fazer rápidos pit stops na quadra. "As cadeiras têm pneus semelhantes aos de bicicleta . Então a câmara de ar pode furar. O pneu é material de responsabilidade do atleta. Cada um leva duas ou três para um jogo", diz Marcel.
Em competições internacionais grandes, há soldadores encarregados de fazer reparos nas cadeiras. No Brasil há um fabricante especializado, cujas cadeiras são vendidas a R$ 5 mil. "Mas a qualidade deixa a desejar. As melhores são importadas. Tem duas marcas principais, uma dos Estados Unidos e outra da Nova Zelândia. As cadeiras de alumínio saem por R$ 17 mil, e as de titânio, mais resistentes, custam R$ 20 mil", diz Marcel.
O Brasil venceu a Argentina com facilidade pela primeira fase. Foto: Fernando Maia/MPIX/CPB
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