http://globoesporte.globo.com/parapan/noticia/2015/08/sucesso-em-toronto-reflete-pilares-da-evolucao-do-paradesporto-brasileiro.html
A quebra do recorde de pódios e de medalhas de ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto (257 e 109, respectivamente) ressaltou mais uma vez o grande desempenho do Brasil no esporte paralímpico. Maior delegação do evento, a equipe brasileira consolidou o posto de potência continental e cumpriu mais uma das metas estabelecidas pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) rumo ao sonhado quinto lugar geral nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016. Nos tópicos abaixo, o GloboEsporte.com listou alguns dos fatores responsáveis por este sucesso.
Com 270 paratletas, o Brasil teve a maior delegação do Parapan de Toronto (Foto: Jonne Roriz/MPIX/CPB)
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PARAPAN LEVADO A SÉRIO
Enquanto os comitê paralímpicos de alguns países não enviam força máxima para todas as modalidades do programa do Parapan, como é o caso dos Estados Unidos, o Brasil costuma levar seus principais expoentes para a competição. A exceção pontual em Toronto foi o tênis de mesa, que não convocou Bruna Alexandre, medalhista mundial e eleita a melhor atleta da modalidade em 2014, por uma estratégia para tentar uma vaga a mais na classe 9/10 nas Paralimpíadas – conquistada por Danielle Rauen. Bruninha deve se classificar por sua posição no ranking mundial.
Manter o primeiro lugar no quadro de medalhas em Toronto era um dos três objetivos traçados pelo CPB antes de o país lutar para chegar ao posto de quinta força das Paralimpíadas de 2016. O primeiro passo foi manter no Parapan de Guadalajara 2011 a liderança conquistada no Rio 2007 e, o segundo, terminar os Jogos de Londres 2012 em sétimo lugar. No evento canadense, todas as metas foram superadas: o Brasil foi campeão em 10 das 15 modalidades do programa e só não conquistou medalha no rúgbi em cadeira de rodas, em que terminou em quarto lugar. Foram 257 medalhas, sendo 109 de ouro.
- Uma soma de fatores fazem com que o Brasil tenha essa superioridade aqui no Parapan. A gente leva o Parapan muito a sério, é um título que a gente busca e conquista, é uma parte importante do nosso sucesso de preparação não só para 2016 mas no aspecto do desenvolvimento de algumas modalidades. No tiro com arco, que brilhou aqui, teve atletas canadenses e americanos de alto nível, e ganhar em cima deles numa competição que soma pontos para a classificação para 2016 é parte do desenvolvimento da modalidade. Aumentar base de atletas, melhorar o nível técnico, melhorar o nível dos nossos técnicos, essa união do talento dos atletas com uma gestão profissional e apoio... Nossa estratégia faz com que a gente se mantenha no topo das Américas desde 2007 – disse Andrew.
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GESTÃO DE RECURSOS
Ano que marcou ascensão do Brasil ao posto de maior potência dos Jogos Parapan-Americanos, 2007 também representa o início de um crescimento acentuado dos recursos à disposição do CPB. Apesar da renda da entidade ser atualmente toda restrita a fontes públicas, o montante total aumentou quase quatro vezes desde então. Como previsão para 2015, o balanço do departamento financeiro computa a entrada de R$ 87.764.757,50 (confira a evolução detalhada e a origem do recurso na tabela abaixo).
A perspectiva para o ano que vem é ainda mais otimista devido à aprovação da Lei Brasileira de Inclusão, sancionada pela presidente Dilma Rousseff no dia 6 de julho. O texto promove a ampliação de 2 para 2,7% o valor repassado aos Comitês Olímpico (COB) e Paralímpico através da Lei Agnelo/Piva, com o aumento de 15% para 37,04% da fatia do CPB. A conta não afeta em números absolutos a renda do COB mas deve representar um incremento de mais R$ 90 milhões aos cofres do CPB em 2016.
