Por - iG São Paulo |
Estafado, campeão paraolímpico e mundial parou de competir por um ano e perdeu espaço. Convocado para o Parapan de Toronto, ele adotou duas palavras como lema na carreira
"Fast". "Strong". Alan Fonteles eternizou essas duas palavras ("rápido" e "forte", em inglês) em forma de tatuagem no lado direito do pescoço. Na explicação do atleta, simbolizam a inspiração para que ele retomasse a carreira, interrompida por opção própria depois de chegar ao auge, do sucesso e do físico. Após o Mundial de Atletismo de Lyon-2013, quando dominou as provas de velocidade na classe T43 (para amputados), ele comprou algumas brigas e resolveu parar. Diminuiu o ritmo de treino e só competia em eventos de patrocinador. Sem resultados, perdeu a vaga na equipe brasileira.
"O atleta precisa de descanso, não é uma máquina. Todos os dias na mesma rotina, levantar, acordar cedo e levar seu corpo ao extremo... É alta performance, é rendimento, então achei necessário fazer essa pausa, mas já passou, foi resolvido e agora é olhar para frente." Reservado, Fonteles prefere não contar o que fazia no tempo livre de seu período sabático, mas não mostra arrependimento. Fiz a coisa certa no momento", esclareceu.
Para quem está acostumado a correr as provas mais rápidas do atletismo, perder tempo não é bom negócio. Por isso, Alan Fonteles retomou os treinos fortes e ganhou uma chance de mostrar que pode retomar o auge, ao ser convocado para a equipe de atletismo que disputará os Jogos Parapan-Americanos de Toronto, em agosto, no Canadá. Ainda atrás da melhor forma física, ele trabalha focado em defender os títulos nos 100, 200 e 400 metros no Mundial de Doha, no Catar.
"Já estou com tempo próximo (que fazia antes de parar). Muitos atletas que ficaram treinando juntos comigo e também na minha pausa não melhoraram nem fizeram os tempos que eu fazia. Não me desesperei, não fiquei preocupado com a minha volta, estou bem fisicamente, bem preparado, estou forte", afirmou Fonteles, ainda recordista mundial dos 100m (10s57) e 200m (20s66) na classe T43.
Nascido no Pará, Alan Fonteles, hoje com 22 anos, teve as pernas amputadas com apenas 21 dias de vida, em decorrência de uma infecção intestinal que provocou septicemia (infecção generalizada). Iniciou no atletismo aos 8, e usava próteses de madeira quando começou a competir. Aos 16, já integrava a equipe paraolímpica que foi aos Jogos de Pequim-2008. Quatro anos depois, em Londres-2012, o brasileiro chocou o mundo ao vencer Oscar Pistorius, ícone do paradesporto, na final dos 200m rasos.
Rápido e forte. Desta forma, Fonteles acredita que pode manter seu reinado, mesmo se dando ao luxo de abrir mão do ápice de sua forma física por uma temporada. "É isso que pretendo. Querendo ou não, é uma superação. Eu fui lá, fiz minha decisão e disse que no momento em que achar que é a hora de voltar eu vou voltar. É uma decisão. Na hora de voltar, eu voltei e coloquei todas as minhas forças e minhas metas para correr o mais rapidamente possível."
Assim como fez Pistorius em 2012, Alan Fonteles também sonha disputar os Jogos Olímpicos, contra atletas sem deficiência. As metas, em princípio, são o Parapan de Toronto e o Mundial de Doha, mas existe a possibilidade de ele se arriscar em algo que seria um feito inédito para o esporte brasileiro.
A chance de obter o índice para os Jogos do Rio de Janeiro seria no Troféu Brasil de Atletismo. "É algo que tenho a pensar e até ano que vem tomo essa decisão. Vai acontecer naturalmente. Se eu chegar lá e ver que meus tempos estão próximos e estou me sentindo bem, aí quem sabe eu possa entrar, mas por enquanto meu foco é a Paraolimpíada."
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