Jornal do Brasil
No esporte adaptado, é bastante comum ver atletas que iniciaram nas modalidades por uma recomendação médica. Foi assim na criação do próprio movimento paralímpico, quando o neurologista Ludwig Guttmann organizou, no Hospital de Stoke Mandeville, na Inglaterra, uma reabilitação com o uso do esporte para soldados que voltaram feridos da 2ª Guerra Mundial. Contudo, com algumas pessoas esse primeiro contato ocorreu de uma forma bem diferente.
A maranhense Teresinha de Jesus, por exemplo, só conheceu o atletismo em 2013, aos 32 anos. A iniciação esportiva foi motivada por um convite recebido de um desconhecido no meio da rua. “Um rapaz, que já treinava em uma associação no meu estado, me viu na rua e simplesmente me convidou. Eu falei ‘tá bom, não estou fazendo nada, só estudando e trabalhando, vamos ver no que vai dar!’”, conta, bem humorada. “Fui na louca, sempre fui doida mesmo”, diverte-se a velocista, que nesta quarta-feira (12.08) conquistou a medalha de prata nos 100m T47, para amputados, nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto. Teresinha perdeu o braço esquerdo aos oito anos, quando sofreu um acidente no muro de casa. “Nunca passou pela minha cabeça, nunca imaginei que um dia eu poderia sair do meu país com o esporte paralímpico e representar o Brasil”, comenta. “Hoje sou uma pessoa totalmente diferente”, completa a atleta, que carrega o mesmo nome da cega mais rápida do mundo, a brasileira Terezinha Guilhermina.
Outro início curioso foi o de Yohansson do Nascimento, dono de sete medalhas em Parapans, além de títulos mundiais e paralímpicos. O Brasil poderia ter ficado sem as várias conquistas do alagoano se ele tivesse embarcado em outro ônibus para ir ao dentista, aos 17 anos. “Eu nunca tive problemas em mostrar que sou deficiente. Estava sentado com os braços à mostra e a Valquíria (Campelo) viu e me convidou para o atletismo”, recorda-se. “Um simples ‘sim’ ou ‘não’ mudou a minha vida. Eu podia ter dito ‘não, não quero ficar correndo’, mas eu aceitei e hoje estou aqui, muito honrado de representar a minha nação. Foi uma descoberta em cheio dela”, define o atleta, que na infância já gostava de apostar corrida.
“Comecei sem pretensão e nunca imaginei que levaria isso tão a sério. Era uma recreação, uma oportunidade que a vida estava me dando, mas as coisas foram acontecendo muito rápido”, explica. Nesta quarta, Yohansson não conseguiu subir ao pódio na prova dos 400m T47, terminando com a quinta colocação. Ele vai buscar sua oitava medalha em Parapans na próxima sexta-feira (14), na final dos 200m. Já Alessandro da Silva, que chegou à sua segunda medalha de ouro em Toronto, desta vez no arremesso de peso F11/12, foiconvidado para o esporte durante uma aula de braile. “Eu fazia braile numa escola e conheci um professor que me mostrou o arremesso de peso”, conta o atleta que, até um ano e meio atrás, só tinha a musculação como prática esportiva. “O atletismo me tirou de casa e de ficar pensando besteira. Me levou para uma vida onde eu pude ter novas conquistas”, comemora.
Prova cancelada
As pessoas que acompanharam a prova dos 800m T53 nesta quarta-feira levaram um susto na Universidade de York. Em uma dura briga por espaço na pista, o colombiano Edisson Andres Martinez levou uma fechada do canadense Jean-Philippe Maranda e, com o choque das cadeiras de rodas, acabou no chão. A prova seguiu e o brasileiro Ariosvaldo da Silva, o Parré, chegou a comemorar a medalha de prata, mas depois os resultados foram cancelados. “A batida é normal em prova acima de 800m. Os atletas imprimem uma velocidade muito alta e andam muito próximos”, explicou Parré. A disputa foi remarcada para esta quinta-feira (13), com o canadense desclassificado. O brasileiro, que ainda corre os 400m na sexta, será poupado.
Liderança no quadro de medalhas
Além de Alessandro da Silva, o Brasil ainda foi ouro com Izabela Campos (lançamento do disco F11/12), Paulo Flaviano Pereira (400m T37), João Luis dos Santos (lançamento do disco F46), Jonas Licurgo Ferreira (arremesso de dardo F53/54/55) e Adriele de Moraes (salto em distância T20/37/38). As pratas do dia foram conquistadas por Verônica Hipólito (salto em distância T20/37/38), Elizabeth Rodrigues (arremesso do peso F53/54/55), Teresinha de Jesus (100m T47) e Diogo Ualisson (200m T12). O país ainda levou duas medalhas de bronze, com Shirlene Coelho (arremesso de peso F20/37/38 e lançamento do disco F37/38/44), e uma com Sheila Finder (100m T47). Com as 13 novas medalhas desta quarta, o atletismo já rendeu 47 pódios ao país: 20 ouros, 16 pratas e 11 bronzes, desempenho que garante ao Brasil o topo do quadro de medalhas na modalidade.
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