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CPB ATUA COMO CONFEDERAÇÃO DE CINCO MODALIDADES
A estruturação do esporte paralímpico no Brasil é feita de forma peculiar no que diz respeito às confederações. O Brasil segue o mesmo modelo do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), com basicamente três divisões: há modalidades em que a confederação rege tanto a modalidade olímpica quanto paralímpica, como é o caso do tênis de mesa, a cargo da CBTM; há modalidades administradas por entidades que abrigam esportes praticados por atletas com o mesmo tipo de deficiência, como é o caso da Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV) com judô, goalball e futebol de 5; e cinco modalidades têm o próprio CPB como confederação.
Este é o caso de atletismo e natação, dois carros-chefes do Brasil no quadro de medalhas das competições poliesportivas, halterofilismo, tiro esportivo e esgrima em cadeira de rodas - os dois últimos não fazem parte do programa do Parapan, apenas do das Paralimpíadas.
Brasileiros dominaram a natação e travaram duelos particulares (Foto: Jonne Roriz/Divulgação)
Assim, cabe ao CPB a organização do calendário de competições e a tomada direta de decisões estratégicas na distribuição de recursos para campings de treinamento, viagens para competições, aquisição de equipamentos etc. Na visão de Andrew Parsons, essa função faz com que a entidade se aproxime de atletas e comissões técnicas e compreenda melhor as necessidades de confederações com outra administração.
- O fato de o CPB ser confederação de alguns esportes é importante sim, mas não porque temos uma gestão superior a das próprias confederações paralímpicas, mas porque nos permite entender os desafios do dia a dia de uma confederação. Uma coisa é você simplesmente promover a preparação de atletas que já são de alto nível, outra é buscar mecanismos para aumentar a base de praticantes da modalidade, fazer recrutamento, desenvolver o atleta desde a base até o alto rendimento e pensar no crescimento de uma modalidade. São dinâmicas complementares, mas diferentes. (...) Para algumas modalidades, como a esgrima, talvez fosse bom ser regida pela própria confederação (CBE). Mas não creio que esse seja o caso de natação e atletismo.
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MODALIDADES INDIVIDUAIS COMO CARROS-CHEFES
As provas de pista, de campo e das piscinas foram justamente as responsáveis pelo maior volume de medalhas do Brasil no Parapan de Toronto. A natação verde-amarela conquistou 104 pódios e 38 ouros, tendo três dos cinco maiores multimedalhistas da competição: Daniel Dias (1º), Andre Brasil (2º) e Joaninha (5ª). No atletismo, o país levou 80 medalhas, sendo 34 douradas.
As duas modalidades treinam desde fevereiro de 2014 em um centro de excelência em São Caetano do Sul e possuem seleções permanentes. No caso da natação, a comissão técnica foi trocada após a participação no Mundial de Montreal e hoje é coordenada por Leonardo Tomassello, ex-treinador do Corinthians.
Brasil dominou o atletismo em Toronto e chegou a completar pódios (Foto: Washington Alves/Mpix/CPB)
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ESTRUTURA PARA DESENVOLVIMENTO DE JOVENS TALENTOS
Em Toronto, 59 atletas brasileiros com menos de 23 anos conquistaram medalhas. São os casos de nomes como Talisson Glock e Verônica Hipólito, jovens medalhistas mundiais que integram o grupo batizado pelo CPB como “Geração pós Londres”. A competitividade atual destes atletas se deve muito ao desenvolvimento de eventos como as Paralimpíadas escolares, realizadas desde 2009.
- Nossa paralimpiada escolar é a maior do mundo. São mais de mil atletas com menos de 18 anos de idade, isso não tem em lugar nenhum. No atletismo vemos vários atletas que foram descobertos lá. É um sinal de que este trabalho está sendo bem feito e está dando resultados – disse a cega mais rápida do mundo, Terezinha Guilhermina.
Para 2020, tanto os jovens atletas a serem lapidados quanto os talentos já formados poderão contar com uma estrutura ainda mais consistente. Em setembro deste ano será inaugurado do Centro de Treinamento Paralímpico em São Paulo. A obra custou cerca de R$ 260 milhões e terá capacidade para receber até 282 atletas simultaneamente, e estrutura para treinamentos e competições de 15 modalidades: atletismo, basquete em cadeira de rodas, bocha, natação, esgrima em cadeira de rodas, futebol de 5, futebol de 7, goalball, halterofilismo, judô, rúgbi em cadeira de rodas, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas, triatlo e vôlei sentado.
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